{"id":10735,"date":"2024-03-12T09:14:48","date_gmt":"2024-03-12T09:14:48","guid":{"rendered":"https:\/\/eurodefense.pt\/?p=10735"},"modified":"2024-03-12T09:14:59","modified_gmt":"2024-03-12T09:14:59","slug":"as-vulnerabilidades-europeias-em-materia-de-defesa-o-que-mudou-com-a-guerra-na-ucrania","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/eurodefense.pt\/as-vulnerabilidades-europeias-em-materia-de-defesa-o-que-mudou-com-a-guerra-na-ucrania\/","title":{"rendered":"As vulnerabilidades europeias em mat\u00e9ria de defesa – o que mudou com a guerra na Ucr\u00e2nia"},"content":{"rendered":"\n

O debate n\u00e3o \u00e9 de agora e, seguramente, n\u00e3o ficar\u00e1 por aqui. As preocupa\u00e7\u00f5es em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 defesa na Europa foram, a espa\u00e7os, marcando a agenda, mas nunca como agora, nunca como depois do deflagrar da Guerra na Ucr\u00e2nia. De facto, este conflito acordou preocupa\u00e7\u00f5es antigas, fez surgir outras novas e, sobretudo, levou a que o tema se tornasse n\u00e3o apenas um alvo de discuss\u00e3o, mas principalmente um problema que necessita de uma resposta urgente e o mais consensual poss\u00edvel.<\/p>\n\n\n\n

Podemos argumentar que as amea\u00e7as \u00e0 seguran\u00e7a na Europa n\u00e3o se limitam a Putin ou \u00e0 R\u00fassia. Efetivamente, a crescente militariza\u00e7\u00e3o da China, o Ir\u00e3o enquanto pot\u00eancia nuclear e o terrorismo constituem riscos s\u00e9rios. No entanto, a situa\u00e7\u00e3o na Ucr\u00e2nia, pela sua proximidade geogr\u00e1fica e por todos os impactos de diferente natureza que causou na popula\u00e7\u00e3o europeia, implementou na opini\u00e3o p\u00fablica uma nova perspetiva em torno da seguran\u00e7a e da defesa na Europa. As fragilidades e as amea\u00e7as, que agora, mais do que nunca, se encontram expostas devem ter uma solu\u00e7\u00e3o que assegure a continuidade do funcionamento da NATO e que admita de forma realista a cria\u00e7\u00e3o de uma nova estrat\u00e9gia conjunta entre os pa\u00edses-membros.<\/p>\n\n\n\n

A respeito da NATO, a alian\u00e7a continua a ser um pilar importante em mat\u00e9ria de defesa. \u00c9 precisamente no setor da defesa que esta deve ter um papel preponderante, algo que n\u00e3o tem sucedido por um conjunto de fatores que v\u00e3o desde a falta de investimento at\u00e9 \u00e0s diverg\u00eancias em torno de interesses e prioridades no seio dos estados-membros. Somente um comprometimento real entre os agora 32 pa\u00edses que comp\u00f5em a alian\u00e7a pode resultar num fortalecimento significativo da capacidade defensiva coletiva e na garantia da seguran\u00e7a dos seus elementos.<\/p>\n\n\n\n

Embora a NATO se mantenha uma mais-valia a preservar, \u00e9 fundamental que a Europa avalie uma nova estrat\u00e9gia comum que permita assegurar uma esp\u00e9cie de autossufici\u00eancia em termos da sua defesa. As vulnerabilidades que os pa\u00edses europeus enfrentam neste contexto encontram-se, inevitavelmente, associadas a um problema que n\u00e3o \u00e9 \u00fanico da defesa: uma preocupante depend\u00eancia face ao exterior e, neste caso concreto, face ao poder militar do mais poderoso membro da NATO, os Estados Unidos da Am\u00e9rica. Neste sentido, analisamos novamente um epis\u00f3dio em que a Europa n\u00e3o se apresenta capaz de ser aut\u00f3noma perante uma cat\u00e1strofe, j\u00e1 depois da li\u00e7\u00e3o retirada de uma Pandemia em que escassearam medicamentos e material m\u00e9dico prim\u00e1rio num continente que deslocalizou a sua produ\u00e7\u00e3o industrial com base numa ideia de estabilidade e paz irrevers\u00edvel.<\/p>\n\n\n\n

Os primeiros sinais de uma estrat\u00e9gia comum para a defesa surgiram muito recentemente e s\u00e3o prova clara de uma mudan\u00e7a de vis\u00e3o perante uma guerra \u00e0 porta que n\u00e3o tem fim \u00e0 vista. A primeira estrat\u00e9gia industrial europeia funda um novo cap\u00edtulo de integra\u00e7\u00e3o europeia no dom\u00ednio da defesa e constitui um primeiro passo naquilo que poder\u00e1 ser uma pol\u00edtica de defesa comum, robusta e capaz de corresponder aos desafios que existem e que surgir\u00e3o. Notar que esta iniciativa tem na ind\u00fastria militar o seu principal foco, fator muito relevante se for tido em conta as defici\u00eancias j\u00e1 referidas. Esta estrat\u00e9gia conta assim com objetivos fundamentais que v\u00e3o de encontro \u00e0s necessidades identificadas: definindo uma meta para 2030, os pa\u00edses da UE dever\u00e3o \u201cadquirir, no m\u00ednimo, 40 % do seu equipamento de defesa num regime de colabora\u00e7\u00e3o\u201d, numa ideia clara de solu\u00e7\u00e3o defensiva comum e com responsabilidades partilhadas; dever\u00e3o ainda \u201cdespender pelo menos metade do seu or\u00e7amento para os contratos p\u00fablicos no setor da defesa adquirindo produtos fabricados na Europa\u201d e \u201crealizar transa\u00e7\u00f5es comerciais de, pelo menos, 35 % dos bens de defesa entre os pa\u00edses da UE e n\u00e3o com outros pa\u00edses\u201d, sendo que estes dois objetivos visam, justamente, incentivar e fortalecer a ind\u00fastria b\u00e9lica europeia.<\/p>\n\n\n\n

Ainda que este primeiro passo represente o atender de uma urg\u00eancia e um sinal claro de apelo \u00e0 unidade entre pa\u00edses da UE, o caminho n\u00e3o poder\u00e1 ficar por aqui. Uma estrat\u00e9gia de continuidade e de aprofundamento nesta mat\u00e9ria avizinha-se imprescind\u00edvel, at\u00e9 porque os valores j\u00e1 anunciados a prop\u00f3sito da estrat\u00e9gia apresentada s\u00e3o insuficientes e incapazes de resolver qualquer problema. Neste aspeto, \u00e9 sabido que a UE e os seus pa\u00edses encontrar\u00e3o dificuldades. O investimento nas for\u00e7as armadas e em armamento tende a ser impopular entre os cidad\u00e3os europeus e, talvez por isso, se justifique o sil\u00eancio entre a maioria dos l\u00edderes de pa\u00edses europeus, n\u00e3o s\u00f3 quando o assunto consiste na ajuda militar \u00e0 Ucr\u00e2nia, atrav\u00e9s do fornecimento de equipamento, mas tamb\u00e9m quando se debate a necessidade de um cumprimento com a meta de investimento da NATO ou mesmo de um compromisso comum no seio da Uni\u00e3o. O pedido de coragem de Macron n\u00e3o ser\u00e1 inocente neste sentido tendo em conta o entendimento da inevitabilidade de uma tomada de posi\u00e7\u00e3o clara e firme por parte destes l\u00edderes, de forma a impedir um eventual desenrolar negativo da situa\u00e7\u00e3o na Ucr\u00e2nia e as consequ\u00eancias que da\u00ed poder\u00e3o emergir.<\/p>\n\n\n\n

O conflito em solo ucraniano alterou o paradigma com que se olha para a defesa e seguran\u00e7a da Europa, sendo respons\u00e1vel por expor fragilidades e por demonstrar que a paz no continente europeu n\u00e3o \u00e9 um dado adquirido, como j\u00e1 v\u00e1rios respons\u00e1veis europeus afirmaram. Esta situa\u00e7\u00e3o veio, por outro lado, acelerar um debate evitado sobre as debilidades que a Europa enfrenta em mat\u00e9ria de defesa, seja pela depend\u00eancia existente face aos EUA, seja pela incapacidade e demora na tomada de uma posi\u00e7\u00e3o evidente, que resulte numa a\u00e7\u00e3o concertada face aos diferentes contextos que surgem no panorama internacional, com a agravante de, neste caso, a hostilidade encontrar-se em pleno continente europeu. A instabilidade surge em v\u00e1rios dom\u00ednios, bastando lembrar que os EUA se encontram em contagem decrescente para umas elei\u00e7\u00f5es incertas que poder\u00e3o alterar algumas circunst\u00e2ncias no seio da alian\u00e7a transatl\u00e2ntica. A inevitabilidade de um ex\u00e9rcito europeu ganha for\u00e7a enquanto necessidade, sendo certo que haver\u00e1 obst\u00e1culos, divis\u00f5es e ced\u00eancias a fazer para que tal seja cumprido. A urg\u00eancia em defender a Europa \u00e9 tamb\u00e9m uma urg\u00eancia na defesa dos valores que a constituem e, por isso, ser\u00e1 preciso agir, mobilizar e unir.<\/p>\n\n\n\n


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12 de mar\u00e7o de 2024<\/p>\n\n\n\n

Guilherme de Sousa Taxa<\/strong><\/strong>
EuroDefense Jovem-Portugal<\/em><\/p>\n\n\n\n


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Bibliografia<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Primeira estrat\u00e9gia industrial europeia de defesa para refor\u00e7ar a prepara\u00e7\u00e3o e a seguran\u00e7a da Europa.\u00a0Comiss\u00e3o Europeia<\/em>. [Consultado em 8 de mar\u00e7o de 2024]. Dispon\u00edvel em: https:\/\/commission.europa.eu\/news\/first-ever-european-defence-industrial-strategy-enhance-europes-readiness-and-security-2024-03-05_pt<\/a><\/p>\n\n\n\n

Macron pede \u201ccoragem\u201d aos aliados da Ucr\u00e2nia (2024). Di\u00e1rio de Not\u00edcias<\/em>. [Consultado em 9 de mar\u00e7o de 2024]. Dispon\u00edvel em: https:\/\/www.dn.pt\/1771278230\/macron-pede-coragem-aos-aliados-da-ucrania\/<\/a><\/p>\n\n\n\n

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NOTA<\/strong>:<\/mark><\/p>\n\n\n\n