{"id":7946,"date":"2022-04-21T19:01:30","date_gmt":"2022-04-21T19:01:30","guid":{"rendered":"https:\/\/eurodefense.pt\/?p=7946"},"modified":"2023-02-20T18:02:46","modified_gmt":"2023-02-20T18:02:46","slug":"o-paradoxo-da-paz-nuclear","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/eurodefense.pt\/o-paradoxo-da-paz-nuclear\/","title":{"rendered":"O Paradoxo da Paz Nuclear"},"content":{"rendered":"\n
1. Estado de Arte<\/strong><\/p>\n\n\n\n Quando paramos para ponderar se armas nucleares contribuem ou n\u00e3o para a paz mundial encaramos uma s\u00e9rie de dicotomias: desde o cl\u00e1ssico \u201csim\u201d versus \u201cn\u00e3o\u201d, \u00e0 colis\u00e3o entre discursos estat\u00edsticos e discursos moralistas, ao incontorn\u00e1vel debate entre Waltz e Sagan. Contudo, o que grande parte das abordagens falham em entender \u00e9 que a vida raramente se pinta a preto e branco, mas sim em tons de cinzento. O que eu pretendo alcan\u00e7ar neste ensaio \u00e9 p\u00f4r em evid\u00eancia as nuances e concluir que a resposta correta a esta pergunta n\u00e3o \u00e9 nem \u201csim\u201d nem \u201cn\u00e3o\u201d, mas antes \u201csim e n\u00e3o\u201d.<\/p>\n\n\n\n Depois da dita \u201cWar to end all wars\u201d, deu-se a segunda guerra mundial. Na segunda metade do s\u00e9culo passado viveu-se uma rivalidade tit\u00e2nica entre duas superpot\u00eancias, culminando na dissolu\u00e7\u00e3o de uma, movimentos de descoloniza\u00e7\u00e3o, crescimento c\u00e9lere de novas pot\u00eancias e um avan\u00e7o tecnol\u00f3gico sem precedentes (Sagan e Waltz, 1995).<\/p>\n\n\n\n Apesar do mundo n\u00e3o ter sido estranho a alta instabilidade pol\u00edtica e econ\u00f3mica desde a segunda grande guerra, foi estranho a terceira edi\u00e7\u00e3o do conflito. Porqu\u00ea? Brown e Langer (2004) fizeram o reparo de que conflito \u00e9 normal, ub\u00edquo e inevit\u00e1vel, sendo inerente \u00e0 exist\u00eancia humana e estando presente em qualquer sociedade. Na sociedade internacional distinguindo-se tr\u00eas tipos de conflito: Internacionais; \u00c9tnicos; e Civis. Por\u00e9m, a tend\u00eancia nas passadas d\u00e9cadas \u00e9 de uma diminui\u00e7\u00e3o geral, apesar de se registar uma subida na quantidade de conflitos \u00e9tnicos e civis.<\/p>\n\n\n\n Portanto, porqu\u00ea a queda vertiginosa em conflitos internacionais? V\u00e1rios te\u00f3ricos, otimistas quanto \u00e0 prolifera\u00e7\u00e3o, apontam os holofotes para armas nucleares (AN). Contudo, torna-se prudente analisarmos as diferentes abordagens de pensadores c\u00e9ticos, para darmos mais profundidade a esta an\u00e1lise.<\/p>\n\n\n\n Pessimistas quanto \u00e0 prolifera\u00e7\u00e3o, como Sagan, argumentam que mesmo que as AN estejam a prevenir uma terceira guerra mundial, n\u00e3o deixa de haver perigos como acidentes, erros humanos, ou a possibilidade de organiza\u00e7\u00f5es terroristas se apoderarem das mesmas (Sagan e Waltz, 1995). Por\u00e9m esta l\u00f3gica prende-se mais com os riscos associados \u00e0 gest\u00e3o de AN e n\u00e3o tanto com a efic\u00e1cia das mesmas como meio de preven\u00e7\u00e3o da guerra.<\/p>\n\n\n\n Cr\u00edticos morais, como Falk (2019), argumentam que AN \u00e9 um recurso b\u00e9lico imoral pelo perigo indiscut\u00edvel que representam para civis e para a humanidade. N\u00e3o obstante, tamb\u00e9m n\u00e3o se dirige \u00e0 capacidade de preven\u00e7\u00e3o de uma guerra mundial.<\/p>\n\n\n\n Pensadores mais transigentes, como Kapur (2009), abordam o paradoxo estabilidade\/instabilidade, argumentando que embora AN promovam a paz entre estados nuclearizados (EN) e previnam a ocorr\u00eancia de grandes guerras, aumentam tamb\u00e9m a probabilidade de ocorr\u00eancia de pequenas guerras e proxies; ou seja, como EN sabem que utilizar AN seria suic\u00eddio, e sabem que os demais EN tamb\u00e9m o sabem, todos sabem que existe um limiar acima do qual ningu\u00e9m avan\u00e7ar\u00e1, assim sendo, cria-se uma \u201czona de conforto\u201d perme\u00e1vel \u00e0 ocorr\u00eancia de conflitos que n\u00e3o majorem o limiar. De qualquer forma, n\u00e3o nega a utilidade de NA na promo\u00e7\u00e3o da paz.<\/p>\n\n\n\n Pensadores liberais, como Vasques (2012), argumentam que n\u00e3o s\u00e3o as AN que t\u00eam promovido a paz desde a segunda guerra mundial, mas sim o novo zeitgeist que dela nasceu, um mundo mais globalizado, interdependente, estruturado e constru\u00eddo sobre normas e curvas de aprendizagem. Todavia, esta argumenta\u00e7\u00e3o n\u00e3o \u00e9 mutuamente exclusiva ao contributo que AN teve at\u00e9 agora em prevenir uma terceira grande guerra.<\/p>\n\n\n\n Num estudo quantitativo feito por Rauchhaus (2009), analisaram-se tr\u00eas bin\u00f3mios – um sim\u00e9trico, ambos sendo EN; um assim\u00e9trico, entre um EN e um estado n\u00e3o-nuclearizado (ENN); e outro sim\u00e9trico, ambos sendo ENN \u2013 sob oito vari\u00e1veis: contiguidade de fronteiras; dist\u00e2ncia; hard power; filia\u00e7\u00e3o a alian\u00e7as; estatuto de Grande Pot\u00eancia (GP); democracia; economia\/interdepend\u00eancia; filia\u00e7\u00e3o a organiza\u00e7\u00f5es internacionais (OIs).<\/p>\n\n\n\n Os resultados foram mistos, dando uma fatia do bolo da raz\u00e3o a cada corrente te\u00f3rica. Se por um lado Waltz tem raz\u00e3o quanto a EN evitarem grandes conflitos, posteriormente prevenindo uma terceira guerra mundial, por outro, c\u00e9ticos tamb\u00e9m t\u00eam quanto \u00e0 maior probabilidade de guerras de menor escala, em particular entre bin\u00f3mios assim\u00e9tricos devido \u00e0 desproporcionalidade de poder.<\/p>\n\n\n\n Realmente resta-nos um dilema do trolly sobre guerra justa: ser\u00e1 que o dano resultante de guerras de menor escala compensam evitar a devasta\u00e7\u00e3o de uma terceira guerra mundial? O argumento teleol\u00f3gico baseia-se na utilidade do maior n\u00famero de pessoas, portanto sim. O argumento deontol\u00f3gico defende que mesmo que mais pessoas possam vir a morrer numa grande guerra, s\u00e3o soldados que morrer\u00e3o, estando pelo menos em conformidade com a humaniza\u00e7\u00e3o da guerra da Conven\u00e7\u00e3o de Genebra.<\/p>\n\n\n\n 2. Tratado de N\u00e3o – Prolifera\u00e7\u00e3o de Armas Nucleares<\/strong><\/p>\n\n\n\n Por\u00e9m, no \u00e2mbito de darmos mais profundidade a esta an\u00e1lise, vamos explorar a argumenta\u00e7\u00e3o deontol\u00f3gica e a sua complac\u00eancia no que concerne a conven\u00e7\u00f5es e tratados. Para tal, colocaremos em evid\u00eancia a pedra-angular (em termos normativos internacionais) dos apologistas do desarmamento nuclear: o Tratado de N\u00e3o-Prolifera\u00e7\u00e3o de Armas Nucleares (TNP).<\/p>\n\n\n\n Os principais argumentos otimistas quanto \u00e0 efic\u00e1cia do TNP s\u00e3o: atrav\u00e9s da press\u00e3o de socializa\u00e7\u00e3o normativa, o TNP criou uma consci\u00eancia coletiva internacional de que AN \u201cs\u00e3o m\u00e1s\u201d, existindo maior benef\u00edcio em evit\u00e1-las do que em adquiri-las; o TNP tem prevenido que mais Estados se nuclearizassem; e, a relev\u00e2ncia do TNP \u00e9 real\u00e7ado pelo facto de ser o tratado mais universal.<\/p>\n\n\n\n Masala (2014) argumenta que, apesar de ser indiscut\u00edvel, dados os mais de 180 membros do TNP, ser o tratado mais universal nas rela\u00e7\u00f5es internacionais (RI), juntar-se ao TNP n\u00e3o justifica a motiva\u00e7\u00e3o para Estados adquirirem ou deixarem de adquirir a AN. N\u00e3o se pode analisar a decis\u00e3o de adquirir ou n\u00e3o AN sem considerar os custos inerentes. Assinar o TNP sem a capacidade de se nuclearizar \u00e9 pol\u00edtica simb\u00f3lica, assim, n\u00e3o se pode concluir que a decis\u00e3o resultou do TNP.<\/p>\n\n\n\n Mesmo os que se juntaram ao TNP com a capacidade financeira e tecnol\u00f3gica para se nuclearizar poder\u00e3o ter-se abstido de nucleariza\u00e7\u00e3o, n\u00e3o pelas obriga\u00e7\u00f5es morais e legais do tratado, mas por se fiarem na prote\u00e7\u00e3o cred\u00edvel de uma c\u00fapula nuclear. Outros poder\u00e3o nem sentir a necessidade de prote\u00e7\u00e3o nuclear dado o seu ambiente geoestrat\u00e9gico n\u00e3o despertar necessidade ou desejo. Outros poder\u00e3o ter-se juntado para mascarar as suas ambi\u00e7\u00f5es nucleares, sendo que aderir ao TNP possibilita acesso a tecnologia nuclear que facilita a nucleariza\u00e7\u00e3o, para al\u00e9m de que, tomando Israel como exemplo, aderir \u00e0 Ag\u00eancia Internacional da Energia At\u00f3mica suaviza as normas de inspe\u00e7\u00e3o em compara\u00e7\u00e3o com a n\u00e3o ades\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n Mesmo a cessa\u00e7\u00e3o dos programas ou posse de AN dos que outrora procuraram aquisi\u00e7\u00e3o, mas desistiram, nada teve a ver com o TNP: \u00e0s ex-Rep\u00fablicas Sovi\u00e9ticas foi oferecido apoio financeiro em troca das reservas nucleares; ao Brasil, assist\u00eancia t\u00e9cnica; os EUA deixaram de apoiar as aspira\u00e7\u00f5es a Pot\u00eancia Nuclear de \u00c1frica do Sul; e \u00e0 L\u00edbia foi oferecida o fim do isolamento internacional e algumas promessas securit\u00e1rias.<\/p>\n\n\n\n Construtivistas argumentam baseando-se na press\u00e3o da socializa\u00e7\u00e3o normativa. Contudo, v\u00e1rios Estados t\u00eam v\u00e1rias motiva\u00e7\u00f5es instrumentais na ades\u00e3o ao TNP. Assim, n\u00e3o se poder\u00e1 dizer que o TNP, como regime, tenha diretamente influenciado a absten\u00e7\u00e3o dos Estados. Na verdade, o passado sucesso da n\u00e3o-prolifera\u00e7\u00e3o \u00e9 atribu\u00eddo \u00e0 converg\u00eancia de interesses das duas superpot\u00eancias nucleares da guerra fria. Na passagem para a ordem unipolar, a gest\u00e3o da ordem nuclear recaiu sobre os EUA, que agora (e especialmente ap\u00f3s a rotulagem de \u201crogue states\u201d se introduzir na ret\u00f3rica americana) eram percecionados como amea\u00e7a \u00e0 soberania de alguns estados. Acresce que outras pot\u00eancias nucleares n\u00e3o partilham a vis\u00e3o de n\u00e3o-prolifera\u00e7\u00e3o americana, interpretando a prolifera\u00e7\u00e3o como instrumental no contrapeso \u00e0 unipolaridade, observando-se iniciativas comerciais Russas para com o Ir\u00e3o, \u00cdndia e China, e assist\u00eancia tecnol\u00f3gica Chinesa ao Paquist\u00e3o e ao Ir\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n 3. Car\u00e1cter simb\u00f3lico das Armas Nucleares<\/strong><\/p>\n\n\n\n Tendo-se abordado o car\u00e1ter simb\u00f3lico de conven\u00e7\u00f5es e tratados, aprofundaremos este ensaio na dire\u00e7\u00e3o do car\u00e1ter simb\u00f3lico das AN.<\/p>\n\n\n\n Frey (2006) nota que AN como s\u00edmbolos de poder s\u00e3o, tecnicamente, heran\u00e7a do TNP, que preserva o estatuto e poder dos ent\u00e3o cinco EN. O tabu do \u201cEN Respons\u00e1vel\u201d gerou o \u201cmito nuclear\u201d que indexa a posse de AN ao \u201cderradeiro estatuto de GP\u201d. Estados que desde ent\u00e3o sentem que existe um desequil\u00edbrio entre o seu poder e a sua posi\u00e7\u00e3o no SI desenvolveram dois desejos – imunidade (relativa a soberania com maior margem de autonomia) e prest\u00edgio \u2013 alcan\u00e7\u00e1veis atrav\u00e9s de AN.<\/p>\n\n\n\n Por\u00e9m com apenas nove EN, porqu\u00ea t\u00e3o pouca ader\u00eancia ao \u201cmito\u201d? Frey (2006) conclui que tudo se resume \u00e0 psicologia normativa das AN. Utilizando o Modelo de Conce\u00e7\u00e3o Identit\u00e1ria Nacional (MCIN), a disposi\u00e7\u00e3o normativa que Estados adotam quanto a AN est\u00e1 enraizada na identidade societal, da\u00ed que a prolifera\u00e7\u00e3o Francesa, Brit\u00e2nica e Chinesa tenha estagnado, enquanto a Russa e Americana tenha diminu\u00eddo (ainda que pouco significativamente). Ao passo que Estados que se sentem privados do seu devido lugar \u00e0 mesa n\u00e3o tenham olhado a meios para tal. Este mesmo desejo de igualar\/superar o antagonista pode tamb\u00e9m levar a comportamentos opostos, levando um ENN a permanecer ENN para ter superioridade moral, como no caso Sul-Coreano.<\/p>\n\n\n\n O MCIN de Frey, real\u00e7a a import\u00e2ncia do estudo das v\u00e1rias doutrinas nucleares. Armbruster (2018) analisa as cinco principais, que se distinguem tendo em conta o racioc\u00ednio geopol\u00edtico, moral\/legal, e nuclear dos diversos Estados do SI:<\/p>\n\n\n\n Abolicionismo Nuclear, cujos preponentes advogam a imoralidade inerente \u00e0s AN, e mesmo a inutilidade das mesmas face \u00e0s amea\u00e7as securit\u00e1rias contempor\u00e2neas (terrorismo e estados falhados); Deten\u00e7\u00e3o Minimalista, cujos apologistas descredibilizam a assun\u00e7\u00e3o abolicionista de que o SI pode ser radicalmente alterado, n\u00e3o obstante acreditando que os arsenais atuais s\u00e3o desproporcionais \u00e0s amea\u00e7as securit\u00e1rias; Abordagem Balanceada, derivada de ideais liberais crentes no papel que institui\u00e7\u00f5es internacionais ter\u00e3o na cria\u00e7\u00e3o de um mundo n\u00e3o-nuclear num futuro long\u00ednquo ap\u00f3s uma eros\u00e3o gradual do dilema da seguran\u00e7a; Deten\u00e7\u00e3o Flex\u00edvel que assume uma postura de irreversibilidade do status quo, argumentando que seria irrespons\u00e1vel n\u00e3o incluir AN no planeamento defensivo, sendo que apenas mantendo credibilidade nuclear se poder\u00e1 responder a amea\u00e7as sem utilizar for\u00e7a nuclear e minimizando o pr\u00f3prio uso da for\u00e7a; e, Superioridade Nuclear, proponentes da qual creem que o status quo \u00e9 irrevers\u00edvel e que fracassar no investimento e evolu\u00e7\u00e3o das capacidades nucleares criar\u00e1 um fosso entre um e os demais EN, que por sua vez contribuir\u00e1 para a instabilidade do SI, sendo por isso instrumental como check entre c\u00fapulas nucleares.<\/p>\n\n\n\n 4. O caso de Israel e da Coreia do Norte<\/strong><\/p>\n\n\n\n Querendo enriquecer a an\u00e1lise com ideias menos te\u00f3ricas, \u00e9 interessante explorar a an\u00e1lise emp\u00edrica de Beardsley e Asal (2009) que, assumindo que armas nucleares servem fun\u00e7\u00f5es defensivas e n\u00e3o ofensivas, dado o custo postremo e p\u00edrrico da sua utiliza\u00e7\u00e3o, analisam din\u00e2micas comportamentais e a predisposi\u00e7\u00e3o para escalar n\u00edveis menores de hostilidade de v\u00e1rios conflitos.<\/p>\n\n\n\n Relativamente a Israel, o EN mais controverso, que desenvolveu duas AN antes da Guerra dos 6 Dias. O seu escudo nuclear incitou modera\u00e7\u00e3o aos seus oponentes, que estiveram menos dispostos a recorrer \u00e0 agress\u00e3o ap\u00f3s 1967, sendo uma raz\u00e3o para maior disposi\u00e7\u00e3o de Sadat em estabelecer paz com Israel. Por outro lado, o testar do escudo nuclear Israelita na Guerra de Yom Kippur corrobora a l\u00f3gica da amea\u00e7a cred\u00edvel, visto que o \u201cheartland\u201d Israelita n\u00e3o foi cred\u00edvelmente amea\u00e7ado. Assim, o Egito limitou os seus objetivos para evitar a op\u00e7\u00e3o nuclear; enquanto que, embora Israel n\u00e3o seja imune \u00e0 agress\u00e3o, amea\u00e7as \u00e0 sua vitalidade s\u00e3o significativamente reduzidas.<\/p>\n\n\n\n O que falta no estudo de Israel \u00e9 a din\u00e2mica comportamental de rivais que proliferam entre si. Para tal, Beardsey e Asal (2009) observam o caso Indo-Paquistan\u00eas. A \u00cdndia nuclearizou-se em 1974, o Paquist\u00e3o em 1987. Em estado de simetria n\u00e3o-nuclear, envolveram-se em seis crises, culminando em tr\u00eas guerras. Durante os treze anos de assimetria nuclear, n\u00e3o existiram crises, traduzindo-se numa modera\u00e7\u00e3o comportamental Paquistanesa. De 1988 a 2004, envolveram-se em cinco crises, havendo, todavia, uma not\u00f3ria modera\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n Os autores conclu\u00edram que AN trazem benef\u00edcios observ\u00e1veis aos detentores, n\u00e3o os tornando, por\u00e9m, imunes \u00e0 agress\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n Quanto ao caso Norte-Coreano e geopol\u00edtica do extremo-oriente, Mankoff e Barannikova (2019), notam que embora a R\u00fassia seja contra o estatuto Norte-Coreano de EN, cr\u00ea que se n\u00e3o o fosse teria sofrido algo similar ao Iraque. Contudo, Moscovo n\u00e3o se sente amea\u00e7ado nem carente de um acordo militar com Pyongyang, sendo que o seu antagonista \u00e9 Washington. A \u00fanica verdadeira amea\u00e7a \u00e0 R\u00fassia seria se as defesas americanas intercetassem um m\u00edssil Norte-Coreano sobre o espa\u00e7o a\u00e9reo Russo, mas Moscovo considera o governo Norte-Coreano racional.<\/p>\n\n\n\n Mankoff e Barannikova (2019) observam uma postura proativa de Pyongyang. Antes das reuni\u00f5es entre chefes de estado Norte-Coreanos e Americanos, o objetivo era alcan\u00e7ar uma deten\u00e7\u00e3o cred\u00edvel. Alcan\u00e7ando-o, passaram a mostrar-se abertos \u00e0 diplomacia, assumindo o crescimento econ\u00f3mico como prioridade.<\/p>\n\n\n\n Quanto a Pequim, os autores real\u00e7am a sua interpreta\u00e7\u00e3o da Pen\u00ednsula Coreana como parte da sua esfera de influ\u00eancia. Esta alavancagem de poder colossal sobre Pyongyang tem levado a Coreia-do-Norte a procurar diversificar as suas rela\u00e7\u00f5es, iniciando di\u00e1logos com o Sul e mostrando-se aberta ao di\u00e1logo com Washington.<\/p>\n\n\n\n 5. Conclus\u00e3o<\/strong><\/p>\n\n\n\n Ap\u00f3s estudo diligente, concluo que na hist\u00f3ria n\u00e3o existem passos atr\u00e1s. AN s\u00e3o a realidade para a qual acordaremos todos os dias, at\u00e9 se tornarem obsoletas. Acho pouco prov\u00e1vel que tal seja pela via de tratados como o TNP, mas sim por algo de for\u00e7a maior. Se o estudo em que empreendi na elabora\u00e7\u00e3o deste ensaio me ensinou algo, foi que ulteriormente o racional defensivo \u00e9 baseado na interpreta\u00e7\u00e3o de antagonistas e na an\u00e1lise racional da postura a ser assumida perante os mesmos. AN contribu\u00edram de uma maneira muito pr\u00f3pria para a limita\u00e7\u00e3o do uso da for\u00e7a, n\u00e3o sem as suas nuances, mas certamente serviram para desprestigiar exacerba\u00e7\u00f5es desmedidas de nacionalismo, que foi o que rematou as duas \u00faltimas grandes guerras. Assim, se durante tr\u00eas quartos de s\u00e9culo, esta categoria de guerra n\u00e3o ressurgiu, parece, por enquanto, adequado atribuir relev\u00e2ncia \u00e0s AN enquanto elemento contribuidor para a paz.<\/p>\n\n\n\n 21 de abril de 2022<\/p>\n\n\n\n Ivo Vaz<\/strong><\/p>\n\n\n\n EuroDefense Jovem-Portugal<\/em><\/p>\n\n\n\n Refer\u00eancias:<\/strong><\/p>\n\n\n\n Armbruster, Mitchell (2018) Examining Nuclear Assumptions: Five Schools of Thought. Center for Strategic and International Studies;<\/p>\n\n\n\n Beardsley, Kyle & Asal, Victor (2009) Nuclear Weapons as Shields. Sage Publications, Ltd.;<\/p>\n\n\n\n Brown, Graham K. & Langer, Arnim (2014) Elgar Handbook of Civil War and Fragile States. Paperback<\/p>\n\n\n\n Falk, Richard (2019) On Nuclear Weapons: Denuclearization, Demilitarization and Disarmament. Lunds Universitet, Sweden;<\/p>\n\n\n\n Frey, Karsten (2006) Nuclear Weapons as Symbols: The Role of Norms in Nuclear Policy Making. Institut Barcelona d\u2019Estudis Internacionals;<\/p>\n\n\n\n Kapur, S. Paul (2009) Dangerous Deterrent: Nuclear Weapons Proliferation and Conflict in South Asia. Nus Press Singapore;<\/p>\n\n\n\n Mankoff, Jeffrey & Barannilova, Anastasia (2019) United States-DPRK Relations: Is Normalization Possible?. Center for Strategic and International Studies;<\/p>\n\n\n\n Masala, Carlo (2014) Don\u2019t Beat a Dead Horse: The Past, Present, and Future Failures of the NPT. Institute for National Security Studies<\/p>\n\n\n\n Rauchhaus, Robert (2009) Evaluating the Nuclear Peace Hypothesis: A Quantitative Approach. Sage Publications, Inc.<\/p>\n\n\n\n Sagan, Scott D. & Waltz Kenneth N. (1995) The Spread of Nuclear Weapons: A Debate. Paperback;<\/p>\n\n\n\n Vasquez, John A. (2012) What do We Know About War?. Rowman & Littlefield Publishers, Inc..<\/p>\n\n\n\n NOTA<\/strong>:<\/mark><\/p>\n\n\n\n 1. Estado de Arte Quando paramos para ponderar se armas nucleares contribuem ou n\u00e3o para a paz mundial encaramos uma s\u00e9rie de dicotomias: desde o cl\u00e1ssico \u201csim\u201d versus \u201cn\u00e3o\u201d, \u00e0 colis\u00e3o entre discursos estat\u00edsticos e discursos moralistas, ao incontorn\u00e1vel debate entre Waltz e Sagan. Contudo, o que grande parte das abordagens falham em entender \u00e9… O Paradoxo da Paz Nuclear<\/span><\/a><\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":7947,"comment_status":"closed","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"neve_meta_sidebar":"","neve_meta_container":"","neve_meta_enable_content_width":"","neve_meta_content_width":0,"neve_meta_title_alignment":"","neve_meta_author_avatar":"","neve_post_elements_order":"","neve_meta_disable_header":"","neve_meta_disable_footer":"","neve_meta_disable_title":"","footnotes":""},"categories":[25],"tags":[],"class_list":["post-7946","post","type-post","status-publish","format-standard","has-post-thumbnail","hentry","category-reflexoes-edj"],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/7946","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=7946"}],"version-history":[{"count":2,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/7946\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":7973,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/7946\/revisions\/7973"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/media\/7947"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=7946"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=7946"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=7946"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}
\n\n\n\n
\n\n\n\n
\n\n\n\n\n