{"id":6355,"date":"2021-05-18T09:46:34","date_gmt":"2021-05-18T09:46:34","guid":{"rendered":"https:\/\/eurodefense.pt\/?p=6355"},"modified":"2023-02-20T18:20:15","modified_gmt":"2023-02-20T18:20:15","slug":"energias-criticas-tecnologias-emergentes-vulnerabilidades-e-geopolitica","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/eurodefense.pt\/energias-criticas-tecnologias-emergentes-vulnerabilidades-e-geopolitica\/","title":{"rendered":"Energias cr\u00edticas, tecnologias emergentes: Vulnerabilidades e Geopol\u00edtica"},"content":{"rendered":"\n

O interesse manifesto das principais pot\u00eancias pela disputa e controlo das mat\u00e9rias-primas e dos recursos energ\u00e9ticos de cariz estrat\u00e9gico n\u00e3o s\u00e3o um tema do passado. A expans\u00e3o comercial do g\u00e1s natural liquefeito, a cartografia geopol\u00edtica dos gasodutos, os projetos existentes para a produ\u00e7\u00e3o em escala do hidrog\u00e9nio verde, o controlo dos minerais cr\u00edticos e estrat\u00e9gicos, entre eles as terras raras, a competi\u00e7\u00e3o e apropria\u00e7\u00e3o das renov\u00e1veis e os novos m\u00f3dulos nucleares e hidrogr\u00e1ficos, s\u00e3o alguns dos m\u00faltiplos exemplos que s\u00e3o j\u00e1 bem vis\u00edveis na disputa existente no atual Espa\u00e7o Energ\u00e9tico e Ambiental.<\/p>\n\n\n\n

Durante d\u00e9cadas t\u00eam sido muitos os conflitos e as disputas geradas, num ciclo que ainda promete manter-se, em especial em regi\u00f5es do globo mais propensas \u00e0s disputas territoriais e ao controlo das zonas de produ\u00e7\u00e3o ou das zonas e estreitos de passagem priorit\u00e1ria dos fluxos comerciais de hidrocarbonetos. E neste contexto o pr\u00f3prio \u00c1rtico come\u00e7a a assumir especial relev\u00e2ncia. Os combust\u00edveis f\u00f3sseis continuar\u00e3o ainda a ter uma express\u00e3o dominadora, pelo menos durante a pr\u00f3xima d\u00e9cada[1]<\/span><\/strong><\/a>.<\/p>\n\n\n\n

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\u00c1RTICO- Yenisei Ob Kara Sea.jpg – Wikimedia Commons – NASA image courtesy Norman Kuring,
Ocean Color Web. Instrument: Aqua \u2013 MODIS<\/figcaption><\/figure><\/div>\n\n\n\n

A utiliza\u00e7\u00e3o dos grandes espa\u00e7os mar\u00edtimos para o transporte do g\u00e1s natural liquefeito (GNL), veio globalizar os circuitos comerciais, mas tamb\u00e9m a disputa geopol\u00edtica. O com\u00e9rcio do g\u00e1s deixou de estar restringido aos blocos regionais por liga\u00e7\u00f5es de gasodutos existentes e alarga-se a todo o Espa\u00e7o Energ\u00e9tico Global. O G\u00e1s Natural Liquefeito \u00e9 atualmente uma complementaridade, sen\u00e3o mesmo uma alternativa real, n\u00e3o s\u00f3 ao carv\u00e3o, mas tamb\u00e9m aos gasodutos\/pipelines existentes e s\u00e9rio competidor com outras fontes energ\u00e9ticas. A utiliza\u00e7\u00e3o do meio mar\u00edtimo, de zonas terminais de acesso e portos log\u00edsticos, garantem diversidade e flexibilidade nos complexos processos de com\u00e9rcio entre Estados, regi\u00f5es e continentes.<\/p>\n\n\n\n

Os ataques terroristas e dos conflitos localizados em determinados espa\u00e7os regionais, os ciberataques e as a\u00e7\u00f5es extremas decorrentes de altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas ou geol\u00f3gicas, defici\u00eancias estruturais e acidentes graves no upstream, ou downstream energ\u00e9tico, podem originar \u00ablockouts\u00bb de propor\u00e7\u00f5es inesperadas que t\u00eam por norma um efeito devastador junto das popula\u00e7\u00f5es. Veja-se o caso da mega explos\u00e3o no porto de Beirute e as suas dram\u00e1ticas consequ\u00eancias ou do acidente no gasoduto TAG em 2017 em Baumgarten na \u00c1ustria, que causou graves perturba\u00e7\u00f5es no fornecimento de g\u00e1s a v\u00e1rios pa\u00edses vizinhos, ou mais recentemente do ciberataque (Hackers) ao \u00abColonial Pipeline\u00bb nos EUA.<\/p>\n\n\n\n

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colonial-pipeline-ransomware-feature.jpg (1680\u00d7840) (makeuseofimages.com)<\/span><\/a>\u00a0 – EIA<\/span><\/figcaption><\/figure><\/div>\n\n\n\n

As tecnologias de energia e\u00f3lica onshore ou offshore, solar fotovoltaica, a biomassa, gases renov\u00e1veis, hidrog\u00e9nio verde e power-to-gas, geotermia e a forte expans\u00e3o da eletrifica\u00e7\u00e3o est\u00e3o entre as principais alternativas apontadas aos pr\u00f3ximos anos. Os processos de armazenagem de energia s\u00e3o umas das maiores dificuldades, e ainda longe de solu\u00e7\u00f5es otimizadas no processo global de descarboniza\u00e7\u00e3o. Este \u00e9 um dos pontos fracos das energias renov\u00e1veis, e uma das potencialidades dos gases renov\u00e1veis, do g\u00e1s natural e mesmo do hidrog\u00e9nio.<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/figure><\/div>\n\n\n\n

Estes vetores energ\u00e9ticos trazem contudo novos desafios, ainda pouco definidos, e implica\u00e7\u00f5es com contornos ainda a ajustar nas tradicionais pol\u00edticas de seguran\u00e7a e defesa junto dos principais atores do sistema internacional. Coloca-se agora a prolifera\u00e7\u00e3o e a extens\u00e3o das estruturas f\u00edsicas das energias renov\u00e1veis ao longo dos diversos territ\u00f3rios. Estas extens\u00f5es, muitas de grande dimens\u00e3o em onshore e em offshore, s\u00e3o tamb\u00e9m elas criadoras de problemas ecol\u00f3gicos, de altera\u00e7\u00f5es ambientais e sociais, e v\u00e3o obrigar a repensar novos modelos de seguran\u00e7a. Modelos que v\u00e3o abranger a seguran\u00e7a das suas instala\u00e7\u00f5es em termos f\u00edsicos e a prote\u00e7\u00e3o ativa e t\u00e9cnica do seu ciclo de trabalho.<\/p>\n\n\n\n

Os designados campos de energia e\u00f3lica e solar fotovoltaica encontram-se por norma separados, e a sua dispers\u00e3o e \u00e1rea de ocupa\u00e7\u00e3o tornam mais dif\u00edcil a sua seguran\u00e7a f\u00edsica. Estes campos, em especial os e\u00f3licos, estendem-se por vezes pelas plataformas offshore, o que acrescentar\u00e1 novas dificuldades ao seu per\u00edmetro de seguran\u00e7a imediata. At\u00e9 ao momento, n\u00e3o tem havido especial motivo de preocupa\u00e7\u00e3o, mas o tempo e a sua crescente import\u00e2ncia obrigar\u00e3o ao estudo e \u00e0 implementa\u00e7\u00e3o de a\u00e7\u00f5es a desenvolver, para garantir a seguran\u00e7a geral destas zonas, designadamente das infraestruturas energ\u00e9ticas produtivas. Por outro lado, a liga\u00e7\u00e3o setorial \u00e0s redes energ\u00e9ticas, a cada vez maior complexidade de gest\u00e3o das redes e a interconex\u00e3o dos sistemas, representam uma fragilidade face a um outro tipo de amea\u00e7as em curso: os ciberataques. Como os novos sistemas integrados de produ\u00e7\u00e3o e distribui\u00e7\u00e3o de energia, apresentam um modo descentralizado e integrado, as respetivas plataformas de comando e controlo tornam-se assim muito vulner\u00e1veis. Desta forma o transporte, distribui\u00e7\u00e3o el\u00e9trica e respetivos processos de armazenagem e de reposi\u00e7\u00e3o, assim como as \u00e1reas de gest\u00e3o e controlo s\u00e3o elementos, como se percebe, estrat\u00e9gicos na elabora\u00e7\u00e3o de planos integrados de seguran\u00e7a, que abrangem a componente civil, mas que podem e devem estenderem-se \u00e0 pr\u00f3pria seguran\u00e7a mais geral do Estado.<\/p>\n\n\n\n

Est\u00e3o a ser criadas as bases para que a produ\u00e7\u00e3o do hidrog\u00e9nio tendo por base as energias renov\u00e1veis, possa ser um \u00eaxito nas pr\u00f3ximas d\u00e9cadas. O transporte e o armazenamento do hidrog\u00e9nio s\u00e3o fatores determinantes no processo comercial e competitivo.<\/p>\n\n\n\n

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Quantum Hydrogen.jpg – Wikimedia Commons<\/span><\/a>\u00a0 – <\/span>UCL Mathematical & Physical Sciences <\/a>from London<\/span><\/figcaption><\/figure><\/div>\n\n\n\n

O hidrog\u00e9nio tal como o g\u00e1s natural ir\u00e1 ser muito propenso \u00e0s disputas geopol\u00edticas no seu ciclo de produ\u00e7\u00e3o e \u00e0s inerentes estrat\u00e9gias comerciais. Com a ci\u00eancia e a tecnologia a fazer o seu caminho pelo s\u00e9culo XXI, as tecnologias emergentes e disruptivas ir\u00e3o permitir desenvolver novos conceitos ao n\u00edvel da digita\u00e7\u00e3o e da rob\u00f3tica, da Intelig\u00eancia Artificial, do \u00abHypersonic (weapons systems)\u00bb, do espa\u00e7o, das tecnologias quantum<\/em> e das \u00abbio & human enhancement\u00bb.<\/p>\n\n\n\n

Em face a esta extraordin\u00e1ria evolu\u00e7\u00e3o a que temos assistido nos \u00faltimos anos, e num cen\u00e1rio energ\u00e9tico futuro mais eletrificado, digitalizado e descentralizado, \u00e9 natural que a disputa geopol\u00edtica e os interesses das grandes pot\u00eancias globais subam igualmente de tom pelo controlo das tecnologias emergentes.<\/strong><\/p>\n\n\n\n


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18de maio de 2021<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/figure><\/div>\n\n\n\n

Eduardo Caetano de Sousa<\/strong>
Vogal da Dire\u00e7\u00e3o<\/em><\/p>\n\n\n\n


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[1]<\/span><\/strong><\/a> Word Energy Outlook, IEA, 2019.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

O interesse manifesto das principais pot\u00eancias pela disputa e controlo das mat\u00e9rias-primas e dos recursos energ\u00e9ticos de cariz estrat\u00e9gico n\u00e3o s\u00e3o um tema do passado. A expans\u00e3o comercial do g\u00e1s natural liquefeito, a cartografia geopol\u00edtica dos gasodutos, os projetos existentes para a produ\u00e7\u00e3o em escala do hidrog\u00e9nio verde, o controlo dos minerais cr\u00edticos e estrat\u00e9gicos,… Ler mais »Energias cr\u00edticas, tecnologias emergentes: Vulnerabilidades e Geopol\u00edtica<\/span><\/a><\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":6364,"comment_status":"closed","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"neve_meta_sidebar":"","neve_meta_container":"","neve_meta_enable_content_width":"","neve_meta_content_width":0,"neve_meta_title_alignment":"","neve_meta_author_avatar":"","neve_post_elements_order":"","neve_meta_disable_header":"","neve_meta_disable_footer":"","neve_meta_disable_title":""},"categories":[3],"tags":[],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/6355"}],"collection":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=6355"}],"version-history":[{"count":6,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/6355\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":6367,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/6355\/revisions\/6367"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/media\/6364"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=6355"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=6355"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=6355"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}