{"id":6086,"date":"2021-04-09T18:38:49","date_gmt":"2021-04-09T18:38:49","guid":{"rendered":"https:\/\/eurodefense.pt\/?p=6086"},"modified":"2023-02-20T18:45:42","modified_gmt":"2023-02-20T18:45:42","slug":"as-forcas-armadas-portuguesas-na-republica-centro-africana","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/eurodefense.pt\/as-forcas-armadas-portuguesas-na-republica-centro-africana\/","title":{"rendered":"\u201cAs For\u00e7as Armadas Portuguesas na Rep\u00fablica Centro-Africana\u201d"},"content":{"rendered":"\n

Introdu\u00e7\u00e3o <\/strong><\/p>\n\n\n\n

O presente artigo incide sobre a participa\u00e7\u00e3o das For\u00e7as Armadas Portuguesas na Rep\u00fablica Centro-Africana (RCA), pa\u00eds que vive em guerra civil desde 2012. Em primeiro lugar, ser\u00e1 exposta uma breve contextualiza\u00e7\u00e3o sobre o que se passa na RCA e como surgiu o conflito atual. O segundo ponto aborda resumidamente a participa\u00e7\u00e3o portuguesa em miss\u00f5es internacionais no geral. De seguida, ser\u00e1 abordada a colabora\u00e7\u00e3o dos militares portugueses na RCA, que t\u00eam desempenhado um papel fundamental para a manuten\u00e7\u00e3o da paz na regi\u00e3o. Por \u00faltimo, ser\u00e3o apresentados alguns pontos que o Senhor Major-General Paulo Maia Pereira (2\u00ba Comandante da MINUSCA) referiu durante a tert\u00falia sobre este tema, permitindo assim compreender melhor o que se vive no pa\u00eds e a miss\u00e3o dos militares portugueses. <\/p>\n\n\n\n

1. Rep\u00fablica Centro Africana: Contextualiza\u00e7\u00e3o<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Antes de apresentarmos o papel dos militares portugueses na Rep\u00fablica Centro Africana, importa compreender primeiro o que se passa na regi\u00e3o. Este pa\u00eds, localizado na \u00c1frica Central, cuja capital \u00e9 Bangui, vive em guerra civil desde 2012 e est\u00e1 a ser palco de uma das maiores crises humanit\u00e1rias da atualidade. <\/p>\n\n\n\n

O conflito atual surgiu em finais de 2012, quando os rebeldes S\u00e9l\u00e9ka (minoria mu\u00e7ulmana) acusaram o ent\u00e3o presidente Fran\u00e7ois Boziz\u00e9 de n\u00e3o respeitar os acordos de paz que previam uma tr\u00e9gua entre o governo e os rebeldes e a inclus\u00e3o destes no ex\u00e9rcito nacional. Tendo como objetivo a deposi\u00e7\u00e3o de Boziz\u00e9, as for\u00e7as rebeldes come\u00e7aram a saquear as popula\u00e7\u00f5es em v\u00e1rias cidades da RCA  e a viol\u00eancia entre estes e as For\u00e7as Armadas Centro-Africanas (FACA) intensificou-se.<\/p>\n\n\n\n

A 24 de mar\u00e7o de 2013, a capital foi tomada pelos rebeldes, quando Fran\u00e7ois Boziz\u00e9 saiu do pa\u00eds e o l\u00edder dos S\u00e9l\u00e9ka, Michel Djotodia, se declarou presidente no mesmo dia. Uns meses mais tarde, este governo foi dissolvido, por\u00e9m, as for\u00e7as rebeldes continuaram a saquear as popula\u00e7\u00f5es. Por conseguinte, a comunidade crist\u00e3, para se defender destes ataques, criou a mil\u00edcia anti-Balaka (maioria crist\u00e3). Desde ent\u00e3o, os conflitos entre mu\u00e7ulmanos e crist\u00e3os aumentaram significativamente, deixando o territ\u00f3rio centro-africano \u00e0 beira de uma guerra civil. H\u00e1 v\u00e1rios relatos de graves viola\u00e7\u00f5es aos direitos humanos no pa\u00eds e, milh\u00f5es de pessoas j\u00e1 abandonaram as suas casas. <\/p>\n\n\n\n

Na sequ\u00eancia destes eventos, em dezembro de 2013, atrav\u00e9s da resolu\u00e7\u00e3o 2127 adotada pelo Conselho de Seguran\u00e7a das Na\u00e7\u00f5es Unidas, foi criada a Miss\u00e3o Africana de Suporte \u00e0 Rep\u00fablica Centro-Africana (MISCA), a miss\u00e3o de estabiliza\u00e7\u00e3o de paz da Uni\u00e3o Africana, hoje em dia MINUSCA. Em paralelo, o Conselho Europeu estabeleceu a For\u00e7a da Uni\u00e3o Europeia na Rep\u00fablica Centro-Africana (EUFOR RCA) em 2014, atualmente a EUTM RCA. At\u00e9 aos dias de hoje, estas duas opera\u00e7\u00f5es internacionais permanecem no terreno, ainda que com designa\u00e7\u00f5es diferentes, uma vez que, os conflitos entre grupos comunit\u00e1rios ainda n\u00e3o terminaram e a emerg\u00eancia humanit\u00e1ria \u00e9 cada vez mais alarmante.<\/p>\n\n\n\n

A partir de 2018, a guerra evoluiu para um conflito de baixa intensidade, onde os grupos armados disputam os v\u00e1rios recursos do pa\u00eds. Estas mil\u00edcias procuram obter dinheiro atrav\u00e9s de raptos, extors\u00e3o, bloqueio de vias de comunica\u00e7\u00e3o, recursos minerais (diamantes, ouro), roubo de gado e abate de elefantes para venda de marfim. O Governo controla cerca de um quinto do territ\u00f3rio e o resto \u00e9 dividido por mais de 15 grupos armados. <\/p>\n\n\n\n

Desde o in\u00edcio desta crise na RCA j\u00e1 foram assinados sete acordos de paz, mas nenhum conseguiu trazer estabilidade ao pa\u00eds. Apesar da assinatura de um novo acordo de paz entre 14 grupos armados em 2019, esta realidade continua a assolar o pa\u00eds, onde v\u00e1rias organiza\u00e7\u00f5es e pa\u00edses se encontram para proteger civis, oferecendo ajuda humanit\u00e1ria e auxiliando o dif\u00edcil caminho para a resolu\u00e7\u00e3o da situa\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

2. A Participa\u00e7\u00e3o Portuguesa em Miss\u00f5es Internacionais<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Como referido na interven\u00e7\u00e3o do Sr. Ministro da Defesa Nacional, Jo\u00e3o Gomes Cravinho, na sess\u00e3o de apresenta\u00e7\u00e3o das For\u00e7as Nacionais Destacadas (FND) para 2021, \u201cuma parte essencial da a\u00e7\u00e3o da defesa nacional prende-se com a presen\u00e7a das For\u00e7as Armadas portuguesas em miss\u00f5es de paz e de estabiliza\u00e7\u00e3o fora do territ\u00f3rio nacional\u201d <\/em>(1). Esta presen\u00e7a manifesta-se tanto em miss\u00f5es no \u00e2mbito de organiza\u00e7\u00f5es que Portugal integra, nomeadamente a ONU, NATO e UE, como em miss\u00f5es no \u00e2mbito de acordos bilaterais e multilaterais. O Estado-Maior General das For\u00e7as Armadas \u00e9 respons\u00e1vel por planear, dirigir e controlar o emprego das For\u00e7as Armadas destacadas para este prop\u00f3sito.<\/p>\n\n\n\n

A presen\u00e7a e empenho de Portugal tem aumentado desde a \u00faltima d\u00e9cada do s\u00e9culo XX, sendo consistente ano ap\u00f3s ano. Em 2021, Portugal integra 27 miss\u00f5es<\/strong>: 5 no \u00e2mbito da UE, 3 no \u00e2mbito ONU, 10 no \u00e2mbito da NATO e 9 de cariz bilateral ou multilateral.<\/strong><\/p>\n\n\n\n

2.1. A Colabora\u00e7\u00e3o Portuguesa na Rep\u00fablica Centro-Africana<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Focando-se este artigo na situa\u00e7\u00e3o da Rep\u00fablica Centro-Africana e a interven\u00e7\u00e3o portuguesa no pa\u00eds, \u00e9 importante expor em que se materializa. Primeiramente, olhando para a Diretiva de Orienta\u00e7\u00e3o Pol\u00edtica para o Planeamento das FDN para 2021, podemos identificar dois objetivos em que se baseia esta participa\u00e7\u00e3o, nomeadamente o de privilegiar miss\u00f5es que contribuam para a estabilidade da vizinhan\u00e7a e o de participar em atividades de capacita\u00e7\u00e3o no dom\u00ednio de defesa, concretamente na \u00c1frica Subsariana.<\/p>\n\n\n\n

Portugal participa na EUTM RCA<\/strong>, por extenso European Union Training Mission<\/em> na Rep\u00fablica Centro Africana. Depois de ter sido criada, em 2014, uma Task Force (EUFOR-RCA) que auxiliasse nos esfor\u00e7os internacionais de prote\u00e7\u00e3o de civis e ajuda humanit\u00e1ria e de, em 2015, ter sido requisitado pelo l\u00edder transit\u00f3rio na Rep\u00fablica Centro-Africana que a UE destacasse uma miss\u00e3o militar de consultoria (EUMAM), com o prop\u00f3sito de auxiliar a reforma do setor de defesa surge, em 2016, a EUTM-RCA, que estendeu o seu mandato atual at\u00e9 2022. A participa\u00e7\u00e3o portuguesa tem o prop\u00f3sito de, no \u00e2mbito da miss\u00e3o, \u201capoiar as autoridades centro-africanas na prepara\u00e7\u00e3o e implementa\u00e7\u00e3o da reforma do sector da defesa e seguran\u00e7a, ajudando \u00e0 moderniza\u00e7\u00e3o das suas For\u00e7as Armadas e assegurando o seu equil\u00edbrio \u00e9tnico e responsabilidade democr\u00e1tica\u201d (2). O comandante da For\u00e7a da Miss\u00e3o da UE \u00e9 o portugu\u00eas Brigadeiro-General Paulo Neves de Abreu, desde setembro de 2020.<\/p>\n\n\n\n

Portugal participa tamb\u00e9m na UN MINUSCA<\/strong>, por extenso, United Nations Multidimensional Integrated Stabilization Mission In The Central African Republic. <\/em>Esta miss\u00e3o substitui a MISCA (Miss\u00e3o Internacional de Apoio \u00e0 Rep\u00fablica Centro-Africana) em 2014. Tem como principal objetivo proteger os civis. Neste sentido, prestar assist\u00eancia humanit\u00e1ria, proteger os direitos humanos, implementar um sistema de Justi\u00e7a e desmobilizar os diferentes grupos armados s\u00e3o algumas das tarefas desempenhadas, bem como facilitar os processos de transi\u00e7\u00e3o. A participa\u00e7\u00e3o portuguesa na MINUSCA materializa-se no \u201capoio \u00e0 comunidade internacional na reforma do setor de seguran\u00e7a do Estado, contribuindo para a seguran\u00e7a e estabiliza\u00e7\u00e3o do pa\u00eds\u201d (2). O atual 2\u00ba Comandante da For\u00e7a Militar da miss\u00e3o da ONU \u00e9 o Sr. Major-General Paulo Maia Pereira, a quem a EuroDefense-Jovem endere\u00e7ou o convite para a participa\u00e7\u00e3o numa das suas Tert\u00falias, que foi desde logo aceite.<\/p>\n\n\n\n

Os militares portugueses t\u00eam desempenhado um papel ex\u00edmio e fundamental, contribuindo para assegurar a paz e estabilidade na RCA, dignificando as For\u00e7as Armadas Portuguesas. Atualmente, Portugal tem 243 <\/strong>militares na Rep\u00fablica Centro-Africana, dos quais 188 integram a MINUSCA e 55 participam na miss\u00e3o de treino da EUTM RCA. Portugal destaca ainda um Grupo de Apoio Nacional de 5 militares, cujo prop\u00f3sito \u00e9 apoiar o contingente nacional em opera\u00e7\u00f5es na Rep\u00fablica Centro Africana.<\/p>\n\n\n\n

3. Contributos do Sr. Major-General Paulo Maia Pereira, 2.\u00ba Comandante da MINUSCA <\/strong><\/p>\n\n\n\n

No passado dia 7 de abril, teve lugar a Tert\u00falia sobre a participa\u00e7\u00e3o das For\u00e7as Armadas na Rep\u00fablica Centro-Africana, na qual tivemos o prazer de contar com a presen\u00e7a do Sr. Major-General Maia Pereira. A sess\u00e3o organizou-se em dois momentos, uma apresenta\u00e7\u00e3o inicial e de seguida perguntas e respostas do p\u00fablico. Durante a apresenta\u00e7\u00e3o, o Sr. Major-General Maia Pereira abordou quatro pontos importantes: a situa\u00e7\u00e3o pol\u00edtico-militar da RCA, a MINUSCA e a sua estrutura, e as For\u00e7as Armadas Portuguesas no terreno. Seguem alguns dos principais contributos retirados deste evento, que tornam clara a realidade vivida pelo pa\u00eds e a participa\u00e7\u00e3o portuguesa nas miss\u00f5es que nele t\u00eam lugar.<\/p>\n\n\n\n

Quanto \u00e0 situa\u00e7\u00e3o pol\u00edtica<\/strong>: <\/p>\n\n\n\n