{"id":6383,"date":"2021-05-23T15:14:08","date_gmt":"2021-05-23T15:14:08","guid":{"rendered":"https:\/\/eurodefense.pt\/?p=6383"},"modified":"2023-02-20T18:20:13","modified_gmt":"2023-02-20T18:20:13","slug":"a-tensao-geopolitica-no-indico-norte","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/eurodefense.pt\/a-tensao-geopolitica-no-indico-norte\/","title":{"rendered":"A Tens\u00e3o Geopol\u00edtica no \u00cdndico Norte"},"content":{"rendered":"\n
1. O Shift<\/em> para o Oceano \u00cdndico<\/strong><\/p>\n\n\n\n Um novo framework <\/em>geopol\u00edtico tem vindo a levar n\u00e3o s\u00f3 o Oceano \u00cdndico como o Pac\u00edfico (a regi\u00e3o do Indo-Pacifico) para o centro das rela\u00e7\u00f5es internacionais. Concentrando-nos neste \u00faltimo, numa primeira inst\u00e2ncia, devemos salientar o facto de que \u00e9 uma regi\u00e3o extremamente vasta e diversa. Cobre o M\u00e9dio Oriente e pa\u00edses do Golfo, o Mar Vermelho e o Corno de \u00c1frica, o Leste Africano e \u00c1frica Subsariana, o Sul e Sudeste Asi\u00e1tico e a Oce\u00e2nia, sendo o terceiro maior oceano. Neste oceano encontramos algumas das mais vitais rotas mar\u00edtimas de com\u00e9rcio, bem como alguns dos mais estrat\u00e9gicos chokepoints<\/em>: o Estreito de Ormuz, o Estreito de Malaca e o Estreito de Bab-el-Mandeb. \u00c9, ademais, uma regi\u00e3o extremamente rica em termos de recursos energ\u00e9ticos (como o petr\u00f3leo e o g\u00e1s natural). Usufrui de uma posi\u00e7\u00e3o geoestrat\u00e9gica e tem, por isso, sido uma localiza\u00e7\u00e3o onde os grandes poderes se t\u00eam concentrado e aumentado a sua atividade, presen\u00e7a naval e militar, sobretudo nos pontos de maior import\u00e2ncia, em constante competi\u00e7\u00e3o mas tamb\u00e9m coopera\u00e7\u00e3o. O peso que tem assumido esta regi\u00e3o levanta quest\u00f5es securit\u00e1rias, como seria de esperar, como a pirataria, o terrorismo e o tr\u00e1fico de seres humanos e de droga. Conseguimos perceber, pela descri\u00e7\u00e3o geogr\u00e1fica, que engloba algumas zonas particularmente inst\u00e1veis, como \u00e9 o caso do M\u00e9dio Oriente, bem como alguns Estados Falhados e Fr\u00e1geis.<\/p>\n\n\n\n A \u00cdndia, China e os Estados Unidos da Am\u00e9rica s\u00e3o os principais atores neste contexto. A rivalidade entre a \u00cdndia e a China, sendo o primeiro apoiado pelos Estados Unidos da Am\u00e9rica (que, perante a presen\u00e7a da China, tem vindo a refor\u00e7ar as suas capacidades militares, diplom\u00e1ticas e esfor\u00e7os econ\u00f3micos em toda a regi\u00e3o), parece ser a principal quest\u00e3o securit\u00e1ria na regi\u00e3o, assentando tamb\u00e9m numa disputa hist\u00f3ria entre os dois Estados. Outras din\u00e2micas bilaterais t\u00eam, igualmente, peso.<\/p>\n\n\n\n 2. Pontos de Tens\u00e3o no \u00cdndico-Norte: as rela\u00e7\u00f5es \u00cdndia-China e \u00cdndia-Paquist\u00e3o<\/strong><\/p>\n\n\n\n Se navegarmos para uma localiza\u00e7\u00e3o particular deste oceano, nomeadamente para norte, nas margens do Sul Asi\u00e1tico, verificamos que \u00e9 palco de alguns pontos de tens\u00e3o, fruto dos Estados que engloba. Dois dos previamente mencionados, \u00cdndia e China, competem por influ\u00eancia nesta zona, situa\u00e7\u00e3o agravada por disputas bilaterais antigas, relacionadas com quest\u00f5es territoriais. Da mesma forma, \u00cdndia e Paquist\u00e3o (este \u00faltimo que mant\u00e9m boas rela\u00e7\u00f5es com a China) disputam tamb\u00e9m territ\u00f3rios, estando envolvidos no chamado \u2018conflito indo-paquistan\u00eas\u2019 h\u00e1 v\u00e1rios anos.<\/p>\n\n\n\n 2.1. As Rela\u00e7\u00f5es \u00cdndia-China<\/p>\n\n\n\n Debru\u00e7ando-nos numa primeira inst\u00e2ncia sob a \u00cdndia e a China, os dois grandes poderes em (re) ascens\u00e3o no s\u00e9culo XXI, \u00e9 seguro afirmar que a sua liga\u00e7\u00e3o nem sempre teve o car\u00e1ter atribulado ao qual assistimos hoje. Olhando para o p\u00f3s-Segunda Guerra Mundial, a \u00cdndia foi o primeiro Estado n\u00e3o-socialista a reconhecer a Rep\u00fablica Popular da China em 1949, oferecendo um forte apoio \u00e0 participa\u00e7\u00e3o do pa\u00eds na Organiza\u00e7\u00e3o das Na\u00e7\u00f5es Unidas ao inv\u00e9s de Taiwan. \u00c9 nos anos \u201950 que quest\u00f5es fronteiri\u00e7as d\u00e3o origem a uma deteriora\u00e7\u00e3o desta liga\u00e7\u00e3o, que perdura at\u00e9 \u00e0 atualidade. A fronteira entre os dois Estados com cerca de 4000 km n\u00e3o est\u00e1 demarcada, o que resulta em diferentes perspetivas sobre a sua localiza\u00e7\u00e3o, levando a infra\u00e7\u00f5es regulares. Isto tem originado pequenos conflitos ao longo dos anos, como foi o caso em 1962. Entre os territ\u00f3rios disputados est\u00e1, por exemplo, Aksai Chin, sob a jurisdi\u00e7\u00e3o chinesa, reivindicada pela \u00cdndia como parte da regi\u00e3o de Ladakh.<\/p>\n\n\n\n Apesar do constante tenso ambiente, t\u00eam existido v\u00e1rias tentativas de reaproxima\u00e7\u00e3o por parte dos dois Estados, sobretudo desde os anos \u201980, mesmo tendo em conta o exponencial crescimento econ\u00f3mico que ambos experienciaram nesta altura (o que fomenta a rivalidade). Olhando especificamente para acontecimentos recentes, em 2019 uma Cimeira realizada entre os l\u00edderes Xi Jinping e Narendra Modi sugeriu que a rela\u00e7\u00e3o entre os dois pa\u00edses poderia vir a tornar-se consideravelmente diferente, para melhor. Contudo, o ano de 2020 demonstrou que esta premissa n\u00e3o ser\u00e1 a mais acertada. Em junho, soldados chineses e indianos entraram em confronto na \u00e1rea disputada do vale do rio Galwan, provocando mais de vinte mortes. Em 2021, os dois Estados acordaram a retirada militar de uma das partes do territ\u00f3rio disputado, na regi\u00e3o de Ladakh, o que reduziu o risco de um confronto armado nesse local em espec\u00edfico.<\/p>\n\n\n\n Uma quest\u00e3o com particular import\u00e2ncia nas din\u00e2micas entre os dois Estados \u00e9 a presen\u00e7a no \u00cdndico Norte, onde ambos possuem interesses. Para a \u00cdndia, esta regi\u00e3o \u00e9 estrat\u00e9gica e fulcral, historicamente parte da sua zona de influ\u00eancia. A presen\u00e7a crescente da China na regi\u00e3o, materializada na presen\u00e7a naval (atrav\u00e9s do People\u2019s Liberation Army<\/em>, por exemplo), militar e no desenvolvimento\/constru\u00e7\u00e3o de infraestruturas como o porto de Gwadar, no Paquist\u00e3o, incrementa a competi\u00e7\u00e3o entre os dois Estados \u2013 ali\u00e1s, afeta diretamente os interesses indianos. Ambos os Estados t\u00eam vindo a tentar refor\u00e7ar os la\u00e7os com os Estados mais pequenos, na regi\u00e3o (por exemplo, no caso da China, o Sri Lanka, as Maldivas, Bangladesh e Paquist\u00e3o), para garantir os seus respetivos interesses econ\u00f3micos e securit\u00e1rios. Numa tentativa de conten\u00e7\u00e3o da China, a \u00cdndia tem vindo a aproximar-se progressivamente aos Estados Unidos da Am\u00e9rica, cooperando na zona do Indo-Pac\u00edfico (um dos exemplos desta coopera\u00e7\u00e3o \u00e9 o documento Indo-American Joint Strategic Vision for the Asia-Pacific and the Indian Ocean, <\/em>de 2015). Esta coopera\u00e7\u00e3o n\u00e3o \u00e9, como seria de prever, bem vista por parte do governo chin\u00eas. A \u00cdndia tem, igualmente, tentado aumentar ainda mais a sua presen\u00e7a na regi\u00e3o, sobretudo perto dos chokepoints<\/em> estrat\u00e9gicos.<\/p>\n\n\n\n O futuro das rela\u00e7\u00f5es entre os dois Estados fica, contudo, em aberto, n\u00e3o sendo a perspetiva a melhor, uma vez que a situa\u00e7\u00e3o permanece problem\u00e1tica e sem grandes perspetivas de resolu\u00e7\u00e3o. Isto relaciona-se, para al\u00e9m dos interesses conflituais, quest\u00f5es fronteiri\u00e7as e todas as din\u00e2micas entre os dois Estados, com perce\u00e7\u00f5es geopol\u00edticas que cada um tem do outro.<\/p>\n\n\n\n 2.2. As Rela\u00e7\u00f5es \u00cdndia-Paquist\u00e3o e o conflito Indo-Paquistan\u00eas<\/p>\n\n\n\n Um outro ponto de tens\u00e3o encontra-se entre os vizinhos \u00cdndia e Paquist\u00e3o, duas pot\u00eancias com capacidades nucleares. O ambiente de conflito remonta ao fim do dom\u00ednio do brit\u00e2nico sob os v\u00e1rios territ\u00f3rios no final dos anos \u201940 e \u00e0 forma\u00e7\u00e3o de dois Estados: a \u00cdndia e o Paquist\u00e3o. No geral, os territ\u00f3rios de maioria mu\u00e7ulmana foram inclu\u00eddos no Paquist\u00e3o, enquanto os territ\u00f3rios maioritariamente hindus foram inclu\u00eddos na \u00cdndia. Esta divis\u00e3o deu origem n\u00e3o s\u00f3 uma incid\u00eancia nos movimentos migrat\u00f3rios, como viol\u00eancia e protestos. Um caso particular foi a regi\u00e3o de Caxemira, cuja dualidade (l\u00edder hindu e popula\u00e7\u00e3o maioritariamente mu\u00e7ulmana) incitou uma grande ambival\u00eancia e disputa pelo territ\u00f3rio. Em 1947 inicia o primeiro conflito entre os dois Estados ap\u00f3s um grupo armado paquistan\u00eas invadir o territ\u00f3rio. Apenas termina em 1949 com a interven\u00e7\u00e3o da Organiza\u00e7\u00e3o das Na\u00e7\u00f5es Unidas: o territ\u00f3rio \u00e9 dividido pelos dois Estados, ficando cada um a controlar uma determinada parte, dividida pela chamada \u2018Linha de Controlo\u2019. Contudo, outros conflitos acontecem em 1965 e 1971, bem como um de mais pequena dimens\u00e3o em 1999. Em 2003, os Estados acordam um cessar-fogo que mostrou vir a ser bastante fr\u00e1gil, uma vez que continuam a verificar-se pequenos confrontos na fronteira contestada: ambos acusam o outro de violar o cessar-fogo, afirmando estar a disparar em resposta. Os anos de 2014 e 2015 mostraram um per\u00edodo de relativo otimismo para as rela\u00e7\u00f5es entre os dois pa\u00edses, sobretudo com a visita de Narendra Modi, primeiro-ministro indiano, ao Paquist\u00e3o. A verdade \u00e9 que este otimismo rapidamente desapareceu quando, em 2016, um novo ataque foi levado a cabo numa base indiana perto da Linha de Controlo e, logo depois, um ataque dos militares indianos a campos dentro do territ\u00f3rio controlado do Paquist\u00e3o. Os ataques continuam em 2017 e 2018 e, em maio de 2018, existe um novo acordo de cessar-fogo entre as duas partes. N\u00e3o obstante, as tens\u00f5es e preocupa\u00e7\u00f5es permanecem altas, sobretudo devido \u00e0 continuidade dos ataques.<\/p>\n\n\n\n \u00c9 correto afirmar que o grande foco de tens\u00e3o entre os dois pa\u00edses tem demonstrado ser a quest\u00e3o da disputa pela regi\u00e3o de Caxemira. Contudo, \u00e9 necess\u00e1rio olhar tamb\u00e9m para outras din\u00e2micas regionais. Uma outra quest\u00e3o com bastante sali\u00eancia \u00e9 a retirada das tropas da NATO e Estados Unidos da Am\u00e9rica do Afeganist\u00e3o e a liga\u00e7\u00e3o do Paquist\u00e3o a grupos afeg\u00e3os como forma de controlar o regime de Kabul, atrav\u00e9s de proxies<\/em>, o que demonstra ser uma outra preocupa\u00e7\u00e3o securit\u00e1ria para a \u00cdndia, a par da amea\u00e7a terrorista, e uma possibilidade de desestabiliza\u00e7\u00e3o das rela\u00e7\u00f5es entre os dois Estados, levando at\u00e9 a um novo conflito.<\/p>\n\n\n\n A proximidade do Paquist\u00e3o \u00e0 China \u00e9 outra quest\u00e3o a ser analisada, com algum peso para as rela\u00e7\u00f5es \u00cdndia-Paquist\u00e3o e, consequentemente, as rela\u00e7\u00f5es \u00cdndia-China, sendo at\u00e9 vista, por alguns autores, como um obst\u00e1culo ao progresso entre os \u00faltimos. A liga\u00e7\u00e3o diplom\u00e1tica entre os dois Estados existe desde 1951 e tem vindo a manifestar-se, por exemplo, em assist\u00eancia militar, t\u00e9cnica, econ\u00f3mica e at\u00e9 nuclear, uma parceria estrat\u00e9gica cr\u00edtica para o Paquist\u00e3o que tem vindo a crescer desde os anos \u201890. Por exemplo, o corredor econ\u00f3mico China-Paquist\u00e3o disp\u00f5e de infraestruturas na regi\u00e3o disputada de Caxemira, o que foi considerado pela \u00cdndia como inaceit\u00e1vel.<\/p>\n\n\n\n 3. Contributos da Tert\u00falia com o Professor Felipe Path\u00e9 Duarte<\/strong><\/p>\n\n\n\n No passado dia 21 de maio, teve lugar a Tert\u00falia sobre a Tens\u00e3o Geopol\u00edtica no \u00cdndico-Norte, na qual tivemos o prazer de contar com a presen\u00e7a do Professor Doutor Felipe Path\u00e9 Duarte. A sess\u00e3o organizou-se em dois momentos, uma apresenta\u00e7\u00e3o inicial e de seguida perguntas e respostas do p\u00fablico. Durante a apresenta\u00e7\u00e3o, o Professor Doutor Felipe Path\u00e9 Duarte explicou detalhadamente a tens\u00e3o geopol\u00edtica nesta regi\u00e3o espec\u00edfica. Seguem alguns dos principais contributos retirados deste evento, que nos permitem compreender melhor o que se passa na regi\u00e3o, quais os seus principais atores e as estrat\u00e9gias geopol\u00edticas dos mesmos.<\/p>\n\n\n\n Cen\u00e1rio Global:<\/strong><\/p>\n\n\n\n Principais atores no teatro do \u00cdndico-Norte:<\/strong><\/p>\n\n\n\n EUA:<\/strong><\/p>\n\n\n\n China:<\/strong><\/p>\n\n\n\n \u00cdndia:<\/strong><\/p>\n\n\n\n Principais tens\u00f5es entre a China e \u00cdndia no Norte do \u00cdndico:<\/strong><\/p>\n\n\n\n Existem tr\u00eas zonas que constituem uma esfera de influ\u00eancia significativa por parte da China:<\/p>\n\n\n\n – O Sri Lanka – perante alguma depend\u00eancia econ\u00f3mico-financeira, a China interv\u00e9m (cl\u00e1ssico soft power <\/em>chin\u00eas: perante crises econ\u00f3micas financeiras interv\u00e9m, desenvolvendo infraestruturas, comprometendo economicamente esse mesmo Estado, alavancando poder sobre esses Estados, comprometendo-os diplomaticamente e em termos geopol\u00edticos). Por exemplo, o Porto de Hambanthota, um dos portos principais do Sri Lanka, em que em 2017 foi adjudicado \u00e0 China por 99 anos, sendo j\u00e1 chin\u00eas. O Sri Lanka tem uma posi\u00e7\u00e3o vantajosa, ao lado das importantes rotas comerciais, Ba\u00eda de Bengala de um lado, Mar Ar\u00e1bico do outro, podendo navegar pelos interesses da \u00cdndia e da China a seu benef\u00edcio a m\u00e9dio prazo. A presen\u00e7a da China no Sri Lanka, causa tens\u00f5es com a \u00cdndia, visto que est\u00e1 junto de \u00e1reas de soberania. Como tal, Nova Deli pode vir a cooperar com o aliado EUA, visto que tem uma boa capacidade de investimento.<\/p>\n\n\n\n – \u00a0As Maldivas tamb\u00e9m est\u00e3o num processo de pender para a China;<\/p>\n\n\n\n –\u00a0\u00a0A Costa Africana, por um lado, v\u00ea-se um crescendo de influ\u00eancia chinesa, no Djibouti (a primeira ou \u00fanica grande base militar fora da China ou fora da zona de influ\u00eancia geogr\u00e1fica chinesa). Por outro lado, atrav\u00e9s do soft power<\/em> a China tem desenvolvido infraestruturas, na costa oriental africana. Por exemplo, o corredor de Nacala, que liga o maior porto de \u00e1guas profundas na Costa Oriental Africana, em Mo\u00e7ambique.<\/p>\n\n\n\n Na Zona mais a Leste: – A China est\u00e1 a refor\u00e7ar progressivamente a sua presen\u00e7a no \u00cdndico, entrando assim em conflito com o subcontinente indiano, em que a zona do \u00cdndico, quer Norte quer Sul, s\u00e3o zonas de esfera de influ\u00eancia e de soberania e tamb\u00e9m, zonas consideradas estrat\u00e9gicas;<\/p>\n\n\n\n – O governo chin\u00eas est\u00e1 a tentar fazer o que fez no Mar do Sul da China, passando para o outro lado do \u00cdndico, desafiando a \u00cdndia e colocando em causa o papel da outra pot\u00eancia global, os EUA, que precisa da \u00cdndia para se projetar militarmente;<\/p>\n\n\n\n –\u00a0\u00a0O ano passado, a China fechou acordos com o Paquist\u00e3o, Bangladesh, Tail\u00e2ndia para vender submarinos a estes pa\u00edses;<\/p>\n\n\n\n –\u00a0\u00a0Perante isto, Nova Deli concentra-se essencialmente no Oceano \u00cdndico, que \u00e9 uma prioridade elevad\u00edssima para a \u00cdndia, porque h\u00e1 uma pot\u00eancia econ\u00f3mica comercial e a estrat\u00e9gia de sobreviv\u00eancia da \u00cdndia depende do controlo do \u00cdndico;<\/p>\n\n\n\n –\u00a0\u00a0Por conseguinte, a \u00cdndia e os EUA v\u00e3o proteger rotas mar\u00edtimas, das quais dependem as suas atividades comerciais cr\u00edticas, como a importa\u00e7\u00e3o do petr\u00f3leo e o refinamento offshore<\/em>;<\/p>\n\n\n\n Coopera\u00e7\u00e3o entre os EUA e \u00cdndia na regi\u00e3o:<\/strong><\/p>\n\n\n\n –\u00a0\u00a0Apesar de terem abordagens estrat\u00e9gicas diferentes, a coopera\u00e7\u00e3o entre os EUA e \u00cdndia \u00e9 necess\u00e1ria para travar a ascens\u00e3o da China na regi\u00e3o;<\/p>\n\n\n\n –\u00a0\u00a0\u00c9 uma coopera\u00e7\u00e3o em termos de seguran\u00e7a e defesa;<\/p>\n\n\n\n –\u00a0\u00a0Em 2016, Washington nomeou a \u00cdndia como um dos seus principais parceiros de defesa, permitindo a Nova Deli comprar armamentos avan\u00e7ados (ex: Drones Sea Guardians), que geralmente s\u00e3o apenas reservados para os aliados norte-americanos, como por exemplo, a NATO, Portugal, Reino Unido;<\/p>\n\n\n\n –\u00a0\u00a0H\u00e1 o caso tamb\u00e9m de, no \u00e2mbito destes acordos, empresas aeroespaciais norte-americanas (ex: Boeing) que j\u00e1 est\u00e3o a explorar acordos para construir ca\u00e7as na \u00cdndia;<\/p>\n\n\n\n –\u00a0\u00a0O ponto mais importante \u00e9 o Quadrilateral Security Defense Group (QSG), composto pelos EUA, Jap\u00e3o, Austr\u00e1lia e a \u00cdndia: Grupo assente na geopol\u00edtica do continente asi\u00e1tico, muito organizada em torno de mares, ba\u00edas e lagoas, que circundam os extensos oceanos da zona;\u00a0 No seio deste grupo, desde 2016 h\u00e1 um shift<\/em> da estrat\u00e9gia norte-americana;<\/p>\n\n\n\n –\u00a0\u00a0Consideram o \u00cdndico e o Pac\u00edfico como um \u00fanico espa\u00e7o de seguran\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n –\u00a0\u00a0Expans\u00e3o deste conceito Indo-Pac\u00edfico, atrav\u00e9s de uma poss\u00edvel inclus\u00e3o de pot\u00eancias menores que fazem fronteiras com os dois oceanos e pa\u00edses que ocupam posi\u00e7\u00f5es geopol\u00edticas determinantes, como Singapura, Indon\u00e9sia, Filipinas, Birm\u00e2nia, Sri Lanka. Estes pa\u00edses podem ser inclu\u00eddos como parte do esfor\u00e7o deste grupo para se reequilibrar perante o crescendo da China.<\/p>\n\n\n\n –\u00a0\u00a0A Europa segue a estrat\u00e9gia norte-americana nesta regi\u00e3o. A t\u00edtulo de exemplo, em 2021 foi definida uma estrat\u00e9gia europeia para o Indo-Pac\u00edfico, com o objetivo de bloquear os avan\u00e7os chineses, travando o tr\u00e1fico mar\u00edtimo, impedindo a circula\u00e7\u00e3o de mat\u00e9rias cr\u00edticas (bens comerciais, vacinas, hidrocarbonetos).<\/p>\n\n\n\n Quest\u00f5es colocadas ao Professor:<\/strong><\/p>\n\n\n\n 1. Fugindo um pouco do \u00cdndico-Norte e olhando para o \u00cdndico no geral, esta \u00e9 uma regi\u00e3o que engloba diversas sub-regi\u00f5es, e v\u00e1rias quest\u00f5es securit\u00e1rias, em por exemplo grande concentra\u00e7\u00e3o de Estados fr\u00e1geis\/falhados e tamb\u00e9m uma crescente incid\u00eancia de terrorismo transnacional. Olhando para aqui, esta quest\u00e3o do terrorismo, o Estado Isl\u00e2mico tem vindo a emergir como uma amea\u00e7a no Oceano. Que efeitos \u00e9 que esta quest\u00e3o pode ter na geopol\u00edtica da regi\u00e3o?<\/strong><\/p>\n\n\n\n O Estado Isl\u00e2mico (EI) pode estar presente nas Maldivas e tamb\u00e9m h\u00e1 uma expans\u00e3o do Daesh na Costa Oriental Africana. Particularmente na zona da Som\u00e1lia, com o caso do Al Shabaab, havendo casos de pirataria na regi\u00e3o, mas nunca se estabeleceu uma liga\u00e7\u00e3o concreta entre a pirataria (pura criminalidade organizada) e o jihadismo. Relativamente \u00e0 quest\u00e3o do \u00cdndico, n\u00e3o considero que insurg\u00eancias do EI possam vir a ser um fator de desestabiliza\u00e7\u00e3o no \u00cdndico, porque n\u00e3o t\u00eam essa capacidade para tal. Porventura seja poss\u00edvel, se conseguirem colocar em causa posicionamentos offshore <\/em>em termos de explora\u00e7\u00e3o petrol\u00edfera e a\u00ed assim, j\u00e1 pode haver alguma instabilidade no \u00cdndico. Para criar instabilidade no mar, ou tem uma estrutura de pirataria organizada ou ent\u00e3o, tem uma forte capacidade em termos de proje\u00e7\u00e3o. Na regi\u00e3o do Corno de \u00c1frica, o Ir\u00e3o pode influenciar a guerra civil do I\u00e9men, apoiando movimenta\u00e7\u00f5es Houthis e estes podem colocar em causa a seguran\u00e7a de circula\u00e7\u00e3o no estreito de Babelm\u00e2ndebe. O EI n\u00e3o \u00e9 um fator de instabilidade no \u00cdndico, pode criar sim instabilidade em pa\u00edses que fazem fronteira com essa regi\u00e3o, por exemplo as Maldivas e Mo\u00e7ambique. Podem surgir grupos insurgentes que criem instabilidade na seguran\u00e7a mar\u00edtima do \u00cdndico.<\/p>\n\n\n\n 2. Qual a posi\u00e7\u00e3o da Uni\u00e3o Europeia no \u00cdndico-Norte e qual o seu impacto nesta regi\u00e3o? Existe alguma estrat\u00e9gia de seguran\u00e7a e defesa da Europa nesta zona?<\/strong><\/p>\n\n\n\n O primeiro exemplo \u00e9 a estrat\u00e9gia europeia Indo-Pac\u00edfico que saiu no m\u00eas de abril, com o objetivo de garantir liberdade de circula\u00e7\u00e3o no \u00cdndico, particularmente com quest\u00f5es de rotas comerciais (hidrocarbonetos, vacinas). O segundo, a aproxima\u00e7\u00e3o da presid\u00eancia portuguesa com a \u00cdndia, sendo uma resposta a esta estrat\u00e9gia geral de conten\u00e7\u00e3o do crescendo chin\u00eas na regi\u00e3o. Neste caso, a Uni\u00e3o Europeia est\u00e1 a ser reativa, estando completamente enquadrada na estrat\u00e9gia norte-americana de bloquear a China.<\/p>\n\n\n\n 3. Considera que o conflito \u00cdndia-Paquist\u00e3o \u00e9 priorit\u00e1rio naquela regi\u00e3o?<\/strong><\/p>\n\n\n\n Sim, este sempre \u00e9 um conflito priorit\u00e1rio, porque s\u00e3o disputas que surgem regularmente. A \u00cdndia pode ter perdido algum leverage<\/em>, em termos militares e eventualmente diplom\u00e1ticos, tendo em conta a aproxima\u00e7\u00e3o Paquist\u00e3o-China. A quest\u00e3o interessante aqui \u00e9 que este corredor econ\u00f3mico China-Paquist\u00e3o \u00e9 protegido brutalmente pelo Paquist\u00e3o, passa em Caxemira, com uma forte militariza\u00e7\u00e3o, impedindo alguns conflitos tamb\u00e9m. Embora n\u00e3o haja um confronto direto, estrat\u00e9gias assim\u00e9tricas s\u00e3o feitas, particularmente do Paquist\u00e3o para a \u00cdndia, sendo um conflito presente na regi\u00e3o, mas nem sempre muito vis\u00edvel.<\/p>\n\n\n\n 23 de maio de 2021<\/p>\n\n\n\n In\u00eas Barbosa Caseiro<\/strong> Documentos consultados na elabora\u00e7\u00e3o do Artigo:<\/strong><\/p>\n\n\n\n China-India Relations: Strategic Engagement and Challenges – IFRI Center for Asian Studies (2010) https:\/\/www.ifri.org\/sites\/default\/files\/atoms\/files\/asievisions34zhangli.pdf<\/span><\/a><\/p>\n\n\n\n The Road from Galwan: The Future of India-China Relations – Vijay Gokhale, Carnegie India (2021) https:\/\/carnegieendowment.org\/files\/Gokhale_Galwan.pdf<\/span><\/a><\/p>\n\n\n\n The New Geopolitics of China, India, and Pakistan<\/span><\/a>: Competition in the Indian Ocean – Eleanor Albert<\/span><\/a>, CFR (2016) https:\/\/www.cfr.org\/backgrounder\/competition-indian-ocean<\/span><\/a><\/p>\n\n\n\n Conflict Tracker: Conflict Between India and Pakistan – CFR (2019) https:\/\/www.cfr.org\/global-conflict-tracker\/conflict\/conflict-between-india-and-pakistan<\/span><\/a><\/p>\n\n\n\n What does India think: China, India, Pakistan and a stable regional order – Happymon Jacob<\/span><\/a>, ECFR (2015) https:\/\/ecfr.eu\/special\/what_does_india_think\/analysis\/china_india_pakistan_and_a_stable_regional_order<\/span><\/a><\/p>\n\n\n\n What does India think: Modi\u2019s Approach to China and Pakistan – Rahul Roy-Chaudhury<\/span><\/a>, ECFR (2015) https:\/\/ecfr.eu\/special\/what_does_india_think\/\/analysis\/modis_approach_to_india_and_pakistan<\/span><\/a><\/p>\n\n\n\n China-Pakistan Relations – <\/span>Jamal Afridi<\/span><\/a> e Jayshree Bajoria<\/span><\/a>, CFR (2010) https:\/\/www.cfr.org\/backgrounder\/china-pakistan-relations<\/span><\/a><\/p>\n\n\n\n India-China conflict: A move from the Himalayas to the high seas? – David Brewster, The Interpreter (2020) https:\/\/www.lowyinstitute.org\/the-interpreter\/india-china-conflict-move-himalayas-high-seas<\/span><\/a><\/p>\n\n\n\n What is happening in the Indian Ocean? – Darshana M. Baruah<\/span><\/a>, Carnegie Endowment (2021) https:\/\/carnegieendowment.org\/2021\/03\/03\/what-is-happening-in-indian-ocean-pub-83948<\/span><\/a><\/p>\n\n\n\n Geopolitics and Maritime Security in the Indian Ocean What Role for the European Union? – Frans-Paul van der Putten, Thorsten Wetzling, Susanne Kamerling, Clingendael (2014) https:\/\/www.clingendael.org\/sites\/default\/files\/pdfs\/Geopolitics%20and%20Maritime%20Security%20in%20the%20Indian%20Ocean.pdf<\/span><\/a><\/p>\n\n\n\n World’s geopolitical center of gravity shifts to Indian Ocean – Nikkei Asia (2015) https:\/\/asia.nikkei.com\/Politics\/International-relations\/World-s-geopolitical-center-of-gravity-shifts-to-Indian-Ocean<\/span><\/a><\/p>\n\n\n\n The Indian Ocean Region: A Strategic Net Assessment – Anthony H. Cordesman, Abdullah Toukan, CSIS (2014) https:\/\/csis-website-prod.s3.amazonaws.com\/s3fs-public\/legacy_files\/files\/publication\/140814_Cordesman_IndianOceanRegion_Web.pdf<\/span><\/a><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" 1. O Shift para o Oceano \u00cdndico Um novo framework geopol\u00edtico tem vindo a levar n\u00e3o s\u00f3 o Oceano \u00cdndico como o Pac\u00edfico (a regi\u00e3o do Indo-Pacifico) para o centro das rela\u00e7\u00f5es internacionais. Concentrando-nos neste \u00faltimo, numa primeira inst\u00e2ncia, devemos salientar o facto de que \u00e9 uma regi\u00e3o extremamente vasta e diversa. Cobre o M\u00e9dio… Ler mais »A Tens\u00e3o Geopol\u00edtica no \u00cdndico Norte<\/span><\/a><\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":6384,"comment_status":"closed","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"neve_meta_sidebar":"","neve_meta_container":"","neve_meta_enable_content_width":"","neve_meta_content_width":0,"neve_meta_title_alignment":"","neve_meta_author_avatar":"","neve_post_elements_order":"","neve_meta_disable_header":"","neve_meta_disable_footer":"","neve_meta_disable_title":"","footnotes":""},"categories":[25],"tags":[],"class_list":["post-6383","post","type-post","status-publish","format-standard","has-post-thumbnail","hentry","category-reflexoes-edj"],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/6383","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=6383"}],"version-history":[{"count":8,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/6383\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":6392,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/6383\/revisions\/6392"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/media\/6384"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=6383"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=6383"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=6383"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}
<\/strong>– Alian\u00e7a da China com o Paquist\u00e3o, atrav\u00e9s do corredor econ\u00f3mico entre os dois, que atravessa Caxemira e portanto, em todo o territ\u00f3rio disputado entre a \u00cdndia e o Paquist\u00e3o. A t\u00edtulo de exemplo, o Porto de Gwadar, que \u00e9 paquistan\u00eas, mas desenvolvido com capitais chineses;<\/p>\n\n\n\n
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EuroDefense Jovem-Portugal<\/em><\/p>\n\n\n\n
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