{"id":257,"date":"2019-10-21T12:29:35","date_gmt":"2019-10-21T12:29:35","guid":{"rendered":"https:\/\/eurodefense.pt\/?p=257"},"modified":"2023-02-20T18:52:41","modified_gmt":"2023-02-20T18:52:41","slug":"o-futuro-da-defesa-europeia","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/eurodefense.pt\/o-futuro-da-defesa-europeia\/","title":{"rendered":"O Futuro Da Defesa Europeia"},"content":{"rendered":"\n

Perante o contexto de press\u00e3o, desafios e amea\u00e7as externas e face ao sentimento de inseguran\u00e7a existente em v\u00e1rios setores da Europa, ser\u00e1 que a evolu\u00e7\u00e3o do sistema de seguran\u00e7a europeu caminhar\u00e1 no sentido de maior integra\u00e7\u00e3o, levando eventualmente \u00e0 constitui\u00e7\u00e3o do \u201cEx\u00e9rcito Europeu\u201d?<\/p>\n\n\n\n

No pref\u00e1cio da \u201cEstrat\u00e9gia Global para a Pol\u00edtica Externa e de Seguran\u00e7a da Uni\u00e3o Europeia[1]<\/a>\u201d, Federica Mogherini, Alta Representante para a Pol\u00edtica Externa e de Seguran\u00e7a da Uni\u00e3o Europeia e Vice-Presidente da Comiss\u00e3o (ARVP), mostra bem a preocupa\u00e7\u00e3o que envolvia a Europa em Junho de 2016, data em que a \u201cEstrat\u00e9gia\u201d foi presente ao Conselho Europeu:<\/p>\n\n\n\n

\u201cEst\u00e1 a ser posto em causa o prop\u00f3sito, e at\u00e9 mesmo a pr\u00f3pria exist\u00eancia, da nossa Uni\u00e3o Europeia. Por\u00e9m, os nossos cidad\u00e3os e o mundo precisam mais do que nunca de uma Uni\u00e3o Europeia forte. A instabilidade e a inseguran\u00e7a t\u00eam vindo a crescer na regi\u00e3o europeia em sentido lato. As crises que enfrentamos dentro e fora das nossas fronteiras est\u00e3o a afetar diretamente a vida dos nossos cidad\u00e3os[2]<\/a>\u201d.<\/p>\n\n\n\n

A tese avan\u00e7ada pela senhora Mogherini reflete uma profunda altera\u00e7\u00e3o do contexto descrito na Estrat\u00e9gia Europeia em mat\u00e9ria de Seguran\u00e7a de 2003, em que se afirmava que a Europa \u201cnunca foi t\u00e3o pr\u00f3spera, segura e livre como hoje[3]<\/a>\u201d e parece, portanto, evidenciar uma sens\u00edvel mudan\u00e7a quer das condi\u00e7\u00f5es externa de seguran\u00e7a, quer da capacidade da Uni\u00e3o Europeia para lhes fazer face. Na verdade, n\u00e3o pode deixar de se notar que os \u00faltimos anos deixaram um rasto de profunda intranquilidade na Europa e nos cidad\u00e3os europeus.<\/p>\n\n\n\n

Depois de algum apaziguamento a seguir aos ataques terroristas em Madrid (2004) e em Londres (2005), nos dois ou tr\u00eas \u00faltimos anos as principais cidades europeias (nomeadamente Paris, Bruxelas, Londres, Berlim, Nice, Manchester ou Barcelona) foram v\u00edtimas de ataques mortais reiterados, atingindo cidad\u00e3os comuns e instaurando na Europa um ambiente de natural sentimento de vulnerabilidade e de medo. Some-se a isso o fluxo descontrolado de refugiados e de emigrantes provindos de um Sul fr\u00e1gil, inst\u00e1vel, em crescimento demogr\u00e1fico r\u00e1pido e envolvido em conflitos que se arrastam no tempo. Movimentos que trouxeram n\u00e3o s\u00f3 a perce\u00e7\u00e3o de vulnerabilidade, mas tamb\u00e9m o sentimento de que a seguran\u00e7a interna depende de fatores que decorrem no exterior da Europa, nomeadamente na sua periferia estrat\u00e9gica.<\/p>\n\n\n\n

O cen\u00e1rio europeu fica ainda mais dram\u00e1tico com o comportamento mais agressivo da R\u00fassia, cuja a\u00e7\u00e3o na sua periferia tem sido sintomaticamente voltada para a preserva\u00e7\u00e3o de esferas de influ\u00eancia em pa\u00edses que pertenceram \u00e0 antiga URSS, como os Estados B\u00e1lticos, a Ge\u00f3rgia, a Moldava\/Transn\u00edstria ou a Arm\u00e9nia e que atingiu a sua express\u00e3o m\u00e1xima com a invas\u00e3o do Leste da Ucr\u00e2nia e a anexa\u00e7\u00e3o da Crimeia, procurando mudar, pela ocupa\u00e7\u00e3o militar, fronteiras internacionalmente reconhecidas como tal.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 no quadro desta altera\u00e7\u00e3o situacional que foi produzida a Estrat\u00e9gia Global para a Pol\u00edtica Externa e de Seguran\u00e7a da Uni\u00e3o Europeia (EGUE), documento cuja an\u00e1lise se considera fundamental para entendermos a forma como a UE analisa a situa\u00e7\u00e3o atual, quais s\u00e3o as a\u00e7\u00f5es pass\u00edveis de serem adotadas e as consequ\u00eancias que essas a\u00e7\u00f5es poder\u00e3o ter na Pol\u00edtica Comum de Seguran\u00e7a e Defesa.<\/p>\n\n\n\n

Muito depender\u00e1 certamente da maneira com que a EGUE venha a ser implementada, pelo que, em consequ\u00eancia, se torna necess\u00e1rio analisar os documentos relacionados com esta a\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Assim, em 14 de Novembro de 2016 foi apresentado pela ARVP e aprovado pelo Conselho de Rela\u00e7\u00f5es Externas da UE o \u201cPlano de Implementa\u00e7\u00e3o da EGUE na dimens\u00e3o de Seguran\u00e7a e Defesa[4]<\/a>\u201d em que se define um novo \u201cN\u00edvel de Ambi\u00e7\u00e3o\u201d para a UE articulado em tr\u00eas a\u00e7\u00f5es; responder aos conflitos e crises externos; construir capacidades nos parceiros; e proteger a Uni\u00e3o e seus cidad\u00e3os[5]<\/a>.<\/p>\n\n\n\n

Mas o texto sobretudo define e prop\u00f5e um conjunto de a\u00e7\u00f5es consideradas necess\u00e1rias para a sua \u201cImplementa\u00e7\u00e3o\u201d e para a constru\u00e7\u00e3o de uma Europa mais forte, que, se concretizadas, poder\u00e3o trazer, de facto, altera\u00e7\u00f5es significativas no inter-relacionamento entre as institui\u00e7\u00f5es europeias e os sistemas de gera\u00e7\u00e3o de capacidades dos Estados membros.  Entre elas destaca-se o \u201caprofundamento da coopera\u00e7\u00e3o na defesa[6]<\/a>\u201d que ter\u00e1 como elemento de base a \u201cRevis\u00e3o Anual Coordenada da Defesa\u201d (RACD) entre os Estados membros, tendo em vista promover a sincroniza\u00e7\u00e3o dos planos de defesa dos Estados membros, em satisfa\u00e7\u00e3o das capacidades comuns priorit\u00e1rias; a constitui\u00e7\u00e3o de uma estrutura para planeamento estrat\u00e9gico-operacional e conduta, de opera\u00e7\u00f5es militares inicialmente n\u00e3o executivas, ou seja, Capacidade Militar de Planeamento e Conduta (CMPC, em Ingl\u00eas \u2013 MPCC), a cria\u00e7\u00e3o de ferramentas e instrumentos (financeiros) para apoiar e incentivar a coopera\u00e7\u00e3o de defesa, facilitar a participa\u00e7\u00e3o das PME e fortalecer a base industrial e tecnol\u00f3gica de defesa europeia de forma mais competitiva e inovadora, a reformula\u00e7\u00e3o do sistema de informa\u00e7\u00f5es, ou a revis\u00e3o do mecanismo de financiamento das opera\u00e7\u00f5es militares (mecanismo Athena) para o tornar mais expedito e partilhado; mas, sobretudo, a proposta de revitaliza\u00e7\u00e3o do conceito de \u201cCoopera\u00e7\u00e3o Estruturada Permanente[7]<\/a>\u201d (CEP) que embora presente no Tratado de Lisboa, nunca tinha sido implementada por falta de vontade pol\u00edtica e por pressupor regras de exig\u00eancia e de funcionamento que est\u00e3o al\u00e9m da decis\u00e3o por unanimidade[8]<\/a>, quadro de refer\u00eancia essencial do \u201cpilar\u201d de seguran\u00e7a e defesa.<\/p>\n\n\n\n

O outro documento essencial \u00e9 o Action Plan<\/em><\/strong> ou Plano de A\u00e7\u00e3o Europeu no dom\u00ednio da defesa[9]<\/a>, em que a Comiss\u00e3o Europeia, para al\u00e9m da A\u00e7\u00e3o Preparat\u00f3ria sobre R&T\/defesa e do Programa Europeu de Desenvolvimento Industrial de Defesa (PEDID), criou o Fundo Europeu de Defesa<\/em> com o objetivo de auxiliar os Estados-Membros a investirem de forma mais eficiente em capacidades de defesa conjunta, promover uma base industrial mais competitiva e inovadora e refor\u00e7ar a seguran\u00e7a dos cidad\u00e3os europeus.<\/p>\n\n\n\n

A 15 de Dezembro de 2016, o Conselho Europeu sublinhou a necessidade de refor\u00e7ar a seguran\u00e7a e defesa europeia, reafirmando o seu empenho na implementa\u00e7\u00e3o da Estrat\u00e9gia de Seguran\u00e7a Interna da Uni\u00e3o Europeia para o per\u00edodo de (2015-2020). Frisando ainda, o refor\u00e7o da coopera\u00e7\u00e3o da UE em mat\u00e9ria de seguran\u00e7a externa e defesa, centrando-se em tr\u00eas prioridades:<\/p>\n\n\n\n