{"id":761,"date":"2016-12-06T22:32:00","date_gmt":"2016-12-06T22:32:00","guid":{"rendered":"https:\/\/eurodefense.pt\/?p=761"},"modified":"2021-02-01T17:52:53","modified_gmt":"2021-02-01T17:52:53","slug":"a-nova-estrategia-global-da-uniao-europeia-e-a-seguranca-transatlantica-conferencia-na-escola-superior-de-educacao-de-viseu","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/eurodefense.pt\/a-nova-estrategia-global-da-uniao-europeia-e-a-seguranca-transatlantica-conferencia-na-escola-superior-de-educacao-de-viseu\/","title":{"rendered":"A Nova Estrat\u00e9gia Global da Uni\u00e3o Europeia e a Seguran\u00e7a Transatl\u00e2ntica"},"content":{"rendered":"\n
Confer\u00eancia na Escola Superior de Educa\u00e7\u00e3o de Viseu<\/strong><\/p>\n\n\n\n Gostaria de come\u00e7ar por manifestar o meu apre\u00e7o pela organiza\u00e7\u00e3o desta Conferencia no \u00e2mbito do F\u00f3rum de Geopol\u00edtica e Politica Internacional da Escola Superior de Educa\u00e7\u00e3o de Viseu, num contexto prop\u00edcio para se falar sobre os tempos dif\u00edceis que hoje vivemos na Europa e compreender melhor os desafios, crises e amea\u00e7as que hoje afetam a Ordem Mundial e especialmente o nosso Pa\u00eds e o espa\u00e7o geoestrat\u00e9gico onde nos localizamos, com implica\u00e7\u00f5es na vida de todos n\u00f3s.<\/p>\n\n\n\n Na minha exposi\u00e7\u00e3o vou abordar tr\u00eas pontos: em primeiro lugar, falarei sobre os desafios e amea\u00e7as num mundo em transforma\u00e7\u00e3o; depois, sobre a Nova Estrat\u00e9gia Global para as Rela\u00e7\u00f5es Externas e a Seguran\u00e7a da Uni\u00e3o Europeia; e, finalmente, algumas considera\u00e7\u00f5es sobre a dimens\u00e3o transatl\u00e2ntica da seguran\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n 1. Desafios e amea\u00e7as num mundo em transforma\u00e7\u00e3o<\/strong><\/p>\n\n\n\n Para melhor compreendermos como a geopol\u00edtica evoluiu a partir da \u00faltima d\u00e9cada do s\u00e9culo XX, comecemos por recordar que, depois da 2\u00aa Guerra Mundial, em 1945, se instalou uma situa\u00e7\u00e3o de equil\u00edbrio geoestrat\u00e9gico que durou mais de 50 anos e acabou com a queda do muro de Berlim em novembro de 1989.<\/p>\n\n\n\n Foi um longo per\u00edodo dominado por dois blocos \u2013 o Bloco Sovi\u00e9tico e o Bloco Ocidental \u2013 que se opunham ideologicamente, dividiram o mundo e, apesar de se terem envolvido em diversos conflitos regionais, nunca se enfrentaram diretamente.<\/p>\n\n\n\n Foi um tempo de \u201cguerra improv\u00e1vel e paz imposs\u00edvel\u201d, como muito bem o definiu Raymond Aron. Guerra improv\u00e1vel gra\u00e7as ao efeito dissuasor produzido pela elevada capacidade de destrui\u00e7\u00e3o das armas nucleares em poder das duas grandes pot\u00eancias e paz imposs\u00edvel por causa do temor que tais armas geravam.<\/p>\n\n\n\n Desfeita, em 1989, a l\u00f3gica de reparti\u00e7\u00e3o do poder assente em dois grandes blocos pol\u00edtico-ideol\u00f3gicos, diversos conflitos eclodiram um pouco por todo o Mundo. A desagrega\u00e7\u00e3o do bloco sovi\u00e9tico conduziu \u00e0 implos\u00e3o da Jugosl\u00e1via e \u00e0 emerg\u00eancia de novos Estados que lutaram pela sua independ\u00eancia. Reacendem-se velhos conflitos \u00e9tnicos, territoriais e religiosos no cora\u00e7\u00e3o da Europa.<\/p>\n\n\n\n J\u00e1 em pleno S\u00e9c. XXI, o sistema internacional sofre um novo abalo com os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 em Nova Iorque e Washington e de 11 de mar\u00e7o de 2004 em Madrid, assim como, pouco depois, as bombas no Metro de Londres.<\/p>\n\n\n\n Os atentados de 11 de setembro de 2001 marcaram o in\u00edcio de uma nova ordem mundial. Nada voltaria a ser como antes em mat\u00e9ria de Seguran\u00e7a e Defesa, devido aos efeitos deste rude golpe, desferido em pleno cora\u00e7\u00e3o do Mundo Ocidental \u2013 um golpe cujas consequ\u00eancias se v\u00eam, desde ent\u00e3o, multiplicando por todo o globo, com profundas mudan\u00e7as no cen\u00e1rio geopol\u00edtico europeu e ocidental. Nunca \u00e9 demais recordar a invas\u00e3o do Iraque decidida pelo Presidente George Bush com o fundamento de que Sadan Hussein tinha liga\u00e7\u00f5es \u00e0 Al-Qaeda e produzia armas de destrui\u00e7\u00e3o maci\u00e7a\u2026 Sabemos hoje como milh\u00f5es de pessoas foram e continuam a ser v\u00edtimas desta decis\u00e3o\u2026.<\/p>\n\n\n\n Mais recentemente, a Europa confronta-se com o agravamento dos conflitos na vizinhan\u00e7a estrat\u00e9gica a leste e a sul da Europa.<\/p>\n\n\n\n A leste, temos a press\u00e3o amea\u00e7adora da R\u00fassia, com a anexa\u00e7\u00e3o da Crimeia e a interven\u00e7\u00e3o na Ucr\u00e2nia.<\/p>\n\n\n\n No Mediterr\u00e2neo Oriental, com a guerra intermin\u00e1vel na S\u00edria, os atentados terroristas no Iraque, a presen\u00e7a devastadora do Daesh, o chamado Estado Isl\u00e2mico.<\/p>\n\n\n\n A sul e a sudeste o terror e o caos instalado na regi\u00e3o do Sahel, esse imenso espa\u00e7o na Africa Subsaariana, uma faixa de territ\u00f3rio que vai do Atl\u00e2ntico ao Mar Vermelho, onde, presentemente, o Mali representa o principal foco de tens\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n Ainda na regi\u00e3o do Sahel, al\u00e9m dos conflitos armados, h\u00e1 que acrescentar o problema da fome. Segundo dados da ONU, 10 a 15 milh\u00f5es de pessoas podem ser muito brevemente afetadas pela falta aguda de alimentos, devido \u00e0s prolongadas secas e \u00e0s tens\u00f5es pol\u00edticas na L\u00edbia, o conflito no Mali, a\u00e7\u00e3o de rebeldes no N\u00edger e os radicais isl\u00e2micos na Nig\u00e9ria.<\/p>\n\n\n\n E tamb\u00e9m temos de referir a prolongada guerra civil no Sud\u00e3o que est\u00e1 a provocar verdadeiro genoc\u00eddio, conforme o alerta lan\u00e7ado h\u00e1 dias pelas Na\u00e7\u00f5es Unidas.<\/p>\n\n\n\n Tudo isto tem provocado a morte de milh\u00f5es de cidad\u00e3os e a fuga maci\u00e7a de refugiados em dire\u00e7\u00e3o \u00e0 Europa.<\/p>\n\n\n\n Temos assim de concluir que a paz duradoura sonhada pelas multid\u00f5es que na noite de 9 de novembro de 1989 derrubaram o muro de Berlim tem vindo a ser sucessivamente adiada.<\/p>\n\n\n\n Ali\u00e1s, a l\u00f3gica da guerra fria parece estar de regresso, com uma crescente degrada\u00e7\u00e3o das rela\u00e7\u00f5es entre o Ocidente e a R\u00fassia. Al\u00e9m da anexa\u00e7\u00e3o da Crimeia e outras viola\u00e7\u00f5es do direito internacional, n\u00e3o podem deixar de causar motivo de s\u00e9rias preocupa\u00e7\u00f5es para o Ocidente certas decis\u00f5es unilaterais tomadas por Moscovo h\u00e1 poucos meses, tais como:<\/p>\n\n\n\n Surpreendentemente, a Europa n\u00e3o s\u00f3 n\u00e3o tem sido capaz de dar uma resposta adequada a estes novos fen\u00f3menos e desafios, nomeadamente no caso da crise migrat\u00f3ria, como tem evidenciado sinais preocupantes de debilidade e retrocesso do processo de constru\u00e7\u00e3o europeia, nos seus pilares fundamentais da solidariedade, da coes\u00e3o e da unidade no respeito pela diversidade.<\/p>\n\n\n\n A Europa, enfraquecida politicamente, a bra\u00e7os com uma crise econ\u00f3mica e financeira v\u00ea-se agora numa situa\u00e7\u00e3o agravada pelo referendo brit\u00e2nico que decidiu a sa\u00edda do Reino Unido (Brexit) e pelo crescimento dos partidos e movimentos euroc\u00e9ticos, populistas, nacionalistas e xen\u00f3fobos.<\/p>\n\n\n\n Segundo um estudo publicado no \u00faltimo n\u00famero de Revista Foreign Affairs, os partidos populistas e antieuropeus ocupam atualmente um largo n\u00famero de assentos parlamentares em cinco Estados Membros da UE: Gr\u00e9cia, Hungria, It\u00e1lia, Polonia e Eslov\u00e1quia. Al\u00e9m disso, em tr\u00eas outros pa\u00edses \u2013 Finl\u00e2ndia, Litu\u00e2nia e Noruega, \u2013 h\u00e1 partidos populistas nas coliga\u00e7\u00f5es governamentais ou a conceder apoio parlamentar ao governo como \u00e9 o caso em Portugal (acrescento eu, porque o nosso Pa\u00eds n\u00e3o \u00e9 citado no artigo).<\/p>\n\n\n\n A maioria destes partidos s\u00e3o de extrema-direita, embora nem todos sejam radicas; outros s\u00e3o de extrema-esquerda ou integram plataformas dif\u00edceis de colocar no espectro direita \/esquerda, como \u00e9 o caso do \u201cmovimento italiano 5 estrelas\u201d liderado pelo comediante Beppe Grillo\u2026.<\/p>\n\n\n\n Felizmente hoje temos uma boa not\u00edcia com a derrota do candidato de extrema-direita \u00e0 Presid\u00eancia da \u00c1ustria e a vit\u00f3ria de um candidato amigo da Europa.<\/p>\n\n\n\n Mas, ao mesmo tempo, uma m\u00e1 noticia com a crise gerada na It\u00e1lia, na sequ\u00eancia do referendo que reprovou as propostas de reforma constitucional do Primeiro-ministro Matteo Renzi. O que levou \u00e0 sua demiss\u00e3o, com os partidos populistas e extremistas a proclamarem vit\u00f3riae a reclamarem elei\u00e7\u00f5es antecipadas.<\/p>\n\n\n\n 2. Nova Estrat\u00e9gia Global da Uni\u00e3o Europeia<\/strong><\/p>\n\n\n\n Foi para responder a este ambiente geopol\u00edtico e geoestrat\u00e9gico perigoso e amea\u00e7ador, que a Alta Representante da Uni\u00e3o Europeia para a Politica Externa e de Seguran\u00e7a, Frederica Mogherini, coordenou a elabora\u00e7\u00e3o da Nova Estrat\u00e9gia Global sob o lema \u201cVis\u00e3o Partilhada, A\u00e7\u00e3o Conjunta: Uma Europa Mais Forte\u201d, <\/em>com a participa\u00e7\u00e3o de todos os Estados Membros, dos governos, dos parlamentos e da sociedade civil.<\/p>\n\n\n\n A Nova Estrat\u00e9gia Global \u2013 \u201cuma estrat\u00e9gia para unir e defender a Europa\u201d \u2013 foi submetida ao Conselho Europeu do passado m\u00eas de junho, onde foi bem acolhida, e logo no m\u00eas seguinte o Conselho de Ministros dos Neg\u00f3cios Estrangeiros confirmou a sua disponibilidade para dar in\u00edcio e continuidade \u00e0 sua implementa\u00e7\u00e3o, tendo convidado a Alta Representante a apresentar no outono de 2016 um programa detalhado e respetiva calendariza\u00e7\u00e3o, para a operacionaliza\u00e7\u00e3o das diversas dimens\u00f5es setoriais da Estrat\u00e9gia, incluindo a Seguran\u00e7a e Defesa.<\/p>\n\n\n\n Na Cimeira de Bratislava, em setembro de 2016, Mogherini apresentou aos ministros da Defesa e dos Neg\u00f3cio Estrangeiros e estes aprovaram na sua reuni\u00e3o do passado dia 14 de novembro, um plano para a implementa\u00e7\u00e3o de uma nova estrat\u00e9gia da pol\u00edtica europeia para seguran\u00e7a e defesa.<\/p>\n\n\n\n No que respeita \u00e0 dimens\u00e3o da Seguran\u00e7a e Defesa, a Estrat\u00e9gia sublinha que o objetivo principal \u00e9 \u201cproteger a seguran\u00e7a e prosperidade dos cidad\u00e3os da Europa e no espa\u00e7o circunvizinho, o que n\u00e3o poder\u00e1 ser alcan\u00e7ado s\u00f3 com \u201csoft power\u201d, isto \u00e9, carece de for\u00e7a militar.<\/p>\n\n\n\n Neste contexto, sem preju\u00edzo da soberania dos Estados Membros em rela\u00e7\u00e3o \u00e0s suas decis\u00f5es dos assuntos de defesa \u2013 a defesa permanece como pol\u00edtica intergovernamental e n\u00e3o comunit\u00e1ria \u2013 a Nova Estrat\u00e9gia Global apela a um esfor\u00e7o cooperativo e concertado dos Estados Membros, uma vez que \u201cnenhum Estado Membro por si s\u00f3 estar\u00e1 capacitado para responder a este desafio isoladamente\u201d.<\/p>\n\n\n\n Proclama igualmente a necessidade de um forte relacionamento e uma melhor coopera\u00e7\u00e3o entre a Uni\u00e3o Europeia e a NATO. O que aparentemente poderia estar em contradi\u00e7\u00e3o com a ambi\u00e7\u00e3o de vir a alcan\u00e7ar para a Uni\u00e3o Europeia uma autonomia estrat\u00e9gica.<\/p>\n\n\n\n Mas Mogherini explica a raz\u00e3o desta coopera\u00e7\u00e3o fundamental, defendendo que \u201ca melhor maneira de garantir os nossos interesses comuns \u00e9 no quadro de um sistema internacional assente em regras e no multilateralismo. \u2026. Por isso, continuaremos a aprofundar a rela\u00e7\u00e3o transatl\u00e2ntica e a nossa parceria com a NATO, estabelecendo tamb\u00e9m la\u00e7os com novos intervenientes e explorando novos formatos\u201d.<\/p>\n\n\n\n \u00c9 reconhecida tamb\u00e9m a necessidade urgente de a Europa investir mais e melhor na defesa, para que as for\u00e7as militares estejam \u201cmelhor equipadas, treinadas e organizadas\u201d, seja para contribuir para o esfor\u00e7o de defesa coletiva (NATO) ou para atuar autonomamente, se e quando necess\u00e1rio, para fomentar a paz e salvaguardar a seguran\u00e7a dentro e fora das nossas fronteiras.<\/p>\n\n\n\n A este respeito a Estrat\u00e9gia sublinha a imprescindibilidade de fundos europeus para apoiar projetos de investiga\u00e7\u00e3o tecnol\u00f3gica de defesa, indispens\u00e1veis para o desenvolvimento das capacidades militares de que a Europa necessita.<\/p>\n\n\n\n Nesse sentido, a Comiss\u00e3o Europeia j\u00e1 decidiu apresentar no pr\u00f3ximo Conselho Europeu o seu Plano de Ac\u00e3o para a Defesa, compreendendo a cria\u00e7\u00e3o de um Fundo Europeu de Defesa destinado a apoiar o investimento na investiga\u00e7\u00e3o e no desenvolvimento conjuntos de equipamentos e tecnologias de defesa, alimentados pelos Fundos Estruturais e de Investimento Europeus e o Banco Europeu de Investimento.<\/p>\n\n\n\n Podemos assim concluir neste ponto que, treze anos ap\u00f3s a primeira Estrat\u00e9gia Europeia de Seguran\u00e7a, proposta por Xavier Solana, a Nova Estrat\u00e9gia Global de Mogherini parece ser mais do que um documento te\u00f3rico de boas inten\u00e7\u00f5es pol\u00edticas, porque nele s\u00e3o estabelecidos os objetivos, as ambi\u00e7\u00f5es pol\u00edticas e as prioridades estrat\u00e9gicas da Uni\u00e3o Europeia e um n\u00famero significativo de iniciativas inovadoras, que, devidamente consideradas e implementadas, t\u00eam potencial para relan\u00e7ar a Pol\u00edtica Comum de Seguran\u00e7a e Defesa (PCSD) consagrada no Tratado de Lisboa.<\/p>\n\n\n\n 3. Dimens\u00e3o euro-atl\u00e2ntica da seguran\u00e7a e defesa europeia<\/strong><\/p>\n\n\n\n O projeto de defesa comum europeia era j\u00e1 uma das ambi\u00e7\u00f5es dos fundadores do projeto europeu, considerando que s\u00f3 em condi\u00e7\u00f5es de seguran\u00e7a se poderia garantir a sustenta\u00e7\u00e3o de uma zona de paz e estabilidade, baseada no progresso econ\u00f3mico e social, na liberaliza\u00e7\u00e3o dos mercados e na livre circula\u00e7\u00e3o dos cidad\u00e3os.<\/p>\n\n\n\n Apesar de todos os apelos e aspira\u00e7\u00f5es manifestadas ao longo dos anos, a verdade \u00e9 que a pol\u00edtica de defesa europeia, dada a sua natureza intergovernamental, s\u00f3 pode avan\u00e7ar se essa for a vontade politica dos governos nacionais.<\/p>\n\n\n\n No passado pouco se avan\u00e7ou e a justifica\u00e7\u00e3o era a reiterada oposi\u00e7\u00e3o do Reino Unido a qualquer proposta de implementa\u00e7\u00e3o da Politica Comum de Seguran\u00e7a e Defesa consagrada no Tratado de Lisboa. Agora com o Reino Unido fora da EU, com o Brexit, alguns l\u00edderes europeus acreditam que \u00e9 o tempo oportuno para progredir nesta \u00e1rea.<\/p>\n\n\n\n Mas podemos estar aqui perante uma certa ambiguidade. A verdade \u00e9 que a vontade pol\u00edtica depende essencialmente do apoio que, a n\u00edvel nacional, os governos possam obter, em \u00faltima an\u00e1lise, das suas bases eleitorais. Ora o que nos dizem as sondagens hoje \u00e9 que a grande maioria dos cidad\u00e3os europeus considera que as migra\u00e7\u00f5es e o terrorismo constituem o desafio mais importante que a Uni\u00e3o Europeia deve ser capaz de enfrentar. Est\u00e3o, por isso, dispostas a apoiar o desenvolvimento das estrat\u00e9gias e das pol\u00edticas europeias de seguran\u00e7a interna, com impacto, especialmente, no refor\u00e7o da preven\u00e7\u00e3o e do combate ao terrorismo e o controlo das fronteiras externas (a decis\u00e3o de constituir uma Guarda Costeira \u00e9 o resultado das press\u00f5es da opini\u00e3o p\u00fablica face ao descontrolo da gest\u00e3o dos fluxos migrat\u00f3rios).<\/p>\n\n\n\n Mas quando se trata de quest\u00f5es geopol\u00edticas e de defesa, na maioria dos Estados-Membros, a opini\u00e3o p\u00fablica mostra-se cada vez menos interessada revelando um n\u00edvel de ambi\u00e7\u00e3o relativamente limitado no que se refere ao desenvolvimento de capacidades militares aut\u00f3nomas de defesa, ou seja, n\u00e3o est\u00e3o preparados para pagar mais para a defesa.<\/p>\n\n\n\n Talvez por isso mesmo, num recente inqu\u00e9rito divulgado pelo European Center for Foreign Relations,<\/em> em cada um dos 28 Estados-Membros, sobre as perce\u00e7\u00f5es e os desafios que o novo presidente americano pode colocar nos respetivos pa\u00edses, a maioria das respostas mostrou-se favor\u00e1vel \u00e0 continuidade e \u00e0 estabilidade das rela\u00e7\u00f5es transatl\u00e2nticas e manifestava claramente o seu forte desejo de que os EUA e a NATO continuem a ser o principal garante da defesa da Europa.<\/p>\n\n\n\n N\u00e3o admira, por isso, que a maioria das respostas claramente indicasse um grande receio com a poss\u00edvel elei\u00e7\u00e3o de Donald Trump, dadas as repetidas declara\u00e7\u00f5es de enfraquecimento da NATO.<\/p>\n\n\n\n Numa entrevista concedida ao The New York Times o presidente eleito chegou a dizer que abandonaria a globaliza\u00e7\u00e3o a favor do nacionalismo americano, al\u00e9m de descrever como iria for\u00e7ar os aliados a assumirem finalmente os custos da defesa que os Estados Unidos t\u00eam suportado ao longo de d\u00e9cadas, apelando a uma maior participa\u00e7\u00e3o nas despesas militares.<\/p>\n\n\n\n Sabemos que tem sido recorrente esta insist\u00eancia dos EUA para que os aliados europeus reforcem as suas capacidades militares, alocando, pelo menos, 2% do PIB aos or\u00e7amentos da defesa, de acordo com os crit\u00e9rios de avalia\u00e7\u00e3o das justas contribui\u00e7\u00f5es dos aliados para a seguran\u00e7a coletiva assumidos no fim da guerra fria (burden-sharing). At\u00e9 agora apenas 5 dos 22 pa\u00edses europeus membros da NATO satisfazem este requisito (UK, Gr\u00e9cia, Polonia, Fran\u00e7a e Est\u00f3nia).<\/p>\n\n\n\n Ou seja, para Donald Trump, a Am\u00e9rica poderia n\u00e3o honrar o artigo V do tratado do Atl\u00e2ntico Norte, que constitui desde sempre a pedra angular da Alian\u00e7a Atl\u00e2ntica, segundo o qual um ataque a um Estado membro \u00e9 um ataque contra todos.<\/p>\n\n\n\n Estas como muitas outras declara\u00e7\u00f5es foram repudiadas pelos pr\u00f3prios republicanos e do lado europeu poucos acreditam que Trump Presidente dos EUA seja capaz de prosseguir com estas ideias.<\/p>\n\n\n\n No entanto, n\u00e3o podemos ignorar que esta vis\u00e3o de Donald Trump sobre as rela\u00e7\u00f5es com os aliados europeus corresponde tamb\u00e9m a convic\u00e7\u00f5es de longa data de muitos americanos.<\/p>\n\n\n\n O Inqu\u00e9rito atr\u00e1s referido demonstra, finalmente, que, de uma maneira geral, os europeus manifestam uma profunda relut\u00e2ncia em acreditar que a ret\u00f3rica da campanha eleitoral sobre a redu\u00e7\u00e3o do papel dos EUA no exterior se venha a traduzir em altera\u00e7\u00f5es efetivas da sua pol\u00edtica externa.<\/p>\n\n\n\n Opini\u00e3o contr\u00e1ria \u00e9 a de muitos comentadores norte-americanos e europeus cientes de que as tend\u00eancias pol\u00edticas nos Estados Unidos apontam para que o seu papel no mundo ter\u00e1 de mudar face \u00e0 inevit\u00e1vel revis\u00e3o das suas prioridades.<\/p>\n\n\n\n \u00c9 sua convic\u00e7\u00e3o que os americanos aceitariam que, nesta revis\u00e3o das prioridades externas dos EUA, se inclua um refor\u00e7o das suas alian\u00e7as tradicionais e sobretudo da comunidade transatl\u00e2ntica. Exigir\u00e3o, por\u00e9m, que os aliados europeus assumam maiores responsabilidades, tanto na sua pr\u00f3pria seguran\u00e7a e defesa, como na sua contribui\u00e7\u00e3o para a seguran\u00e7a internacional.<\/p>\n\n\n\n Segundo alguns autores, a quest\u00e3o fundamental a que o pr\u00f3ximo Presidente dos EUA ter\u00e1 que responder, na \u00e1rea da pol\u00edtica externa, n\u00e3o diz respeito \u00e0 Europa. Ser\u00e1 antes a de saber como lidar com a ascens\u00e3o da China ao n\u00edvel de pot\u00eancia econ\u00f3mica global e pot\u00eancia militar, o que se torna no maior desafio estrat\u00e9gico dos EUA, al\u00e9m de ser um dos fatores mais importantes na constru\u00e7\u00e3o de uma nova ordem mundial no s\u00e9culo XXI.<\/p>\n\n\n\n A NATO \u2013 descrita pelo presidente eleito dos EUA Donald Trump como \u201cobsoleta\u201d \u2013 n\u00e3o se desintegrar\u00e1, seguramente, com a sua elei\u00e7\u00e3o. No entanto, os gastos europeus com a defesa podem ter de subir mais rapidamente.<\/p>\n\n\n\n As declara\u00e7\u00f5es de Donald Trump em que acusa os europeus de n\u00e3o estarem a fazer tanto quanto deviam no \u00e2mbito da sua participa\u00e7\u00e3o da NATO criaram alarme em v\u00e1rios setores, em particular nos que encaram a R\u00fassia como uma amea\u00e7a existencial e v\u00eam na NATO a garantia da sua defesa.<\/p>\n\n\n\n Trump sabe, no entanto, que o que diz vai ao encontro de uma maioria da opini\u00e3o p\u00fablica americana que se mostra cansada da deficiente distribui\u00e7\u00e3o desse esfor\u00e7o militar, apesar de a NATO continuar a ser vista por 77% dos americanos como uma boa alian\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n Ali\u00e1s, Trump n\u00e3o disse, sobre a reparti\u00e7\u00e3o dos encargos da NATO \u201cburden Sahring\u201d nada que n\u00e3o tenha sido dito anteriormente, em diversas ocasi\u00f5es, por pol\u00edticos e at\u00e9 altos respons\u00e1veis da administra\u00e7\u00e3o americana. Por exemplo, o senador John McCan (Senador Republicano e candidato derrotado por Obama), Robert Gates (Secret\u00e1rio da Defesa) em discurso de despedida em reuni\u00e3o da NATO e o pr\u00f3prio Presidente Obama nas suas viagens \u00e0 Europa, fazendo apelo aos Europeus para refor\u00e7arem os seus investimentos com a defesa.<\/p>\n\n\n\n Estar\u00e1 a resposta a estas quest\u00f5es na Estrat\u00e9gia Global da Uni\u00e3o Europeia de que temos vindo a falar?<\/p>\n\n\n\n Sim, se houver vontade pol\u00edtica dos governos nacionais para concretizar as orienta\u00e7\u00f5es estabelecidas e refor\u00e7ar as capacidades de defesas, aproveitando ao m\u00e1ximo oportunidades de investimento em investiga\u00e7\u00e3o tecnol\u00f3gica e defesa, disponibilizadas pelos fundos europeus num gesto in\u00e9dito da Comiss\u00e3o Europeia.<\/p>\n\n\n\n \u00c9 necess\u00e1ria uma decis\u00e3o oportuna dos l\u00edderes europeus e nacionais, antes que seja a press\u00e3o da instabilidade e a inseguran\u00e7a que se instalou na vizinhan\u00e7a estrat\u00e9gica da Europa a ditar as medidas a tomar apressadamente.<\/p>\n\n\n\n Tudo ser\u00e1 ent\u00e3o muito mais complicado.<\/p>\n\n\n\n