{"id":7502,"date":"2022-01-19T19:01:06","date_gmt":"2022-01-19T19:01:06","guid":{"rendered":"https:\/\/eurodefense.pt\/?p=7502"},"modified":"2023-02-20T18:04:46","modified_gmt":"2023-02-20T18:04:46","slug":"as-guerras-arabes-e-a-resposta-da-ue","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/eurodefense.pt\/as-guerras-arabes-e-a-resposta-da-ue\/","title":{"rendered":"A(s) Guerra(s) \u00c1rabe(s) e a Resposta da UE"},"content":{"rendered":"\n
Introdu\u00e7\u00e3o<\/strong><\/p>\n\n\n\n A regi\u00e3o do M\u00e9dio Oriente e do Norte de \u00c1frica compreende uma mir\u00edade de pa\u00edses \u00e1rabes que viveram conflitos internos ao longo de muitos anos, sendo que muitas destas guerras civis ainda ocorrem hoje em determinadas zonas. Logo ap\u00f3s a 2\u00aa Guerra Mundial de 1945, uma s\u00e9rie de guerras entre estados \u00e1rabes ocorreram, despoletando a hist\u00f3rica Primavera \u00c1rabe de 2011. Durante esta onda revolucion\u00e1ria de manifesta\u00e7\u00f5es, na\u00e7\u00f5es como a Tun\u00edsia, o Egipto, a S\u00edria, a L\u00edbia, o I\u00e9men, entre outros, foram palco de protestos populares contra os regimes autorit\u00e1rios em que viviam. Tais rebeli\u00f5es por parte dos civis originaram guerras intraestatais avassaladoras e destruidoras, que perduram at\u00e9 hoje na S\u00edria, por exemplo. De modo a responder a estas quest\u00f5es problem\u00e1ticas, a Uni\u00e3o Europeia (UE) tem criado mecanismos e instrumentos espec\u00edficos neste sentido. O Servi\u00e7o Europeu de A\u00e7\u00e3o Externa (SEAE) \u00e9 a institui\u00e7\u00e3o que se ocupa da pol\u00edtica externa e de seguran\u00e7a europeia, englobando entidades como a Pol\u00edtica de Vizinhan\u00e7a Europeia (PEV) e a Uni\u00e3o para o Mediterr\u00e2neo (UpM), que adotam e aplicam uma s\u00e9rie de medidas, pol\u00edticas e projetos focados nesta regi\u00e3o espec\u00edfica. No entanto, apesar das muitas vit\u00f3rias j\u00e1 alcan\u00e7adas para garantir a estabilidade e seguran\u00e7a nestes territ\u00f3rios, tais projetos por vezes s\u00e3o insuficientes e incapazes de responder a todas as necessidades prementes nesta regi\u00e3o. Por conseguinte, torna-se imperativo que a UE crie uma estrutura de pol\u00edtica externa e seguran\u00e7a europeia mais coerente e coordenada, fundamental para responder a estas e futuras quest\u00f5es problem\u00e1ticas nesta zona.<\/p>\n\n\n\n Causas e Vertente Hist\u00f3rica<\/strong><\/p>\n\n\n\n Antes de se referir as causas da Primavera \u00c1rabe, \u00e9 essencial elaborar uma sucinta evolu\u00e7\u00e3o hist\u00f3rica dos conflitos anteriores que ocorreram nos pa\u00edses \u00e1rabes, visto que tais eventos influenciaram os acontecimentos de 2011. Logo ap\u00f3s a 2\u00aa Guerra Mundial, eclodiu a Guerra da Independ\u00eancia (1948), em que povos \u00e1rabes (L\u00edbano, S\u00edria, Jord\u00e2nia, entre outros) vizinhos da Palestina contestaram a independ\u00eancia de Israel. Posteriormente a este conflito, ocorreram uma s\u00e9rie de guerras que envolveram de um lado Israel e do outro lado, pa\u00edses \u00e1rabes, como a S\u00edria, o L\u00edbano, a Jord\u00e2nia, o Egipto e o Iraque. A t\u00edtulo de exemplo, a guerra do Suez (1956), a guerra dos 6 dias (1967), a invas\u00e3o do L\u00edbano por parte de Israel (1982), a guerra do Iraque em 2003, entre muitas mais. Apesar de tais conflitos se encontrarem distantes temporalmente dos acontecimentos da Primavera \u00c1rabe, evidencia-se uma liga\u00e7\u00e3o entre estes eventos. A Tun\u00edsia foi o palco pioneiro das revoltas populares que se espalharam pelo mundo \u00e1rabe em finais de 2010 e in\u00edcios de 2011. Os protestos tamb\u00e9m ocorreram mormente na S\u00edria, Egito, L\u00edbia, I\u00e9men e Bar\u00e9m. Estes seis pa\u00edses \u00e1rabes foram os mais afetados, onde eclodiram guerras civis muito violentas e avassaladoras. Atrav\u00e9s do apoio e aux\u00edlio de pa\u00edses terceiros, pelo menos cinco destes pa\u00edses vivem hoje em paz negativa (aus\u00eancia de guerra), contudo, alguns sem paz positiva (sociedade pr\u00f3spera, democr\u00e1tica, bem-estar). A S\u00edria \u00e9 o pa\u00eds que vive atualmente uma guerra intraestatal, isto \u00e9, uma guerra dentro do seu pr\u00f3prio Estado. De acordo com Gaub (2017), estes conflitos intraestatais resultam de estados fracos, pobre governa\u00e7\u00e3o e car\u00eancia democr\u00e1tica. As consequ\u00eancias de tais eventos s\u00e3o imensas e, n\u00e3o se deve apenas real\u00e7ar as mortes e a destrui\u00e7\u00e3o do territ\u00f3rio nacional, mas todos os problemas que surgem a seguir, que s\u00e3o t\u00e3o ou mais devastadores. A regi\u00e3o do M\u00e9dio Oriente e do Norte de \u00c1frica, em l\u00edngua inglesa MENA (Middle East and North Africa<\/em>) \u00e9 a mais afetada por estes acontecimentos. Neste sentido, desde a sua cria\u00e7\u00e3o, a Uni\u00e3o Europeia procura dar resposta a esta problem\u00e1tica e prestar aux\u00edlio a esta regi\u00e3o. T\u00eam sido implementados um conjunto de instrumentos pol\u00edticos, como parcerias, pol\u00edticas e acordos de modo a responder de forma adequada a tais necessidades prementes e cada vez mais preocupantes.<\/p>\n\n\n\n Resposta da Uni\u00e3o Europeia<\/strong><\/p>\n\n\n\n Khader (2013) refere que o mundo \u00e1rabe \u00e9 a primeira fronteira da Europa. Compreende-se assim que, as rela\u00e7\u00f5es entre estas duas regi\u00f5es s\u00e3o m\u00faltiplas e existem h\u00e1 uma data de anos. Desde o surgimento da Uni\u00e3o Europeia, com o Tratado de Roma de 1957, surgiram uma pan\u00f3plia de acordos, parcerias e iniciativas entre a UE e os pa\u00edses \u00e1rabes. Contudo, a coopera\u00e7\u00e3o focava-se mormente em trocas comerciais ou econ\u00f3micas e, foi s\u00f3 a partir dos anos 90 que a manuten\u00e7\u00e3o da seguran\u00e7a e paz se tornaram objetivos comuns. Em 1994, para dar in\u00edcio a este processo de paz, ocorreu a Confer\u00eancia de Barcelona ou a Parceria Euro-Mediterr\u00e2nica (PEM) para uma coopera\u00e7\u00e3o pol\u00edtica e securit\u00e1ria, econ\u00f3mica e financeira e tamb\u00e9m sociocultural. Tal como menciona Khader (2013), o Processo de Barcelona n\u00e3o tinha como objetivo promover reformas no Sul do Mediterr\u00e2neo, mas sim promover \u201cordem\u201d e \u201cestabilidade\u201d. Na sequ\u00eancia da guerra do Iraque em 2003 e dos ataques terroristas na Europa, surgiu em 2004 a Pol\u00edtica Europeia de Vizinhan\u00e7a (PEV). Em 2008, para dar resposta \u00e0s lacunas da PEV, criou-se a Uni\u00e3o para o Mediterr\u00e2neo (UpM). O Servi\u00e7o Europeu de A\u00e7\u00e3o Externa (SEAE), que desde 2010 se ocupa da pol\u00edtica externa e de seguran\u00e7a europeia, integra uma s\u00e9rie de organiza\u00e7\u00f5es focadas na paz da regi\u00e3o MENA (Liga dos Estados \u00c1rabes, entre outras). Analisando todas as organiza\u00e7\u00f5es, constata-se que PEV e a UpM s\u00e3o as duas entidades primordialmente respons\u00e1veis pela resolu\u00e7\u00e3o de conflitos nesta zona espec\u00edfica.<\/p>\n\n\n\n Pol\u00edtica Europeia de Vizinhan\u00e7a (PEV)<\/strong><\/p>\n\n\n\n No ano de 2003, com a ades\u00e3o de novos membros \u00e0 Uni\u00e3o Europeia, surgiu a Pol\u00edtica Europeia de Vizinhan\u00e7a (PEV). Em conformidade com Khader (2013), esta organiza\u00e7\u00e3o foi criada para fortalecer a seguran\u00e7a das fronteiras com os novos vizinhos europeus. Os principais objetivos desta pol\u00edtica s\u00e3o a prosperidade, a seguran\u00e7a e a estabilidade. Abrange 16 pa\u00edses, incluindo a Arg\u00e9lia, Egito, Israel, L\u00edbano, Jord\u00e2nia, L\u00edbia, Marrocos, Palestina e a S\u00edria (pa\u00edses MENA). Com a invas\u00e3o do Iraque (2003), a PEV publicou dois documentos oficiais: \u201cStrengthening the EU\u2019s relations with the Arab World\u201d e \u201cInterim Report on the EU Strategic Partnership with the with the Mediterranean and the Middle East\u201d, real\u00e7ando a necessidade de se criar uma pol\u00edtica externa de seguran\u00e7a forte, bem como promover reformas democr\u00e1ticas. Esta organiza\u00e7\u00e3o encabe\u00e7ou v\u00e1rios projetos e iniciativas ao longo dos anos e, em 2011, alterou a sua estrat\u00e9gia e abordagem. De acordo com as fichas t\u00e9cnicas da UE (2020), na sequ\u00eancia da Primavera \u00c1rabe procedeu-se a uma revis\u00e3o da PEV, centrando-se mais na promo\u00e7\u00e3o de uma democracia s\u00f3lida e sustent\u00e1vel e de um desenvolvimento econ\u00f3mico inclusivo. Colateralmente, a boa governa\u00e7\u00e3o e respeito pelos direitos humanos s\u00e3o outros dois princ\u00edpios que s\u00e3o adotados perante um conjunto de instrumentos pol\u00edticos, que se baseiam em acordos jur\u00eddicos entre a UE e os seus parceiros. Compreende os Acordos de Parceria e Coopera\u00e7\u00e3o (APC), os Acordos de Associa\u00e7\u00e3o (AA). Foram tamb\u00e9m celebradas parcerias para fortalecer a gest\u00e3o da migra\u00e7\u00e3o, como o Mecanismo de Parceria para a Mobilidade (2016) e o Fundo Fiduci\u00e1rio de Emerg\u00eancia da UE para a \u00c1frica (Norte). Em adi\u00e7\u00e3o, abrange parcerias de dimens\u00e3o regional, sendo que a UpM \u00e9 especificamente direcionada para os povos \u00e1rabes. Em 2019, a resolu\u00e7\u00e3o sobre o per\u00edodo p\u00f3s-Primavera \u00c1rabe e o rumo a seguir na regi\u00e3o M\u00e9dio Oriente e Norte de \u00c1frica, foi aprovada pelo Parlamento.<\/p>\n\n\n\n Uni\u00e3o para o Mediterr\u00e2neo (UpM)<\/strong><\/p>\n\n\n\n De acordo com Dias (2014), para responder \u00e0s lacunas da PEV, a UpM foi criada em 2008, focada em fortalecer as rela\u00e7\u00f5es entre os pa\u00edses da regi\u00e3o. Engloba os Estados Membros da UE e 15 pa\u00edses do Mediterr\u00e2neo, integrando Israel, a Jord\u00e2nia, o L\u00edbano (estatuto de observador), a L\u00edbia e a S\u00edria (atualmente suspensa devido \u00e0 guerra civil). Abrange os mesmos princ\u00edpios que a PEV e, ao mesmo tempo, promove o entendimento entre as culturas e as civiliza\u00e7\u00f5es na regi\u00e3o euro-mediterr\u00e2nica. O Secretariado da UpM coordena uma s\u00e9rie de projetos relacionados com os setores do transporte, \u00e1gua, energia, prote\u00e7\u00e3o ambiental, emprego e desenvolvimento empresarial. A aprova\u00e7\u00e3o de tais propostas \u00e9 executada pelo \u00f3rg\u00e3o executivo da UpM, a reuni\u00e3o dos altos funcion\u00e1rios. Outro \u00f3rg\u00e3o que desempenha fun\u00e7\u00f5es na UpM \u00e9 a Assembleia Parlamentar, organizada em cinco comiss\u00f5es permanentes: Assuntos Pol\u00edticos, Seguran\u00e7a e Direitos Humanos; Assuntos Econ\u00f3micos e Financeiros, Assuntos Sociais e Educa\u00e7\u00e3o; Promo\u00e7\u00e3o de Qualidade de Vida, Interc\u00e2mbios Humanos e Cultura; Energia, Ambiente e \u00c1gua; Direitos da Mulher nos Pa\u00edses Euro-Mediterr\u00e2nicos. Verifica-se assim que, a UpM \u201ctrouxe de volta\u201d o multilateralismo, baseando-se em rela\u00e7\u00f5es interestaduais convencionais em vez de rela\u00e7\u00f5es com a comunidade (Khader, 2013). Atrav\u00e9s de tais projetos implementados, as principais prioridades da UpM prendem-se agora com a gest\u00e3o e o controlo da imigra\u00e7\u00e3o, a prote\u00e7\u00e3o do ambiente, a promo\u00e7\u00e3o do codesenvolvimento e por \u00faltimo, o combate \u00e0 corrup\u00e7\u00e3o, crime organizado e terrorismo. Estas duas \u00faltimas prioridades s\u00e3o cruciais para a seguran\u00e7a e defesa da UE, visto que ap\u00f3s a Primavera \u00c1rabe o crime organizado e o terrorismo aumentaram significativamente na Europa.<\/p>\n\n\n\n Pontos Fortes e Fracos: Resposta da UE<\/strong><\/p>\n\n\n\n Atrav\u00e9s de uma an\u00e1lise detalhada de todos os esfor\u00e7os por parte da UE para dar resposta aos conflitos nos pa\u00edses \u00e1rabes, evidenciam-se pontos fortes e tamb\u00e9m fracos no cerne desta quest\u00e3o. Segundo Dias (2014), uma das qualidades da PEV foi a cria\u00e7\u00e3o do \u201cring of friends\u201d (anel de amigos) que permitiu uma maior coopera\u00e7\u00e3o de seguran\u00e7a com os seus vizinhos. Em paralelo, a UpM permitiu a cria\u00e7\u00e3o de uma coordena\u00e7\u00e3o mais igualit\u00e1ria em termos de presid\u00eancia das rela\u00e7\u00f5es entre a UE e o Mediterr\u00e2neo, permitindo assim um di\u00e1logo mais coerente entre as duas regi\u00f5es. Logo ap\u00f3s os eventos de 2011, atrav\u00e9s da articula\u00e7\u00e3o entre o SEAE e a UE, foram implementadas ferramentas para auxiliar a regi\u00e3o debilitada. A revis\u00e3o da PEV foi essencial, tal como as visitas oficiais de representantes para promover transi\u00e7\u00f5es democr\u00e1ticas. Surgiram tamb\u00e9m incentivos monet\u00e1rios (4 bilh\u00f5es de euros entre 2011 e 2013), acesso ao mercado europeu e parcerias de mobilidade (migra\u00e7\u00e3o). Em 2015, o Fundo Fiduci\u00e1rio de Emerg\u00eancia para \u00c1frica foi criado e os seus 31 projetos de gest\u00e3o da migra\u00e7\u00e3o t\u00eam conseguido melhorias nesta quest\u00e3o. Todos estes projetos surtiram efeitos positivos, tendo como exemplo a realiza\u00e7\u00e3o de elei\u00e7\u00f5es no Egipto, L\u00edbia e a prepara\u00e7\u00e3o para a cria\u00e7\u00e3o de governos na Jord\u00e2nia e no L\u00edbano. Estas s\u00e3o apenas algumas das vit\u00f3rias alcan\u00e7adas, sendo poss\u00edvel assim enaltecer a robusta evolu\u00e7\u00e3o que a UE demonstrou para responder \u00e0s crises \u00e1rabes. Tendo em conta cada crise espec\u00edfica ao longo do tempo, \u00e9 vis\u00edvel a sua adapta\u00e7\u00e3o \u00e0s diferentes circunst\u00e2ncias e capacidade de criar organismos e entidades que agem de acordo com as v\u00e1rias necessidades. N\u00e3o obstante o trabalho ex\u00edmio que a UE realizou e tem realizado nesta mat\u00e9ria, emergem palavras como incoer\u00eancia e inconsist\u00eancia, decorrentes das lacunas e falhas no seio da pol\u00edtica externa e seguran\u00e7a europeia. Apesar dos frutos dos Planos de A\u00e7\u00e3o da PEV, evidenciou-se um crescente tratamento desigual por parte da UE com os seus vizinhos (fortalecimento das rela\u00e7\u00f5es com Israel). Este \u00e9 um dos exemplos das suas inconsist\u00eancias e, em conformidade com Khader (2013), a PEV teve resultados dececionantes, falhando assim na sua miss\u00e3o de promover altera\u00e7\u00f5es significativas. A UpM, com projetos diferentes da PEV, tamb\u00e9m se tornou d\u00e9bil e pouco focada na seguran\u00e7a dos civis que vivem nas regi\u00f5es afetadas. Tais lacunas influenciaram o despoletar da Primavera \u00c1rabe, visto que a promo\u00e7\u00e3o da democracia, direitos humanos e seguran\u00e7a foi insuficiente nos pa\u00edses em conflito. Bremberg (2016), menciona que no decorrer destes eventos, o SEAE ainda estava em constru\u00e7\u00e3o e por isso, existiam ainda um conjunto de problemas por resolver dentro da UE. Posto isto, verifica-se que a resposta a tais eventos seria fr\u00e1gil e fraca. Para al\u00e9m disto, a principal preocupa\u00e7\u00e3o dos pa\u00edses europeus era retirar os seus cidad\u00e3os das regi\u00f5es afetadas, mostrando assim a falta de apoio por parte da UE para com civis em sofrimento. Desta forma, podemos afirmar que para a UE, no topo da sua agenda estava a seguran\u00e7a das suas fronteiras e Estados-membros, colocando para segundo plano a estabilidade e a seguran\u00e7a dos seus pa\u00edses vizinhos. A guerra na S\u00edria, que perdura desde 2014 at\u00e9 hoje e, as v\u00e1rias guerras civis que a L\u00edbia tem vivido, evidenciam a incoer\u00eancia e inefic\u00e1cia por parte da UE em responder a tais crises cada vez mais devastadoras. Esta situa\u00e7\u00e3o demonstra a falta de credibilidade e poder que a Europa tem em termos securit\u00e1rios a n\u00edvel global, sendo ultrapassada por grandes pot\u00eancias, como a R\u00fassia, os Estados Unidos da Am\u00e9rica (EUA) e a China. Paralelamente, os grandes fluxos migrat\u00f3rios decorrentes desde 2011, propiciaram a anterior e atual crise de refugiados na Europa, demonstrando assim a car\u00eancia de um di\u00e1logo coerente entre os Estados-Membros. Esta problem\u00e1tica dura h\u00e1 anos na Europa e acaba por dividir cada vez mais os pa\u00edses membros da UE. Os ataques terroristas perpetrados na Europa, tamb\u00e9m s\u00e3o fruto em certa medida da incapacidade de resposta a tais quest\u00f5es problem\u00e1ticas. Tal como refere Dias (2014) apesar de propostas da UE mais detalhadas e robustas, parece que a sua abordagem se manteve igual ao per\u00edodo anterior a 2011 e pouco mudou. Deste modo, s\u00e3o necess\u00e1rias reformas mais vastas e adequadas no seio da pol\u00edtica externa e de seguran\u00e7a europeia, de modo a responder eficazmente a tais necessidades.<\/p>\n\n\n\n Recomenda\u00e7\u00f5es<\/strong><\/p>\n\n\n\n Tal como foi referido anteriormente, a UE para responder aos conflitos \u00e1rabes apresenta diversas capacidades, mas ao mesmo tempo, um conjunto de limita\u00e7\u00f5es que impossibilitam uma resposta mais eficaz a este desafio. Perthes (2011) refere que a Europa, por um lado, deve estabelecer as suas prioridades de uma forma clara e promover reformas pol\u00edticas e institucionais naquelas zonas. Por outro lado, o autor refere que a Europa deve apresentar os seus interesses de coopera\u00e7\u00e3o com os pa\u00edses \u00e1rabes (ex: aquisi\u00e7\u00e3o de petr\u00f3leo), para que a comunica\u00e7\u00e3o seja clara e transparente. Por exemplo, a UpM deveria ocupar-se maioritariamente desta prioridade. Em adi\u00e7\u00e3o, outra recomenda\u00e7\u00e3o seria o controlo mais apertado do mercado de armas de destrui\u00e7\u00e3o maci\u00e7a. \u00c9 evidente que muitos dos pa\u00edses \u00e1rabes n\u00e3o possuem tais instrumentos e na maior parte das vezes adquirem-nos atrav\u00e9s de pa\u00edses como a R\u00fassia, EUA, etc. A investiga\u00e7\u00e3o e atua\u00e7\u00e3o neste sentido poderia ser efetuada por parte da Organiza\u00e7\u00e3o das Na\u00e7\u00f5es Unidas (ONU) em conson\u00e2ncia com a UE para travar este mercado ilegal, porque as armas s\u00e3o o principal facilitador de tais conflitos. Geralmente, este mercado negro \u00e9 poss\u00edvel porque a corrup\u00e7\u00e3o mundial tem crescido significativamente ao longo dos anos e, os pol\u00edticos \u201cfecham os olhos\u201d a esta situa\u00e7\u00e3o, ou at\u00e9 a exercem a mesma para seu pr\u00f3prio proveito. Evitar por completo a corrup\u00e7\u00e3o seria apenas poss\u00edvel num mundo ut\u00f3pico, mas atenuar tal ilegalidade seria uma op\u00e7\u00e3o vi\u00e1vel. Al\u00e9m do mais, no que diz respeito \u00e0 quest\u00e3o da S\u00edria, a Europa poderia criar uma parceria coordenada e estruturada com as maiores pot\u00eancias do mundo (R\u00fassia, China, EUA). Apesar da presen\u00e7a das for\u00e7as militares da R\u00fassia e dos EUA na regi\u00e3o, as suas diverg\u00eancias s\u00e3o vis\u00edveis, colocando em causa ainda mais a seguran\u00e7a da regi\u00e3o. Seria essencial unir esfor\u00e7os, colocar os interesses nacionais de lado e trabalhar em conjunto para que seja este conflito termine. Simultaneamente, o papel da Turquia nesta mat\u00e9ria deve ser articulado com a UE, visto que as tens\u00f5es entre os mesmos criam ainda mais problem\u00e1ticas nesse sentido. Gaub (2017) sublinha que os conflitos internos n\u00e3o terminam logo ap\u00f3s o t\u00e9rmino de uma guerra. As mortes indiretas do p\u00f3s-guerra, os ferimentos e traumas psicol\u00f3gicos continuam a afetar os civis. Verificamos assim que, apesar de muitos conflitos nos pa\u00edses \u00e1rabes terem terminado, as consequ\u00eancias que surgem a seguir s\u00e3o muito graves. Na sequ\u00eancia de tais problemas, a popula\u00e7\u00e3o revolta-se, os conflitos internos crescem, a migra\u00e7\u00e3o aumenta e a crise dos refugiados agrava-se. Desta forma, a UE, aquando do seu aux\u00edlio aos conflitos \u00e1rabes, n\u00e3o deve apenas focar-se nas transi\u00e7\u00f5es democr\u00e1ticas ou ajuda monet\u00e1ria, deve tamb\u00e9m prestar apoio e aux\u00edlio direto \u00e0s popula\u00e7\u00f5es necessitadas daqueles territ\u00f3rios. Deve por exemplo, colocar a educa\u00e7\u00e3o no topo da sua agenda de atua\u00e7\u00e3o para que os jovens no futuro sejam capazes de criar um pa\u00eds dotado de valores europeus, bem-estar e seguran\u00e7a. A comunica\u00e7\u00e3o direta com os civis deve ser tamb\u00e9m uma prioridade, essencial para conhecer e compreender os seus desejos e as suas necessidades, porque s\u00e3o eles os que mais sofrem no meio disto tudo. Por \u00faltimo, apesar de esta ser uma quest\u00e3o sens\u00edvel relativa \u00e0 soberania dos Estados-membros europeus, est\u00e1 na altura de ser criada uma for\u00e7a de seguran\u00e7a e defesa europeia aut\u00f3noma, coordenada e robusta, pois uma coopera\u00e7\u00e3o forte e coesa entre na\u00e7\u00f5es \u00e9 a chave para o sucesso.<\/p>\n\n\n\n 19 de janeiro de 2022<\/p>\n\n\n\n
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