{"id":250,"date":"2019-09-24T11:02:00","date_gmt":"2019-09-24T11:02:00","guid":{"rendered":"https:\/\/eurodefense.pt\/?p=250"},"modified":"2023-02-20T19:01:22","modified_gmt":"2023-02-20T19:01:22","slug":"futuro-aviao-de-combate-europeu-realidade-ou-ficcao-future-european-fighting-aircraft-reality-or-fiction","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/eurodefense.pt\/futuro-aviao-de-combate-europeu-realidade-ou-ficcao-future-european-fighting-aircraft-reality-or-fiction\/","title":{"rendered":"Futuro avi\u00e3o de combate europeu: realidade ou fic\u00e7\u00e3o?"},"content":{"rendered":"\n

Future European Fighting Aircraft: Reality or Fiction?<\/h4>\n\n\n\n

Depois da queda do \u201cMuro de Berlim\u201d foram concebidos, desenvolvidos e produzidos na Europa, principalmente, tr\u00eas tipos diferentes de avi\u00f5es de combate da 4\u00aa gera\u00e7\u00e3o: Eurofighter Typhoon (cons\u00f3rcio europeu constitu\u00eddo por Reino Unido, Alemanha, It\u00e1lia e Espanha)[1]<\/a> , Rafale (grupo franc\u00eas Dassault Aviation) e JAS-39 Saab Gripen (grupo sueco). Estas aeronaves equipam obviamente as atuais frotas a\u00e9reas dos pa\u00edses que constituem os diversos cons\u00f3rcios[2]<\/a>.<\/p>\n\n\n\n

Concomitantemente, se n\u00e3o contarmos com os pa\u00edses da Europa de Leste que, na sua totalidade, at\u00e9 h\u00e1 muito pouco tempo, estavam equipados com avi\u00f5es de combate do tempo da era sovi\u00e9tica a caminhar rapidamente para a obsolesc\u00eancia (Mig-21, Mig-25 e Mig-29, assim como Sukhoy SU-24,SU-25 e SU-26)[3]<\/a>, a grande maioria dos restantes pa\u00edses europeus est\u00e3o equipados com o F-16, que \u00e9 um avi\u00e3o americano de combate da 4\u00aa gera\u00e7\u00e3o, tendo o mesmo sido sujeito a um Programa de moderniza\u00e7\u00e3o de meia-vida (Mid-Life Update-MLU europeu)[4]<\/a>.<\/p>\n\n\n\n

O programa MLU foi muito \u00fatil em termos de moderniza\u00e7\u00e3o e extens\u00e3o do tempo de vida \u00fatil estrutural, tecnol\u00f3gico e operacional da aeronave, de interoperabilidade e prontid\u00e3o operacional das diferentes frotas europeias e de estandardiza\u00e7\u00e3o dos seus sistemas de armas, com a consequente efic\u00e1cia operacional e redu\u00e7\u00e3o significativa dos custos de manuten\u00e7\u00e3o e opera\u00e7\u00e3o devido a sinergias e economias de escala.<\/p>\n\n\n\n

Em termos de vida operacional \u00fatil das aeronaves que equipam as frotas europeias, ser\u00e3o naturalmente os F-16 e os F-18 Hornets (estes \u00faltimos adquiridos pela Espanha, Finl\u00e2ndia e Su\u00ed\u00e7a) aqueles que atingir\u00e3o o limite de vida mais cedo, por volta de 2025-2030[5]<\/a>. Estima-se que as aeronaves mais recentes como o EuroFighter Typhoon[6]<\/a>, Rafale e Saab Gripen atingir\u00e3o o seu tempo \u00fatil de vida operacional no horizonte de 2040-45.<\/p>\n\n\n\n

Conjuntamente com o Rafale e o Saab Gripen, tem sido principalmente o cons\u00f3rcio industrial Eurofighter Typhoon[7]<\/a>, com vendas estimadas da ordem de 700 aeronaves, o \u201ccimento\u201d agregador e o sustent\u00e1culo inovador da ind\u00fastria aeron\u00e1utica de defesa europeia nas \u00faltimas d\u00e9cadas.<\/p>\n\n\n\n

A substitui\u00e7\u00e3o\/moderniza\u00e7\u00e3o de sistemas de armas complexos como s\u00e3o os modernos avi\u00f5es de combate, com as suas sofisticados plataformas de software, sensores e sistemas de armamento e equipamento, \u00e9 um processo de decis\u00e3o pol\u00edtica e estrat\u00e9gica moroso e repleto de vicissitudes, com um longo, arriscado e custoso per\u00edodo de desenvolvimento tecnol\u00f3gico-industrial, qualifica\u00e7\u00e3o, certifica\u00e7\u00e3o, etc, que em m\u00e9dia, e numa perspetiva muito otimista, requer pelo menos 10-15 anos.<\/p>\n\n\n\n

Importa referir que as frotas a\u00e9reas da B\u00e9lgica e Holanda (F-16), assim como da Alemanha e It\u00e1lia (Tornado) t\u00eam dupla capacidade quanto ao tipo de armamento convencional e\/ou nuclear transport\u00e1vel, ao abrigo do princ\u00edpio de solidariedade europeia em rela\u00e7\u00e3o ao conceito de \u201cburden-sharing nuclear\u201d da NATO, existente desde o tempo da \u201cguerra fria\u201d, que n\u00e3o s\u00f3 fortalece a rela\u00e7\u00e3o transatl\u00e2ntica como assegura a manuten\u00e7\u00e3o e credibilidade do contributo europeu para a materializa\u00e7\u00e3o da doutrina da dissuas\u00e3o nuclear da NATO.<\/p>\n\n\n\n

Por isso, torna-se indispens\u00e1vel pensar estrategicamente a sua substitui\u00e7\u00e3o\/moderniza\u00e7\u00e3o, numa perspetiva de longo prazo, buscando, sempre que poss\u00edvel, parcerias internacionais ou regionais, quer de parceiros industriais quer de entidades governamentais, que assegurem a interoperabilidade operacional, a estandardiza\u00e7\u00e3o dos sistemas e um n\u00famero m\u00ednimo de vendas, geradoras de sinergias e economias de escala, que minimizem os riscos e reduzam os elevados custos de desenvolvimento\/industrializa\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 por isso que todos os pa\u00edses europeus que est\u00e3o equipados com frotas F-16, que participaram no Programa MLU, depois de extensos e minuciosos estudos comparativos sob o ponto de vista t\u00e9cnico, financeiro, operacional, log\u00edstico e industrial, tendo em considera\u00e7\u00e3o op\u00e7\u00f5es de substitui\u00e7\u00e3o versus moderniza\u00e7\u00e3o das suas aeronaves, j\u00e1 tomaram a decis\u00e3o pol\u00edtica de os substituir (e n\u00e3o modernizar).<\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o \u00e9 despiciendo sublinhar que todos esses pa\u00edses optaram, embora em momentos temporais e modalidades de participa\u00e7\u00e3o diferentes, pela aquisi\u00e7\u00e3o do F-35, que \u00e9 um avi\u00e3o de fabrico americano de 5\u00aa gera\u00e7\u00e3o[8]<\/a>, o que, \u00e0 semelhan\u00e7a da experi\u00eancia e li\u00e7\u00f5es adquiridas com a explora\u00e7\u00e3o dos F-16, no quadro do European Participating Air Forces (EPAF), poder\u00e1 facilitar a constitui\u00e7\u00e3o de um grupo europeu utilizador de frotas F-35, com as consequentes sinergias e benef\u00edcios de efic\u00e1cia operacional e economia log\u00edstica[9]<\/a>.<\/p>\n\n\n\n

Embora cerca de metade da frota dos F-16 que equipam a For\u00e7a A\u00e9rea Portuguesa (FAP) estejam perto de atingir 40 anos de vida, ainda disp\u00f5em de algum potencial estrutural. Contudo, sob o ponto de vista operacional, come\u00e7am a existir dificuldades econ\u00f3micas e tecnol\u00f3gicas acrescidas com a sua manuten\u00e7\u00e3o\/utiliza\u00e7\u00e3o, situa\u00e7\u00e3o que tende a agravar-se \u00e0 medida que os pa\u00edses que integram o EPAF forem recebendo o F-35 e, consequentemente, deixando de investir no F-16, originando a redu\u00e7\u00e3o dr\u00e1stica de sinergias tecnol\u00f3gicas e economias de escala.<\/p>\n\n\n\n

Ao longo dos \u00faltimos 50-60 anos, os custos de desenvolvimento tecnol\u00f3gico no setor aeroespacial t\u00eam crescido, em m\u00e9dia, em valores reais, de uma forma constante em cerca de 7-10%\/ano[10]<\/a>, valor este que excede em muito a m\u00e9dia da infla\u00e7\u00e3o no mesmo per\u00edodo. Esta realidade poder\u00e1 significar que aproximadamente em cada 10 anos os custos de desenvolvimento tecnol\u00f3gico-industrial na \u00e1rea aeroespacial duplicam, sobretudo devido \u00e0 r\u00e1pida obsolesc\u00eancia tecnol\u00f3gica dos seus sistemas (por exemplo: os F-16 da FAP t\u00eam sofrido melhorias tecnol\u00f3gicas a cada tr\u00eas anos, cujos custos s\u00e3o partilhados com os pa\u00edses EPAF)<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m destes custos, j\u00e1 por si bastante onerosos, o longo processo de conce\u00e7\u00e3o, investiga\u00e7\u00e3o, desenvolvimento e industrializa\u00e7\u00e3o de um novo avi\u00e3o de combate da 5\u00aa gera\u00e7\u00e3o, caraterizado sobretudo pela sua \u201cfurtividade\u201de opera\u00e7\u00e3o em rede, est\u00e1 sujeito a uma pl\u00e9tora de riscos normalmente associados a transforma\u00e7\u00f5es tecnol\u00f3gicas aceleradas e a evolu\u00e7\u00f5es geopol\u00edticas imprevis\u00edveis.<\/p>\n\n\n\n

Numa perspetiva otimista, os custos estimados de desenvolvimento do F-35 (non-recurring costs) foram da ordem de 19,34 mil milh\u00f5es de euros, com uma previs\u00e3o de vendas de 3003 unidades, tendo o avi\u00e3o realizado o seu 1\u00ba voo experimental em 10 de dezembro de 2006[11]<\/a>).<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/figure><\/div>\n\n\n\n

Os custos de desenvolvimento do Eurofighter Typhoon (19,48 mil milh\u00f5es de euros)[12]<\/a>, aeronave concebida pelo menos na d\u00e9cada anterior ao F-35, foram semelhantes aos deste avi\u00e3o, mas com uma perspetiva de vendas muito inferior (700-800), o que torna o seu custo unit\u00e1rio pouco competitivo com o F-35. Este facto, mostra \u00e0 saciedade quatro evid\u00eancias:<\/p>\n\n\n\n