{"id":141,"date":"2016-07-23T08:28:52","date_gmt":"2016-07-23T08:28:52","guid":{"rendered":"https:\/\/eurodefense.pt\/?p=141"},"modified":"2023-07-25T10:12:20","modified_gmt":"2023-07-25T10:12:20","slug":"o-impacto-do-brexit-na-politica-de-seguranca-e-defesa-da-uniao-europeia","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/eurodefense.pt\/o-impacto-do-brexit-na-politica-de-seguranca-e-defesa-da-uniao-europeia\/","title":{"rendered":"O impacto do \u00abBrexit\u00bb na Pol\u00edtica de Seguran\u00e7a e Defesa da Uni\u00e3o Europeia"},"content":{"rendered":"\n
1.  A Europa no p\u00f3s-Guerra Fria<\/h5>\n\n\n\n

Foi em 1991, na Cimeira de Maastricht, que a Europa afirmou a vontade de se dotar de uma Pol\u00edtica Externa e de Seguran\u00e7a Comum. O que constituiu uma altera\u00e7\u00e3o radical face ao \u00faltimo meio s\u00e9culo de vida da Uni\u00e3o e um passo indispens\u00e1vel para o relacionamento deste espa\u00e7o de 500 milh\u00f5es de pessoas com o mundo que o rodeia. Mas foi sobretudo um primeiro passo volitivo.<\/p>\n\n\n\n

Durante d\u00e9cadas a Europa foi apenas uma constru\u00e7\u00e3o econ\u00f3mica sem uma identidade pol\u00edtica pr\u00f3pria no campo externo, nem uma voz comum que expressasse os seus princ\u00edpios, valores e interesses estrat\u00e9gicos no palco internacional.  Na realidade durante a guerra-fria a seguran\u00e7a do continente europeu foi garantida pela NATO, Alian\u00e7a onde os custos pela defesa foram substancialmente assumidos pelos EUA. A Europa que tinha emergido da 2\u00aa Grande Guerra em estado de choque, destru\u00edda e arruinada, p\u00f4de assim dedicar as suas energias ao desenvolvimento econ\u00f3mico, em seguran\u00e7a, que resultou no \u201cmilagre europeu\u201d, t\u00e3o esquecido hoje.<\/p>\n\n\n\n

A queda do Muro de Berlim em 1989 e o colapso do Bloco de Leste, trouxeram altera\u00e7\u00f5es fundamentais. Rapidamente se esvaiu a amea\u00e7a convencional, generalizada, existencial, que durante 50 anos pairara sobre a Europa.  Todos pretenderam aproveitar os dividendos da paz. D\u00e1-se uma redu\u00e7\u00e3o dram\u00e1tica nos equipamentos e nos investimentos dedicados \u00e0 defesa e seguran\u00e7a ao n\u00edvel do continente. Todavia durante a d\u00e9cada de 90, v\u00e1rios conflitos n\u00e3o resolvidos, mas que tinham sido congelados pela conten\u00e7\u00e3o bipolar, explodiram em crises violentas. \u00c0 porta da Europa, a Jugosl\u00e1via fragmenta-se e os Balc\u00e3s incendeiam-se em dram\u00e1ticos e mort\u00edferos conflitos \u00e9tnicos. Ao longo do Mediterr\u00e2neo desde a Arg\u00e9lia, ao Egito, \u00e0 Cachemira, ou ao C\u00e1ucaso os governos locais s\u00e3o confrontados com uma ofensiva jihadista que a retirada do Afeganist\u00e3o em 1989 pela Uni\u00e3o Sovi\u00e9tica permitiu que regressasse aos seus locais de origem, em contesta\u00e7\u00e3o radical \u00e0s autoridades locais. O Iraque invade o Kuwait em 1990. Desenha-se um arco de crises \u00e0 volta da Europa cujos efeitos afetavam a seguran\u00e7a e se podiam propagar ao interior do continente. Falava-se ent\u00e3o de um planeta em balcaniza\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

As institui\u00e7\u00f5es da Comunidade Europeia, apoiando-se na Uni\u00e3o da Europa Ocidental (UEO), procuraram, sem sucesso, estabilizar a situa\u00e7\u00e3o nos Balc\u00e3s e promover uma solu\u00e7\u00e3o pol\u00edtica para a regi\u00e3o. Uma vez mais, por\u00e9m foi necess\u00e1rio o envolvimento diplom\u00e1tico dos EUA e a interven\u00e7\u00e3o da NATO (a sua primeira opera\u00e7\u00e3o real desde a funda\u00e7\u00e3o) para parar o conflito e posteriormente recolher as for\u00e7as das Na\u00e7\u00f5es Unidas dispersas no terreno e pacificar a B\u00f3snia- Herzegovina. As limita\u00e7\u00f5es da Uni\u00e3o Europeia p\u00f3s-Maastricht ficaram \u00e0 vista. Era um \u201cgigante econ\u00f3mico, com p\u00e9s de barro\u201d, irrelevante mesmo para resolver quest\u00f5es de instabilidade no seu continente. Sentia-se a imprescind\u00edvel necessidade de dotar a Uni\u00e3o Europeia com os meios (militares) necess\u00e1rios para a efetiva sustenta\u00e7\u00e3o da sua capacidade pol\u00edtica e diplom\u00e1tica. Ao menos na sua periferia imediata. E essa vontade, para gerir crises, foi assumida na Cimeira de Amesterd\u00e3o em 1997[1]<\/a>, mas sem que os estados-membros se colocassem de acordo com a forma de a concretizar. Existia a vontade, mas n\u00e3o foram atribu\u00eddos os meios. Perante a possibilidade da absor\u00e7\u00e3o da UEO pela Uni\u00e3o Europeia, ou em alternativa de criar estruturas pr\u00f3prias na UE, apenas foi acordada uma aproxima\u00e7\u00e3o mais estreita entre as duas institui\u00e7\u00f5es, a UE e a UEO.<\/p>\n\n\n\n

2.  O Entendimento Fundacional da Pol\u00edtica de Seguran\u00e7a e Defesa<\/h5>\n\n\n\n

E o acordo n\u00e3o foi obtido porque tocava quest\u00f5es centrais. Ou seja, como articular uma capacidade de seguran\u00e7a e defesa aut\u00f3noma na Europa, com a defesa comum do Continente \u00e0 responsabilidade da NATO.  Qual a institui\u00e7\u00e3o em que seria prosseguida a defesa comum. Na NATO, na Uni\u00e3o Europeia ou numa NATO a dois pilares.  E como compatibilizar uma Uni\u00e3o Europeia com capacidades militares para gerir crises, com a mesma fun\u00e7\u00e3o por parte da NATO.<\/p>\n\n\n\n

E estas quest\u00f5es que tinham vindo a bloquear a reorienta\u00e7\u00e3o estrutural da Uni\u00e3o Europeia, s\u00f3 foram ultrapassadas atrav\u00e9s do entendimento obtido, j\u00e1 no fim da d\u00e9cada, em dezembro de 1998, em S. Mal\u00f4, entre o Reino Unido e a Fran\u00e7a. Em que se harmonizaram as diversas vis\u00f5es europeias e se definiu, de forma liminar, a rela\u00e7\u00e3o conceptual na \u00e1rea da seguran\u00e7a entre a NATO e a UE, com base em 4 pontos[2]<\/a>:<\/p>\n\n\n\n