{"id":219,"date":"2019-02-08T10:12:19","date_gmt":"2019-02-08T10:12:19","guid":{"rendered":"https:\/\/eurodefense.pt\/?p=219"},"modified":"2023-02-20T19:01:28","modified_gmt":"2023-02-20T19:01:28","slug":"o-gasoduto-nord-stream-2-a-disputa-geopolitica-na-europa","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/eurodefense.pt\/o-gasoduto-nord-stream-2-a-disputa-geopolitica-na-europa\/","title":{"rendered":"O gasoduto Nord Stream 2 \u2013 A disputa geopol\u00edtica na Europa"},"content":{"rendered":"\n

1 \u2013 A controv\u00e9rsia que vem pelo B\u00e1ltico<\/strong><\/p>\n\n\n\n

A realidade energ\u00e9tica na Europa tem sido, de uma forma geral, nos \u00faltimos anos, um tempo de acalmia. As fontes f\u00f3sseis (reservas provadas de carv\u00e3o, g\u00e1s natural e petr\u00f3leo) s\u00e3o abundantes no mundo e diversificadas. Os pre\u00e7os t\u00eam-se mantido estabilizados, em ciclos de oscila\u00e7\u00e3o control\u00e1veis, e assim se pode esperar, mesmo no pre\u00e7o do barril de petr\u00f3leo. O crescimento da procura do g\u00e1s natural foi retomada em 2015, e em cont\u00ednuo aumento nos anos de 2016 a 2018. A implementa\u00e7\u00e3o e o processo de desenvolvimento das energias renov\u00e1veis, nas suas diversas componentes, est\u00e3o a ser bem-sucedidos. At\u00e9 o emprego da energia nuclear, no setor da gera\u00e7\u00e3o termoel\u00e9trica, em pa\u00edses como a Fran\u00e7a, Reino Unido e Espanha, decorre sem sobressaltos. Nesta vis\u00e3o hol\u00edstica, a liberaliza\u00e7\u00e3o do setor energ\u00e9tico e as pol\u00edticas ambientais t\u00eam de alguma forma, marcado o ritmo do mix energ\u00e9tico atual da Uni\u00e3o Europeia.<\/p>\n\n\n\n

\"\"\/<\/figure><\/div>\n\n\n\n

A realidade das altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas, o objetivo da descarboniza\u00e7\u00e3o e os novos desafios que se colocam no campo da energia, completam a agenda das prioridades pol\u00edticas e energ\u00e9ticas nas inst\u00e2ncias europeias. No entanto a Europa \u00e9 fortemente dependente das importa\u00e7\u00f5es de energia, nomeadamente de petr\u00f3leo e g\u00e1s natural. N\u00e3o se estranha por isso, que o tema da seguran\u00e7a energ\u00e9tica seja uma preocupa\u00e7\u00e3o mantida pela Uni\u00e3o Europeia como um todo, pela Comiss\u00e3o Europeia e pelos Estados que a comp\u00f5em, muito em especial, os mais dependentes em termos energ\u00e9ticos de uma s\u00f3 fonte. As tens\u00f5es geopol\u00edticas na Europa tinham j\u00e1 feito soar as campainhas de alarme, com o conflito entre a R\u00fassia e a Ucr\u00e2nia: primeiro com as interrup\u00e7\u00f5es de fornecimento de g\u00e1s \u00e0 Ucr\u00e2nia nos anos de 2006 e 2009, depois com a anexa\u00e7\u00e3o da Crimeia e o controlo na pr\u00e1tica, da parte oriental deste pa\u00eds. Posteriormente a guerra na S\u00edria, a postura pol\u00edtica de Putin e mais recentemente o envenenamento do ex-espi\u00e3o russo, foram situa\u00e7\u00f5es que contaminaram seriamente as rela\u00e7\u00f5es geopol\u00edticas entre a Europa e a Federa\u00e7\u00e3o Russa.<\/p>\n\n\n\n

Nada faria prever, que o relan\u00e7ar do desencontro viesse agora pelo B\u00e1ltico, com o transporte do g\u00e1s natural russo diretamente para a Alemanha, atrav\u00e9s de um gigantesco gasoduto, denominado Nord Stream 2 (NS 2)<\/strong>. Este gasoduto veio \u00abanimar\u00bb o debate geopol\u00edtico na Europa: ampliar as disputas regionais, e alargar as preocupa\u00e7\u00f5es estrat\u00e9gicas dos Estados Unidos ao espa\u00e7o energ\u00e9tico europeu.<\/p>\n\n\n\n

\"Route
Figura 01: Nord Stream e Nord Stream 2
Fonte: (http:\/\/www.gazprom.com<\/a>)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

2 \u2013 Os antecedentes<\/strong><\/p>\n\n\n\n

O processo de fornecimento de g\u00e1s natural da R\u00fassia para a Alemanha, atrav\u00e9s do Mar B\u00e1ltico, iniciou-se em 2011, com o apadrinhamento p\u00fablico da Chanceler alem\u00e3 Angela Merkel, do ent\u00e3o Presidente russo Medvedev e do Primeiro-Ministro franc\u00eas Fran\u00e7ois Fillon. Viria a completar-se em agosto de 2012, com a operacionaliza\u00e7\u00e3o comercial do Nord Stream Gas Pipeline (NSGP) da responsabilidade da Nord Stream AG (Gazprom). Este gasoduto (Nord Stream) de 1224 km (o maior do mundo com estas caracter\u00edsticas subaqu\u00e1ticas) comporta duas linhas de transporte, com uma capacidade de (55 bcm) ano[1]<\/a>. O g\u00e1s natural para este transporte tem origem nos campos russos de Yuzhno-Russkoye, na regi\u00e3o de Leninegrado, e comporta uma extens\u00e3o no onshore russo de 917 km de comprimento. A sua parte de offshore inicia-se em Vyborg (Portovaya Bay) e termina em Greifswald na Alemanha. Este tra\u00e7ado aumenta a capacidade existente dos gasodutos Yamal \u00abNorthern Lights\u00bb (33 bcm) dirigido para a Bielorr\u00fassia e Pol\u00f3nia e o Brotherhood (100 bcm), atrav\u00e9s da Ucr\u00e2nia e Eslov\u00e1quia, onde a Ucr\u00e2nia detinha, como se sabe, o maior protagonismo como pa\u00eds de tr\u00e2nsito. Em junho de 2015, surge o an\u00fancio em pleno \u00abF\u00f3rum Econ\u00f3mico Internacional\u00bb realizado em S\u00e3o Petersburgo, do projeto agora em causa e designado NS 2.<\/p>\n\n\n\n

O gasoduto proposto far\u00e1 um percurso paralelo ao existente, num trajeto similar, aumentando a capacidade de transporte de g\u00e1s natural para o dobro, ou seja mais (55 bcm) repartidos por duas linhas adicionais. O prazo para a sua operacionaliza\u00e7\u00e3o, aponta desde o in\u00edcio para 2019. O acordo para o financiamento do projeto em curso, engloba desde 2017, para al\u00e9m da Nord Stream AG, cinco companhias europeias, respons\u00e1veis por 50% do financiamento do projeto: a ENGIE (Fran\u00e7a), OMV (\u00c1ustria), Royal Dutch Shell (Anglo-Holandesa), Uniper e a Wintershall (Alemanha). Com o custo estimado de 10.5 bili\u00f5es de d\u00f3lares e, o claro protagonismo da R\u00fassia e da Alemanha, estava lan\u00e7ada a primeira pedra para a controv\u00e9rsia e o debate geopol\u00edtico na Europa.<\/p>\n\n\n\n

\"Figura
As vias europeias de importa\u00e7\u00e3o de g\u00e1s russo
Fonte: Revista LIMES \u00abTrimarium fra Russia e Germania\u00bb 12\/2017<\/figcaption><\/figure><\/div>\n\n\n\n

3 \u2013 Como o NS 2 divide a Europa<\/strong><\/p>\n\n\n\n

A Alemanha pela sua forte estrutura econ\u00f3mica e, os interesses estrat\u00e9gico que representa como pot\u00eancia regional, influencia e condiciona os modelos a projetar para o futuro da Europa. Na economia do g\u00e1s natural, a sua estrutura de mercado \u00e9 muito relevante. \u00c9 o maior consumidor, o maior importador da Europa, e influente pa\u00eds de tr\u00e2nsito do g\u00e1s para os Estados vizinhos. Por outro lado, como tamb\u00e9m foi observado anteriormente, exerce uma rela\u00e7\u00e3o crucial nas importa\u00e7\u00f5es de g\u00e1s da R\u00fassia, pela utiliza\u00e7\u00e3o de liga\u00e7\u00f5es diretas de abastecimento por pipeline.<\/p>\n\n\n\n

A Alemanha importa prioritariamente g\u00e1s da R\u00fassia (32%), da Noruega (31%) e da Holanda (26%), e reexporta para a Fran\u00e7a, Su\u00ed\u00e7a, \u00c1ustria e Rep\u00fablica Checa, sendo por isso uma importante plataforma de tr\u00e2nsito do g\u00e1s natural. Sabendo-se das pol\u00edticas restritivas holandesas, e no futuro (por outras raz\u00f5es) provavelmente tamb\u00e9m da Noruega, o espa\u00e7o comercial russo assume nos planos energ\u00e9ticos a m\u00e9dio e longo prazo, um maior peso comercial.<\/p>\n\n\n\n

O pipeline russo NS 2 tem o cond\u00e3o de acentuar as divis\u00f5es que, alguns Estados e regi\u00f5es na Europa, por outro tipo de raz\u00f5es v\u00e3o exibindo. Durante a cimeira efetuada em meados de 2017 na Pol\u00f3nia, a Cimeira dos Tr\u00eas Mares (Mar B\u00e1ltico, Mar Adri\u00e1tico e Mar Negro), com a presen\u00e7a do Presidente dos EUA, foi reafirmada a import\u00e2ncia estrat\u00e9gica do G\u00e1s Natural Liquefeito (GNL) e do terminal (Floating) da Ilha de KrK na Cro\u00e1cia e do terminal LNG \u015awinouj\u015bcie na Pol\u00f3nia, para o conjunto da seguran\u00e7a energ\u00e9tica na Europa Central e de Leste. Uma liga\u00e7\u00e3o posterior por pipelines, entre estes terminais e os restantes pa\u00edses envolvidos, seria uma forma de impedir o dom\u00ednio do R\u00fassia nas exporta\u00e7\u00f5es de g\u00e1s, salvaguardando assim, a independ\u00eancia e seguran\u00e7a energ\u00e9tica dos mesmos. Por outro lado, estariam tamb\u00e9m garantidos os interesses comerciais dos EUA e da coloca\u00e7\u00e3o do seu GNL na Europa, de forma mais consistente. A Pol\u00f3nia pretende garantir a prazo uma estrat\u00e9gia de dom\u00ednio na Europa Central, de importa\u00e7\u00e3o e plataforma de reexporta\u00e7\u00e3o do g\u00e1s natural, prioritariamente vindo dos EUA, criando assim, um verdadeiro hub energ\u00e9tico do g\u00e1s na regi\u00e3o. A R\u00fassia e a Alemanha t\u00eam ao longo deste per\u00edodo mantido uma pol\u00edtica cautelosa. Evitam ligar o gasoduto do B\u00e1ltico, a qualquer a\u00e7\u00e3o geopol\u00edtica ou de \u00e2mbito estrat\u00e9gico, procurando junto da Comiss\u00e3o Europeia real\u00e7ar apenas aquilo que s\u00e3o as quest\u00f5es t\u00e9cnicas e econ\u00f3micas deste projeto. [2]<\/a><\/p>\n\n\n\n

4 \u2013 O debate t\u00e9cnico e econ\u00f3mico<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Esta tem\u00e1tica serviu de mote, para ambos os lados, justificarem o interesse e a continuidade ou n\u00e3o deste projeto. Ainda que claramente se perceba, que muitas vezes este debate foi feito, para encobrir o verdadeiro conte\u00fado pol\u00edtico do problema. Surge no momento, em que na Europa, se d\u00e3o passos em dire\u00e7\u00e3o aos novos desafios energ\u00e9ticos, balanceando tamb\u00e9m os interesses que congregam as energias f\u00f3sseis e as renov\u00e1veis. Caminhos que estar\u00e3o sempre associados, com as regras de mercado, as pol\u00edticas empresariais e a incerteza do ciclo dos pre\u00e7os a praticar, vetor que em boa verdade, n\u00e3o depende da Europa, como sabemos. Com o g\u00e1s natural europeu em decl\u00ednio previs\u00edvel, o GNL vindo dos EUA, do Qatar ou da \u00c1frica Ocidental, entre outros, surge como contrapeso real \u00e0s importa\u00e7\u00f5es vindas da R\u00fassia.<\/p>\n\n\n\n

O grande dilema que persiste a este n\u00edvel est\u00e1 em equacionar o modelo energ\u00e9tico em que a Europa deve apostar num horizonte de uma d\u00e9cada? Refor\u00e7ar o peso do g\u00e1s natural como energia de transi\u00e7\u00e3o, ou mesmo de elei\u00e7\u00e3o, ou apostar cada vez mais nas energias renov\u00e1veis? Que espa\u00e7o ainda para o carv\u00e3o e para o nuclear, num quadro global que se deseja mais \u00absaud\u00e1vel\u00bb ambientalmente? Quais s\u00e3o efetivamente as necessidades futuras em termos energ\u00e9ticos? Que tipos de investimentos podem ser feitos e de que forma? Isto numa altura, em que as altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas e as pol\u00edticas ambientais ditam as regras, e as principais companhias petrol\u00edferas e do g\u00e1s diversificam os seus planos, prevendo tamb\u00e9m elas, o neg\u00f3cio alargado a outras fontes. Contudo, o que sobressai \u00e9 que a op\u00e7\u00e3o pelo g\u00e1s natural, nesta fase, garante a satisfa\u00e7\u00e3o das necessidades existentes, das regras e dos modelos institu\u00eddos, das pol\u00edticas gerais ambientais e claro do sempre apetec\u00edvel \u00abbon march\u00e9\u00bb! a curto e m\u00e9dio prazo. Sendo o g\u00e1s natural, muito menos poluente que os seus competidores f\u00f3sseis, a substitui\u00e7\u00e3o do carv\u00e3o, em especial na componente el\u00e9trica, contribuir\u00e1 certamente para a desejada pol\u00edtica de \u00abdescarboniza\u00e7\u00e3o\u00bb na Europa.<\/p>\n\n\n\n

5 \u2013 O debate sobre normas e legalidade<\/strong><\/p>\n\n\n\n

No tabuleiro das disputas geopol\u00edticas, a quest\u00e3o sobre a aplica\u00e7\u00e3o e o cumprimento do normativo legal no espa\u00e7o europeu foi uma das estrat\u00e9gias utilizadas. Tem sido utilizada preferencialmente pelos pa\u00edses e organiza\u00e7\u00f5es que se op\u00f5em diretamente ao projeto do NS 2. No centro da discuss\u00e3o, as normas europeias e a Comiss\u00e3o Europeia. A problem\u00e1tica tem-se colocado em diferentes patamares de an\u00e1lise: que leis se aplicam, desde quando, a quem se aplicam, onde se aplicam e com que efic\u00e1cia. E sobre isto, como se percebe, n\u00e3o existe de todo um consenso. De uma forma geral, a aplicabilidade das mesmas surge por via de normas comparativas e neste caso espec\u00edfico, as medidas protecionistas da UE, n\u00e3o abrangeram na altura o projeto base do Nord Stream (NS). Em termos gerais podemos falar da interpreta\u00e7\u00e3o e aplica\u00e7\u00e3o dos princ\u00edpios regulamentares: do UNCLOS (United Nations Convention on the Law of the Sea), dos princ\u00edpios gerais estabelecidos para a Uni\u00e3o da Energia, e tamb\u00e9m do \u00abThird Energy Package\u00bb. Deste \u00faltimo documento estrutural, consta a Diretiva do G\u00e1s da UE e derivam quest\u00f5es como: a regula\u00e7\u00e3o de tarifas, o \u00abthird party acess\u00bb e do \u00abownership unbundling\u00bb, conceitos quer para o mercado do g\u00e1s, quer da energia, que procuram garantir o acesso e competitividade entre os operadores e os consumidores nas respetivas redes de com\u00e9rcio e distribui\u00e7\u00e3o. No \u00e2mbito da aplica\u00e7\u00e3o do conjunto das normas citadas, est\u00e3o as \u00e1guas internas e a Zonas Econ\u00f3micas Exclusivas (ZEE) dos pa\u00edses direta ou indiretamente ligados ao projeto: A Alemanha, Dinamarca, Su\u00e9cia e Finl\u00e2ndia. As d\u00favidas levantadas sobre a legalidade deste projeto, alargam-se tamb\u00e9m aos pipelines que ligar\u00e3o o NS 2 ao transporte e conex\u00f5es internas para outros Estados e regi\u00f5es do Centro da Europa. Para al\u00e9m de serem invocadas as normas internas da UE para impedir a concretiza\u00e7\u00e3o do NS 2, alega-se de igual forma, sobre o incumprimento das normas estabelecidas sobre emiss\u00f5es de CO2<\/sub>, assim como, das medidas acordadas internacionalmente de san\u00e7\u00f5es mais gerais \u00e0 R\u00fassia e \u00e0s empresas que colaborem em projetos comuns desenvolvidos por esta.<\/p>\n\n\n\n

O pr\u00f3prio Parlamento Europeu considera que existe uma: \u00ab\u2026 preocupa\u00e7\u00e3o relativamente \u00e0 proposta de duplicar a capacidade do gasoduto \u00abNord Stream\u00bb e aos efeitos contraproducentes que essa duplica\u00e7\u00e3o teria na seguran\u00e7a energ\u00e9tica, na diversifica\u00e7\u00e3o das fontes de aprovisionamento e no princ\u00edpio da solidariedade entre os Estados-Membros; real\u00e7a as implica\u00e7\u00f5es geopol\u00edticas do projeto e os princ\u00edpios subjacentes de uma Uni\u00e3o da Energia plenamente integrada, segura, competitiva e sustent\u00e1vel, salientando que, por isso, n\u00e3o deve beneficiar do apoio financeiro da UE ou de derroga\u00e7\u00f5es \u00e0 legisla\u00e7\u00e3o da UE; sublinha que a duplica\u00e7\u00e3o da capacidade do gasoduto \u00abNord Stream<\/em>\u00bb daria a uma \u00fanica empresa uma posi\u00e7\u00e3o dominante no mercado europeu do g\u00e1s, situa\u00e7\u00e3o que deve ser evitada<\/em>\u00bb.[3]<\/sup><\/a><\/p>\n\n\n\n

6 \u2013 O debate sobre normas e legalidade<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Em todo este complexo processo comercial, constata-se que existe um claro debate geopol\u00edtico pela import\u00e2ncia que o mesmo configura. Debate geopol\u00edtico n\u00e3o reconhecido oficialmente ao longo do per\u00edodo de discuss\u00e3o do mesmo, pelos principais interessados: A R\u00fassia e a Alemanha. Trazer o debate para o dom\u00ednio pol\u00edtico n\u00e3o lhes interessava e corria o risco de minar os interesses econ\u00f3micos e comerciais em jogo. Por seu lado, os pa\u00edses mais inconformados com o evoluir da decis\u00e3o e contr\u00e1rios ao NS 2, com a Pol\u00f3nia e Ucr\u00e2nia \u00e0 cabe\u00e7a, os pa\u00edses B\u00e1lticos (Est\u00f3nia, Litu\u00e2nia e Let\u00f3nia) e alguns pa\u00edses da Europa Central, v\u00e3o esgrimindo as suas posi\u00e7\u00f5es no espa\u00e7o da Uni\u00e3o, de forma sempre bem aud\u00edvel. Para os Estados Unidos, por seu lado, mais que argumentos pol\u00edticos s\u00e3o invocadas medidas e argumentos do \u00e2mbito da estrat\u00e9gica e da seguran\u00e7a mais geral da Europa, face a uma \u00abR\u00fassia amea\u00e7adora e monopolista\u00bb. Neste amplo e intenso debate, as estruturas europeias, a Comiss\u00e3o Europeia e o Parlamento Europeu foram tamb\u00e9m elas envolvidas, traduzindo sempre as posi\u00e7\u00f5es dominantes sobre a mat\u00e9ria em quest\u00e3o, no sentido de n\u00e3o apoiar o projeto do NS 2, tal como foi expresso recentemente pelo Comiss\u00e1rio Europeu, Dominique Ristori respons\u00e1vel pela \u00e1rea da energia, que anunciou em Kiev que o pipeline \u00abviolar\u00e1 os princ\u00edpios da transpar\u00eancia e do livre acesso dos consumidores europeus \u00e0s fontes energ\u00e9ticas\u00bb. A discuss\u00e3o a n\u00edvel pol\u00edtico foi sempre balanceada, entre os argumentos de pol\u00edtica energ\u00e9tica e os interesses pol\u00edticos diretos dos Estados envolvidos.<\/p>\n\n\n\n

Os interesses econ\u00f3micos falaram sempre mais alto e muitas vezes com maior realismo! Ali\u00e1s a Alemanha sempre considerou que o NS 2 n\u00e3o era um assunto pol\u00edtico, muito menos de \u00e2mbito geopol\u00edtico. S\u00f3 em fase adiantada do projeto, e durante a visita a Berlim do Presidente do Ucr\u00e2nia, Petro Poroshenko em 10 de abril do ano passado, a Alemanha alterou o seu discurso. Depois de muito pressionada pelos EUA e alguns parceiros europeus, a Chanceler Merkel reconheceu que poderiam estar em jogo, efetivamente, aspetos pol\u00edticos e estrat\u00e9gicos. E que neste caso, a Ucr\u00e2nia n\u00e3o poderia ser prejudicada ou limitada no futuro, na sua pol\u00edtica energ\u00e9tica por esta op\u00e7\u00e3o comercial. A Alemanha comprometia-se publicamente a defender os interesses da Ucr\u00e2nia, perante a R\u00fassia. A influ\u00eancia germ\u00e2nica na Europa ser\u00e1 suficiente para permitir um acordo mais global, que permitir\u00e1 levar a bom porto e conforme programado este grande projeto energ\u00e9tico na Europa. O apoio da \u00c1ustria e apoio t\u00e1cito da Fran\u00e7a e Reino Unido, It\u00e1lia e Holanda, dar\u00e3o margem de manobra \u00e0 Chanceler Merkel para partilhar esta vit\u00f3ria pol\u00edtica e comercial na Europa. Os pa\u00edses diretamente envolvidos, para al\u00e9m da R\u00fassia, a Dinamarca, Su\u00e9cia e Finl\u00e2ndia, j\u00e1 garantiram um apoio praticamente incondicional ao projeto. A Finl\u00e2ndia foi o mais recente Estado a garantir a permiss\u00e3o da constru\u00e7\u00e3o do gasoduto. Em simult\u00e2neo, do outro lado do Atl\u00e2ntico, 39 senadores (muitos republicanos e alguns democratas) solicitavam entretanto ao presidente Trump, o uso de todos os instrumentos legais, para obstaculizar a concretiza\u00e7\u00e3o do NS 2. Inclusive recorrendo ao \u00abCountering America`s Adversaries Through Sanctions Act (CAATSA)\u00bb, impondo assim, \u00e0s companhias europeias envolvidas, s\u00e9rias limita\u00e7\u00f5es comerciais e de acesso ao mercado financeiro. O pr\u00f3prio presidente norte-americano, j\u00e1 tinha afirmado pessoalmente a sua hostiliza\u00e7\u00e3o \u00e0s decis\u00f5es tomadas pela Alemanha, confrontando mesmo a pouca contribui\u00e7\u00e3o financeira germ\u00e2nica do seio da NATO, com os custos envolvidos no gasoduto NS 2.<\/p>\n\n\n\n

7 \u2013 A ofensiva geopol\u00edtica das grandes pot\u00eancias<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Em todo este processo, sobressai uma op\u00e7\u00e3o energ\u00e9tica forte: a duplica\u00e7\u00e3o da importa\u00e7\u00e3o de g\u00e1s natural da R\u00fassia pela Alemanha, por pipeline, atrav\u00e9s do Mar B\u00e1ltico, num investimento de grande amplitude. \u00c9 tamb\u00e9m uma clara op\u00e7\u00e3o comercial alargada, onde est\u00e3o envolvidas companhias Alem\u00e3s, Francesas, Austr\u00edaca e Anglo-Holandesa, para al\u00e9m evidentemente da Gazprom. A consolida\u00e7\u00e3o deste projeto, com o alargamento da rede interna de conex\u00e3o de g\u00e1s, ir\u00e1 permitir beneficiar os pa\u00edses do Centro e Norte da Europa, possibilitando \u00e0 Alemanha reequilibrar o seu mix energ\u00e9tico a prazo, ap\u00f3s a prevista redu\u00e7\u00e3o no carv\u00e3o e no nuclear. Ganha e muito a R\u00fassia, porque permite aumentar as suas vendas de g\u00e1s natural e garantir contratos a m\u00e9dio e longo prazo, justificando os seus enormes investimentos no upstream<\/em> do g\u00e1s, nomeadamente no \u00c1rtico. Por outro lado, ficam muito prejudicados, nesta fase, os pa\u00edses de tr\u00e2nsito como a Ucr\u00e2nia, que deixam de receber na mesma propor\u00e7\u00e3o, os respetivos dividendos financeiros (transit fees<\/em>). Mas ilude-se quem pensava, que este era um mero projeto comercial energ\u00e9tico. Desde sempre que a Alemanha e a R\u00fassia, o sabiam, embora nunca o tivessem afirmado.<\/p>\n\n\n\n

O que se verifica \u00e9 que existe uma clara estrat\u00e9gia russa e da Gazprom. Garantir a coloca\u00e7\u00e3o do seu g\u00e1s na Europa, conquistando mercado e dom\u00ednio econ\u00f3mico sobre esta, numa componente decisiva e muito vulner\u00e1vel como \u00e9 a energia, contornando o problema da passagem do g\u00e1s natural pela Ucr\u00e2nia. O jogo geopol\u00edtico estende-se aos EUA, que procuram tamb\u00e9m eles, ocupar o espa\u00e7o do g\u00e1s natural, com a sua pol\u00edtica de expans\u00e3o do GNL e do g\u00e1s de xisto e garantir a utiliza\u00e7\u00e3o dos muitos terminais de GNL existentes na Europa para o efeito. A Europa muito dividida, percebe tamb\u00e9m, que podem existir hoje mais alternativas energ\u00e9ticas, que em \u00e9pocas passadas. A seguran\u00e7a energ\u00e9tica, se j\u00e1 era uma preocupa\u00e7\u00e3o da Europa, passou a ser uma \u00abobriga\u00e7\u00e3o estrat\u00e9gica\u00bb, em face das novas realidades. Na verdade, a seguran\u00e7a energ\u00e9tica ter\u00e1 de ser sempre um objetivo estrat\u00e9gico da UE.<\/p>\n\n\n\n

Garantir a \u00abSeguran\u00e7a, Resili\u00eancia e Competitividade\u00bb no fornecimento de g\u00e1s no espa\u00e7o da UE, obriga ao cumprimento das normas reguladores estabelecida no espa\u00e7o europeu. Esta disputa comercial poder\u00e1, desde que devidamente acautelada, gerir condi\u00e7\u00f5es mais favor\u00e1veis; que levem a um equil\u00edbrio de recursos (entre o pipeline e o GNL), que garantam que o objetivo m\u00e1ximo da seguran\u00e7a energ\u00e9tica no espa\u00e7o europeu seja efetivamente uma realidade. A Europa e os seus Estados-Membros, n\u00e3o podem depender de uma fonte energ\u00e9tica \u00abdiretora\u00bb, ou do monop\u00f3lio de um fornecedor. O GNL vem criar um modelo comercial de alternativa e complementaridade, enquadrado num cen\u00e1rio mais amplo. O objetivo da concretiza\u00e7\u00e3o da \u00abUni\u00e3o da Energia\u00bb passar\u00e1 tamb\u00e9m, pela progressiva consolida\u00e7\u00e3o das energias renov\u00e1veis, no mix energ\u00e9tico europeu.<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/p>\n\n\n\n

Eduardo Caetano de Sousa<\/em><\/strong><\/strong>
Associado<\/p>\n\n\n\n

[1]<\/a> Bili\u00e3o de metros c\u00fabicos.<\/p>\n\n\n\n

[2]<\/a> Baseado no livro do autor \u00abCom que g\u00e1s se move o Sistema Internacional \u2013 o g\u00e1s natural nas novas disputas da geopol\u00edtica mundial\u00bb.[3]<\/a> EU \u2013  \u00abRelat\u00f3rio sobre a Estrat\u00e9gia da UE de G\u00e1s Natural Liquefeito e de Armazenamento de G\u00e1s<\/em>\u00bb (2016\/2059 (INI))<\/a><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

1 \u2013 A controv\u00e9rsia que vem pelo B\u00e1ltico A realidade energ\u00e9tica na Europa tem sido, de uma forma geral, nos \u00faltimos anos, um tempo de acalmia. As fontes f\u00f3sseis (reservas provadas de carv\u00e3o, g\u00e1s natural e petr\u00f3leo) s\u00e3o abundantes no mundo e diversificadas. Os pre\u00e7os t\u00eam-se mantido estabilizados, em ciclos de oscila\u00e7\u00e3o control\u00e1veis, e assim… Ler mais »O gasoduto Nord Stream 2 \u2013 A disputa geopol\u00edtica na Europa<\/span><\/a><\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":2926,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"neve_meta_sidebar":"","neve_meta_container":"","neve_meta_enable_content_width":"","neve_meta_content_width":0,"neve_meta_title_alignment":"","neve_meta_author_avatar":"","neve_post_elements_order":"","neve_meta_disable_header":"","neve_meta_disable_footer":"","neve_meta_disable_title":""},"categories":[17],"tags":[],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/219"}],"collection":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=219"}],"version-history":[{"count":6,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/219\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":2712,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/219\/revisions\/2712"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/media\/2926"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=219"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=219"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=219"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}