{"id":5975,"date":"2021-02-19T20:00:18","date_gmt":"2021-02-19T20:00:18","guid":{"rendered":"https:\/\/eurodefense.pt\/?p=5975"},"modified":"2023-02-20T18:46:23","modified_gmt":"2023-02-20T18:46:23","slug":"visao-geral-sobre-o-belt-and-road","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/eurodefense.pt\/visao-geral-sobre-o-belt-and-road\/","title":{"rendered":"Vis\u00e3o Geral sobre o Belt and Road"},"content":{"rendered":"\n
J\u00e1 discutimos esta semana o que \u00e9 a iniciativa Belt and Road (BR) e o que representa nas rela\u00e7\u00f5es entre a Uni\u00e3o Europeia e a China. Recapitulando, \u00e9 uma iniciativa de financiamento de projetos de infraestrutura avan\u00e7ada pelo governo chin\u00eas de Xi Jinping, em 2013, pela primeira vez anunciada no Cazaquist\u00e3o e posteriormente desenvolvida. \u00c9 uma iniciativa que exalta a conectividade e as rela\u00e7\u00f5es comerciais entre os pa\u00edses aderentes, para n\u00e3o falar dos la\u00e7os culturais e pessoais. Neste momento, o BR conta com 140 pa\u00edses e 31 organiza\u00e7\u00f5es internacionais, representando um ter\u00e7o do PIB global e dois ter\u00e7os da popula\u00e7\u00e3o mundial. No entanto, a esmagadora maioria do investimento concentra-se na \u00c1sia e na \u00c1frica e em infraestrutura energ\u00e9tica. Mais que uma iniciativa econ\u00f3mica, \u00e9 uma componente de Grande Estrat\u00e9gia, \u00e9 geopol\u00edtica.<\/p>\n\n\n\n
No plano internacional, \u00e9 uma tentativa chinesa de legitima\u00e7\u00e3o atrav\u00e9s da demonstra\u00e7\u00e3o de poderio econ\u00f3mico, de prest\u00edgio e de prosperidade. No plano dom\u00e9stico, espera legitimar-se atrav\u00e9s da promo\u00e7\u00e3o do emprego, do aumento do PIB per capita e evitando uma estagna\u00e7\u00e3o econ\u00f3mica que tem prometido instalar-se depois de d\u00e9cadas de um desenvolvimento incompar\u00e1vel. Afinal, a China \u00e9 um pa\u00eds que em apenas algumas d\u00e9cadas catapultou o seu estatuto geopol\u00edtico de pa\u00eds comunista isolado na Guerra Fria para superpoder global.<\/p>\n\n\n\n
A n\u00edvel internacional, o BR tem gerado grandes preocupa\u00e7\u00f5es, particularmente no que toca ao crescimento da depend\u00eancia econ\u00f3mica face \u00e0 China (com as chamadas debt-traps) e \u00e0 hip\u00f3tese de este projeto ser revisionista, isto \u00e9, ter a inten\u00e7\u00e3o de alterar a atual ordem internacional para servir os interesses chineses. Sendo a China vista como um poder autorit\u00e1rio que n\u00e3o tem interesse nas regras do direito internacional (incluindo os direitos humanos), a ordem global centrada em si teria as mesmas caracter\u00edsticas. Com tudo isto, acho oportuno parafrasear Maximilian Mayer no seu contributo para \u201cRethinking the Silk Road\u201d (2018), dizendo que para estudar o BR, \u00e9 necess\u00e1rio evitar tanto vis\u00f5es preconceituosas como elogios demasiado otimistas. O BR \u00e9 um projeto primariamente de constru\u00e7\u00e3o de infraestruturas, muito necess\u00e1rias em v\u00e1rias zonas do globo e que poder\u00e3o criar desenvolvimento econ\u00f3mico e diminuir a pobreza a uma escala global \u2013 lembremo-nos que a erradica\u00e7\u00e3o da pobreza \u00e9 um dos objetivos de desenvolvimento sustent\u00e1vel da ONU. Todavia, um dos maiores problemas que enfrenta \u00e9 a falta de clareza e transpar\u00eancia, que criam preocupa\u00e7\u00f5es leg\u00edtimas sobre a sua execu\u00e7\u00e3o e as suas inten\u00e7\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n
Finalmente, quero abordar uma compara\u00e7\u00e3o que \u00e9 feita muito frequentemente \u2013 e que a China rejeita \u2013 entre o BR e o Plano Marshall e que efetivamente n\u00e3o parece a mais apropriada.<\/p>\n\n\n\n
O Plano Marshall foi um projeto de reconstru\u00e7\u00e3o da Europa no p\u00f3s-guerra de iniciativa norte-americana que, realmente, queria consolidar o d\u00f3lar americano como moeda de reserva (o que se pode dizer que \u00e9 um objetivo da China, afirmar a sua pr\u00f3pria moeda, o renminbi); contudo, ao contr\u00e1rio deste, a iniciativa BR financia inteiramente atrav\u00e9s empr\u00e9stimos, que devem ser pagos pelos pa\u00edses que os recebem. Tamb\u00e9m ao contr\u00e1rio do Plano Marshall, a China negocia o BR bilateralmente, de Estado para Estado. O Plano Marshall tinha como requisito que a Europa se juntasse e tomasse decis\u00f5es coletivas para a sua recupera\u00e7\u00e3o e desenvolvimento. O BR, por sua vez, conversa bilateralmente com os Estados Europeus e raramente trata de assuntos de modo multilateral. O formato 17+1 \u00e9 exemplo disso, a China criou um grupo com 17 pa\u00edses europeus para negociar investimentos BR fora da Uni\u00e3o Europeia. \u00c9 de notar que at\u00e9 \u00e0 entrada da Gr\u00e9cia neste grupo, em 2018, ele era composto apenas por antigos Estados comunistas, que partilham uma esp\u00e9cie de passado pol\u00edtico-econ\u00f3mico com a China, tornando as negocia\u00e7\u00f5es mais f\u00e1ceis. A Gr\u00e9cia, por\u00e9m, \u00e9 de interesse pelo porto de Pireu, entrada estrat\u00e9gica para a Europa.<\/p>\n\n\n\n
Nota: Agradecemos ao CECRI-UMinho, cujo painel acerca desta tem\u00e1tica, que contou com os excelentes oradores Richard Griffths e Maria Papageorgiou, foi de grande interesse para esta reflex\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n
19 de fevereiro de 2021<\/p>\n\n\n\n
Rita Monte<\/strong> Publica\u00e7\u00f5es relacionadas<\/strong><\/p>\n\n\n\n
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