{"id":288,"date":"2020-02-04T13:16:05","date_gmt":"2020-02-04T13:16:05","guid":{"rendered":"https:\/\/eurodefense.pt\/?p=288"},"modified":"2023-02-20T18:52:36","modified_gmt":"2023-02-20T18:52:36","slug":"cooperacao-portugal-cplp-nos-dominios-da-seguranca-e-defesa","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/eurodefense.pt\/cooperacao-portugal-cplp-nos-dominios-da-seguranca-e-defesa\/","title":{"rendered":"Coopera\u00e7\u00e3o Portugal\/CPLP nos dom\u00ednios da Seguran\u00e7a e Defesa"},"content":{"rendered":"\n
Introdu\u00e7\u00e3o<\/strong><\/p>\n\n\n\n Devido \u00e0s novas amea\u00e7as, os pa\u00edses e as organiza\u00e7\u00f5es que n\u00e3o adotem medidas precaut\u00f3rias, especialmente na \u00e1rea da seguran\u00e7a e defesa, ir\u00e3o ter graves problemas estruturais num futuro pr\u00f3ximo, pois sem seguran\u00e7a n\u00e3o existe desenvolvimento. E a Comunidade de Pa\u00edses de L\u00edngua Portuguesa (CPLP) n\u00e3o \u00e9 uma exce\u00e7\u00e3o. A sua base est\u00e1 assente na coopera\u00e7\u00e3o em diversos dom\u00ednios, com realce para l\u00edngua e para a cultura, mas ao longo dos \u00faltimos 22 anos tem evolu\u00eddo consistentemente na busca de uma coopera\u00e7\u00e3o estrat\u00e9gica mais abrangente que se tem alargado \u00e0s \u00e1reas econ\u00f3micas e de seguran\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n A \u201cArquitetura de Defesa da CPLP<\/em>\u201d, que integra todos os vetores de coopera\u00e7\u00e3o estrat\u00e9gica, representa esse crescimento institucional onde a assinatura recente da \u201cIdentidade da CPLP no Dom\u00ednio da Defesa<\/em>\u201d aponta para uma nova vis\u00e3o geoestrat\u00e9gica da Comunidade de Pa\u00edses de L\u00edngua Portuguesa.<\/p>\n\n\n\n Origens da CPLP<\/strong><\/p>\n\n\n\n A cria\u00e7\u00e3o da CPLP n\u00e3o foi um processo autom\u00e1tico. H\u00e1 cerca de vinte e cinco anos houve quem olhasse com ceticismo e mesmo em oposi\u00e7\u00e3o em rela\u00e7\u00e3o a esse projeto, considerando que seria uma iniciativa in\u00fatil, ou sem relev\u00e2ncia para o espa\u00e7o da l\u00edngua portuguesa. Na realidade, a CPLP veio demonstrar o contr\u00e1rio, tendo vindo a transformar-se, progressivamente, numa institui\u00e7\u00e3o de relevo na pol\u00edtica externa dos pa\u00edses que a comp\u00f5em. O que faz sobressair a capacidade de coordena\u00e7\u00e3o interna e de influ\u00eancia internacional.<\/p>\n\n\n\n Cada um dos pa\u00edses da CPLP tem inscri\u00e7\u00f5es regionais diversas, o que alarga e potencia a sua capacidade de express\u00e3o e liga\u00e7\u00e3o. Portugal como membro da Uni\u00e3o Europeia e da NATO, e o Brasil pela sua perten\u00e7a ao MERCOSUL[1]<\/a> e BRICS[2]<\/a>. o mesmo se passando com todos os outros componentes da CPLP nas suas \u00e1reas regionais. Os pa\u00edses africanos no quadro da Uni\u00e3o Africana e respetivas Organiza\u00e7\u00f5es Sub-regionais, al\u00e9m de terem desenvolvido v\u00ednculos diversos quer em rela\u00e7\u00e3o \u00e0s organiza\u00e7\u00f5es franc\u00f3fonas quer angl\u00f3fonas. Timor alargou a sua inser\u00e7\u00e3o na regi\u00e3o do sudeste asi\u00e1tico a que a explora\u00e7\u00e3o petrol\u00edfera deu uma express\u00e3o mais substancial. Efetivamente, a CPLP det\u00e9m um capital pr\u00f3prio significativo e tem vindo a alargar o seu espa\u00e7o de express\u00e3o no mundo.<\/p>\n\n\n\n Os primeiros passos para a sua institucionaliza\u00e7\u00e3o ocorreram em maio de 1989, em S\u00e3o Lu\u00eds do Maranh\u00e3o, por ocasi\u00e3o do primeiro encontro dos Chefes de Estado dos pa\u00edses de l\u00edngua portuguesa[3]<\/a>.<\/p>\n\n\n\n O Brasil foi nessa altura um dos grandes impulsionadores da ideia da aproxima\u00e7\u00e3o m\u00fatua dos pa\u00edses que falam Portugu\u00eas, mas a cria\u00e7\u00e3o propriamente dita da CPLP deu-se somente em 1996[4]<\/a>. Mas \u00e9 importante recordar que o Brasil foi instrumental para a cria\u00e7\u00e3o da CPLP, e isso mudou muito a rela\u00e7\u00e3o entre Portugal e o Brasil, pois, durante o per\u00edodo que antecedeu o 25 de abril, o governo brasileiro manifestava uma certa hostiliza\u00e7\u00e3o em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 pol\u00edtica que o pa\u00eds seguia, nomeadamente em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 chamada \u201cdefesa do ultramar\u201d. Isso fez com que durante algum tempo, o Brasil se distanciasse das posi\u00e7\u00f5es portuguesas, no tocante a mat\u00e9ria colonial, de forma que a descoloniza\u00e7\u00e3o, que depois foi levada a cabo por Portugal, fez dissipar essa sombra, possibilitando uma coopera\u00e7\u00e3o conjunta sobretudo no espa\u00e7o africano de express\u00e3o portuguesa.<\/p>\n\n\n\n A partir de 1975, os cinco pa\u00edses africanos de express\u00e3o portuguesa, foram dando corpo a formas de coopera\u00e7\u00e3o baseadas na conviv\u00eancia e solidariedade que haviam constru\u00eddo durante a luta comum contra o regime colonial, agora derrubado e substitu\u00eddo por um regime democr\u00e1tico. Foi-se assim, gerando a despeito das vicissitudes de cada pa\u00eds, um movimento de entendimento e colabora\u00e7\u00e3o solid\u00e1rio entre os pa\u00edses de express\u00e3o portuguesa.<\/p>\n\n\n\n Nesta medida, o governo portugu\u00eas foi prestando aten\u00e7\u00e3o a essa coopera\u00e7\u00e3o entre os denominados Pa\u00edses Africanos de L\u00edngua Portuguesa (PALOP), procurando posicionar-se como um parceiro relevante dos seus projetos comuns, sem preju\u00edzo de, simultaneamente, desenvolver com cada um desses pa\u00edses, programas espec\u00edficos de coopera\u00e7\u00e3o bilateral. Esse relacionamento especial, entre Portugal e as suas antigas col\u00f3nias africanas, acabou por se traduzir naquilo a que se chamou na altura de os 5+1, que era um movimento, uma estrutura informal, mas que correspondia \u00e0 vontade de todos, de ultrapassarem os traumas da coloniza\u00e7\u00e3o e as querelas da descoloniza\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n Estavam, assim, reunidas as condi\u00e7\u00f5es para se poder criar um corpo de formas de intera\u00e7\u00e3o que pudessem contribuir para a melhoria das condi\u00e7\u00f5es de vida das popula\u00e7\u00f5es dos seus pa\u00edses. A ades\u00e3o de Portugal na altura \u00e0 Comunidade Econ\u00f3mica Europeia (CEE), em 1986, permitiu, entretanto, que Portugal passasse a ter um papel revelante e se tornasse no principal impulsionador da coopera\u00e7\u00e3o e da conce\u00e7\u00e3o de pol\u00edticas comunit\u00e1rias para a \u00c1frica. Portugal, desde sempre, procurou afirmar-se como o l\u00edder da aproxima\u00e7\u00e3o com \u00c1frica e foi em Portugal que em dezembro de 2007 foi assinada a \u201cEstrat\u00e9gia Conjunta \u00c1frica-UE\u201d que juntou em Lisboa 27 pa\u00edses europeus e 54 africanos, assim como os Presidentes de ambas Institui\u00e7\u00f5es e que elevou o patamar de coopera\u00e7\u00e3o m\u00fatua para um n\u00edvel superior.<\/p>\n\n\n\n O Brasil foi acompanhando a evolu\u00e7\u00e3o deste relacionamento entre Portugal e os 5 PALOP, com crescente aten\u00e7\u00e3o e interesse, tendo a certa altura inclu\u00eddo nos seus objetivos de pol\u00edtica externa a afirma\u00e7\u00e3o internacional do espa\u00e7o da l\u00edngua portuguesa. Por\u00e9m, como j\u00e1 referi, a institui\u00e7\u00e3o da CPLP, ocorreu alguns anos mais tarde com uma matriz identit\u00e1ria pr\u00f3pria.<\/p>\n\n\n\n A CPLP, \u00e9 uma institui\u00e7\u00e3o que nasceu das converg\u00eancias propiciadas por uma hist\u00f3ria comum, com um olhar permanente para todo o espa\u00e7o da l\u00edngua portuguesa, indo al\u00e9m dos pa\u00edses que a comp\u00f5em e procurando inovar ao incluir tamb\u00e9m as comunidades espalhadas pelo mundo que falam portugu\u00eas.<\/p>\n\n\n\n Tem sido um movimento crescente, e que foi se impondo a partir das pr\u00f3prias ex-col\u00f3nias, fugindo assim ao esquema tradicional do modelo p\u00f3s-colonial implantado pela antiga pot\u00eancia colonizadora como \u00e9 o caso, por exemplo, da francofonia[5]<\/a>. Isto \u00e9, as ordena\u00e7\u00f5es hom\u00f3logas da CPLP que existem atualmente s\u00e3o tr\u00eas: a francofonia; a Commonwealth[6]<\/a> e tamb\u00e9m a organiza\u00e7\u00e3o dos estados ibero-americanos[7]<\/a>. Mas no caso dos franceses, foi a Fran\u00e7a que, a partir de Paris, estabeleceu uma estrutura de certa forma centralizadora onde Paris era o eixo principal.<\/p>\n\n\n\n A CPLP sempre foi uma organiza\u00e7\u00e3o horizontal, pois nunca houve da parte de nenhum pa\u00eds, nomeadamente Portugal, a tentativa de hegemonizar o que quer que fosse. E isso, deu uma boa base de partida para a CPLP, isto \u00e9, a institucionaliza\u00e7\u00e3o da CPLP, foi o resultado de uma evolu\u00e7\u00e3o natural muito baseada na vontade pol\u00edtica dos pr\u00f3prios pa\u00edses de express\u00e3o portuguesa, tendo o Brasil, na sua fase inicial, desempenhado um papel preponderante e sido o grande impulsionador da CPLP, sobretudo atrav\u00e9s do Embaixador Jos\u00e9 Aparecido de Oliveira[8]<\/a>, que cuja contribui\u00e7\u00e3o para o conceito e arquitetura da CPLP foram enf\u00e1ticos e bem acolhidos.<\/p>\n\n\n\n Vinte anos ap\u00f3s a descoloniza\u00e7\u00e3o africana, foi poss\u00edvel construir uma estrutura conjunta reunindo antigos colonizados e o antigo colonizador, o que representa a concretiza\u00e7\u00e3o de um marco civilizacional. E o cimento agregador da concretiza\u00e7\u00e3o da CPLP foi sem d\u00favida a l\u00edngua, pois desde a sua g\u00e9nese a CPLP assume-se como projeto pol\u00edtico cujo o fundamento \u00e9 a l\u00edngua portuguesa.<\/p>\n\n\n\n A CPLP na cena internacional<\/strong><\/p>\n\n\n\n A CPLP enquanto organiza\u00e7\u00e3o internacional, tem efetivamente vinte e tr\u00eas anos, \u00e9 uma organiza\u00e7\u00e3o relativamente jovem, mas com um v\u00ednculo hist\u00f3rico secular, um patrim\u00f3nio cultural e um legado lingu\u00edstico, que agrega de forma identit\u00e1ria todos os seus membros, sem preju\u00edzo a toda a diversidade que singulariza cada um. A CPLP nasce na Cimeira de Lisboa em 17 de julho de 1996[9]<\/a>, e deu a este v\u00ednculo uma forma nova, num tempo de esperan\u00e7a, a que a queda do Muro de Berlim tinha trazido a possibilidade de novos sonhos.<\/p>\n\n\n\n Uma organiza\u00e7\u00e3o intergovernamental, que se rege pela igualdade soberana de seus membros e pela n\u00e3o inger\u00eancia nos assuntos internos, que se constitui como uma plataforma de concerta\u00e7\u00e3o e coopera\u00e7\u00e3o multilateral, munida de mecanismos que permitem aos seus membros tomar decis\u00f5es conjuntas sobre assuntos de interesse comum no mesmo idioma que os afirma enquanto espa\u00e7o pol\u00edtico e lingu\u00edstico.<\/p>\n\n\n\n A ades\u00e3o da Guin\u00e9 Equatorial \u00e0 CPLP a 23 de julho de 2014 foi uma quest\u00e3o controversa e muito debatida, mas dado que todas as decis\u00f5es da CPLP, s\u00e3o decis\u00f5es por consenso[10]<\/a>, n\u00e3o havendo maiorias qualificadas (ou h\u00e1 consenso ou n\u00e3o h\u00e1 consenso \u2013 n\u00e3o havendo consenso o processo n\u00e3o avan\u00e7a), a sua ades\u00e3o foi aceite, com a promessa de que o portugu\u00eas passaria a ser uma l\u00edngua oficial.<\/p>\n\n\n\n Assim, ao longo destes vinte e tr\u00eas anos, a CPLP tem vindo sempre a procurar corresponder e adaptar-se \u00e0s mudan\u00e7as ocorridas nos seus Estados membros e no plano internacional, em que a independ\u00eancia de Timor Leste, em maio de 2002, e a imediata ades\u00e3o[11]<\/a> \u00e0 CPLP em junho de 2002, na Cimeira de Bras\u00edlia, constitui um exemplo paradigm\u00e1tico.<\/p>\n\n\n\n Os tr\u00eas pilares que estruturam a CPLP s\u00e3o:<\/p>\n\n\n\n Na Cimeira de Bras\u00edlia, em 2016, foi aprovado uma nova vis\u00e3o estrat\u00e9gica[12]<\/a> para a CPLP, visando refor\u00e7ar a mesma enquanto alavanca de desenvolvimento ao servi\u00e7o dos Estados e constituindo simultaneamente a reafirma\u00e7\u00e3o do seu compromisso pol\u00edtico para o futuro. Para al\u00e9m, das \u00e1reas em que j\u00e1 cooperam, na nova vis\u00e3o estrat\u00e9gica destaca-se a energia como um setor relevante em que os pa\u00edses da CPLP det\u00eam 50% das reservas recentes descobertas no mundo e plataformas continentais vastas com recursos muito significativos que embora fazendo parte dos respetivos pa\u00edses, representam um significativo potencial mundial.<\/p>\n\n\n\n A CPLP constitui uma fonte de riqueza e de emprego, onde a coopera\u00e7\u00e3o econ\u00f3mica e empresarial \u00e9 fundamental num contexto centrado na interdepend\u00eancia financeira, pois, Estados fortes fazem organiza\u00e7\u00f5es mais fortes, e este refor\u00e7o da organiza\u00e7\u00e3o \u00e9 not\u00e1vel e valorizado no plano internacional, nomeadamente pela pol\u00edtica externa dos outros Estados. Este valor-acrescentado da CPLP \u00e9 j\u00e1 vis\u00edvel pelo n\u00famero crescente de pa\u00edses com o estatuto de observadores.<\/p>\n\n\n\n Os Estados-membros da CPLP s\u00e3o: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guin\u00e9-Bissau, Guin\u00e9-Equatorial, Mo\u00e7ambique, Portugal, S\u00e3o Tom\u00e9 e Pr\u00edncipe e Timor-Leste<\/strong> [13]<\/a>. Os pa\u00edses observadores associados s\u00e3o atualmente dezoito, podendo futuramente serem dezanove com a eventual entrada dos Estados Unidos da Am\u00e9rica[14]<\/a>, dos quais, oito s\u00e3o membros da Uni\u00e3o Europeia e mais uma organiza\u00e7\u00e3o internacional.<\/p>\n\n\n\n Existem tamb\u00e9m observadores consultivos, que s\u00e3o organiza\u00e7\u00f5es da sociedade civil que neste momento s\u00e3o oitenta e quatro. Cada vez mais esses pa\u00edses associados veem a CPLP como, al\u00e9m de uma plataforma lingu\u00edstica, uma plataforma de contactos e uma plataforma de neg\u00f3cios e oportunidades. Isto \u00e9, os pa\u00edses associados que almejem candidatar-se a um determinado \u00f3rg\u00e3o das Na\u00e7\u00f5es Unidas, ou outros \u00f3rg\u00e3os, a\u00ed v\u00e3o expor as suas raz\u00f5es e pedir o apoio dos membros da CPLP, bem como estabelecer os entendimentos pass\u00edveis de serem transformados em oportunidades de neg\u00f3cios.<\/p>\n\n\n\n A CPLP \u00e9 uma organiza\u00e7\u00e3o at\u00edpica, estando espalhada pelos quatro continentes, e sendo constitu\u00edda por nove Estados-membros com graus de desenvolvimento muito diferentes, exigindo recursos significativos para promover o seu desenvolvimento.<\/p>\n\n\n\n N\u00e3o menos importantes, s\u00e3o os recursos necess\u00e1rios para o financiamento da sua a\u00e7\u00e3o. Assim, para al\u00e9m da contribui\u00e7\u00e3o financeira dos Estados-membros, \u00e9 imprescind\u00edvel procurar ampliar as fontes de apoio financeiro da CPLP, nomeadamente junto de organiza\u00e7\u00f5es financiadoras como \u00e9 o exemplo da Uni\u00e3o Europeia e o Banco Mundial, dado que a CPLP vive exclusivamente da contribui\u00e7\u00e3o dos seus Estados-membros e n\u00e3o tem mais nenhuma receita para al\u00e9m disso.<\/p>\n\n\n\n A Coopera\u00e7\u00e3o Militar<\/strong><\/p>\n\n\n\n O ponto de partida para a coopera\u00e7\u00e3o na CPLP nas \u00e1reas da seguran\u00e7a e defesa foi a realiza\u00e7\u00e3o da primeira Reuni\u00e3o dos Ministros da Defesa da CPLP, em 1998, tendo o conceito sido aprovado em setembro de 2006. O objetivo deste protocolo \u00e9 a promo\u00e7\u00e3o e facilita\u00e7\u00e3o da coopera\u00e7\u00e3o entre os Estados-membros no dom\u00ednio da seguran\u00e7a e defesa, atrav\u00e9s da sistematiza\u00e7\u00e3o e clarifica\u00e7\u00e3o de algumas a\u00e7\u00f5es a empreender, nomeadamente, a cria\u00e7\u00e3o de uma plataforma comum de partilha de conhecimentos de Defesa Militar, a promo\u00e7\u00e3o de uma pol\u00edtica comum de coopera\u00e7\u00e3o nas esferas da defesa e o desenvolvimento das capacidades internas para o fortalecimento das For\u00e7as Armadas dos pa\u00edses das CPLP.<\/p>\n\n\n\n Desenhou-se assim uma organiza\u00e7\u00e3o com base nos seguintes \u00f3rg\u00e3os estruturais:<\/p>\n\n\n\n Outras iniciativas viriam a complementar o conceito inicial, designadamente os exerc\u00edcios militares FELINO<\/em>, a Confer\u00eancia das Marinhas da CPLP, entre outros[15]<\/a>.<\/p>\n\n\n\n A preven\u00e7\u00e3o de conflitos pode ser uma medida da coopera\u00e7\u00e3o, significativa e \u00fatil, na \u00e1rea da seguran\u00e7a e defesa, trazendo o esfor\u00e7o coletivo para a promo\u00e7\u00e3o do di\u00e1logo e estabilidade pol\u00edtica e invertendo situa\u00e7\u00f5es pass\u00edveis de degenerar em conflitos violentos.<\/p>\n\n\n\n O Centro de An\u00e1lise Estrat\u00e9gica da CPLP \u00e9 constitu\u00eddo por uma Estrutura Permanente sedeada na cidade de Maputo (Mo\u00e7ambique) e por N\u00facleos Nacionais Permanentes nos restantes Estados-membros da CPLP. O objetivo principal \u00e9 a promo\u00e7\u00e3o do estudo de quest\u00f5es estrat\u00e9gicas de interesse comum, que facilitem a concerta\u00e7\u00e3o dos seus membros, com uma constitui\u00e7\u00e3o\/composi\u00e7\u00e3o da responsabilidade de cada Ministro da Defesa.<\/p>\n\n\n\n Ao CAE s\u00e3o definidas tem\u00e1ticas para an\u00e1lise, de acordo com as preocupa\u00e7\u00f5es da Comunidade, para que sejam discutidas nas reuni\u00f5es promovidos para o efeito[16]<\/a>.<\/p>\n\n\n\n As instabilidades pol\u00edtico-militares e a criminalidade verificada em alguns pa\u00edses da comunidade t\u00eam sido recorrentes, sendo de relevar, a insufici\u00eancia de meios navais para a\u00e7\u00f5es de fiscaliza\u00e7\u00e3o, patrulha e estabelecimento de autoridade no mar, para cobrir as extensas \u00e1reas das Zonas Econ\u00f3micas Exclusivas, com impacto significativo na seguran\u00e7a nacional e internacional. Apenas o Brasil e Portugal disp\u00f5em de (alguma) capacidade para o efeito[17]<\/a>.<\/p>\n\n\n\n Atualmente a coopera\u00e7\u00e3o policial internacional constitui uma importante ferramenta para fortalecer e aperfei\u00e7oar os m\u00e9todos de preven\u00e7\u00e3o e combate face a novos desafios e amea\u00e7as. O refor\u00e7o da coopera\u00e7\u00e3o entre as For\u00e7as de Seguran\u00e7a dos Estados-membros tem sido feito atrav\u00e9s da investiga\u00e7\u00e3o criminal, combate \u00e0 imigra\u00e7\u00e3o ilegal, ao narcotr\u00e1fico e ao tr\u00e1fico de seres humanos e de armas, entre outros[18]<\/a>.<\/p>\n\n\n\n O aspeto da dispers\u00e3o geogr\u00e1fica da CPLP e a sua inser\u00e7\u00e3o na geopol\u00edtica global constitui uma mais-valia da comunidade, capacitando-a para ter presen\u00e7a em quatro continentes, o que sem d\u00favida valorizar\u00e1 o potencial dos pr\u00f3prios Estados nas diversas organiza\u00e7\u00f5es em que se inserem.<\/p>\n\n\n\n Se analisarmos o protocolo de coopera\u00e7\u00e3o da CPLP no dom\u00ednio da seguran\u00e7a e defesa, na perspetiva das mais-valias do seu posicionamento geopol\u00edtico, chegamos \u00e0 conclus\u00e3o de que o mesmo tem sido positivo e tem oferecido oportunidades para evoluir, justificado pelas carater\u00edsticas dos seus territ\u00f3rios e da sua posi\u00e7\u00e3o geoestrat\u00e9gica. Os membros mais capazes de ter uma interven\u00e7\u00e3o impulsionadora na CPLP s\u00e3o Portugal, o Brasil e Angola:<\/p>\n\n\n\n Portugal, por estar inserido noutra comunidade de relevo global (Uni\u00e3o Europeia) e um dos membros fundadores de outra organiza\u00e7\u00e3o pol\u00edtico-militar internacional (NATO).<\/p>\n\n\n\n O Brasil, por pertencer a uma comunidade econ\u00f3mica regional (Mercosul) e global (BRICS), sendo um dos maiores pa\u00edses do mundo, com recursos humanos e naturais relevantes, e candidato a membro permanente do Conselho de Seguran\u00e7a das Na\u00e7\u00f5es Unidas num cen\u00e1rio de reestrutura\u00e7\u00e3o deste \u00f3rg\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n Angola, pelo seu potencial regional, com recursos naturais importantes, afirmando-se cada vez mais como um pa\u00eds de um forte desenvolvimento econ\u00f3mico. Atrav\u00e9s da CPLP, estes tr\u00eas pa\u00edses podem formar um tri\u00e2ngulo geopol\u00edtico e geoestrat\u00e9gico, tirando o m\u00e1ximo proveito disso e afirmando-se como uma importante organiza\u00e7\u00e3o no panorama internacional[[19]<\/a>].<\/p>\n\n\n\n No \u00e2mbito das rela\u00e7\u00f5es internacionais, Portugal rege-se \u201c(\u2026)pelos princ\u00edpios da independ\u00eancia nacional, do respeito dos direitos do homem, dos direitos dos povos, da igualdade entre os Estados, da solu\u00e7\u00e3o pac\u00edfica dos conflitos internacionais, da n\u00e3o inger\u00eancia nos assuntos internos dos outros Estados e da coopera\u00e7\u00e3o com todos os outros povos para a emancipa\u00e7\u00e3o e progresso da humanidade<\/em>(\u2026)\u201d, devendo estabelecer e manter \u201c(\u2026)la\u00e7os de amizade e coopera\u00e7\u00e3o com os Pa\u00edses de L\u00edngua Portuguesa<\/em>\u201d,( 1\u00aa S\u00e9rie \u2013 A, n.\u00ba 173 \u2013 24 de julho de 2004, n.\u00ba 1 e 4 art.\u00ba 7.)[20]<\/a>.<\/p>\n\n\n\n Neste contexto, a CPLP \u00e9 vista como um ponto essencial no quadro da pol\u00edtica externa nacional, sendo considerada como um espa\u00e7o de imenso potencial, face \u00e0 hist\u00f3ria comum dos pa\u00edses constituintes, a par do imenso potencial a n\u00edvel populacional e comercial[21]<\/a>. De facto, a coopera\u00e7\u00e3o portuguesa com os pa\u00edses da CPLP \u00e9 bem definida na estrat\u00e9gia de coopera\u00e7\u00e3o, a qual assenta em dois pilares, o Conceito Estrat\u00e9gico de Coopera\u00e7\u00e3o Portuguesa 2014-2020 e a Agenda 2030[22]<\/a>.<\/p>\n\n\n\n Num panorama geral, indo de encontro de esta orienta\u00e7\u00e3o estrat\u00e9gica, \u00e9 importante ressaltar tr\u00eas acontecimentos que ocorreram no passado pr\u00f3ximo, entre Portugal e tr\u00eas pa\u00edses da CPLP, nomeadamente: a V Cimeira Portugal-Cabo Verde[23]<\/a>, a visita do Presidente da Rep\u00fablica de Angola[24]<\/a> a Portugal e a III Cimeira Bilateral entre a Rep\u00fablica de Mo\u00e7ambique e Portugal[25]<\/a>. No \u00e2mbito da Estrat\u00e9gia de Coopera\u00e7\u00e3o e tendo em conta o Protocolo de Coopera\u00e7\u00e3o entre os Pa\u00edses de L\u00edngua Portuguesa, Portugal desenvolveu com os parceiros um importante programa denominado de Coopera\u00e7\u00e3o T\u00e9cnico Policial . Este programa, financiado a partir de fundos das For\u00e7as de Seguran\u00e7a, Servi\u00e7os do Minist\u00e9rio da Administra\u00e7\u00e3o e pelo Instituto Cam\u00f5es, tem por base ajudar a desenvolver as compet\u00eancias, tanto operacionais como t\u00e9cnicas, das For\u00e7as e Servi\u00e7os de Seguran\u00e7a dos pa\u00edses envolvidos, assentando em forma\u00e7\u00e3o e material[26]<\/a>.<\/p>\n\n\n\n A Pol\u00edcia de Seguran\u00e7a P\u00fablica (PSP) insere-se neste programa atrav\u00e9s do N\u00facleo de Coopera\u00e7\u00e3o T\u00e9cnico-Policial e Assessoria T\u00e9cnica do Departamento de Forma\u00e7\u00e3o. Entre as v\u00e1rias a\u00e7\u00f5es, \u00e9 de salientar a forma\u00e7\u00e3o e ou assessorias no \u00e2mbito da preven\u00e7\u00e3o do combate \u00e0 criminalidade e forma\u00e7\u00e3o geral ou especializada[[27]<\/a>]. A Guarda Nacional Republicana (GNR) tamb\u00e9m tem um papel fundamental nesta coopera\u00e7\u00e3o, nomeadamente na realiza\u00e7\u00e3o de a\u00e7\u00f5es de forma\u00e7\u00e3o e assessoria t\u00e9cnica, al\u00e9m de ser respons\u00e1vel pela Comiss\u00e3o de Gest\u00e3o Civil de Crises[[28]<\/a>]. O Servi\u00e7o de Estrangeiros e Fronteiras (SEF)[[29]<\/a>] surge nesta coopera\u00e7\u00e3o numa vertente de assessoria t\u00e9cnica, sendo de relevar, o aconselhamento a n\u00edvel de conce\u00e7\u00e3o de novos documentos de identidade, bem como sobre equipamento t\u00e9cnico para a captura de dados biom\u00e9tricos e de leitura e an\u00e1lise automatizada de documentos. S\u00e3o v\u00e1rios os exemplos que evidenciam este apoio prestado, nomeadamente o passaporte eletr\u00f3nico de Cabo Verde ou a vinheta de visto de S. Tom\u00e9 e Pr\u00edncipe.<\/p>\n\n\n\n Uma das principais \u00e1reas de interven\u00e7\u00e3o da CPLP est\u00e1 materializada nos programas ao n\u00edvel da atual Coopera\u00e7\u00e3o no Dom\u00ednio da Defesa (CDD), anteriormente conhecida como Coopera\u00e7\u00e3o T\u00e9cnico Militar (CTM). \u00c9 efetivamente neste quadro de coopera\u00e7\u00e3o bilateral com os PALOP, que se insere no dom\u00ednio da CPLP, que Portugal vem apostando no refor\u00e7o de la\u00e7os de confian\u00e7a e apoiando o desenvolvimento dos pa\u00edses parceiros, centrando a sua a\u00e7\u00e3o na seguran\u00e7a e defesa[30]<\/a>.<\/p>\n\n\n\n De uma forma sumarizada, os objetivos desta coopera\u00e7\u00e3o, que se desenvolve sob a forma de Programas-Quadro(PQ) [31]<\/a>, passam por:<\/p>\n\n\n\n A Marinha tem participado nesta coopera\u00e7\u00e3o desde 1976, em especial, pelos estabelecimentos de ensino e forma\u00e7\u00e3o. Estas atividades s\u00e3o conduzidas em parceria com as Marinhas, Guardas-costeira ou componentes navais das For\u00e7as Armadas dos pa\u00edses que integram estas coopera\u00e7\u00f5es e visam, entre outros, desenvolver o planeamento estrutural e operacional e empenhar meios operacionais em atividades de interesse comum.<\/p>\n\n\n\n O empenhamento de Unidades Navais na coopera\u00e7\u00e3o bilateral tem criado oportunidades para desenvolver iniciativas designadas Mar Aberto, em Angola, Cabo Verde e S\u00e3o Tom\u00e9 e Pr\u00edncipe, que visam potenciar o contributo de Portugal na seguran\u00e7a desses pa\u00edses. Neste \u00e2mbito \u00e9 refor\u00e7ada a coopera\u00e7\u00e3o e a partilha de experi\u00eancias com outros pa\u00edses com interesse na regi\u00e3o, al\u00e9m de ser efetuado, nos meios navais empenhados nas \u00e1reas costeiras e oce\u00e2nicas de \u00c1frica, o embarque de militares de Angola, Brasil, Cabo Verde, Mo\u00e7ambique e S\u00e3o Tom\u00e9 e Pr\u00edncipe, de aspirantes de pa\u00edses da CPLP em est\u00e1gios das Escolas Navais e de elementos de outras ag\u00eancias, numa perspetiva de desenvolvimento do relacionamento interag\u00eancias. \u00c9 tamb\u00e9m dinamizado o envolvimento do Centro de Opera\u00e7\u00f5es Mar\u00edtimas (COMAR), incentivando a colabora\u00e7\u00e3o e a interoperabilidade com os centros dos pa\u00edses africanos.<\/p>\n\n\n\n As iniciativas Mar Aberto s\u00e3o, ainda, aproveitadas para realizar eventos ligados ao setor da ind\u00fastria nacional e a base tecnol\u00f3gica e industrial de defesa, bem como para transportar livros escolares e outro material no \u00e2mbito da coopera\u00e7\u00e3o, numa perspetiva de explora\u00e7\u00e3o e consolida\u00e7\u00e3o do relacionamento civil-militar[33]<\/a>.<\/p>\n\n\n\n O Ex\u00e9rcito, atrav\u00e9s da execu\u00e7\u00e3o das atividades de coopera\u00e7\u00e3o, tem dado um significativo contributo para a consolida\u00e7\u00e3o e aprofundamento da paz, da democracia, dos direitos humanos e do estado de direito, tendo participado nestas atividades com um total de mais de 2.000 militares e desenvolvido cerca de 100 projetos de coopera\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n O quadro seguinte expressa o envolvimento deste Ramo nas a\u00e7\u00f5es de colabora\u00e7\u00e3o no \u00e2mbito da CPLP.<\/p>\n\n\n\n Nesta altura o Ex\u00e9rcito tem os seguintes Programas em Desenvolvimento:<\/p>\n\n\n\n