{"id":7902,"date":"2022-04-06T19:49:06","date_gmt":"2022-04-06T19:49:06","guid":{"rendered":"https:\/\/eurodefense.pt\/?p=7902"},"modified":"2023-02-20T18:02:50","modified_gmt":"2023-02-20T18:02:50","slug":"a-analogia-do-grande-jogo-e-a-realidade-geopolitica-da-asia-central","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/eurodefense.pt\/a-analogia-do-grande-jogo-e-a-realidade-geopolitica-da-asia-central\/","title":{"rendered":"A analogia do \u201cGrande Jogo\u201d e a realidade geopol\u00edtica da \u00c1sia Central"},"content":{"rendered":"\n

1.    Introdu\u00e7\u00e3o<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Apesar de ser uma regi\u00e3o de grande import\u00e2ncia para a geopol\u00edtica global, a \u00c1sia Central \u00e9 encarada como uma \u00e1rea de baixos \u00edndices sociais e de economia fr\u00e1gil, amparada, quase sempre, por organiza\u00e7\u00f5es internacionais, tal como o Fundo Monet\u00e1rio Internacional (FMI) e Banco Asi\u00e1tico de Desenvolvimento (BAD) (Santos, 2017).<\/p>\n\n\n\n

Debate Terminol\u00f3gico<\/em><\/strong><\/p>\n\n\n\n

Em termos hol\u00edsticos, a regi\u00e3o \u00e9 de dif\u00edcil delimita\u00e7\u00e3o geogr\u00e1fica e pol\u00edtica, e, nesse \u00e2mbito, existe um debate sem\u00e2ntico entre o russo e o ingl\u00eas, no qual se tenta compreender as suas fronteiras (Cummings, 2012).<\/p>\n\n\n\n

Por um lado, de acordo com Cummings (2012), o termo \u00c1sia Central surgiu como sin\u00f3nimo a termos como \u201cHigh Asia\u201d ou \u201cl\u2019Asie Int\u00e9rieure\u201d, que, afinal de contas, apela ao conjunto de pa\u00edses sem litoral.<\/p>\n\n\n\n

Por outro lado, conforme o mesmo adjudica, o conceito geogr\u00e1fico de \u00c1sia Central adv\u00e9m da estrutura sem\u00e2ntica da denomina\u00e7\u00e3o, de origem iraniana, de Transoxania, que adv\u00e9m da concetualiza\u00e7\u00e3o de regi\u00e3o, que se estende ao longo de \u201cOxus\u201d. Isso significa que a \u00c1sia Central se estende entre os rios Amu Darya e Syr Darya, os quais, respetivamente, nascem no Turquemenist\u00e3o\/Afeganist\u00e3o (se se considerar como fonte do Amu Darya, o rio Pamir, \u00e9 no Afeganist\u00e3o que nasce) e no Quirguist\u00e3o, ambos desaguando no Mar de Aral.<\/p>\n\n\n\n

Atualmente, a \u00c1sia Central \u00e9 definida pelos 5 Estados (ex-rep\u00fablicas sovi\u00e9ticas) do Cazaquist\u00e3o, Uzbequist\u00e3o, Quirguist\u00e3o, Tajiquist\u00e3o e Turquemenist\u00e3o (Santos, 2017).<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m de ter fornecido algod\u00e3o, frutas, legumes, petr\u00f3leo, g\u00e1s e energia el\u00e9trica para toda a URSS, a regi\u00e3o possu\u00eda um significado ainda mais importante para a geoestrat\u00e9gia sovi\u00e9tica. As vastas estepes permitiam ao ex\u00e9rcito vermelho um campo de testes para bombas nucleares, na qual estima-se que 456 testes nucleares tenham sido realizados no campo de Semipalatinsk, no atual Cazaquist\u00e3o (Santos, 2017).  A import\u00e2ncia desta regi\u00e3o n\u00e3o s\u00f3 adv\u00e9m do impacto que teve na economia sovi\u00e9tica, como tamb\u00e9m palco de um conjunto de manobras estrat\u00e9gicas diplom\u00e1ticas e militares, por parte do Imp\u00e9rio Brit\u00e2nico na \u00cdndia (Raj Brit\u00e2nico) e o Imp\u00e9rio Russo, posteriormente denominado por \u201cGrande Jogo\u201d (Santos, 2017).<\/p>\n\n\n\n

Neste sentido, no presente trabalho, procurarei, atrav\u00e9s da an\u00e1lise do \u201cGrande Jogo\u201d do s\u00e9c. XIX, e da apresenta\u00e7\u00e3o das din\u00e2micas atuais na regi\u00e3o, tra\u00e7ar uma linha de analogia hist\u00f3rica nas rela\u00e7\u00f5es entre as pot\u00eancias que se estabelecem na regi\u00e3o da \u00c1sia Central e do Afeganist\u00e3o, colocado no que se chama de \u201cGreater Central Asia\u201d (Regiani, 2015).<\/p>\n\n\n\n

2.    O \u201cGrande Jogo\u201d de Kipling<\/strong><\/p>\n\n\n\n

O termo \u201cGrande Jogo\u201d surgiu nos anos de 1830, por\u00e9m, foi projetado por Rudyard Kipling. Apesar de ser um conceito fict\u00edcio, descreve um conjunto de atividades reais, cujo fim era a ascend\u00eancia pol\u00edtica da R\u00fassia Imperial e a defesa da chamada pedra angular do Imp\u00e9rio Brit\u00e2nico, a \u00cdndia (Edwards, 2003). Esta din\u00e2mica tamb\u00e9m pode ser chamada de \u201cGuerra Fria da \u00c1sia Central\u201d, conforme compara Regiani (2015).<\/p>\n\n\n\n

O precedente para este conflito aconteceu quando o Imp\u00e9rio Russo se expandiu para o C\u00e1ucaso e a \u00c1sia Central, tentando aceder aos portos oce\u00e2nicos do \u00cdndico. Desta forma, amea\u00e7ou o Imp\u00e9rio Brit\u00e2nico da \u00cdndia, que sentiu a possibilidade de ser atacado (Edwards, 2003: 84).<\/p>\n\n\n\n

Com fim a defender os seus interesses, os Brit\u00e2nicos iniciaram manobras militares nas fronteiras do norte da \u00cdndia, para controlar, de facto<\/em>, a mesma (Edwards, 2003). Para al\u00e9m dessas manobras, o Imp\u00e9rio Brit\u00e2nico da \u00cdndia, invadiu o Afeganist\u00e3o, por esse ter se aproximado da R\u00fassia, iniciando a Segunda Guerra Anglo-Afeg\u00e3, cujo desfecho foi a assinatura do Tratado de Gandamak, em 1879. No mesmo, o Raj Brit\u00e2nico afirmou a sa\u00edda das suas tropas do Afeganist\u00e3o, no entanto, a Pol\u00edtica Externa de Cabul, seria gerida pelo Imp\u00e9rio Brit\u00e2nico (Toriya, 2017: 51 e 52).<\/p>\n\n\n\n

Seguindo a assinatura do Tratado de Gandamak, o Raj Brit\u00e2nico procurou delimitar as fronteiras do territ\u00f3rio afeg\u00e3o, pois a seguran\u00e7a da \u00cdndia dependia da seguran\u00e7a do Afeganist\u00e3o. Desta forma, foi criada a Linha Durand, que delimitava a fronteira entre o Afeganist\u00e3o e o atual Paquist\u00e3o, na altura parte do Raj Brit\u00e2nico, cuja condi\u00e7\u00e3o geogr\u00e1fica era definida por dois imp\u00e9rios e um protetorado afeg\u00e3o entre eles (Regiani, 2015).<\/p>\n\n\n\n

Neste sentido, o \u201cGrande Jogo\u201d visava a ascens\u00e3o Imperial de uma das duas pot\u00eancias, que procuravam hegemonia territorial na regi\u00e3o (Edwards, 2003: 84).<\/p>\n\n\n\n

Este antagonismo entre S\u00e3o Petersburgo e Londres foi levado a um outro n\u00edvel, aquando da Revolu\u00e7\u00e3o Bolchevique Russa, de 1916, que se expandiu para a \u00c1sia Central e incorporou esses protetorados russos na URSS (Santos, 2017). Inicialmente, foi criada uma \u00fanica rep\u00fablica sovi\u00e9tica, chamada de Turquest\u00e3o, que, no entanto, foi contestada pelas minorias n\u00e3o turcas que l\u00e1 habitavam, levando ao desmembramento do Turquest\u00e3o e \u00e0 cria\u00e7\u00e3o das cinco rep\u00fablicas da \u00c1sia Central (Santos, 2017: 4).<\/p>\n\n\n\n

3.    Emerg\u00eancia de um \u201cNovo Grande Jogo\u201d<\/strong><\/p>\n\n\n\n

De acordo com Matthew Edwards (2003), com a queda da URSS, em 1991, emergiu o \u201cNovo Grande Jogo\u201d, que se tornou numa competi\u00e7\u00e3o pela influ\u00eancia, poder, hegemonia e lucros na \u00c1sia Central e no C\u00e1ucaso, de lembrar que ambas as regi\u00f5es s\u00e3o muito ricas em petr\u00f3leo. Por\u00e9m, desta vez, a R\u00fassia passou a adotar uma posi\u00e7\u00e3o geoestrat\u00e9gica defensiva, j\u00e1 que o Ocidente n\u00e3o lhe permitia criar estruturas na Eur\u00e1sia que lhe garantam a hegemonia (Edwards, 2003: 85).<\/p>\n\n\n\n

De uma forma geral, a R\u00fassia procura restabelecer a sua posi\u00e7\u00e3o privilegiada no espa\u00e7o p\u00f3s-Sovi\u00e9tico, j\u00e1 que os rec\u00e9m-estabelecidos Estados procuraram uma viragem geopol\u00edtica para o bloco ocidental, o que explica as sucessivas guerras que a R\u00fassia tem travado no C\u00e1ucaso (Edwards, 2003).<\/p>\n\n\n\n

No entanto, a situa\u00e7\u00e3o atual n\u00e3o implica s\u00f3 dois atores, no caso do chamado \u201cNovo Grande Jogo\u201d, existem muitos outros atores estatais, como o Paquist\u00e3o, a \u00cdndia, a China, a Turquia e o Ir\u00e3o. No que toca aos atores n\u00e3o-estatais, trata-se dos grandes cons\u00f3rcios multinacionais, que competem entre si pelos recursos abundantes.<\/p>\n\n\n\n

Velho Jogo, Novas regras?<\/em><\/strong><\/p>\n\n\n\n

De acordo com Stephen Blank (2012), o contexto competitivo na \u00c1sia Central \u00e9 formado por dois conjuntos de atores. Em primeiro lugar, est\u00e3o os atores externos, tais como outros pa\u00edses ou atores n\u00e3o-estatais. Em segundo, est\u00e3o os internos, que s\u00e3o as cinco antigas rep\u00fablicas sovi\u00e9ticas e os novos grandes atores regionais, tais como a \u00cdndia, o Paquist\u00e3o e a China.<\/p>\n\n\n\n

Neste sentido, enquanto que os atores externos entram numa competi\u00e7\u00e3o pelos recursos da regi\u00e3o, os atores internos acabam por determinar uma pol\u00edtica de \u00aboutsourcing\u00bb dos aspetos securit\u00e1rios das suas pol\u00edticas internas \u00e0s pot\u00eancias que os rodeiam, neste caso a R\u00fassia e a China (Blank, 2012: 149).<\/p>\n\n\n\n

No entanto, o que, na verdade, poder\u00e1 criar as condi\u00e7\u00f5es para o refor\u00e7o do \u201cNovo Grande Jogo\u201d, s\u00e3o as futuras mudan\u00e7as externas, a n\u00edvel estrat\u00e9gico, que ir\u00e3o fomentar uma balan\u00e7a de poder competitiva na regi\u00e3o. Assim, Blank (2012) define a sa\u00edda dos EUA do Afeganist\u00e3o, a emerg\u00eancia de atores como a China e da \u00cdndia e, por \u00faltimo, a possibilidade (e o consequente medo) da proje\u00e7\u00e3o da Primavera \u00c1rabe para a \u00c1sia Central como os principais fatores que poder\u00e3o criar um ambiente de maior competi\u00e7\u00e3o entre as pot\u00eancias envolvidas.<\/p>\n\n\n\n

Por\u00e9m, n\u00e3o s\u00f3 as din\u00e2micas externas poder\u00e3o levar a tal contexto. Atualmente j\u00e1 se pode observar uma competi\u00e7\u00e3o pelos recursos energ\u00e9ticos entre a R\u00fassia, a China, o Paquist\u00e3o, a \u00cdndia e o Ocidente, no entanto, s\u00e3o os dois primeiros que vivem um clima de rivalidade comercial pela regi\u00e3o, aliada por uma \u201cantipatia\u201d m\u00fatua face \u00e0 presen\u00e7a militar dos EUA e da OTAN no Afeganist\u00e3o (Blank, 2012).<\/p>\n\n\n\n

Desta forma, pode-se provar que as rela\u00e7\u00f5es desenvolvidas entre as pot\u00eancias globais, na conjuntura da \u00c1sia Central, de facto, criam condi\u00e7\u00f5es para a procria\u00e7\u00e3o do \u201cNovo Grande Jogo\u201d. E, apesar das diferentes formas em como se manifesta, este termo pode ser cunhado a esta realidade porque reafirma as novas formas de domina\u00e7\u00e3o imperialista e, neste \u00e2mbito, cria as suas novas din\u00e2micas, enfatizadas por Blank (2012). Vejamos. Em primeiro lugar, h\u00e1 competi\u00e7\u00e3o entre as superpot\u00eancias, mesmo em termos militares, uma vez que todos os pa\u00edses t\u00eam, ou j\u00e1 chegaram a ter acesso a, pelo menos, uma base militar na regi\u00e3o. Em segundo, existe a possibilidade de formula\u00e7\u00e3o de novas realidades que poder\u00e3o revitalizar um clima de tens\u00e3o. Terceiro, estamos a presenciar a emerg\u00eancia de novos atores internos, a n\u00edvel regional, como o Cazaquist\u00e3o e o Uzbequist\u00e3o, que, ao acumularem riquezas, catalisam-nas para projetar o seu poder nos outros pa\u00edses. Por fim, as institui\u00e7\u00f5es financeiras mundiais, como o FMI e o BM, para al\u00e9m das diferentes ONGs, conseguem assegurar um papel preponderante, atrav\u00e9s da sua atua\u00e7\u00e3o financeira e social no terreno (Blank, 2012: 155-156).<\/p>\n\n\n\n

A aplicabilidade do conceito \u00e9 v\u00e1lida?<\/em><\/strong><\/p>\n\n\n\n

De facto, conforme acima demonstrado, a \u00c1sia Central \u00e9 uma regi\u00e3o f\u00e9rtil, em conflitos em seu redor (Laruelle, 2015).<\/p>\n\n\n\n

No entanto, como Marlene Laruelle (2015) afirma, esses conflitos s\u00e3o desenrolados a n\u00edvel sem\u00e2ntico nos discursos pol\u00edticos, onde nem sempre t\u00eam capacidade para se materializarem. A principal met\u00e1fora utilizada para definir a estrat\u00e9gia pol\u00edtica das pot\u00eancias, face aos pa\u00edses da regi\u00e3o, \u00e9 a \u00abSilk Road\u00bb (Laruelle, 2015: 361). Assim, os pol\u00edticos tencionam reviver a ideia de que esta regi\u00e3o \u00e9 importante na defini\u00e7\u00e3o da pol\u00edtica internacional e que ocupa uma posi\u00e7\u00e3o central (Laruelle, 2015: 362). Por outro lado, a R\u00fassia decide adotar uma vis\u00e3o diferente na sua estrat\u00e9gia posicionando-se enquanto na\u00e7\u00e3o Eurasi\u00e1tica, o que lhe confere um plano importante na sua proje\u00e7\u00e3o para a \u00c1sia Central (Laruelle, 2015: 363).<\/p>\n\n\n\n

Neste sentido, uma an\u00e1lise feita por Rajan Menon (2003), indica que Washington n\u00e3o est\u00e1 empenhado, mas antes emprisionado na regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Primeiro, a aloca\u00e7\u00e3o estrat\u00e9gica das tropas estadunidenses nos pa\u00edses da \u00c1sia Central, como o Quirguist\u00e3o, ou o Tajiquist\u00e3o, \u00e9 um marco importante para a \u201cGuerra ao Terror\u201d, dando-lhe um car\u00e1ter tempor\u00e1rio (Menon, 2003).<\/p>\n\n\n\n

Segundo, aliado ao primeiro, o surgimento de grupos como a Al-Qaeda, depende de certas condi\u00e7\u00f5es econ\u00f3micas, pol\u00edticas, sociais e culturais, que s\u00f3 existem na regi\u00e3o em causa, da\u00ed a presen\u00e7a dos EUA (Menon, 2003).<\/p>\n\n\n\n

Em terceiro lugar, os regimes autocr\u00e1ticos dos pa\u00edses da \u00c1sia Central precisam de apoio, e, no caso dos EUA, a sua coopera\u00e7\u00e3o procura, principalmente, evitar conflitos de interesses (Menon, 2003).<\/p>\n\n\n\n

Por fim, e em menor grau, os EUA est\u00e3o numa posi\u00e7\u00e3o, em que uma sa\u00edda brusca das suas for\u00e7as, significaria a sua derrota e a insufici\u00eancia das suas capacidades para atingir os seus objetivos (Menon, 2003: 191).<\/p>\n\n\n\n

No que toca \u00e0 poss\u00edvel proje\u00e7\u00e3o da \u00cdndia e do Paquist\u00e3o para a regi\u00e3o, sem d\u00favida, ambos os pa\u00edses t\u00eam como interesse a explora\u00e7\u00e3o dos recursos na regi\u00e3o, por\u00e9m, um conflito entre os mesmos, que poder\u00e1 ascender a uma guerra nuclear \u00e9 j\u00e1 uma realidade, devido ao separatismo na regi\u00e3o de Kashmir, algo refor\u00e7ado pela maior aproxima\u00e7\u00e3o dos EUA face a Islamabad do que Nova Dehli (Menon, 2003: 195).<\/p>\n\n\n\n

No que concerne \u00e0s din\u00e2micas que os estados da \u00c1sia Central det\u00e9m com os atores pr\u00f3ximos (a China e a R\u00fassia), estas s\u00e3o delimitadas pelo conceito de \u00abProtective Integration\u00bb, avan\u00e7ado por Roy Allisson (2008). Este conceito expressa uma cultura de integra\u00e7\u00e3o, na qual se privilegiam mecanismos intragovernamentais a supranacionais.<\/p>\n\n\n\n

Neste sentido, surgem as CSTO (Collective Security Treaty Organization) e a SCO (Shanghai Cooperation Organization). Assim, a SCO, encabe\u00e7ada pela China, e que conta com a presen\u00e7a da R\u00fassia, \u00e9 uma forma de Pequim garantir um bilateralismo contextualizado com os pa\u00edses da \u00c1sia Central e a R\u00fassia, em mat\u00e9ria comercial (Allisson, 2018: 308).<\/p>\n\n\n\n

Por outro lado, o CSTO, encabe\u00e7ado por Moscovo, \u00e9 um mero \u00abclube\u00bb, cujos membros, igualmente \u00e0 SCO, cooperam bilateralmente, a n\u00edvel militar, com a R\u00fassia (Allisson, 2018: 308).<\/p>\n\n\n\n

Desta forma, Allisson (2008) defende que, atrav\u00e9s destes projetos, que advogam um regionalismo mais virtual do que substantivo, e que s\u00e3o sustentados s\u00f3 como forma de assegurar a seguran\u00e7a dos regimes autocr\u00e1ticos desses pa\u00edses, tornam a \u00c1sia Central num espa\u00e7o in\u00f3spito a projetos de integra\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Concluindo, a \u00c1sia Central n\u00e3o \u00e9 mais um ponto central na pol\u00edtica global, j\u00e1 que um ter\u00e7o do com\u00e9rcio mundial \u00e9 feito por mar, o que invalida a sua posi\u00e7\u00e3o estrat\u00e9gica, n\u00e3o rejeitando a sua import\u00e2ncia, noutras medidas (Laruelle, 2015: 369).<\/p>\n\n\n\n

Desta forma, segundo estes autores, torna-se inv\u00e1lido cunhar o termo de \u201cNovo Grande Jogo\u201d, como forma de explicar o contexto das rela\u00e7\u00f5es de poder, na \u00c1sia Central e no M\u00e9dio Oriente.<\/p>\n\n\n\n

4.    Conclus\u00e3o<\/strong><\/p>\n\n\n\n

O \u201cGrande Jogo\u201d do s\u00e9c. XIX foi, de facto um momento marcante na geopol\u00edtica do s\u00e9c. XIX, j\u00e1 que op\u00f4s duas pot\u00eancias, num conflito sobre a regi\u00e3o da \u00c1sia Central.<\/p>\n\n\n\n

Desta forma, e tendo em conta o contexto do p\u00f3s-Guerra Fria, no qual a competi\u00e7\u00e3o pela regi\u00e3o ganhou um novo \u00edmpeto, surgem autores, tais como Stephen Blank, que advogam a transposi\u00e7\u00e3o desse termo para a atualidade, chamando-lhe de \u201cNovo Grande Jogo\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Por\u00e9m, essa ideia n\u00e3o pode ser concetualizada, porque, tal como Matthew Edwards (2003) sugere, aquando da avalia\u00e7\u00e3o de variantes hist\u00f3ricas e atuais, tais como o Local, os Atores, os Objetivos e os Meios, s\u00f3 o local, delimitado pelo Leste da Bacia do C\u00e1spio e o Afeganist\u00e3o, confere analogia com o \u201cGrande Jogo\u201d do s\u00e9c. XIX. No que toca aos outros elementos, analisados ao longo deste trabalho, n\u00e3o se comprova assemelha\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Dito isto, com base no trabalho de Alexander Cooley (2012), n\u00e3o \u00e9 atual analisar as din\u00e2micas geopol\u00edticas na \u00c1sia Central, atrav\u00e9s do seu espelhamento com o \u201cGrande Jogo\u201d do s\u00e9c. XIX, uma vez que esta regi\u00e3o perdeu o seu centralismo e o mesmo pode ter sido dado por terminado, mesmo implicando que nem todos tiveram de morrer.<\/p>\n\n\n\n


\n\n\n\n

 Vitaliy Venislavskyy<\/strong><\/p>\n\n\n\n

EuroDefense Jovem<\/p>\n\n\n\n


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5.    Refer\u00eancias Bibliogr\u00e1ficas<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Allison, R. 2008. \u201cVirtual regionalism, regional structures and regime security in Central Asia.\u201d Central Asian Survey 27(2): 185-202.<\/p>\n\n\n\n

Allison, R. 2018. \u201cProtective Integration and Security Policy Coordination: Comparing the SCO and CSTO.\u201d The Chinese Journal of International Politics 11(3): 297\u2013338.<\/p>\n\n\n\n

Blank, S. 2012. \u201cWhither the New Great Game in Central Asia.\u201d Journal of Eurasian Studies 3: 147-160.<\/p>\n\n\n\n

Cooley, A. 2012. Great games, local rules: The new great power contest in Central Asia (Oxford UP), Chap. 1.<\/p>\n\n\n\n

Cummings, S. 2012. Understanding Central Asia. Routledge, Cap. 2.<\/p>\n\n\n\n

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NOTA<\/strong>:<\/mark><\/p>\n\n\n\n