{"id":4677,"date":"2021-01-12T19:25:01","date_gmt":"2021-01-12T19:25:01","guid":{"rendered":"https:\/\/eurodefense.pt\/?p=4677"},"modified":"2023-02-20T18:48:58","modified_gmt":"2023-02-20T18:48:58","slug":"o-grande-tesouro-energetico-do-norte-de-mocambique-o-gas-natural","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/eurodefense.pt\/o-grande-tesouro-energetico-do-norte-de-mocambique-o-gas-natural\/","title":{"rendered":"O grande tesouro energ\u00e9tico do norte de Mo\u00e7ambique – O G\u00e1s Natural"},"content":{"rendered":"\n

Os Recursos<\/strong><\/h3>\n\n\n\n

Os recursos de G\u00e1s Natural (GN) existentes no offshore da Bacia do Rovuma em Cabo Delgado em jazidas de \u00e1guas profundas, s\u00e3o extraordin\u00e1rios e de grande dimens\u00e3o (reservas estimadas de 125 a 130 trili\u00f5es de p\u00e9s c\u00fabicos (tcf)). Esta reserva descoberta em 2010 pode ser das maiores de GN de toda a \u00c1frica e aproximar Mo\u00e7ambique das pot\u00eancias do g\u00e1s em \u00c1frica, nomeadamente a Nig\u00e9ria e a Arg\u00e9lia. Mo\u00e7ambique surge j\u00e1 em 13\u00ba lugar no ranking das reservas provadas a n\u00edvel global[1]<\/span><\/a>, prevendo-se o aumento para valores ainda mais significativos para os pr\u00f3ximos anos. Este g\u00e1s n\u00e3o associado \u00e9 ainda considerado tecnicamente um g\u00e1s de boa qualidade explorat\u00f3ria.<\/p>\n\n\n\n

Mo\u00e7ambique j\u00e1 exporta g\u00e1s natural em pequenas quantidades por pipeline para a \u00c1frica do Sul atrav\u00e9s de um gasoduto de 865 km a partir das duas jazidas terrestres de Pande e Temane, situado na Bacia de Mo\u00e7ambique na prov\u00edncia de Inhambane, sul do Pa\u00eds (explorados pela Sasol, multinacional da \u00c1frica do Sul \u2013 acordo assinado em 2000) com destino \u00e0s centrais el\u00e9tricas de Secunda e Sasolburg na regi\u00e3o norte deste pa\u00eds. A produ\u00e7\u00e3o de g\u00e1s iniciou-se em 2004 em Temane e  2009 em Pande.<\/p>\n\n\n\n

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Mozambique-Gas-Map<\/span><\/a> – gr\u00e1fico ainda com os projetos iniciais.<\/p>\n\n\n\n

Os players energ\u00e9ticos<\/strong><\/h3>\n\n\n\n

Os tr\u00eas investimentos neste grande projeto do norte de Mo\u00e7ambique repartem-se pelo:<\/p>\n\n\n\n

Mozambique LNG<\/strong> \u2013 da responsabilidade da TOTAL – 12.88 Milh\u00f5es de toneladas ano (Mtpa) na fase inicial, prevendo-se a primeira entrega de G\u00e1s Natural Liquefeito (GNL) em 2024; com capacidade de expans\u00e3o at\u00e9 43 Mtpa com duas unidades de liquefa\u00e7\u00e3o, para valores de 65 tcf de g\u00e1s natural recuper\u00e1vel. S\u00f3 a Total realizou um investimento base de cerca de 20 mil milh\u00f5es de d\u00f3lares.<\/p>\n\n\n\n

A \u00e1rea de explora\u00e7\u00e3o \u2013 \u00c1rea 1 (Golfinho e Atum) situa-se a cerca de 40 km da costa de Cabo Delgado a 1,600 m de profundidade.<\/p>\n\n\n\n

Rovuma LNG<\/strong> – Mozambique Rovuma Venture (joint venture entre a ExxonMobil, ENI e a CNPC) em (70%), Galp (10%), KOGAS (10%), e a Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (10%), sendo a ENI a respons\u00e1vel pela constru\u00e7\u00e3o e opera\u00e7\u00e3o do upstream e a ExonMobil pela opera\u00e7\u00e3o do GNL – 15.2 Mtpa. Dever\u00e1 dar-se in\u00edcio \u00e0 produ\u00e7\u00e3o em 2025. Ser\u00e1 instalada no complexo de Mamba na prov\u00edncia de Afungi, tendo os campos de g\u00e1s de Mamba sido descobertos em 2011, situando-se tamb\u00e9m a 40 km da costa.<\/p>\n\n\n\n

Coral South Floating Liquefied Natural Gas (FLNG)<\/strong> \u2013 \u00c9 o primeiro FLNG do g\u00e9nero em toda a \u00c1frica. A ENI \u00e9 o operador desta plataforma cuja constru\u00e7\u00e3o foi iniciada em 2018, com previs\u00e3o de in\u00edcio de opera\u00e7\u00e3o em meados de 2022 – 3.4 Mtpa. Esta infraestrutura ter\u00e1 439 m de comprimento, 65 m de largura e 210.000 toneladas, albergando uma tripula\u00e7\u00e3o de 350 pessoas nos seus 8 m\u00f3dulos. Possui uma capacidade de mais de 230.000 m3 <\/sup>de GNL e de 50.000 m3<\/sup> de g\u00e1s condensado.<\/p>\n\n\n\n

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Coral South (eni.com)<\/span><\/a><\/p>\n\n\n\n

Os constrangimentos<\/strong><\/h3>\n\n\n\n

Os mercados energ\u00e9ticos internacionais<\/strong> exigem por norma contratos comerciais robustos para o m\u00e9dio e longo prazo, com expetativas de lucro consolidado e onde a confian\u00e7a nos projetos e na sua viabilidade seja total. As pol\u00edticas unilaterais das grandes pot\u00eancias e as respetivas disputas comerciais, nomeadamente entre a China e os EUA e alguma incerteza nos mercados europeus e pa\u00edses do Golfo, a par da instabilidade dos pre\u00e7os do g\u00e1s e mesmo do petr\u00f3leo, n\u00e3o proporcionam uma acalmia no setor energ\u00e9tico.<\/p>\n\n\n\n

A atual transi\u00e7\u00e3o energ\u00e9tica <\/strong>em curso, no sentido de atingir a neutralidade carb\u00f3nica nas pr\u00f3xima d\u00e9cadas e o grande empenho dos Estados (em especial na Europa) e das Organiza\u00e7\u00f5es Internacionais, dos cidad\u00e3os e do planeta em geral, em combater as altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas, fez recair em todos os processos energ\u00e9ticos a necessidade de uma procura de novas solu\u00e7\u00f5es, novos reajustamentos e diferentes pol\u00edticas. Estes factos colocaram as grandes companhias petrol\u00edferas e de g\u00e1s natural numa posi\u00e7\u00e3o defensiva, obrigadas a desenvolverem cen\u00e1rios adequados a estas mudan\u00e7as para as pr\u00f3ximas d\u00e9cadas. O g\u00e1s natural tem ainda assim sido percecionado, como uma energia de transi\u00e7\u00e3o para as energias limpas e descarbonizadas, pelas suas caracter\u00edsticas menos poluentes em rela\u00e7\u00e3o ao  petr\u00f3leo e ao carv\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Toda esta envolvente acabaria por afetar a intensa din\u00e2mica, e os grandes investimentos que muitos pa\u00edses fizeram no GNL a n\u00edvel global. Neste aspeto destacaram-se o Qatar, a Austr\u00e1lia, os EUA, a R\u00fassia e mesmo a Nig\u00e9ria. Conv\u00e9m referir que o GNL pela sua possibilidade t\u00e9cnica de transporte de grandes quantidades de GN, tornou-se mesmo um fator relevante de geopol\u00edtica energ\u00e9tica, contrabalan\u00e7ando as j\u00e1 conhecidas estrat\u00e9gias comerciais e pol\u00edticas dos gasodutos.<\/p>\n\n\n\n

O atual projeto de Mo\u00e7ambique acabaria por em determinadas fases ser afetado por hesita\u00e7\u00f5es e mudan\u00e7as de estrat\u00e9gias comerciais. S\u00f3 no ano fiscal de 2019 e 2020 o Export Import Bank (EXIM) dos EUA aprovou  o valor de  $13,6 bili\u00f5es de d\u00f3lares em transa\u00e7\u00f5es, revertendo um ter\u00e7o deste valor para o projeto de LNG de Mo\u00e7ambique[2]<\/span><\/a>.<\/p>\n\n\n\n

O pr\u00f3pria estrat\u00e9gia da nova Administra\u00e7\u00e3o Biden ao dar maior prioridade ao clima, poder\u00e1 condicionar muitas das pol\u00edticas energ\u00e9ticas atualmente em curso nos EUA.<\/p>\n\n\n\n

Por outro lado o ano covid 2020<\/strong> veio afetar o com\u00e9rcio global, os investimentos, e gerar fatores de crise em quase todas as \u00e1reas da sociedade, numa propor\u00e7\u00e3o jamais vista no espa\u00e7o de muitas d\u00e9cadas. As expetativas para 2021 mant\u00eam-se tamb\u00e9m num n\u00edvel ainda muito preocupante, em especial para os novos investimentos no campo energ\u00e9tico.<\/p>\n\n\n\n

Os recentes casos de Covid-19 <\/strong>no complexo industrial de processamento de g\u00e1s natural da Total em Afungi obrigaram a uma retra\u00e7\u00e3o de efetivos e de meios. Tudo isto tem levada v\u00e1rios dos cons\u00f3rcios internacionais envolvidos a procurar reduzir custos e a repensar investimentos neste projeto.<\/p>\n\n\n\n

Os pre\u00e7os do GN<\/strong> no mercado internacional mant\u00eam-se tamb\u00e9m eles baixos e a perspetiva futura aponta no mesmo sentido, n\u00e3o gerando expetativas otimistas para os contratos comerciais a m\u00e9dio e longo prazo. Em 2020 os pre\u00e7os nos EUA e no benchmark Henry Hub[3]<\/span><\/a> atingiram os valores mais baixos registados em v\u00e1rias d\u00e9cadas.<\/p>\n\n\n\n

Os ataques \u00e0 popula\u00e7\u00e3o por insurgentes <\/strong>no norte de Mo\u00e7ambique, oriundos de grupos extremistas isl\u00e2micos locais, com apoio de outras regi\u00f5es de \u00c1frica, cometendo a\u00e7\u00f5es terroristas de grande viol\u00eancia continuada junto da popula\u00e7\u00e3o da regi\u00e3o, originou mais de meio milh\u00e3o de deslocados, sobretudo concentrados na regi\u00e3o de Pemba, a capital provincial. A regi\u00e3o do norte de Mo\u00e7ambique encontra-se praticamente a saque de grupos terroristas, e as For\u00e7as de Defesa e Seguran\u00e7a de Mo\u00e7ambique apresentam muita dificuldade em garantir o controlo e a seguran\u00e7a de toda esta regi\u00e3o, bem perto das explora\u00e7\u00f5es internacionais de g\u00e1s natural. Aguarda-se a resposta urgente e concertada da comunidade internacional no apoio ao Governo mo\u00e7ambicano e \u00e0s suas For\u00e7as de Defesa. Os pa\u00edses com interesses mais diretos nas explora\u00e7\u00f5es, como a Fran\u00e7a, a It\u00e1lia, Estados Unidos, China e outros pa\u00edses asi\u00e1ticos envolvidos e tamb\u00e9m Portugal, estar\u00e3o com toda a probabilidade mais atentos a esta situa\u00e7\u00e3o de conflito e disputas na regi\u00e3o, que para al\u00e9m do caos social junto da popula\u00e7\u00e3o, poder\u00e1 gerar atrasos e dificuldades na atividade programada deste projeto explorat\u00f3rio.<\/p>\n\n\n\n

O fator da geopol\u00edtica energ\u00e9tica \u2013 os cen\u00e1rios<\/strong><\/h3>\n\n\n\n

A perspetiva apontada para que o mercado do GNL de Mo\u00e7ambique seja direcionado a partir de 2025 para os grandes consumidores na \u00c1sia, M\u00e9dio Oriente, Europa e Am\u00e9ricas apresenta-se atualmente como um cen\u00e1rio muito otimista e provavelmente desajustado da realidade futura. A localiza\u00e7\u00e3o geogr\u00e1fica de Mo\u00e7ambique que tem sido vista como um fator de relev\u00e2ncia para o sucesso dos transportes do GNL, pode agora ser confrontada com as estrat\u00e9gias das grandes pot\u00eancias do g\u00e1s.<\/p>\n\n\n\n

Os principais mercados de exporta\u00e7\u00e3o e importa\u00e7\u00e3o de Mo\u00e7ambique a n\u00edvel geral s\u00e3o por norma a \u00c1frica do Sul, a China, \u00cdndia, Emirados \u00c1rabes Unidos e tamb\u00e9m a n\u00edvel de exporta\u00e7\u00e3o os Pa\u00edses Baixos (alum\u00ednio).<\/p>\n\n\n\n

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Fonte: BP Statistical Review of World Energy, June 2017 \u2013 Cen\u00e1rio GNL para 2035<\/em><\/p>\n\n\n\n

Europa – (<\/strong>cen\u00e1rio pouco entusiasmante para o GNL de Mo\u00e7ambique)<\/p>\n\n\n\n

A Uni\u00e3o Europeia<\/strong> apresenta uma pol\u00edtica de neutralidade carb\u00f3nica (EU Green Deal) muita ativa, atribuindo  prioridade \u00e0s energias renov\u00e1veis e mesmo ao hidrog\u00e9nio, e tender\u00e1 a consumir no futuro cada vez menos g\u00e1s natural e outros combust\u00edveis f\u00f3sseis. Por outro lado o mercado do g\u00e1s natural na Europa Central \u00e9 abastecido prioritariamente pelos gasodutos russos (refor\u00e7ado a partir deste ano pelo B\u00e1ltico com o Nord Stream 2) e GNL tamb\u00e9m russo j\u00e1 em valores muito significativos, e em breve pelos gasodutos origin\u00e1rios do Mar C\u00e1spio atrav\u00e9s da Turquia, da Gr\u00e9cia e It\u00e1lia at\u00e9 aos Balc\u00e3s. Tamb\u00e9m os EUA procuram alargar a cota no mercado europeu do seu GNL (muito pr\u00f3ximo dos valores do GNL russo) fator essencial para sustentar o seu investimento no shale g\u00e1s nos complexos de Marcellus, Eagle Ford, Permian, Hainesville, Utica entre outros. A Arg\u00e9lia e a Nig\u00e9ria continuam a assumir a preponder\u00e2ncia dos abastecimentos GNL vindos de \u00c1frica, e o Qatar \u00e9 de longe o maior fornecedor de GNL para a Europa. Ser\u00e1 assim muito dif\u00edcil, a exporta\u00e7\u00e3o em valor significativo do GNL de Mo\u00e7ambique para a Europa.<\/p>\n\n\n\n

Am\u00e9rica do Sul e Central – <\/strong>(cen\u00e1rio muito pouco relevante em mat\u00e9ria de GN)<\/p>\n\n\n\n

Os principais exportadores para esta regi\u00e3o s\u00e3o os EUA e Trindade & Tobago que dominam esta rota, com valores residuais da Nig\u00e9ria e Angola. O Peru exporta para a Europa e \u00c1sia-Pac\u00edfico. Os principais importadores s\u00e3o o Brasil e o Chile.<\/p>\n\n\n\n

\u00c1frica – <\/strong>(cen\u00e1rio de pouco relevo no com\u00e9rcio do GN)<\/p>\n\n\n\n

\u00c1frica n\u00e3o importa praticamente GNL. Os principais exportadores de \u00c1frica s\u00e3o a Nig\u00e9ria, Arg\u00e9lia e a grande dist\u00e2ncia Angola e o Egito. Para al\u00e9m de Mo\u00e7ambique e da Tanz\u00e2nia (que tamb\u00e9m possui vastas reservas de GN cont\u00edguas a Mo\u00e7ambique), o Gana, Costa do Marfim e a Guin\u00e9 Equatorial tem j\u00e1 projetos em curso neste \u00e2mbito.<\/p>\n\n\n\n

\u00c1sia-Pac\u00edfico – <\/strong>(cen\u00e1rio de crescente potencialidade)<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 o principal eixo de crescimento e desenvolvimento comercial nas pr\u00f3ximas d\u00e9cadas. \u00c9 tamb\u00e9m o foco estrat\u00e9gico das grandes pot\u00eancias globais. Aqui competem os grandes exportadores mundiais de GNL, como a Austr\u00e1lia, o Qatar, a Mal\u00e1sia, a R\u00fassia e os EUA. Os grandes importadores s\u00e3o o Jap\u00e3o, a China, a Coreia do Sul, \u00cdndia, Taiwan e o Paquist\u00e3o. Este vasto mercado global apresenta cerca de 75% das importa\u00e7\u00f5es mundiais de g\u00e1s. \u00c9 um mercado em grande expans\u00e3o, onde a Austr\u00e1lia tem um dom\u00ednio cada vez maior em toda este grande espa\u00e7o e onde se posicionam todos os grandes exportadores mundiais. Ser\u00e1 contudo, sempre muito dif\u00edcil competir com os grandes players do GNL j\u00e1 instalados.<\/p>\n\n\n\n

A \u00cdndia e regi\u00e3o do \u00cdndico – <\/strong>(cen\u00e1rio de atratividade)<\/p>\n\n\n\n

A \u00cdndia \u00e9 uma das grandes pot\u00eancias regionais e tamb\u00e9m um dos grandes importadores de GNL, com cerca de 8% do mercado da \u00c1sia. Possui v\u00e1rios terminais de importa\u00e7\u00e3o de g\u00e1s na sua costa e projeta a constru\u00e7\u00e3o de plataformas tipo FRSU e pipelines para distribui\u00e7\u00e3o regional. A centralidade geopol\u00edtica do Oceano \u00cdndico permite gerir um espa\u00e7o de influ\u00eancia na regi\u00e3o, proporcionando vantagens na din\u00e2mica do com\u00e9rcio energ\u00e9tico atrav\u00e9s das rotas mar\u00edtimas existentes.<\/p>\n\n\n\n

Os grandes fornecedores GNL para a \u00cdndia s\u00e3o a grande dist\u00e2ncia o Qatar, seguido por Angola, Nig\u00e9ria, EAU e EUA. A \u00cdndia procura que o seu espa\u00e7o de influ\u00eancia n\u00e3o seja estrangulado pelos interesses chineses e pelo alargamento da sua rota da seda mar\u00edtima \u00e0 zona da Ba\u00eda de Bengala e do \u00cdndico. Procura de alguma forma dificultar o crescimento do eixo estrat\u00e9gico que liga Pequim ao Paquist\u00e3o. O Oceano \u00cdndico \u00e9 uma rota de passagem vital para a liga\u00e7\u00e3o entra a zona da \u00c1sia-Pac\u00edfico e do Golfo P\u00e9rsico. Lidera, imediatamente a seguir \u00e0 China, o mercado asi\u00e1tico em termos de crescimento no consumo do g\u00e1s, com uma previs\u00e3o de crescimento muito acentuada para a pr\u00f3xima d\u00e9cada. \u00c9 por isso um eixo degrande viabilidade para as rotas de exporta\u00e7\u00e3o do GNL mo\u00e7ambicano.<\/p>\n\n\n\n

E que cen\u00e1rio para o futuro de Mo\u00e7ambique?<\/strong><\/h3>\n\n\n\n

Para um pa\u00eds jovem mas muito fragilizado e pobre em termos econ\u00f3micos e sociais, ap\u00f3s uma duradoira guerra civil, e que surge nos \u00faltimos dez lugares do ranking mundial no \u00cdndice de Desenvolvimento Humano, a descoberta de uma fonte energ\u00e9tica de elevado valor a explorar, n\u00e3o poder\u00e1 deixar de constituir uma esperan\u00e7a e um alento para o seu desenvolvimento e progresso.<\/p>\n\n\n\n

A propor\u00e7\u00e3o do g\u00e1s natural existente no offshore do norte de Mo\u00e7ambique gerou nos grandes operadores a n\u00edvel mundial, enormes expetativas iniciais de investimento num grande projeto de exporta\u00e7\u00e3o para os mercados mundiais. O projeto mant\u00e9m a sua estrutura, e os prazos estabelecidos para o in\u00edcio da sua opera\u00e7\u00e3o, at\u00e9 pelos investimentos j\u00e1 contratualizados, mas percebe-se que o dinamismo atual deste mercado j\u00e1 n\u00e3o \u00e9 o inicial. Esta n\u00e3o \u00e9 mais a \u00e9poca para os grandes operadores internacionais realizarem investimentos de grande envergadura em projetos a longo prazo, numa altura de clara expetativa estrat\u00e9gica face \u00e0 transi\u00e7\u00e3o energ\u00e9tica em curso.<\/p>\n\n\n\n

O projeto do g\u00e1s natural ser\u00e1 certamente uma grande oportunidade ainda assim, para que o Estado mo\u00e7ambicano possa garantir a prazo um crescimento sustentado e equilibrado da sua economia, por forma a tirar da pobreza uma parte muito significativa da sua popula\u00e7\u00e3o, em especial na regi\u00e3o norte, precisamente onde este grande empreendimento se vai efetivar.<\/p>\n\n\n\n

A perspetiva avisada de n\u00e3o basear toda a sua estrutura econ\u00f3mica e financeira nos proveitos do GN \u00e9 uma \u00ablesson learned\u00bb de outros Estados que viveram situa\u00e7\u00f5es semelhantes; de igual forma a cria\u00e7\u00e3o do Fundo Soberano, com o apoio e a experi\u00eancia da Noruega, \u00e9 naturalmente tamb\u00e9m um excelente indicador.<\/p>\n\n\n\n

Ganhar a luta pela pacifica\u00e7\u00e3o da regi\u00e3o norte e criar condi\u00e7\u00f5es para o desenvolvimento social e humano de toda esta regi\u00e3o, pode ser tamb\u00e9m uma consequ\u00eancia direta do sucesso das exporta\u00e7\u00f5es geradas pelo projeto do GNL de Mo\u00e7ambique. A pr\u00f3xima d\u00e9cada ser\u00e1 decisiva para p\u00f4r \u00e0 prova este grande empreendimento energ\u00e9tico onde a concorr\u00eancia regional e global como vimos \u00e9 muito forte, e as incertezas s\u00e3o ainda muitas. O cen\u00e1rio da esperan\u00e7a e da vontade de criar riqueza e prosperar neste pa\u00eds, pode ser contudo uma realidade que, o g\u00e1s natural poder\u00e1 efetivamente permitir.<\/p>\n\n\n\n


\n\n\n\n

12 de janeiro de 2021<\/p>\n\n\n\n

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Eduardo Caetano de Sousa<\/strong>
Vogal da Dire\u00e7\u00e3o<\/em><\/p>\n\n\n\n

Nota: Dados em bp Statistical Review of Worls Energy 2020;  Global Voice of Gas -IGU (December 2020); NS Energy<\/p>\n\n\n\n


\n\n\n\n

[1]<\/span><\/a> <\/span>Reserves of natural gas by country, 2020 – knoema.com<\/span><\/a> <\/p>\n\n\n\n

[2]<\/span><\/a> Gas Line, Q42020  – Centre for Strategic and International Studies pg 4\/5<\/p>\n\n\n\n

[3]<\/a> https:\/\/www.eia.gov\/todayinenergy<\/a> <\/span>em 07 de janeiro de 2021<\/span><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Os Recursos Os recursos de G\u00e1s Natural (GN) existentes no offshore da Bacia do Rovuma em Cabo Delgado em jazidas de \u00e1guas profundas, s\u00e3o extraordin\u00e1rios e de grande dimens\u00e3o (reservas estimadas de 125 a 130 trili\u00f5es de p\u00e9s c\u00fabicos (tcf)). Esta reserva descoberta em 2010 pode ser das maiores de GN de toda a \u00c1frica… Ler mais »O grande tesouro energ\u00e9tico do norte de Mo\u00e7ambique – O G\u00e1s Natural<\/span><\/a><\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":4719,"comment_status":"closed","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"neve_meta_sidebar":"","neve_meta_container":"","neve_meta_enable_content_width":"","neve_meta_content_width":0,"neve_meta_title_alignment":"","neve_meta_author_avatar":"","neve_post_elements_order":"","neve_meta_disable_header":"","neve_meta_disable_footer":"","neve_meta_disable_title":""},"categories":[3],"tags":[],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/4677"}],"collection":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=4677"}],"version-history":[{"count":9,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/4677\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":4720,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/4677\/revisions\/4720"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/media\/4719"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=4677"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=4677"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=4677"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}