{"id":244,"date":"2019-05-23T10:51:46","date_gmt":"2019-05-23T10:51:46","guid":{"rendered":"https:\/\/eurodefense.pt\/?p=244"},"modified":"2023-02-20T19:01:23","modified_gmt":"2023-02-20T19:01:23","slug":"estrategia-de-seguranca-nacional-e-nova-arquitetura-de-seguranca-nacional","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/eurodefense.pt\/estrategia-de-seguranca-nacional-e-nova-arquitetura-de-seguranca-nacional\/","title":{"rendered":"Estrat\u00e9gia de Seguran\u00e7a Nacional e Nova Arquitetura de Seguran\u00e7a Nacional"},"content":{"rendered":"\n

1. Introdu\u00e7\u00e3o<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Nos pr\u00f3ximos minutos, cabe-me apresentar o entendimento do GRES sobre a Estrat\u00e9gia de Seguran\u00e7a Nacional e as linhas gerais de uma Nova Arquitetura de Seguran\u00e7a Nacional para o nosso pa\u00eds. O \u00e2mbito do assunto \u00e9 vasto face aos condicionalismos de tempo, requerendo um esfor\u00e7o de s\u00edntese, centrado nos fundamentos do estudo que o Grupo de Reflex\u00e3o Estrat\u00e9gica sobre Seguran\u00e7a publicou recentemente sobre o assunto.<\/p>\n\n\n\n

Permitam-me, por\u00e9m, que me associe aos oradores que me antecederam, para real\u00e7ar a oportunidade desta iniciativa da Assembleia da Rep\u00fablica. Debater o Estado de Direito e a Seguran\u00e7a \u00e9 um exerc\u00edcio oportuno e necess\u00e1rio, perante indicadores preocupantes que em boa parte decorrem da crise de seguran\u00e7a que a Europa enfrentou recentemente. O ressurgir, um pouco por todos os quadrantes geogr\u00e1ficos, de discursos e pr\u00e1ticas atentat\u00f3rias dos valores e princ\u00edpios que suportam o nosso modelo de sociedade de matriz humanista, herdada do iluminismo e da revolu\u00e7\u00e3o das luzes, que tem na Declara\u00e7\u00e3o Universal dos Direitos Humanos uma refer\u00eancia maior, constitui preocupa\u00e7\u00e3o para aqueles que, como n\u00f3s, consideram o Estado de Direito Democr\u00e1tico um pilar civilizacional.<\/p>\n\n\n\n

Por outro lado, faz todo o sentido abordar o tema do Estado de Direito na antev\u00e9spera da data em que celebramos aquele que, nas palavras de Sophia de Mello Breyner, foi o \u201cdia inicial inteiro e limpo, onde emergimos da noite e do sil\u00eancio e livres habitamos a subst\u00e2ncia do tempo\u201d. Evocar o 25 de Abril \u00e9 tamb\u00e9m uma forma de enaltecer o Estado de Direito Democr\u00e1tico.<\/p>\n\n\n\n

Quarenta e cinco anos ap\u00f3s o regresso de Portugal \u00e0 comunidade dos Estados democr\u00e1ticos, a ordem internacional regulada pelo Direito Internacional e assente no multilateralismo, bem como o modelo de governa\u00e7\u00e3o democr\u00e1tica fundado no primado da Lei e no respeito pelos valores universais, est\u00e3o em risco. Defrontam-se com o ressurgimento de unilateralismos diversos, o despontar de regimes iliberais, a par da profus\u00e3o de discursos de \u00f3dio e da banaliza\u00e7\u00e3o de pr\u00e1ticas ao n\u00edvel da barb\u00e1rie mais abjeta.<\/p>\n\n\n\n

O Estado de Direito Democr\u00e1tico \u00e9 uma conquista civilizacional do espa\u00e7o identit\u00e1rio que o Prof. Adriano Moreira apelidou de Euromundo, mas importa ter consci\u00eancia de que n\u00e3o \u00e9 um bem p\u00fablico global que possamos dar por adquirido.<\/p>\n\n\n\n

Ainda no plano dos princ\u00edpios, permitam-me sublinhar que a perspetiva do GRES sobre Seguran\u00e7a, Liberdade e Justi\u00e7a n\u00e3o \u00e9 de soma zero. Uma sociedade complexa exige uma vis\u00e3o sist\u00e9mica que n\u00e3o se compadece com leituras lineares, pr\u00f3prias de quem s\u00f3 consegue ver os fen\u00f3menos societais a preto e branco.<\/p>\n\n\n\n

A teoria dos sistemas, considera as organiza\u00e7\u00f5es sociais constitu\u00eddas por uma pluralidade de vari\u00e1veis interdependentes, tendo subjacente a no\u00e7\u00e3o de complexidade. A Seguran\u00e7a \u00e9 uma propriedade emergente da intera\u00e7\u00e3o entre as partes e como tal apenas mensur\u00e1vel atrav\u00e9s das suas manifesta\u00e7\u00f5es. \u00c9 uma propriedade do todo, requerendo a compreens\u00e3o dos processos que est\u00e3o na sua g\u00e9nese. Seguran\u00e7a, Liberdade e Justi\u00e7a s\u00e3o faces de uma mesma realidade que n\u00e3o se anulam, mas antes se complementam.<\/p>\n\n\n\n

Porque a seguran\u00e7a emerge do Estado de Direito Democr\u00e1tico, os seus diferentes agentes, em particular for\u00e7as armadas e for\u00e7as e servi\u00e7os de seguran\u00e7a, a quem o Estado delega o uso da for\u00e7a em prol do bem comum, devem ser os primeiros a entender os fundamentos do Estado de Direito. A sua a\u00e7\u00e3o dever\u00e1 estar em linha com os seus valores e princ\u00edpios, impondo-se, portanto, que primem por uma cultura democr\u00e1tica, que seja patente no relacionamento com o cidad\u00e3o, interiorizando princ\u00edpios de a\u00e7\u00e3o t\u00e3o elementares como o de que a conten\u00e7\u00e3o dever estar sempre do lado da for\u00e7a e que a vida \u00e9 um valor sagrado.<\/p>\n\n\n\n

2. Relevo da Estrat\u00e9gia de Seguran\u00e7a Nacional<\/strong><\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o ser\u00e1 certamente dif\u00edcil argumentar sobre a import\u00e2ncia de Portugal dispor de um documento enformador da Pol\u00edtica do Estado, que nos permita, como comunidade, estabelecer um rumo para o nosso destino comum.<\/p>\n\n\n\n

O Estado deve ser mais do que o somat\u00f3rio dos interesses individuais. Como cidad\u00e3os estamos vinculados por la\u00e7os identit\u00e1rios e anseios comuns, por um ide\u00e1rio partilhado que nos diferencia e identifica como na\u00e7\u00e3o com uma hist\u00f3ria plurissecular. Temos uma l\u00edngua e cultura pr\u00f3prias e uma identidade nacional forte, pelo que importa termos uma ideia do destino coletivo que pretendemos tra\u00e7ar.<\/p>\n\n\n\n

Para isso \u00e9 importante que saibamos compreender o presente, quais os interesses vitais por que nos devemos bater, onde devemos priorizar o emprego dos recursos, quais as amea\u00e7as e riscos que poder\u00e3o condicionar o nosso percurso coletivo, que vis\u00e3o e n\u00edvel de ambi\u00e7\u00e3o temos para Portugal. Em s\u00edntese, importa saber onde estamos e para onde queremos ir, porque para uma embarca\u00e7\u00e3o sem um rumo qualquer vento serve.<\/p>\n\n\n\n

O acervo legislativo obedece a uma hierarquia de leis, decretos-leis, portarias regulamentares, despachos, resolu\u00e7\u00f5es, etc. A estrat\u00e9gia obedece a moldes semelhantes, articulando-se em estrat\u00e9gia total (ou global) do Estado, estrat\u00e9gias gerais correspondentes aos diferentes instrumentos do poder e estrat\u00e9gias particulares das respetivas \u00e1reas subsidi\u00e1rias.<\/p>\n\n\n\n

A estrat\u00e9gia constitui o fundamento da a\u00e7\u00e3o pol\u00edtica. Tem por objetivo o emprego dos diferentes instrumentos do poder, nomeadamente: o diplom\u00e1tico, informacional (intelligence<\/em>), militar e econ\u00f3mico, a que acresce ainda o poder comunicacional (dos media<\/em>). A cada um destes poderes dever\u00e1 corresponder uma estrat\u00e9gia, que no respetivo l\u00e9xico denomina-se por estrat\u00e9gia geral. A delinea\u00e7\u00e3o das estrat\u00e9gias segue uma metodologia semelhante, estabelecendo modalidades a adotar e meios a empregar para se alcan\u00e7arem os respetivos fins.<\/p>\n\n\n\n

A estrat\u00e9gia geral militar, consubstancia o Conceito Estrat\u00e9gico de Defesa Nacional, estabelecendo as grandes linhas da Pol\u00edtica de Defesa e da organiza\u00e7\u00e3o das for\u00e7as armadas. A esta subordinam-se as estrat\u00e9gias particulares, respetivamente: naval, terrestre, aeroespacial e de ciberseguran\u00e7a, que os diferentes ramos e organismos respons\u00e1veis pela Defesa Nacional estabelecem como guias para a respetiva a\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Em Portugal tem sido prof\u00edcua a produ\u00e7\u00e3o de estrat\u00e9gias particulares nos mais diversos setores da pol\u00edtica do Estado. O objeto desta confer\u00eancia versa as dimens\u00f5es social e ambiental da seguran\u00e7a, que correspondem \u00e0 aus\u00eancia do medo e \u00e0 perce\u00e7\u00e3o de vivermos num habitat confort\u00e1vel. Nestes dom\u00ednios, identificam-se os pilares primordiais da seguran\u00e7a, nomeadamente:<\/p>\n\n\n\n