{"id":358,"date":"2020-06-12T08:11:22","date_gmt":"2020-06-12T08:11:22","guid":{"rendered":"https:\/\/eurodefense.pt\/?p=358"},"modified":"2023-02-20T18:52:03","modified_gmt":"2023-02-20T18:52:03","slug":"a-europa-em-confinamento-estrategico","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/eurodefense.pt\/a-europa-em-confinamento-estrategico\/","title":{"rendered":"A Europa em \u00abConfinamento\u00bb Estrat\u00e9gico"},"content":{"rendered":"\n
\u00c9 estranho e torna-se muitos vezes desconfort\u00e1vel, estar atento e ler, o que se vai dizendo e pensando sobre a Europa atual, a nossa; e as consequentes rela\u00e7\u00f5es de poder dos principais atores no Sistema Internacional. Quem descreve esta narrativa, s\u00e3o os cientistas pol\u00edticos, pol\u00edticos ativos, think tanks, estrategas, economistas e comentadores generalistas, um pouco por todos os continentes.<\/p>\n\n\n\n
E o facto \u00e9 este: a presen\u00e7a geopol\u00edtica da Europa no Mundo, nunca foi t\u00e3o diminuta ao longo dos s\u00e9culos e, de t\u00e3o reduzida relev\u00e2ncia nas grandes decis\u00f5es internacionais. Por norma nos cen\u00e1rios internacionais, ou a reconhecemos distante, ou a sua a\u00e7\u00e3o surge, ami\u00fade e dissonante, a v\u00e1rias vozes.<\/p>\n\n\n\n
N\u00e3o iremos \u2013 ficaria bastante fora do nosso limitado objetivo -, recorrer aos pais fundadores da geopol\u00edtica mundial do s\u00e9culo XIX e XX, a fil\u00f3sofos e analistas de estrat\u00e9gia, ou mesmo a diplomatas credenciados. Apenas dar um conte\u00fado simples \u00e0 realidade presente.<\/p>\n\n\n\n
Se n\u00e3o vejamos: o espantoso crescimento tecnol\u00f3gico, comercial e industrial da \u00c1sia, se bem que em modelos diversos, pouco tem dito \u00e0 pol\u00edtica comercial e industrial europeia; o investimento no com\u00e9rcio energ\u00e9tico e na transi\u00e7\u00e3o digital est\u00e3o tamb\u00e9m muito afastados. A grande metr\u00f3pole asi\u00e1tica \u00e9 neste momento o palco da inova\u00e7\u00e3o, da ind\u00fastria e do expansionismo do mercado financeiro. E porque n\u00e3o dizer, da modernidade.<\/p>\n\n\n\n
A China em modo de \u00abgo out strategy\u00bb definiu mesmo uma estrat\u00e9gia de envolvimento comercial global, a que deu o nome de \u00abNova Rota da Seda\u00bb, que atravessa o mundo e chega \u00e0 Europa via Mediterr\u00e2neo. A sua influ\u00eancia \u00e9 transversal a m\u00faltiplos neg\u00f3cios internacionais, tecnologias e investimentos gigantescos, com recurso a modalidades do tipo \u00abwholly-owned\u00bb, ainda que em menor grau, \u00abjoint-venture\u00bb, ou mais subtilmente em \u00abnon-equity arrangement\u00bb.<\/p>\n\n\n\n
De igual forma, a R\u00fassia e os Estados Unidos t\u00eam definido e delineado estrat\u00e9gias a curto e m\u00e9dio prazo, nas quais a Europa, por norma n\u00e3o \u00e9 parceiro determinante. A R\u00fassia conceptualizou um programa geoestrat\u00e9gico bem definido, que tem cumprido com distin\u00e7\u00e3o: desde o \u00c1rtico \u00e0 exporta\u00e7\u00e3o do G\u00e1s Natural para a Europa via Nord Stream 2 pelo B\u00e1ltico, para a China (Power of Siberia) e Turquia (Turkish Stream), at\u00e9 ao \u00eaxito retumbante na guerra da S\u00edria, e \u00e0 influ\u00eancia decisiva no Mar Negro, M\u00e9dio Oriente e \u00c1sia Central. Algu\u00e9m houve falar da Tch\u00e9chenia? Ou nos conflitos diplom\u00e1ticos no Mar C\u00e1spio?<\/p>\n\n\n\n
Os Estados Unidos baseados na sua estrat\u00e9gia de \u00abAmerica First\u00bb em modo isolacionista do atual presidente, refor\u00e7ado com o conceito de \u00abenergy-dominant nation\u00bb, v\u00eam desde o tempo do presidente Obama, a colocar a Europa longe das suas prioridades e interesses, mesmo aquelas que julgar\u00edamos por mais \u00abafetivas\u00bb. No in\u00edcio dos anos noventa, Henry Kissinger escrevia que \u00abO percurso da Am\u00e9rica na pol\u00edtica internacional tem sido um triunfo da cren\u00e7a sobre a experi\u00eancia[1]<\/a>\u00bb, mas o que ressalta por estes tempos, tem sido a sua forma algo err\u00e1tica na gest\u00e3o do complexo cen\u00e1rio internacional.<\/p>\n\n\n\n No Mediterr\u00e2neo, M\u00e9dio Oriente e \u00c1sia Central a presen\u00e7a de uma pol\u00edtica ativa e reconhecida da Europa no seu conjunto, n\u00e3o existe verdadeiramente. Mas existe, na verdade, como refere Henrique Raposo um mundo p\u00f3s-Atl\u00e2ntico; \u00abNo in\u00edcio do s\u00e9culo XXI, a preocupa\u00e7\u00e3o central \u00e9 encontrar respostas para o deslocamento de poder do Atl\u00e2ntico para o Pac\u00edfico[2]<\/a>\u00bb \u00c9 neste espa\u00e7o global, impulsionado pela din\u00e2mica dos Estados asi\u00e1ticos, que a ind\u00fastria pesada, a rob\u00f3tica, a constru\u00e7\u00e3o naval e a nuclear civil, as componentes energ\u00e9ticas, incluindo as renov\u00e1veis, e a engenharia florescem. As megacidades modernas e sustent\u00e1veis do futuro come\u00e7am a ser pensadas e executadas por toda \u00c1sia. N\u00e3o \u00e9 de estranhar, por isso, que a centralidade da geopol\u00edtica global se instale nesta regi\u00e3o do mundo.<\/p>\n\n\n\n Nas zonas prop\u00edcias a conflitos e disputas, desde o sempre presente conflito Israel\u00c1rabe, \u00e0 Palestina e Cisjord\u00e2nia, S\u00edria e L\u00edbia e aos avan\u00e7os da Turquia, ao Ir\u00e3o do nuclear e Iraque, at\u00e9 ao esquecido I\u00e9men, entre tantos outros focos de instabilidade regional, a Europa limita-se a declara\u00e7\u00f5es diplom\u00e1ticas de circunst\u00e2ncia e ao apoio financeiro a organiza\u00e7\u00f5es internacionais no terreno. A sua influ\u00eancia nestas regi\u00f5es n\u00e3o obedece a uma matriz estrat\u00e9gica reconhecida pelas partes. Desta forma, n\u00e3o contribui para a resolu\u00e7\u00e3o de conflitos e para contrabalan\u00e7ar a influ\u00eancia de outras pot\u00eancias e atores regionais.<\/p>\n\n\n\n Em \u00c1frica, na sua enorme diversidade, o futuro econ\u00f3mico e social de grande parte dos Estados africanos passa pela China. Apoios imediatos e fundamentais no terreno versus mat\u00e9rias-primas existentes.<\/p>\n\n\n\n A Am\u00e9rica do Sul, por seu lado, est\u00e1 cada vez mais \u00abdistante da vista e do cora\u00e7\u00e3o\u00bb e tem perdido o interesse e envolvimento das grandes pot\u00eancias regionais. Os interesses estrat\u00e9gicos da Europa no \u00c1rtico, no C\u00e1spio, no Mar Negro e mesmo no Mediterr\u00e2neo e no B\u00e1ltico, merecem simples declara\u00e7\u00f5es intuitivas resultantes de meras cimeiras formais.<\/p>\n\n\n\n