{"id":51,"date":"2020-05-15T07:00:22","date_gmt":"2020-05-15T07:00:22","guid":{"rendered":"https:\/\/eurodefense.pt\/?p=51"},"modified":"2023-07-27T06:58:34","modified_gmt":"2023-07-27T06:58:34","slug":"os-novos-desafios-da-geopolitica-energetica-sentados-num-vulcao-de-pandemia","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/eurodefense.pt\/os-novos-desafios-da-geopolitica-energetica-sentados-num-vulcao-de-pandemia\/","title":{"rendered":"Os novos desafios da Geopol\u00edtica Energ\u00e9tica, sentados num vulc\u00e3o de pandemia"},"content":{"rendered":"\n

Este enorme vulc\u00e3o viral de nome Covid-19, que projetou as suas lavas contagiosas pelo mundo inteiro, atingiu a grande maioria dos Estados, utilizando um dos princ\u00edpios da guerra: o efeito surpresa.<\/p>\n\n\n\n

Regi\u00f5es inteiras, Estados, pessoas aos milh\u00f5es, meios de transporte; terrestres, a\u00e9reos e mar\u00edtimos e a economia em geral, ocuparam a \u00abtrincheira do medo\u00bb. A resposta fez-se como se p\u00f4de, atrav\u00e9s das pol\u00edticas governamentais estabelecidas e dos meios dispon\u00edveis, utilizando no escal\u00e3o principal deste combate a componente sanit\u00e1ria. Foi assim montada a nova \u00abgeopol\u00edtica do medo\u00bb, e na qual os Estados articulam como podem as suas manobras de gest\u00e3o imediata da crise sanit\u00e1ria.<\/p>\n\n\n\n

O atual drama de sa\u00fade p\u00fablica obrigou a Europa, as grandes pot\u00eancias e os Estados em geral, a uma forte redu\u00e7\u00e3o do consumo de energia, em todas as suas vertentes e de forma transversal, em valores nunca vistos nos \u00faltimos 70 anos. O consumo de energia global caiu em m\u00e9dia 3,8% no primeiro quadrimestre do ano (comparado com o Q1 de 2019), verificando-se mesmo valores a atingir os 25% nos pa\u00edses de confinamento tipo \u00abfull lockdown\u00bb. O carv\u00e3o (- 8%), o petr\u00f3leo (-5%) o g\u00e1s natural (-2,6%) e o nuclear (-3%) estiveram na linha das maiores perdas. Tamb\u00e9m a setor el\u00e9trico teve um decr\u00e9scimo de 2,5%[1]<\/a>. O decl\u00ednio energ\u00e9tico acompanhou de um modo geral nos diversos pa\u00edses a queda do seu PIB. As energias renov\u00e1veis foram as \u00fanicas a crescer ligeiramente (+1.5%). Por seu lado, as<\/p>\n\n\n\n

emiss\u00f5es de CO2 apontam neste quadrimestre para uma redu\u00e7\u00e3o de valores na ordem dos (-5%) comparativamente com o Q1 de 2019.<\/p>\n\n\n\n

Decorrente de toda esta evolu\u00e7\u00e3o, tamb\u00e9m assistimos ao surgimento intempestivo de uma guerra heter\u00f3clita nos mercados do petr\u00f3leo. Este facto conduziu a n\u00edveis m\u00ednimos e impens\u00e1veis na transa\u00e7\u00e3o do petr\u00f3leo nos principais mercados, e colocou para j\u00e1 em causa todo o circuito do upstream ao downstream, fruto das estrat\u00e9gias isoladas dos seus principais produtores (Ar\u00e1bia Saudita, R\u00fassia e Estados Unidos), perante uma ind\u00fastria petrol\u00edfera em completa desorienta\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Os principais atores internacionais limitaram-se a exibir modelos de perturba\u00e7\u00e3o interna, e a criar estrat\u00e9gias diferenciadas perante a inesperada derrapagem dos pre\u00e7os do petr\u00f3leo e a eventual destrui\u00e7\u00e3o a prazo deste circuito energ\u00e9tico, que sempre assumiu um grande potencial estrat\u00e9gico a n\u00edvel mundial. Ali\u00e1s a Europa, at\u00e9 se escondeu, e dela n\u00e3o se ouviu o mais ligeiro sussurro!<\/p>\n\n\n\n

Mas dito isto, numa perspetiva hol\u00edstica e de algum modo simplista de toda esta realidade somada, cujos efeitos ser\u00e3o devastadores no campo econ\u00f3mico e social dos Estados a curto e m\u00e9dio prazo, o complexo cen\u00e1rio geopol\u00edtico global n\u00e3o sofreu nenhuma altera\u00e7\u00e3o deveras dram\u00e1tica.<\/p>\n\n\n\n

Nunca como nestes \u00faltimos anos, as grandes pot\u00eancias globais, e o pr\u00f3prio espa\u00e7o europeu tiveram na atual matriz energ\u00e9tica um t\u00e3o elevado fator de estabilidade. E sabemos todos, como o fator energia \u00e9 o elemento estruturante das estrat\u00e9gias de desenvolvimento e sucesso das na\u00e7\u00f5es. Os recursos e as reservas energ\u00e9ticos das energias f\u00f3sseis s\u00e3o abundantes, como nunca o foram, e a resili\u00eancia do nuclear mant\u00e9m-se inalterada.<\/p>\n\n\n\n

Por seu lado as energias renov\u00e1veis nas suas m\u00faltiplas vertentes, a par da eletrifica\u00e7\u00e3o em escala e as promessas do hidrog\u00e9nio verde, permitem aos Estados perspetivar uma larga op\u00e7\u00e3o energ\u00e9tica e de sustenta\u00e7\u00e3o a prazo, com resultados muito mais significativos para o necess\u00e1rio e urgente combate \u00e0s altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas.<\/p>\n\n\n\n

Da\u00ed podermos dizer para j\u00e1, que dois dos grandes vetores de an\u00e1lise geopol\u00edtica: a seguran\u00e7a energ\u00e9tica e a seguran\u00e7a e defesa dos Estados, n\u00e3o foram colocados em causa com esta pandemia global.<\/p>\n\n\n\n

O que esta crise de sa\u00fade global com grav\u00edssimas repercuss\u00f5es econ\u00f3micas e financeiras vem proporcionar, \u00e9 sim, e reportando-nos apenas a este campo espec\u00edfico que estamos a analisar, o acelerar da nova arquitetura global nos sistemas de energia que ir\u00e3o impulsionar todo o resto do s\u00e9culo.<\/p>\n\n\n\n

A seguran\u00e7a energ\u00e9tica seja em que circunst\u00e2ncia for, \u00e9 sempre uma prioridade geopol\u00edtica das grandes pot\u00eancias, e neste momento a China, os EUA e a R\u00fassia procuram novos trunfos perante uma realidade em mudan\u00e7a. A Europa (Uni\u00e3o Europeia) por seu lado, ainda que com muito menos capacidade, pretende agora assumir e projetar a lideran\u00e7a global das novas pol\u00edticas ambientais, da descarboniza\u00e7\u00e3o e do emprego em larga escala das energias renov\u00e1veis, apresentando aos seus Estados-membros metas e objetivos precisos. A UE aspira a ser uma verdadeira Pot\u00eancia Clim\u00e1tica no espa\u00e7o geopol\u00edtico global, \u00e1rea em que realmente pode exercer alguma influ\u00eancia direta, recorrendo a mecanismos econ\u00f3micos e financeiros de salvaguarda ambiental.<\/p>\n\n\n\n

Os novos espa\u00e7os energ\u00e9ticos que a 4\u00aa revolu\u00e7\u00e3o industrial apresenta, t\u00eam como pressupostos base a descarboniza\u00e7\u00e3o e a digitaliza\u00e7\u00e3o das redes energ\u00e9ticas, num modelo cada vez mais de descentraliza\u00e7\u00e3o e no pressuposto do modelo gen\u00e9rico de eletrifica\u00e7\u00e3o. Neste contexto as tecnologias emergentes ou disruptivas absorvem preferencialmente as energias renov\u00e1veis ou vetores energ\u00e9ticos como o hidrog\u00e9nio ou a eletricidade, integrando e gerindo os modelos de \u00absmart grids\u00bb ou \u00abmicrogrids\u00bb, e o pr\u00f3prio desenvolvimento e capacita\u00e7\u00e3o da \u00abenergy storage\u00bb, consolidando em fases interm\u00e9dias as alternativas de baixo carbono e as ditas \u00ablow pressure gas networks\u00bb.<\/p>\n\n\n\n

Ultrapassado este pesadelo viral e atenuadas as suas ainda imprevis\u00edveis consequ\u00eancias econ\u00f3micas e financeiras, vai ser de novo vis\u00edvel a cria\u00e7\u00e3o de novos e diferentes espa\u00e7os de geopol\u00edtica energ\u00e9tica, baseados num sistema de transforma\u00e7\u00e3o global do Espa\u00e7o Energ\u00e9tico Global (EEG).<\/p>\n\n\n\n

A disputa pelo controlo das mat\u00e9rias-primas n\u00e3o \u00e9 um tema do passado: quem as produz, desenvolve e controla tem vantagem na estrat\u00e9gia de controlo do EEG. O GNL e a produ\u00e7\u00e3o em escala do hidrog\u00e9nio verde, os minerais cr\u00edticos e estrat\u00e9gicos, entre eles as terras raras, s\u00e3o alguns dos m\u00faltiplos exemplos que s\u00e3o j\u00e1 bem vis\u00edveis. Neste \u00faltimo campo, a China tem um dom\u00ednio muito relevante e amea\u00e7ador deste mercado decisivo.<\/p>\n\n\n\n

Um novo modelo energ\u00e9tico descentralizado e digital, mais eletrificado e gerido em rede e micro-redes ser\u00e1 contudo um alvo mais remunerador do novo inimigo existente no ciberespa\u00e7o. A ciberseguran\u00e7a \u00e9 por isso um fator de primeira grandeza estrat\u00e9gica a explorar, em paralelo com todos os novos desafios que se ir\u00e3o colocar no campo da seguran\u00e7a energ\u00e9tica. Novos desafios, disputas e amea\u00e7as ser\u00e3o certamente geradas no reformular dos atuais modelos de vida em sociedade, e claro muito dependentes dos interesses diretos dos principais atores globais deste nosso planeta.<\/p>\n\n\n\n


\n\n\n\n

4 de maio de 2020<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/p>\n\n\n\n

Eduardo Caetano de Sousa<\/strong><\/strong>
Vogal da Dire\u00e7\u00e3o<\/em><\/em><\/p>\n\n\n

[1]<\/a>\u00a0Global Energy Review 2020 \u2013 The impacts of the COVID-19 crisis on global energy demand and CO2 emissions Flagship report \u2013 April 2020 em https:\/\/www.iea.org\/reports\/global-energy-review-2020\/implications#abstract<\/a>.<\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Este enorme vulc\u00e3o viral de nome Covid-19, que projetou as suas lavas contagiosas pelo mundo inteiro, atingiu a grande maioria dos Estados, utilizando um dos princ\u00edpios da guerra: o efeito surpresa. Regi\u00f5es inteiras, Estados, pessoas aos milh\u00f5es, meios de transporte; terrestres, a\u00e9reos e mar\u00edtimos e a economia em geral, ocuparam a \u00abtrincheira do medo\u00bb. A… Ler mais »Os novos desafios da Geopol\u00edtica Energ\u00e9tica, sentados num vulc\u00e3o de pandemia<\/span><\/a><\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":2866,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"neve_meta_sidebar":"","neve_meta_container":"","neve_meta_enable_content_width":"","neve_meta_content_width":0,"neve_meta_title_alignment":"","neve_meta_author_avatar":"","neve_post_elements_order":"","neve_meta_disable_header":"","neve_meta_disable_footer":"","neve_meta_disable_title":"","footnotes":""},"categories":[3],"tags":[],"class_list":["post-51","post","type-post","status-publish","format-standard","has-post-thumbnail","hentry","category-artigos-tematicos"],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/51","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=51"}],"version-history":[{"count":11,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/51\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":9713,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/51\/revisions\/9713"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/media\/2866"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=51"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=51"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=51"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}