{"id":761,"date":"2016-12-06T22:32:00","date_gmt":"2016-12-06T22:32:00","guid":{"rendered":"https:\/\/eurodefense.pt\/?p=761"},"modified":"2021-02-01T17:52:53","modified_gmt":"2021-02-01T17:52:53","slug":"a-nova-estrategia-global-da-uniao-europeia-e-a-seguranca-transatlantica-conferencia-na-escola-superior-de-educacao-de-viseu","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/eurodefense.pt\/a-nova-estrategia-global-da-uniao-europeia-e-a-seguranca-transatlantica-conferencia-na-escola-superior-de-educacao-de-viseu\/","title":{"rendered":"A Nova Estrat\u00e9gia Global da Uni\u00e3o Europeia e a Seguran\u00e7a Transatl\u00e2ntica"},"content":{"rendered":"\n

Confer\u00eancia na Escola Superior de Educa\u00e7\u00e3o de Viseu<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Gostaria de come\u00e7ar por manifestar o meu apre\u00e7o pela organiza\u00e7\u00e3o desta Conferencia no \u00e2mbito do F\u00f3rum de Geopol\u00edtica e Politica Internacional da Escola Superior de Educa\u00e7\u00e3o de Viseu, num contexto prop\u00edcio para se falar sobre os tempos dif\u00edceis que hoje vivemos na Europa e compreender melhor os desafios, crises e amea\u00e7as que hoje afetam a Ordem Mundial e especialmente o nosso Pa\u00eds e o espa\u00e7o geoestrat\u00e9gico onde nos localizamos, com implica\u00e7\u00f5es na vida de todos n\u00f3s.<\/p>\n\n\n\n

Na minha exposi\u00e7\u00e3o vou abordar tr\u00eas pontos: em primeiro lugar, falarei sobre os desafios e amea\u00e7as num mundo em transforma\u00e7\u00e3o; depois, sobre a Nova Estrat\u00e9gia Global para as Rela\u00e7\u00f5es Externas e a Seguran\u00e7a da Uni\u00e3o Europeia; e, finalmente, algumas considera\u00e7\u00f5es sobre a dimens\u00e3o transatl\u00e2ntica da seguran\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n

1. Desafios e amea\u00e7as num mundo em transforma\u00e7\u00e3o<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Para melhor compreendermos como a geopol\u00edtica evoluiu a partir da \u00faltima d\u00e9cada do s\u00e9culo XX, comecemos por recordar que, depois da 2\u00aa Guerra Mundial, em 1945, se instalou uma situa\u00e7\u00e3o de equil\u00edbrio geoestrat\u00e9gico que durou mais de 50 anos e acabou com a queda do muro de Berlim em novembro de 1989.<\/p>\n\n\n\n

Foi um longo per\u00edodo dominado por dois blocos \u2013 o Bloco Sovi\u00e9tico e o Bloco Ocidental \u2013 que se opunham ideologicamente, dividiram o mundo e, apesar de se terem envolvido em diversos conflitos regionais, nunca se enfrentaram diretamente.<\/p>\n\n\n\n

Foi um tempo de \u201cguerra improv\u00e1vel e paz imposs\u00edvel\u201d, como muito bem o definiu Raymond Aron. Guerra improv\u00e1vel gra\u00e7as ao efeito dissuasor produzido pela elevada capacidade de destrui\u00e7\u00e3o das armas nucleares em poder das duas grandes pot\u00eancias e paz imposs\u00edvel por causa do temor que tais armas geravam.<\/p>\n\n\n\n

Desfeita, em 1989, a l\u00f3gica de reparti\u00e7\u00e3o do poder assente em dois grandes blocos pol\u00edtico-ideol\u00f3gicos, diversos conflitos eclodiram um pouco por todo o Mundo. A desagrega\u00e7\u00e3o do bloco sovi\u00e9tico conduziu \u00e0 implos\u00e3o da Jugosl\u00e1via e \u00e0 emerg\u00eancia de novos Estados que lutaram pela sua independ\u00eancia. Reacendem-se velhos conflitos \u00e9tnicos, territoriais e religiosos no cora\u00e7\u00e3o da Europa.<\/p>\n\n\n\n

J\u00e1 em pleno S\u00e9c. XXI, o sistema internacional sofre um novo abalo com os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 em Nova Iorque e Washington e de 11 de mar\u00e7o de 2004 em Madrid, assim como, pouco depois, as bombas no Metro de Londres.<\/p>\n\n\n\n

Os atentados de 11 de setembro de 2001 marcaram o in\u00edcio de uma nova ordem mundial. Nada voltaria a ser como antes em mat\u00e9ria de Seguran\u00e7a e Defesa, devido aos efeitos deste rude golpe, desferido em pleno cora\u00e7\u00e3o do Mundo Ocidental \u2013 um golpe cujas consequ\u00eancias se v\u00eam, desde ent\u00e3o, multiplicando por todo o globo, com profundas mudan\u00e7as no cen\u00e1rio geopol\u00edtico europeu e ocidental. Nunca \u00e9 demais recordar a invas\u00e3o do Iraque decidida pelo Presidente George Bush com o fundamento de que Sadan Hussein tinha liga\u00e7\u00f5es \u00e0 Al-Qaeda e produzia armas de destrui\u00e7\u00e3o maci\u00e7a\u2026 Sabemos hoje como milh\u00f5es de pessoas foram e continuam a ser v\u00edtimas desta decis\u00e3o\u2026.<\/p>\n\n\n\n

Mais recentemente, a Europa confronta-se com o agravamento dos conflitos na vizinhan\u00e7a estrat\u00e9gica a leste e a sul da Europa.<\/p>\n\n\n\n

A leste, temos a press\u00e3o amea\u00e7adora da R\u00fassia, com a anexa\u00e7\u00e3o da Crimeia e a interven\u00e7\u00e3o na Ucr\u00e2nia.<\/p>\n\n\n\n

No Mediterr\u00e2neo Oriental, com a guerra intermin\u00e1vel na S\u00edria, os atentados terroristas no Iraque, a presen\u00e7a devastadora do Daesh, o chamado Estado Isl\u00e2mico.<\/p>\n\n\n\n

A sul e a sudeste o terror e o caos instalado na regi\u00e3o do Sahel, esse imenso espa\u00e7o na Africa Subsaariana, uma faixa de territ\u00f3rio que vai do Atl\u00e2ntico ao Mar Vermelho, onde, presentemente, o Mali representa o principal foco de tens\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Ainda na regi\u00e3o do Sahel, al\u00e9m dos conflitos armados, h\u00e1 que acrescentar o problema da fome. Segundo dados da ONU, 10 a 15 milh\u00f5es de pessoas podem ser muito brevemente afetadas pela falta aguda de alimentos, devido \u00e0s prolongadas secas e \u00e0s tens\u00f5es pol\u00edticas na L\u00edbia, o conflito no Mali, a\u00e7\u00e3o de rebeldes no N\u00edger e os radicais isl\u00e2micos na Nig\u00e9ria.<\/p>\n\n\n\n

E tamb\u00e9m temos de referir a prolongada guerra civil no Sud\u00e3o que est\u00e1 a provocar verdadeiro genoc\u00eddio, conforme o alerta lan\u00e7ado h\u00e1 dias pelas Na\u00e7\u00f5es Unidas.<\/p>\n\n\n\n

Tudo isto tem provocado a morte de milh\u00f5es de cidad\u00e3os e a fuga maci\u00e7a de refugiados em dire\u00e7\u00e3o \u00e0 Europa.<\/p>\n\n\n\n

Temos assim de concluir que a paz duradoura sonhada pelas multid\u00f5es que na noite de 9 de novembro de 1989 derrubaram o muro de Berlim tem vindo a ser sucessivamente adiada.<\/p>\n\n\n\n

Ali\u00e1s, a l\u00f3gica da guerra fria parece estar de regresso, com uma crescente degrada\u00e7\u00e3o das rela\u00e7\u00f5es entre o Ocidente e a R\u00fassia. Al\u00e9m da anexa\u00e7\u00e3o da Crimeia e outras viola\u00e7\u00f5es do direito internacional, n\u00e3o podem deixar de causar motivo de s\u00e9rias preocupa\u00e7\u00f5es para o Ocidente certas decis\u00f5es unilaterais tomadas por Moscovo h\u00e1 poucos meses, tais como:<\/p>\n\n\n\n