{"id":7920,"date":"2022-04-12T19:04:25","date_gmt":"2022-04-12T19:04:25","guid":{"rendered":"https:\/\/eurodefense.pt\/?p=7920"},"modified":"2023-02-20T18:02:48","modified_gmt":"2023-02-20T18:02:48","slug":"os-estados-membros-da-nato-e-da-ue-a-russia-e-o-putinismo","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/eurodefense.pt\/os-estados-membros-da-nato-e-da-ue-a-russia-e-o-putinismo\/","title":{"rendered":"Os Estados-Membros da NATO e da UE, a R\u00fassia e o putinismo"},"content":{"rendered":"\n
Causas hist\u00f3ricas das perce\u00e7\u00f5es divergentes e os benef\u00edcios que trazem \u00e0 pol\u00edtica externa do Kremlin.<\/strong><\/p>\n\n\n\n Introdu\u00e7\u00e3o<\/strong><\/p>\n\n\n\n A minha aten\u00e7\u00e3o neste ensaio ser\u00e1, em grande parte, para explicar por que raz\u00e3o a R\u00fassia e, em especial, o regime “putinista”, s\u00e3o considerados uma amea\u00e7a para os estados ocidentais e da NATO.<\/p>\n\n\n\n Depois, tentarei esclarecer em que medida isso afeta tanto as rela\u00e7\u00f5es da R\u00fassia com estes pa\u00edses, como em que medida a hist\u00f3ria teve e influenciou a forma\u00e7\u00e3o deste pensamento. Termino com a consci\u00eancia de que as rela\u00e7\u00f5es entre o Ocidente e a R\u00fassia est\u00e3o a tornar-se cada vez mais problem\u00e1ticas e a atravessar uma fase de total desuni\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n I. As causas hist\u00f3ricas que explicam esta amea\u00e7a.<\/strong><\/p>\n\n\n\n Nas \u00faltimas tr\u00eas d\u00e9cadas, o sistema pol\u00edtico russo demonstrou a sua capacidade de sobreviv\u00eancia, apesar de se encontrar num avan\u00e7ado estado de decl\u00ednio. Este \u00e9 um sistema baseado num \u201c(…) poder personalizado, a ant\u00edtese de um Estado baseado no Estado de direito\u201d, bem como numa pol\u00edtica externa com ra\u00edzes sovi\u00e9ticas e imperiais da R\u00fassia.<\/p>\n\n\n\n Embora a R\u00fassia do s\u00e9culo XVIII se tenha caracterizado como sendo, em grande parte, como os outros pa\u00edses europeus, o liberalismo que estava a ter um papel cada vez mais importante no Ocidente n\u00e3o foi visto com bons olhos pelo czar reacion\u00e1rio, Nicolau I, mais concretamente quando se realizou a Revolu\u00e7\u00e3o de dezembro de 1825, na qual era necess\u00e1ria a forma\u00e7\u00e3o de um governo constitucional. Perante isto, o czar acabou por desistir de adotar as pol\u00edticas iluministas da Europa Ocidental, bem como tecnologias desenvolvidas na Revolu\u00e7\u00e3o Industrial, levando a R\u00fassia ao isolamento total. Al\u00e9m disso, havia tamb\u00e9m um sentimento de dever de prote\u00e7\u00e3o dos povos ortodoxos fora da R\u00fassia, conduzindo assim a uma extens\u00e3o da R\u00fassia \u00e0 Crimeia, uma atitude que levou a uma guerra entre a R\u00fassia, a Gr\u00e3-Bretanha, a Fran\u00e7a e o ent\u00e3o Imp\u00e9rio Otomano, que terminou com a sua derrota.<\/p>\n\n\n\n O czar Alexandre II, sucessor de Nicolau I, inverteu a ado\u00e7\u00e3o destas medidas \u201cliberalizando a economia, proporcionando o autogoverno ao n\u00edvel da aldeia, e lan\u00e7ando uma grande reforma judicial respeitando os ideais liberais\u201d<\/sup>. Ap\u00f3s a sua morte, \u201ca economia da R\u00fassia desenvolveu-se rapidamente, e come\u00e7ou a fechar o fosso existente entre si e o Ocidente nos anos anteriores \u00e0 Primeira Guerra Mundial e \u00e0 Revolu\u00e7\u00e3o Russa\u201d. No entanto, a sua estrutura pol\u00edtica continuou a refor\u00e7ar-se naquilo que tinham sido as medidas implementadas por Nicolau I, levando a maus resultados.<\/p>\n\n\n\n Ap\u00f3s a Guerra Fria, \u201ca R\u00fassia foi (estruturalmente) for\u00e7ada a navegar em reformas democr\u00e1ticas e de mercado enquanto geria a dissolu\u00e7\u00e3o do Imp\u00e9rio Sovi\u00e9tico\u201d, mas esta n\u00e3o foi a principal raz\u00e3o que levou \u00e0 mudan\u00e7a de regime, mas sim \u2013 as a\u00e7\u00f5es de Mikhail Gorbachev \u2013 o ent\u00e3o presidente da URSS. Entre elas estava a implementa\u00e7\u00e3o do glasnost <\/em>juntamente com a perestroika \u2014 <\/em>abertura pol\u00edtica \u2014 e uma \u201cliberdade individual como valor universal\u201d.<\/p>\n\n\n\n As decis\u00f5es tomadas pelo seu sucessor, Boris Ieltsin, formaram um conjunto de consequ\u00eancias – como a tentativa de deposi\u00e7\u00e3o comunista contra Gorbachev em 1991 e a Crise Constitucional de 1993 – que acabaram por minar consideravelmente a poss\u00edvel implementa\u00e7\u00e3o de um regime democr\u00e1tico na R\u00fassia, abrindo a porta a um iminente restabelecimento da autocracia.<\/p>\n\n\n\n Em dezembro de 1991, a Uni\u00e3o Sovi\u00e9tica entrou em colapso e a R\u00fassia tornou-se oficialmente uma democracia pela primeira vez na sua hist\u00f3ria. Para os EUA e para a Europa, este evento foi o ponto que faltava para a R\u00fassia se libertar do comunismo em que viveu durante d\u00e9cadas.<\/p>\n\n\n\n No entanto, este sentimento rapidamente se desmoronou, uma vez que alguns movimentos pol\u00edticos e sociais tomaram decis\u00f5es que \u201cprimeiro a empurraram para a democracia e depois para a autocracia\u201d tendo acontecido \u201cum dos retrocessos mais consequentes entre a terceira e quarta vagas de democratiza\u00e7\u00e3o\u201d. <\/em>Podemos dizer que este ambiente p\u00f3s-Guerra Fria juntamente com o \u201cfim da ideologia e linhas normativas difusas, criou a arena ideal para o jogo da R\u00fassia de enganar e fingir\u201d. Hoje, o regime adotou um autoritarismo feroz com o principal objetivo de ser o maior advers\u00e1rio do Ocidente e da NATO, no entanto, isso nem sempre foi assim, uma vez que ap\u00f3s a queda da Uni\u00e3o Sovi\u00e9tica, a R\u00fassia adotou um \u201cjogo de fantasia liberal\u201d, para que pudesse prolongar a sua vida, \u201cprimeiro, propondo-se a \u2018conter\u2019 essa civiliza\u00e7\u00e3o liberal e depois imitando a essa civiliza\u00e7\u00e3o, o que prova que o pr\u00f3prio potencial de durabilidade dos sistemas \u00e9 ligeiro\u201d.<\/p>\n\n\n\n II. Pol\u00edtica externa do Kremlin para o Ocidente: benef\u00edcios?<\/strong><\/p>\n\n\n\n Depois de 2010, a R\u00fassia passou por um per\u00edodo de mudan\u00e7a de estrat\u00e9gia em rela\u00e7\u00e3o ao seu comportamento, tanto em termos de pol\u00edtica interna como externa. De facto, os principais setores que foram mais afetados foram a sua mudan\u00e7a constitucional, a pandemia coronav\u00edrus e a queda dos pre\u00e7os do petr\u00f3leo.<\/p>\n\n\n\n Em primeiro lugar, esta nova abordagem abandonou a ideia b\u00e1sica de que a R\u00fassia deveria investir no seu desenvolvimento econ\u00f3mico, comercial e pol\u00edtico, a fim de crescer como pa\u00eds e como uma superpot\u00eancia. Moscovo adotou uma pol\u00edtica muito mais baseada na ideia de que este poder viria atrav\u00e9s do enfraquecimento dos seus inimigos geopol\u00edticos – como os EUA, a Europa, bem como os membros da NATO \u2013 \u201ce muito menos sobre uma auto-melhoria\u201d.<\/p>\n\n\n\n Para levar a cabo esta nova estrat\u00e9gia de a\u00e7\u00e3o, Moscovo come\u00e7ou a investir muito mais na dissemina\u00e7\u00e3o da desinforma\u00e7\u00e3o atrav\u00e9s das redes sociais e meios de comunica\u00e7\u00e3o social, bem como na divulga\u00e7\u00e3o da propaganda governamental, \u201capoiando e financiando todo o tipo de partidos pol\u00edticos de extrema-esquerda e direita (…) simplesmente em apoio ao incentivo aocaos pol\u00edtico\u201d. O objetivo \u00e9 afastar os pa\u00edses, econ\u00f3mica e diplomaticamente, \u2013 como a Hungria e a Turquia \u2013 do Ocidente e da NATO, para que possam ficar do lado da R\u00fassia, enfraquecendo assim o mundo ocidental. Mas estes n\u00e3o s\u00e3o os \u00fanicos pa\u00edses em que Moscovo tem vindo a utilizar esta nova estrat\u00e9gia. Um deles, poss\u00edvel candidato \u00e0 integra\u00e7\u00e3o na Uni\u00e3o Europeia, \u00e9 a S\u00e9rvia, que \u201canunciou a abertura de um gabinete de liga\u00e7\u00e3o militar russo no seu Minist\u00e9rio da Defesa\u201d. Tamb\u00e9m a Rep\u00fablica Centro-Africana tem recebido ajuda militar russa que \u201cfornece mercen\u00e1rios e um conselheiro de seguran\u00e7a de topo ao Presidente do pa\u00eds\u201d. A L\u00edbia, a S\u00edria, os pa\u00edses do Golfo, o Egito, Israel e membros da Parceria Oriental, t\u00eam igualmente recebido apoio por parte do Kremlin.<\/p>\n\n\n\n \u00c9 importante compreender por que raz\u00e3o a R\u00fassia optou por adotar esta forma de lidar com o Ocidente e a NATO, atrav\u00e9s da an\u00e1lise da pol\u00edtica externa implementada pelo seu Presidente \u2013 Vladimir Putin \u2013 baseada em tr\u00eas pontos-chave. A primeira ideia a manter \u00e9 que a R\u00fassia est\u00e1 a levar a cabo uma \u201crevolu\u00e7\u00e3o conservadora no seu pa\u00eds\u201d, que pode ter consequ\u00eancias no seu comportamento em mat\u00e9ria de pol\u00edtica externa, e que poder\u00e1 adotar uma mentalidade vingativa que afetar\u00e1 a ordem internacional, se isto ajudar a salvaguardar o seu status quo interno. <\/em>Para o conseguir, e para que a conten\u00e7\u00e3o do Ocidente se realize com sucesso, o Kremlin pode vir a realizar a constru\u00e7\u00e3o \u201cde uma Internacional Anti-Ocidental\u201d \u2013 semelhante ao que fez durante a ditadura do Proletariado com a cria\u00e7\u00e3o da Internacional Comunista.<\/p>\n\n\n\n Decisivamente, o ponto mais importante a ter em conta da pol\u00edtica externa do Kremlin \u00e9 que assume que os seus interesses s\u00e3o mais bem retratados e s\u00f3 podem atingir os objetivos desejados atrav\u00e9s de um Ocidente fragmentado. Da seguinte forma, \u201ca R\u00fassia pressionar\u00e1 para abandonar a ordem internacional p\u00f3s-guerra fria, liberal e baseada em regras … em favor de uma ordem p\u00f3s-ocidental … com China, R\u00fassia e EUA dividindo o mundo em esferas de influ\u00eancia\u201d.<\/p>\n\n\n\n Uma coisa \u00e9 certa, o Kremlin tem vindo a abdicar da sua pol\u00edtica interna, que j\u00e1 n\u00e3o \u00e9 forte e est\u00e1vel, em benef\u00edcio da sua pol\u00edtica externa e da sua vontade de \u2018derrotar\u2019 o Ocidente<\/p>\n\n\n\n \u2013 \u201conde a sua lideran\u00e7a tem subordinado os recursos e a economia do pa\u00eds, a pol\u00edtica externa e objetivos militares em grandes partes do mundo\u201d. \u00c9 verdade que tem desempenhado um papel melhor a este respeito do que a URSS, no entanto, \u201ctem vindo a expandir-se demasiado e a uma taxa bastante r\u00e1pida\u201d.<\/p>\n\n\n\n O principal objetivo tra\u00e7ado por Vladimir Putin \u00e9 denegrir os pa\u00edses do Ocidente, bem como a NATO, mas principalmente a democracia ocidental, para que n\u00e3o ganhe popularidade entre os cidad\u00e3os russos em detrimento do regime defendido por Putin. Esta preocupa\u00e7\u00e3o deve- se ao facto de existir um \u201ctrauma relacionado com a queda da Uni\u00e3o Sovi\u00e9tica e as consequ\u00eancias que trouxe para a R\u00fassia, juntamente com uma narrativa de queixas sobre a forma como os EUA e o Ocidente reagiram\u201d, mas tamb\u00e9m porque h\u00e1 inseguran\u00e7a sobre os pa\u00edses do Ocidente e da China, promovida pela instabilidade pol\u00edtica e econ\u00f3mica que caracteriza a R\u00fassia como um pa\u00eds, que acaba por \u201clevar \u00e0 agress\u00e3o externa para manter esse inimigo percebido afastado e proteger a sua sistema limitando a penetra\u00e7\u00e3o de ideias e valores ocidentais que poderiam provocar desafios ao regime\u201d.<\/p>\n\n\n\n A R\u00fassia sempre pensou e continua a pensar que a pol\u00edtica externa que adotou tem sido bastante boa. No entanto, embora Moscovo tenha recebido resultados positivos da sua a\u00e7\u00e3o, isto n\u00e3o impediu o Ocidente de responder da mesma forma. No final, \u00e9 nomeado como sendo \u201cuma cleptocracia autorit\u00e1ria estagnada liderada por um presidente-para-vida que iniciou uma guerra contra os seus vizinhos, assassina opositores dentro e fora da R\u00fassia, interfere nas elei\u00e7\u00f5es americanas e europeias, e geralmente parece agir como um spoiler anti-EUA cada oportunidade\u201d.<\/p>\n\n\n\n III. A R\u00fassia e o Ocidente: Quais s\u00e3o as melhores op\u00e7\u00f5es para ambos?<\/strong><\/p>\n\n\n\n Ap\u00f3s a queda da Uni\u00e3o Sovi\u00e9tica em 1991, o principal objetivo dos EUA e da UE era ajudar a R\u00fassia a desenvolver-se a n\u00edvel econ\u00f3mico e pol\u00edtico, dando-lhe tudo o que precisava para se tornar um ator pol\u00edtico forte, com at\u00e9 \u201cuma parceria para a moderniza\u00e7\u00e3o\u201d.<\/p>\n\n\n\n No entanto, na \u00faltima d\u00e9cada \u2013 desde o fim da \u201cguerra na Ge\u00f3rgia em 2008 e do \u2018reset\u2019 obama-Clinton de 2009\u201d, \u2013 a R\u00fassia tem estado no centro da agenda pol\u00edtica do Ocidente, e o debate entre a Europa e os Estados Unidos da Am\u00e9rica tem-se centrado na da quest\u00e3o saber se \u00e9 realmente digno de resumir as rela\u00e7\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n No entanto, a invas\u00e3o e anexa\u00e7\u00e3o da Crimeia pela R\u00fassia em 2014 p\u00f4s fim a esta estrat\u00e9gia de ajuda do Ocidente, eficaz atrav\u00e9s da introdu\u00e7\u00e3o de san\u00e7\u00f5es \u00e0 R\u00fassia pelos EUA e pela UE \u2013 como o isolamento diplom\u00e1tico. Estas san\u00e7\u00f5es acabam por conduzir, embora sem querer, a um enfraquecimento da R\u00fassia que se viu sem meios de desenvolver economicamente e sem dinheiro para investir em materiais militares e seus aliados.<\/p>\n\n\n\n Ap\u00f3s este acontecimento, as rela\u00e7\u00f5es entre o Ocidente e o Kremlin ficaram muito comprometidas e ambos os blocos, ao tentarem enfraquecer-se mutuamente, acabaram por ter o efeito de auto-enfraquecimento \u2013 que se concretizou com a ascens\u00e3o dos movimentos populistas na Europa e nos EUA, que \u201ctem feito enormes estragos na credibilidade e na capacidade de pol\u00edtica externa do Ocidente.<\/p>\n\n\n\n Quando Joe Biden foi nomeado novo presidente dos Estados Unidos da Am\u00e9rica, a R\u00fassia voltou a ser tema de conversa entre os EUA e os seus aliados europeus sobre a forma como devem lidar com este pa\u00eds. O que se pode ver \u00e9 que se a R\u00fassia n\u00e3o mostrar que tamb\u00e9m est\u00e1 disposta a cooperar com o Ocidente, ou que est\u00e1 numa posi\u00e7\u00e3o de tal fragilidade que a sua \u00fanica op\u00e7\u00e3o \u00e9 virar-se para o este \u2013 algo muito, pelo menos improv\u00e1vel por enquanto \u2013 a sua estrat\u00e9gia de \u2018enfraquecimento m\u00fatuo\u2019 continuar\u00e1, durante a Administra\u00e7\u00e3o de Biden e muito provavelmente mais al\u00e9m.<\/p>\n\n\n\n Do ponto de vista ocidental, todos os compromissos e tentativas de reconectar as liga\u00e7\u00f5es com a R\u00fassia n\u00e3o trouxeram grandes vantagens. Tiveram lugar \u201cm\u00faltiplas ofertas de reset, o congelamento dos alargamentos \u00e0 Ucr\u00e2nia e \u00e0 Ge\u00f3rgia \u00e0 NATO, o rep\u00fadio de d\u00e9cadas de \u2018interven\u00e7\u00f5es humanit\u00e1rias\u2019 como guia da pol\u00edtica, e o abrandamento das pol\u00edticas de promo\u00e7\u00e3o dos direitos humanos sob a presid\u00eancia de Obama e Trump n\u00e3o melhoraram as rela\u00e7\u00f5es com a R\u00fassia\u201d.<\/p>\n\n\n\n As rela\u00e7\u00f5es entre a R\u00fassia e a Europa n\u00e3o s\u00e3o, de facto, as melhores, mas as suas rela\u00e7\u00f5es com os Estados Unidos da Am\u00e9rica \u2013 durante as administra\u00e7\u00f5es de Clinton, Bush, Obama, Trump e agora Biden \u2013 podem ser consideradas mais problem\u00e1ticas e semelhantes \u00e0s rela\u00e7\u00f5es de ambos os pa\u00edses durante os \u00faltimos anos da Uni\u00e3o Sovi\u00e9tica, liderada por Brezhnev, e o primeiro mandato da administra\u00e7\u00e3o Reagan nos EUA.<\/p>\n\n\n\n O Kremlin, do outro lado, \u201cespera que o Ocidente conceda \u00e0 R\u00fassia uma m\u00e3o livre na \u2018sua\u2019 metade da Europa, e que olhe para o outro lado quando procurar privar os seus antigos vizinhos \u2013 e os seus pr\u00f3prios cidad\u00e3os \u2013 do direito de tra\u00e7arem o seu pr\u00f3prio futuro\u201d. Isto n\u00e3o ajuda numa poss\u00edvel conversa entre estes dois blocos pol\u00edticos.<\/p>\n\n\n\n Al\u00e9m disso, a R\u00fassia de Putin continua e continuar\u00e1 at\u00e9 ao final do seu mandato (que terminar\u00e1 em 2036), focando-se, como a URSS, no uso da for\u00e7a e coa\u00e7\u00e3o para fazer prevalecer os seus interesses nas suas rela\u00e7\u00f5es com os seus vizinhos, e apresentar o Ocidente como uma for\u00e7a pol\u00edtica hostil. Este discurso instigado pela R\u00fassia \u00e9 a raz\u00e3o exata que levou \u00e0 degrada\u00e7\u00e3o da rela\u00e7\u00e3o EUA\/Ocidente-R\u00fassia, e n\u00e3o exatamente aos erros pol\u00edticos e estrat\u00e9gicos cometidos por estas duas pot\u00eancias pol\u00edticas em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 R\u00fassia.<\/p>\n\n\n\n Moscovo tem a possibilidade de mudar de abordagem, uma vez que esta mudan\u00e7a de paradigma n\u00e3o era inevit\u00e1vel \u2014 \u201cUma R\u00fassia menos autorit\u00e1ria em casa, mais construtiva no exterior, e menos hostil ao Ocidente e aos seus valores, n\u00e3o \u00e9 de forma alguma inevit\u00e1vel (…) e \u00e9 poss\u00edvel\u201d.<\/p>\n\n\n\n Desta forma, o Ocidente precisa de estar preparado para a possibilidade de uma nova R\u00fassia emergir no futuro, sempre com a ideia de que “se os ucranianos e os bielorrussos est\u00e3o prontos a arriscar as suas vidas em nome da democracia e da justi\u00e7a em casa, ent\u00e3o parece estranho argumentar que os russos s\u00e3o, e sempre ser\u00e3o, felizes a viver sob o um poder autorit\u00e1rio\u201d.<\/p>\n\n\n\n Conclus\u00e3o<\/strong><\/p>\n\n\n\n No fim de contas, h\u00e1 que considerar que a R\u00fassia est\u00e1 atualmente numa posi\u00e7\u00e3o em que a sua pol\u00edtica externa tem dificultado em grande parte a possibilidade de di\u00e1logo e de boas rela\u00e7\u00f5es diplom\u00e1ticas com os pa\u00edses membros do Ocidente e da NATO.<\/p>\n\n\n\n Por um lado, porque tem vindo a patrocinar cada vez mais a ascens\u00e3o do populismo \u2013 como na Bielorr\u00fassia, na Turquia e na Hungria. Por outro lado, a R\u00fassia tem usado ciberataques como forma de agir de dentro para fora, tendo acesso \u00e0 informa\u00e7\u00e3o que usa a seu favor, como aconteceu durante as elei\u00e7\u00f5es de 2020 nos EUA, nas quais se soube que a R\u00fassia interferiu, durante o per\u00edodo de campanha e no processo eleitoral, para que Donald Trump voltasse a ser eleito presidente dos Estados Unidos. Al\u00e9m disso, a revis\u00e3o constitucional iniciada por Putin em janeiro de 2020, levou a uma enorme descida dos pre\u00e7os do petr\u00f3leo, a par da crise provocada pela pandemia Covid-19. Finalmente, tem havido alguma converg\u00eancia geoestrat\u00e9gica e geopol\u00edtica com a China, a superpot\u00eancia emergente do s\u00e9culo XXI. Tudo isto teve um enorme impacto em duas das mais importantes esferas pol\u00edticas \u2013 \u201clegitimidade e soberania, com o Kremlin a sofrer danos em ambas as acusa\u00e7\u00f5es\u201d.<\/p>\n\n\n\n Como diz o ex-Presidente da URSS Mikhail Gorbachev no seu mais recente livro \u2013 What Is On Stake Now: My Appeal for Freedom and Peace <\/em>\u2013 \u00e9 necess\u00e1rio para \u201c(…) os l\u00edderes pol\u00edticos do Ocidente reconhecer que restabelecer a confian\u00e7a entre a R\u00fassia e o Ocidente requer a coragem de uma verdadeira lideran\u00e7a e um compromisso com um di\u00e1logo e compreens\u00e3o genu\u00ednos de ambos os lados\u201d.<\/p>\n\n\n\n 12 de abril de 2022<\/p>\n\n\n\n Catarina Abreu de Pinho<\/strong><\/p>\n\n\n\n EuroDefense Jovem-Portugal<\/em><\/p>\n\n\n\n Bibliografia:<\/strong><\/p>\n\n\n\n Popescu, Nicu. “Como a R\u00fassia e o Ocidente tentam enfraquecer-se uns aos outros”. Conselho Europeu de Rela\u00e7\u00f5es Exteriores. <\/em>22 de janeiro de 2021. https:\/\/ecfr.eu\/article\/how-russia-and-the-west-try-to-weaken-each-other\/<\/span><\/a>.<\/span><\/p>\n\n\n\n Shevtsova, Lilia. “O Ressurgimento Autorit\u00e1rio: Avan\u00e7ar para o Passado na R\u00fassia”. Jornal da Democracia <\/em>26, n\u00ba 2 (abril 2015): 22-37. https:\/\/www.journalofdemocracy.org\/articles\/the-authoritarian-resurgence-forward-to-the-past-in-russia\/<\/span><\/a>.<\/p>\n\n\n\n McFaul, Michael. “Russia’s Road to Autocracy”. Jornal da Democracia <\/em>32, n\u00ba 4 (outubro 2021): 11-26. https:\/\/www.journalofdemocracy.org\/articles\/russias-road-to-autocracy\/<\/span><\/a>.<\/span><\/p>\n\n\n\n Steil, Benn. “O confronto da R\u00fassia com o Ocidente \u00e9 sobre geografia, n\u00e3o ideologia”. Pol\u00edtica Externa. <\/em>12 de fevereiro de 2019. https:\/\/foreignpolicy.com\/2018\/02\/12\/russias-clash-with-the-west-is-about-geography-not-ideology\/<\/span><\/a>.<\/p>\n\n\n\n NOTA<\/strong>:<\/mark><\/p>\n\n\n\n Causas hist\u00f3ricas das perce\u00e7\u00f5es divergentes e os benef\u00edcios que trazem \u00e0 pol\u00edtica externa do Kremlin. Introdu\u00e7\u00e3o A minha aten\u00e7\u00e3o neste ensaio ser\u00e1, em grande parte, para explicar por que raz\u00e3o a R\u00fassia e, em especial, o regime “putinista”, s\u00e3o considerados uma amea\u00e7a para os estados ocidentais e da NATO. Depois, tentarei esclarecer em que medida… Os Estados-Membros da NATO e da UE, a R\u00fassia e o putinismo<\/span><\/a><\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":7921,"comment_status":"closed","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"neve_meta_sidebar":"","neve_meta_container":"","neve_meta_enable_content_width":"","neve_meta_content_width":0,"neve_meta_title_alignment":"","neve_meta_author_avatar":"","neve_post_elements_order":"","neve_meta_disable_header":"","neve_meta_disable_footer":"","neve_meta_disable_title":"","footnotes":""},"categories":[25],"tags":[],"class_list":["post-7920","post","type-post","status-publish","format-standard","has-post-thumbnail","hentry","category-reflexoes-edj"],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/7920","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=7920"}],"version-history":[{"count":5,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/7920\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":7970,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/7920\/revisions\/7970"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/media\/7921"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=7920"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=7920"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=7920"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}
\n\n\n\n
\n\n\n\n
\n\n\n\n\n