{"id":11521,"date":"2024-10-24T12:35:45","date_gmt":"2024-10-24T12:35:45","guid":{"rendered":"https:\/\/eurodefense.pt\/?p=11521"},"modified":"2024-10-24T12:35:50","modified_gmt":"2024-10-24T12:35:50","slug":"paz-e-seguranca-no-mar-vermelho-a-acao-europeia","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/eurodefense.pt\/paz-e-seguranca-no-mar-vermelho-a-acao-europeia\/","title":{"rendered":"\u201cPaz e Seguran\u00e7a no Mar Vermelho: A A\u00e7\u00e3o Europeia\u201d"},"content":{"rendered":"\n

5\u00aa \u201cEdi\u00e7\u00e3o Europa\u201d das Tert\u00falias EDJ<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Introdu\u00e7\u00e3o<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Desde novembro de 2023, os Houthis, grupo rebelde origin\u00e1rio do I\u00e9men, atacam navios mercantes no Mar Vermelho. A instabilidade no territ\u00f3rio teve um impacto significativo no com\u00e9rcio mundial, levando a que os maiores armadores do mundo suspendessem as viagens no territ\u00f3rio. Estas empresas decidiram alterar a rota para o Cabo da Boa Esperan\u00e7a, causando atrasos entre 6 e 14 dias.<\/p>\n\n\n\n

Para al\u00e9m disso, os pre\u00e7os das ap\u00f3lices de seguros e as sobretaxas de carga aumentaram, assim como as emiss\u00f5es de di\u00f3xido de carbono face \u00e0 mudan\u00e7a para uma rota maior, que exige maior uso de combust\u00edveis.<\/p>\n\n\n\n

Devido \u00e0 import\u00e2ncia estrat\u00e9gica da regi\u00e3o para o com\u00e9rcio mundial, o Ocidente n\u00e3o tardou a intervir. No dia 19 de dezembro de 2023, os EUA anunciaram a opera\u00e7\u00e3o \u201cProsperity Guardian\u201d, com o intuito de restabelecer a ordem na regi\u00e3o. Para al\u00e9m dos EUA, fazem parte desta coliga\u00e7\u00e3o o Reino Unido, a Fran\u00e7a, a It\u00e1lia, a Espanha, os Pa\u00edses Baixos, a Noruega, a Austr\u00e1lia e as Seychelles. No entanto, \u00e9 importante salientar que pa\u00edses como a Espanha, Fran\u00e7a e It\u00e1lia afastaram-se devido a preocupa\u00e7\u00f5es com a escalada do conflito no M\u00e9dio Oriente. Isto, aliado com a participa\u00e7\u00e3o da Gr\u00e9cia e da Dinamarca, evidencia a divis\u00e3o da UE em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 opera\u00e7\u00e3o dos EUA.<\/p>\n\n\n\n

Para terminar, \u00e9 importante destacar as iniciativas europeias para a paz e seguran\u00e7a no Mar Vermelho. A UE tem um interesse especial devido a grande parte do seu com\u00e9rcio com o continente asiatico transitar nessa regi\u00e3o. Dessa forma, em fevereiro, foi aprovada a miss\u00e3o \u00c1spides com o apoio do Ir\u00e3o, no sentido de proteger os navios comerciais e de restabelecer a liberdade de navega\u00e7\u00e3o. Esta opera\u00e7\u00e3o conta com o apoio da EUNAVFOR ATALANTA, a miss\u00e3o antipirataria da UE.<\/p>\n\n\n\n

Neste quarto epis\u00f3dio desta Tert\u00falia, contamos com a participa\u00e7\u00e3o da Professora Doutora Vanda Amaro Dias, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. \u00c9 doutorada em Rela\u00e7\u00f5es Internacionais: Pol\u00edtica Internacional e Resolu\u00e7\u00e3o de Conflitos e mestre em Ci\u00eancia Pol\u00edtica e Rela\u00e7\u00f5es Internacionais, com especializa\u00e7\u00e3o em Estudos Europeus.  Tem dedicado a sua investiga\u00e7\u00e3o aos estudos para a paz, aos estudos de seguran\u00e7a, \u00e0 pol\u00edtica externa, \u00e0 Uni\u00e3o Europeia, \u00e0 R\u00fassia e \u00e0 Europa de Leste. \u00c9 subdiretora do Departamento de Hist\u00f3ria, Estudos Europeus, Arqueologia e Artes da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e investigadora no Centro de Estudos Sociais.<\/p>\n\n\n\n

<\/a>A entrevista<\/strong><\/p>\n\n\n\n

<\/a>1. Como a Uni\u00e3o Europeia colabora com a regi\u00e3o para refor\u00e7ar a seguran\u00e7a no Mar Vermelho?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

A Opera\u00e7\u00e3o ASPIDES destacou-se em fevereiro de 2024, especialmente na resolu\u00e7\u00e3o da crise mais recente. Contudo, desde 2008, com o lan\u00e7amento da Opera\u00e7\u00e3o Atalanta, a Uni\u00e3o Europeia tem procurado afirmar-se como um ator de seguran\u00e7a mar\u00edtima no Mar Vermelho, Golfo de \u00c1den e noroeste do Oceano \u00cdndico. A Opera\u00e7\u00e3o Atalanta, focada no combate \u00e0 pirataria, tem sido essencial n\u00e3o apenas para enfrentar estas amea\u00e7as, mas tamb\u00e9m para fortalecer a credibilidade da Uni\u00e3o Europeia como um protagonista relevante na seguran\u00e7a mar\u00edtima, tanto regional como globalmente.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m disso, em fevereiro de 2022, o Conselho da Uni\u00e3o Europeia implementou uma presen\u00e7a mar\u00edtima coordenada nesta regi\u00e3o, assegurando que a UE se mant\u00e9m atenta e pronta a responder, em colabora\u00e7\u00e3o com os seus aliados. A iniciativa European Maritime Awareness, focada no estreito de Ormuz, refor\u00e7ou a capacidade de gest\u00e3o das tens\u00f5es entre o Ir\u00e3o e os Estados Unidos, antecipando poss\u00edveis impactos no com\u00e9rcio internacional.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 crucial destacar a capacidade da UE em oferecer solu\u00e7\u00f5es que os EUA n\u00e3o conseguem ou at\u00e9 agravam, atrav\u00e9s de parcerias estrat\u00e9gicas com pa\u00edses do Golfo e sinergias com atores externos, como a \u00cdndia e o Jap\u00e3o, para mitigar os efeitos das tens\u00f5es regionais. Com a revis\u00e3o da sua estrat\u00e9gia de seguran\u00e7a mar\u00edtima em 2023, a UE sublinhou a necessidade de refor\u00e7ar a coopera\u00e7\u00e3o com parceiros e concentrar esfor\u00e7os nas \u00e1reas de maior interesse estrat\u00e9gico, reconhecendo que a sua a\u00e7\u00e3o deve focar-se nas regi\u00f5es mais pr\u00f3ximas e relevantes para os seus interesses, ao inv\u00e9s de \u00e1reas mais distantes como o Pac\u00edfico Asi\u00e1tico.<\/p>\n\n\n\n

Este esfor\u00e7o concertado reflete a ambi\u00e7\u00e3o da Uni\u00e3o Europeia de se posicionar como um provedor global de seguran\u00e7a mar\u00edtima, agindo em parceria, mas tamb\u00e9m destacando-se como um ator indispens\u00e1vel na gest\u00e3o de crises internacionais.<\/p>\n\n\n\n

<\/a>2. Como a Europa pode ajudar a promover solu\u00e7\u00f5es de longo prazo para os conflitos no I\u00e9men e no Corno de \u00c1frica, que afetam diretamente o Mar Vermelho?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Os conflitos na regi\u00e3o t\u00eam ra\u00edzes hist\u00f3ricas e identit\u00e1rias profundas, muitas vezes ligadas ao legado colonial e \u00e0 forma\u00e7\u00e3o da p\u00f3s-colonialidade. A Uni\u00e3o Europeia contribui para a resolu\u00e7\u00e3o destes conflitos de duas formas principais. Primeiro, atrav\u00e9s de miss\u00f5es e opera\u00e7\u00f5es destinadas a mitigar inseguran\u00e7as e fatores de instabilidade. Segundo, refor\u00e7ando parcerias estrat\u00e9gicas com agentes locais, tanto estatais como organiza\u00e7\u00f5es regionais, que t\u00eam maior proximidade e capacidade de interven\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Um exemplo \u00e9 a colabora\u00e7\u00e3o com as Na\u00e7\u00f5es Unidas, onde todas as miss\u00f5es da UE s\u00e3o enquadradas pelas resolu\u00e7\u00f5es do Conselho de Seguran\u00e7a. Al\u00e9m disso, a UE trabalha com organiza\u00e7\u00f5es regionais como o Conselho de Coopera\u00e7\u00e3o do Golfo e a Uni\u00e3o Africana para fomentar o di\u00e1logo entre os atores envolvidos.<\/p>\n\n\n\n

Paralelamente, a Uni\u00e3o Europeia tem procurado capacitar e ajudar as comunidades afetadas, promovendo o fortalecimento da sociedade civil para que possam abordar as causas profundas dos conflitos. Em situa\u00e7\u00f5es extremas, como no I\u00e9men, onde a ONU declarou uma das piores crises humanit\u00e1rias atuais, a ajuda humanit\u00e1ria \u00e9 crucial, incluindo o fornecimento de alimentos, medicamentos e outros recursos essenciais. No entanto, tamb\u00e9m \u00e9 vital promover a resili\u00eancia econ\u00f3mica destes pa\u00edses, o que requer repensar as regras do com\u00e9rcio internacional e a redistribui\u00e7\u00e3o dos benef\u00edcios da economia global, um ponto onde a UE ainda precisa de avan\u00e7ar mais.<\/p>\n\n\n\n

<\/a>3. Que implica\u00e7\u00f5es a presen\u00e7a dos Houthi no I\u00e9men tem para a estabilidade de pa\u00edses vizinhos e como isso influencia a seguran\u00e7a no Mar Vermelho?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Esta quest\u00e3o \u00e9 fundamental, pois tendemos a focar-nos nos eventos imediatos, como as atividades terroristas dos Houthis no Mar Vermelho, tratando-os como a causa principal dos problemas no I\u00e9men. No entanto, restringir o debate a este grupo espec\u00edfico n\u00e3o faz justi\u00e7a \u00e0 complexidade da situa\u00e7\u00e3o. O conflito no I\u00e9men e a ascens\u00e3o dos Houthis s\u00e3o, na verdade, reflexos de din\u00e2micas mais profundas, ligadas tanto ao legado da coloniza\u00e7\u00e3o e descoloniza\u00e7\u00e3o como ao contexto mais vasto das tens\u00f5es no M\u00e9dio Oriente.<\/p>\n\n\n\n

Os Houthis, um grupo xiita que emergiu no norte do I\u00e9men nos anos 1990, com la\u00e7os ideol\u00f3gicos e pol\u00edticos com o Ir\u00e3o e uma postura antiamericana, t\u00eam uma longa hist\u00f3ria de oposi\u00e7\u00e3o ao regime dominante no pa\u00eds. Esta oposi\u00e7\u00e3o culminou numa guerra civil prolongada, com uma interven\u00e7\u00e3o regional liderada pela Ar\u00e1bia Saudita. No entanto, o recente aumento da visibilidade dos Houthis n\u00e3o resulta exclusivamente deste conflito interno. As suas a\u00e7\u00f5es t\u00eam sido amplificadas pela guerra entre Israel e Palestina, que ofereceu uma oportunidade para que o grupo se afirmasse no cen\u00e1rio regional. Este caso ilustra como as tens\u00f5es no M\u00e9dio Oriente geram repercuss\u00f5es colaterais em outras \u00e1reas, exacerbando conflitos locais.<\/p>\n\n\n\n

O I\u00e9men, atualmente considerado um “Estado falhado”, enfrenta uma guerra permanente e uma divis\u00e3o profunda, sem qualquer solu\u00e7\u00e3o \u00e0 vista. A interven\u00e7\u00e3o saudita, hesitante em adotar medidas mais en\u00e9rgicas devido ao risco de retalia\u00e7\u00e3o iraniana, perpetua este estado de inseguran\u00e7a, agravando a instabilidade regional. No entanto, a verdadeira resolu\u00e7\u00e3o deste conflito passa por uma abordagem mais abrangente, que v\u00e1 al\u00e9m do I\u00e9men e aborde as tens\u00f5es mais amplas no M\u00e9dio Oriente, em particular a quest\u00e3o palestiniana e o direito \u00e0 autodetermina\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

A revitaliza\u00e7\u00e3o do processo de paz no M\u00e9dio Oriente, iniciado nos anos 1990, \u00e9 crucial para enfrentar n\u00e3o apenas os conflitos espec\u00edficos, mas tamb\u00e9m as causas estruturais que alimentam a instabilidade na regi\u00e3o. A falta de uma vis\u00e3o a longo prazo, que promova o di\u00e1logo e a integra\u00e7\u00e3o regional, compromete qualquer tentativa de estabiliza\u00e7\u00e3o. Al\u00e9m disso, crises vizinhas, como a recente escalada de viol\u00eancia no Sud\u00e3o, agravam ainda mais o cen\u00e1rio de seguran\u00e7a e dificultam a cria\u00e7\u00e3o de um ambiente prop\u00edcio ao di\u00e1logo.<\/p>\n\n\n\n

Em suma, a paz e estabilidade no I\u00e9men \u2014 e, de forma mais ampla, no M\u00e9dio Oriente \u2014 exigem uma abordagem integrada, que reconhe\u00e7a as interliga\u00e7\u00f5es entre os diferentes conflitos regionais e aborde as suas causas hist\u00f3ricas e sist\u00e9micas. Apenas atrav\u00e9s de uma vis\u00e3o estrat\u00e9gica, orientada para o longo prazo, ser\u00e1 poss\u00edvel construir uma solu\u00e7\u00e3o sustent\u00e1vel para esta regi\u00e3o profundamente inst\u00e1vel.<\/p>\n\n\n\n

<\/a>4. Como \u00e9 que as iniciativas da Europa no Mar Vermelho est\u00e3o alinhadas com as a\u00e7\u00f5es de outros atores internacionais, como os EUA e a ONU, na gest\u00e3o desta crise?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

A Uni\u00e3o Europeia tem investido fortemente em parcerias estrat\u00e9gicas para lidar com os desafios de seguran\u00e7a no M\u00e9dio Oriente e na \u00c1frica. Estas parcerias, que envolvem uma variedade de atores, incluindo organiza\u00e7\u00f5es regionais e internacionais, t\u00eam sido fundamentais para estabelecer canais de di\u00e1logo, negocia\u00e7\u00e3o e coopera\u00e7\u00e3o. A colabora\u00e7\u00e3o com organiza\u00e7\u00f5es como o Conselho de Coopera\u00e7\u00e3o do Golfo, a Uni\u00e3o Africana e as Na\u00e7\u00f5es Unidas \u00e9 um exemplo de como a UE busca alinhar suas a\u00e7\u00f5es com as diretrizes internacionais, garantindo que suas opera\u00e7\u00f5es respeitem os princ\u00edpios do direito internacional, particularmente aqueles estabelecidos pela Carta das Na\u00e7\u00f5es Unidas.<\/p>\n\n\n\n

Esse alinhamento \u00e9 crucial, especialmente quando contrastado com a interven\u00e7\u00e3o de outros atores, como os Estados Unidos. Embora os EUA frequentemente sejam vistos como agindo com base em interesses estrat\u00e9gicos pr\u00f3prios, a Uni\u00e3o Europeia tem conseguido preservar um “capital social” que lhe permite atuar de forma mais respeitosa e alinhada com os interesses das popula\u00e7\u00f5es locais e das normas internacionais. A aproxima\u00e7\u00e3o com as Na\u00e7\u00f5es Unidas tem permitido \u00e0 UE n\u00e3o apenas contribuir para a estabiliza\u00e7\u00e3o da regi\u00e3o, mas tamb\u00e9m facilitar a assist\u00eancia humanit\u00e1ria, algo que foi seriamente afetado pelos conflitos no I\u00e9men e nas \u00e1reas circundantes.<\/p>\n\n\n\n

Um exemplo disso \u00e9 a opera\u00e7\u00e3o Aspides, da Uni\u00e3o Europeia, que, alinhada com a resolu\u00e7\u00e3o 2722 do Conselho de Seguran\u00e7a da ONU, visa conter os ataques dos Huthis no Mar Vermelho, garantindo a liberdade de navega\u00e7\u00e3o e a seguran\u00e7a do com\u00e9rcio internacional. O uso da for\u00e7a pela UE est\u00e1 estritamente limitado \u00e0 autodefesa, o que se diferencia da abordagem dos EUA, que implementaram a opera\u00e7\u00e3o Prosperity Guardian e, posteriormente, Poseidon Archers, permitindo o uso de for\u00e7a preemptiva em territ\u00f3rios suspeitos. Esta diferen\u00e7a estrat\u00e9gica tem causado fric\u00e7\u00f5es, especialmente porque a abordagem mais agressiva dos EUA muitas vezes viola a soberania territorial dos Estados, algo que a Uni\u00e3o Europeia evita rigorosamente.<\/p>\n\n\n\n

A diverg\u00eancia entre as abordagens europeia e americana criou uma tens\u00e3o significativa, levando a maioria dos Estados-membros da UE a abandonar a colabora\u00e7\u00e3o com a opera\u00e7\u00e3o americana. Pa\u00edses como os Pa\u00edses Baixos e a Dinamarca s\u00e3o exce\u00e7\u00f5es, mantendo-se aliados aos EUA devido a interesses nacionais espec\u00edficos, como a prote\u00e7\u00e3o de suas marinhas mercantes. Ainda assim, a maior parte dos pa\u00edses europeus optou por apoiar a opera\u00e7\u00e3o liderada pela UE, comprometida com a promo\u00e7\u00e3o da seguran\u00e7a internacional sem comprometer os princ\u00edpios do direito internacional.<\/p>\n\n\n\n

Esta distin\u00e7\u00e3o entre a Uni\u00e3o Europeia e os EUA reflete uma diferen\u00e7a fundamental de abordagem nas quest\u00f5es de seguran\u00e7a internacional: enquanto a UE privilegia uma interven\u00e7\u00e3o baseada no respeito \u00e0s normas internacionais e na autodefesa, os EUA adotam uma postura mais intervencionista, muitas vezes preemptiva, que pode agravar as tens\u00f5es regionais.<\/p>\n\n\n\n

<\/a>5. Dado o papel vital do Mar Vermelho no com\u00e9rcio global, como a Europa pode construir uma estrat\u00e9gia abrangente que combine seguran\u00e7a, diplomacia e desenvolvimento para enfrentar as futuras crises?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

A estrat\u00e9gia da Uni\u00e3o Europeia para garantir a seguran\u00e7a no Mar Vermelho, bem como em outras \u00e1reas de interesse global, vai muito al\u00e9m de uma simples interven\u00e7\u00e3o naval. Embora as opera\u00e7\u00f5es militares sejam uma parte essencial, \u00e9 fundamental compreender que estas se articulam com uma dimens\u00e3o diplom\u00e1tica robusta. As miss\u00f5es navais da UE, como a opera\u00e7\u00e3o \u00c1spide, n\u00e3o apenas asseguram a estabilidade no espa\u00e7o mar\u00edtimo, mas tamb\u00e9m desempenham um papel diplom\u00e1tico ao interagir com outros navios, promovendo a postura da Uni\u00e3o Europeia e capacitando outros atores para lidar com a situa\u00e7\u00e3o local.<\/p>\n\n\n\n

Ademais, a atua\u00e7\u00e3o da UE se estende atrav\u00e9s de suas parcerias estrat\u00e9gicas e envolvimento em f\u00f3runs internacionais, como as Na\u00e7\u00f5es Unidas. Atrav\u00e9s destes canais, a Uni\u00e3o Europeia n\u00e3o apenas segue as normas do direito internacional, mas tamb\u00e9m visa ser reconhecida como um ator relevante e confi\u00e1vel na constru\u00e7\u00e3o da seguran\u00e7a internacional. A sua experi\u00eancia na resolu\u00e7\u00e3o de conflitos internos ao longo da hist\u00f3ria europeia serve como base para a sua contribui\u00e7\u00e3o em prol da estabilidade global.<\/p>\n\n\n\n

Contudo, h\u00e1 \u00e1reas em que a UE ainda pode aprimorar sua atua\u00e7\u00e3o. Uma delas \u00e9 o envolvimento de atores-chave na regi\u00e3o, como a Ar\u00e1bia Saudita e os Emirados \u00c1rabes Unidos. Estes pa\u00edses, embora n\u00e3o se oponham diretamente \u00e0s iniciativas da UE, t\u00eam sido cautelosos em se comprometer de forma mais ativa devido ao receio de retalia\u00e7\u00f5es por parte do Ir\u00e3. Para que a gest\u00e3o das tens\u00f5es no M\u00e9dio Oriente seja integrada e eficaz, \u00e9 crucial que a Uni\u00e3o Europeia aprofunde seus esfor\u00e7os diplom\u00e1ticos para garantir uma participa\u00e7\u00e3o mais ativa destes pa\u00edses.<\/p>\n\n\n\n

Outro desafio significativo \u00e9 o conflito entre Israel e Palestina. A UE precisa refor\u00e7ar sua defesa do direito internacional, exigindo um cessar-fogo imediato e, a longo prazo, a consagra\u00e7\u00e3o do direito \u00e0 autodetermina\u00e7\u00e3o do povo palestino. Sem a resolu\u00e7\u00e3o dessas quest\u00f5es fundamentais, ser\u00e1 dif\u00edcil alcan\u00e7ar uma paz duradoura na regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Do ponto de vista operacional, a UE est\u00e1 bem equipada, mas enfrenta limita\u00e7\u00f5es log\u00edsticas. A base da opera\u00e7\u00e3o \u00c1spide, situada na Gr\u00e9cia, apresenta desafios no que diz respeito ao reabastecimento e \u00e0 manuten\u00e7\u00e3o de for\u00e7as em situa\u00e7\u00f5es prolongadas de conflito. Neste sentido, a UE pode aprender com a estrat\u00e9gia dos Estados Unidos, estabelecendo pontos de reabastecimento adicionais ou fortalecendo alian\u00e7as que facilitem a log\u00edstica em cen\u00e1rios de ataques prolongados.<\/p>\n\n\n\n

Por fim, \u00e9 necess\u00e1rio repensar a forma como a Uni\u00e3o Europeia contribui para o desenvolvimento global. A abordagem atual, que pode ser descrita como protecionista e neoliberal, perpetua assimetrias socioecon\u00f4micas em v\u00e1rias escalas \u2014 nacional, regional e global. Muitos dos conflitos armados s\u00e3o alimentados por estas desigualdades profundas. Portanto, \u00e9 essencial adotar uma vis\u00e3o mais humanit\u00e1ria, cosmopolita e justa, focada na redistribui\u00e7\u00e3o equitativa de riqueza, de modo a atacar as causas estruturais dos conflitos e n\u00e3o apenas os seus sintomas.<\/p>\n\n\n\n

Assim, ao adotar uma abordagem mais inclusiva e focada em solu\u00e7\u00f5es de longo prazo, a Uni\u00e3o Europeia poder\u00e1 contribuir de maneira mais eficaz para a resolu\u00e7\u00e3o das crises globais e para a promo\u00e7\u00e3o de um mundo mais est\u00e1vel e equilibrado.<\/p>\n\n\n\n


\n\n\n\n

24 de outubro de 2024<\/p>\n\n\n\n

Janine Sim\u00e3o<\/strong>
EuroDefense Jovem Portugal<\/em><\/p>\n\n\n\n


\n\n\n\n

<\/a>A Tert\u00falia<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Poder\u00e1 aceder a esta Tert\u00falia no seguinte link: https:\/\/open.spotify.com\/episode\/3J9cozQzyfh6ykvMuDFicp?si=jWpCffs1RKyVkhStetOz3Q<\/a><\/p>\n\n\n\n

<\/a>Refer\u00eancias<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Conselho Europeu. \u201cSeguran\u00e7a E Liberdade de Navega\u00e7\u00e3o No Mar Vermelho: Conselho Lan\u00e7a EUNAVFOR ASPIDES.\u201d Consilium, 2024. https:\/\/www.consilium.europa.eu\/pt\/press\/press-releases\/2024\/02\/19\/security-and-freedom-of-navigation-in-the-red-sea-council-launches-new-eu-defensive-operation\/<\/a>.<\/p>\n\n\n\n

Dell\u2019Anna, Alessio. \u201cGuia Para Perceber a Crise No Mar Vermelho.\u201d euronews, December 27, 2023. https:\/\/pt.euronews.com\/2023\/12\/27\/mar-vermelho-tudo-o-que-precisa-de-saber-sobre-a-crise-que-esta-a-por-em-perigo-o-comercio<\/a>.<\/p>\n\n\n\n

Jones, Mared Gwyn. \u201cPorque \u00e9 Que H\u00e1 Divis\u00e3o Na UE Sobre Opera\u00e7\u00e3o Dos EUA Contra Houthis?\u201d euronews. Euronews.com, January 2, 2024. https:\/\/pt.euronews.com\/my-europe\/2024\/01\/02\/porque-e-que-ha-divisao-na-ue-sobre-operacao-dos-eua-contra-houthis<\/a>.<\/p>\n\n\n\n

\u201cUE Lan\u00e7a a Miss\u00e3o \u00c1spide Para Proteger Os Navios Do Mar Vermelho.\u201d euronews. Euronews.com, February 19, 2024. https:\/\/pt.euronews.com\/my-europe\/2024\/02\/19\/ue-lanca-a-missao-aspide-para-proteger-os-navios-do-mar-vermelho<\/a>.<\/p>\n\n\n\n

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NOTA<\/strong>:<\/mark><\/p>\n\n\n\n