{"id":10804,"date":"2024-04-05T10:35:42","date_gmt":"2024-04-05T10:35:42","guid":{"rendered":"https:\/\/eurodefense.pt\/?p=10804"},"modified":"2024-04-05T10:35:54","modified_gmt":"2024-04-05T10:35:54","slug":"conceitos-planos-e-estrategias-mas-falta-a-estrategia-nacional","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/eurodefense.pt\/conceitos-planos-e-estrategias-mas-falta-a-estrategia-nacional\/","title":{"rendered":"Conceitos, Planos e Estrat\u00e9gias. Mas falta a Estrat\u00e9gia Nacional"},"content":{"rendered":"\n

\u00c0 medida que escrevo estas breves linhas, alimento a esperan\u00e7a e confian\u00e7a de que este novo governo possa estabelecer uma din\u00e2mica mais ambiciosa, delineando, com urg\u00eancia e precis\u00e3o, uma trajet\u00f3ria clara e de longo prazo para Portugal. O que precisamos \u00e9 de uma aut\u00eantica \u201cEstrat\u00e9gia Nacional\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Verifica-se em muitas das estrat\u00e9gias nacionais, conceitos e planos de Portugal, publicados at\u00e9 hoje, a grande frequ\u00eancia com que, com alguma ansiedade, se antev\u00ea a pr\u00f3xima chegada de fundos internacionais para desenvolvimento de projetos de \u00e2mbito nacional. Esta abordagem, predominantemente reativa e focada no curto prazo, muitas vezes se alinha mais \u00e0s prioridades externas do que \u00e0s genu\u00ednas necessidades portuguesas.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 crucial abordarmos quest\u00f5es vitais, tais como: assegurar a Portugal um papel de destaque no palco internacional, procurar antever as principais amea\u00e7as ao Interesse Nacional em todos os horizontes temporais e fortalecer, progressivamente, o Estado, institui\u00e7\u00f5es e sociedade para uma resposta adequada no combate a essas amea\u00e7as externas ou internas. Al\u00e9m disso, \u00e9 imprescind\u00edvel maximizar o nosso potencial, canalizando os esfor\u00e7os nacionais para atingir metas realistas, alinhadas com os recursos dispon\u00edveis.<\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o se coloca a quest\u00e3o de escolha entre o nosso papel nas organiza\u00e7\u00f5es internacionais ou de dar prioridade \u00e0s quest\u00f5es nacionais. N\u00e3o existimos em isolamento, nem nos podemos isolar, mas \u00e9-nos igualmente imposs\u00edvel participar plenamente, no seio das organiza\u00e7\u00f5es e no quadro de compromissos assumidos, se a vertente nacional estiver cativa de mudan\u00e7as s\u00fabitas internacionais e vulner\u00e1vel a conjunturas internacionais de toda a esp\u00e9cie (vertente pol\u00edtica, econ\u00f3mica, social e securit\u00e1ria).<\/p>\n\n\n\n

Parecemos ter alguma dificuldade em definir prioridades nacionais, com receio de com isso podermos ofender parceiros. Parecemos estar ref\u00e9ns de uma mod\u00e9stia e humildade contraproducentes, pois um Estado n\u00e3o consegue defender os seus cidad\u00e3os e Interesse Nacional assumindo uma postura que indique ao exterior falta de for\u00e7a ou ambi\u00e7\u00e3o. Estamos com isso apenas a demonstrar baixa autoestima ou complexos de inferioridade, que nos tornam vulner\u00e1veis a todas e quaisquer amea\u00e7as. Estamos, igualmente, a desperdi\u00e7ar recursos j\u00e1 existentes e a pensar que precisamos de mais recursos, pois queremos abra\u00e7ar o mundo e satisfazer todos, indicando a todos que nos s\u00e3o importantes por igual.<\/p>\n\n\n\n

Ser\u00e1, provavelmente, por isso que \u201carredondamos\u201d as frases e t\u00edtulos e utilizamos palavras ou conjuntos de palavras que n\u00e3o nos comprometam negativamente ou possam ser interpretadas como significando termos vontades e objetivos pr\u00f3prios. Assim, \u00e9 poss\u00edvel que seja a excessiva humildade a fazer-nos utilizar em conjunto palavras como \u201cconceito\u201d e \u201cplano\u201d a \u201cestrat\u00e9gico\u201d. O significado de \u201cconceito\u201d indica j\u00e1 por si a possibilidade de diverg\u00eancias na interpreta\u00e7\u00e3o de algo (como prioridades e objetivos). O significado de \u201cplano\u201d \u00e9 claro e entendido como a vertente t\u00e1tica e de homogeneiza\u00e7\u00e3o de procedimentos ou estrutura\u00e7\u00e3o mais espec\u00edfica para atingir determinados objetivos. A \u201cestrat\u00e9gia\u201d, num sentido mais geral, macro e a longo prazo, debru\u00e7a-se sobre o que se pretende atingir, os meios dispon\u00edveis e a sua integra\u00e7\u00e3o e coordena\u00e7\u00e3o ou poss\u00edveis imprevistos, definindo e assumindo o resultado que se pretende.<\/p>\n\n\n\n

A distin\u00e7\u00e3o entre uma Estrat\u00e9gia de Defesa Nacional (ou Conceito Estrat\u00e9gico) e uma \u201cEstrat\u00e9gia Nacional\u201d \u00e9 not\u00e1vel. A primeira, parece encerrar em si uma postura vaga, reativa e defensiva a desenvolvimentos internacionais, mesmo que procure estabelecer objetivos mais gerais ou mais espec\u00edficos e de curto ou m\u00e9dio prazos. Nesta, mesmo atentos a outras \u00e1reas ou englobando-as, n\u00e3o se reveem institui\u00e7\u00f5es que n\u00e3o se veem refletidas no seu t\u00edtulo. A segunda, deveria ser um verdadeiro \u201cpacto de regime\u201d com envolvimento das for\u00e7as vivas da sociedade, de forma a encontrar metas concretas de m\u00e9dio e longo prazos e em todas as \u00e1reas nacionais e internacionais (de proje\u00e7\u00e3o no exterior), que para Portugal representem o verdadeiro Interesse Nacional.<\/p>\n\n\n\n

O sucessivo adiamento de uma \u201cEstrat\u00e9gia Nacional\u201d, assumindo uma postura de fraca ambi\u00e7\u00e3o, levar-nos-\u00e1 sempre a responder reactivamente ou pensar de forma limitada e em respostas para quest\u00f5es menores, evitando explorar o verdadeiro potencial de Portugal.<\/p>\n\n\n\n

Esse di\u00e1logo apenas pode ser desencadeado por um governo que entenda o seu papel como gestor transit\u00f3rio dos interesses de Portugal e de todos os portugueses, incluindo gera\u00e7\u00f5es futuras, e com isso queira deixar uma heran\u00e7a \u00fanica, realmente representando Portugal, com uma atitude proactiva para o futuro.<\/p>\n\n\n\n

Sabendo que muitos portugueses tamb\u00e9m assim pensam, mantenho a esperan\u00e7a e a confian\u00e7a de que este novo governo possa estabelecer uma postura ambiciosa, delineando, com determina\u00e7\u00e3o e sem demora, uma trajet\u00f3ria clara e de longo prazo para Portugal, adotando uma aut\u00eantica \u201cEstrat\u00e9gia Nacional\u201d.<\/p>\n\n\n\n


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05 de abril de 2024<\/p>\n\n\n\n

Ant\u00f3nio Br\u00e1s Monteiro<\/strong>
Auditor de Defesa Nacional e Consultor de Defesa na Comiss\u00e3o Europeia<\/em><\/p>\n\n\n\n

Este artigo de opini\u00e3o foi publicado em 03 de abril de 2024 no site do jornal Di\u00e1rio de Not\u00edcias: https:\/\/www.dn.pt\/5513259630\/conceitos-planos-e-estrategias-mas-falta-a-estrategia-nacional\/<\/a><\/p>\n\n\n\n

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NOTA<\/strong>:<\/mark><\/p>\n\n\n\n