{"id":8160,"date":"2022-06-30T07:50:32","date_gmt":"2022-06-30T07:50:32","guid":{"rendered":"https:\/\/eurodefense.pt\/?p=8160"},"modified":"2023-02-20T17:58:31","modified_gmt":"2023-02-20T17:58:31","slug":"parece-haver-intencao-em-prolongar-o-conflito-na-ucrania","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/eurodefense.pt\/parece-haver-intencao-em-prolongar-o-conflito-na-ucrania\/","title":{"rendered":"\u201cParece haver inten\u00e7\u00e3o em prolongar o conflito na Ucr\u00e2nia\u201d"},"content":{"rendered":"\n

Major-general Agostinho Costa sustenta que o armamento enviado n\u00e3o assegura uma capacidade de combate suficiente, nem a necess\u00e1ria superioridade ao ex\u00e9rcito ucraniano, para vencer no campo de batalha. Insiste que a solu\u00e7\u00e3o da guerra passa pelos EUA. Neste contexto, elege como \u201cvozes de bom senso\u201d, o Papa Francisco e Emmanuel Macron.<\/span><\/p>\n\n\n\n

Quatro meses depois do in\u00edcio do conflito entre R\u00fassia e Ucr\u00e2nia, permanece ainda longe o fim das hostilidades. No entender do major-general Agostinho Costa, todos os sinais remetem para o seu prolongamento, com o risco de se transformar em mais um conflito n\u00e3o resolvido, \u00e0 semelhan\u00e7a do Chipre, da S\u00edria e da L\u00edbia, entre outros.<\/p>\n\n\n\n

\u201cSe o Ocidente envia armas para a Ucr\u00e2nia, mas condiciona o tipo de armamento que envia no seu alcance, na sua pot\u00eancia e na sua efetividade, significa que n\u00e3o procura que a Ucr\u00e2nia ganhe a guerra. Se assim quisesse, teria de lhe fornecer armamento que permitisse uma efetiva superioridade no campo de batalha. O armamento que tem chegado tem estado dirigido, essencialmente, para neutralizar as vantagens russas\u201d, refere Agostinho Costa em declara\u00e7\u00f5es \u00e0 Renascen\u00e7a, apontando, assim, que \u201cparece haver uma inten\u00e7\u00e3o de manter este conflito prolongado\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Na mesma linha de racioc\u00ednio, o especialista militar acrescenta a press\u00e3o que est\u00e1 a ser feita sobre a Ucr\u00e2nia para n\u00e3o atacar territ\u00f3rio russo.<\/p>\n\n\n\n

\u201c\u00c9 para circunscrever o conflito a este territ\u00f3rio. Por um lado, \u00e9 positivo porque n\u00e3o se pretende que haja uma escalada, mas, tamb\u00e9m n\u00e3o se v\u00ea uma inten\u00e7\u00e3o de entrar no patamar negocial\u201d, aponta.<\/p>\n\n\n\n

O major-general d\u00e1 \u00eanfase ao atual panorama do mundo globalizado sublinhando que o conflito na Ucr\u00e2nia \u00e9 apenas uma pe\u00e7a no xadrez. Afirma que o que est\u00e1 verdadeiramente em causa \u00e9 a disputa pela hegemonia mundial entre os Estados Unidos da Am\u00e9rica e a China.<\/p>\n\n\n\n

\u201cNuma perspetiva geopol\u00edtica, dir\u00edamos, sobre os falc\u00f5es que pairam sobre a Europa, que a ideia \u00e9 manter os russos ocupados e os europeus entretidos para que os americanos possam canalizar o esfor\u00e7o para enfrentar o seu principal rival estrat\u00e9gico que \u00e9 a China. Temos assistido ao agudizar dos acontecimentos no Indo-Pac\u00edfico. Basta olhar para o posicionamento dos porta-avi\u00f5es norte-americanos no plano global para se depreenderem as prioridades. H\u00e1 continuamente um porta-avi\u00f5es no Mediterr\u00e2neo e dois no Indo-Pac\u00edfico\u201d, alega.<\/p>\n\n\n\n

Segundo v\u00e1rios analistas nesta mat\u00e9ria, n\u00e3o \u00e9 de descurar uma guerra entre os Estados Unidos e a China, nas pr\u00f3ximas d\u00e9cadas. As recentes not\u00edcias revelam que t\u00eam decorrido frequentemente exerc\u00edcios militares conjuntos entre a China e a R\u00fassia, tanto no \u00cdndico como no Pac\u00edfico.<\/p>\n\n\n\n

O major-general Agostinho Costa adianta ainda que o principal eixo de a\u00e7\u00e3o estrat\u00e9gica com que o Ocidente est\u00e1 a confrontar a R\u00fassia n\u00e3o \u00e9 militar, mas econ\u00f3mico. \u201cH\u00e1 a expetativa de que as san\u00e7\u00f5es, que s\u00e3o dur\u00edssimas, possam surtir efeito e provocar uma mudan\u00e7a de regime russo, cujo objetivo, em \u00faltima inst\u00e2ncia, \u00e9 a substitui\u00e7\u00e3o de Putin por algu\u00e9m mais pr\u00f3-ocidental\u201d, especifica.<\/p>\n\n\n\n

Ofensiva no Leste da Ucr\u00e2nia e a Transn\u00edstria<\/span><\/strong><\/p>\n\n\n\n

No papel de analista, o major-general recorda que este conflito, na Ucr\u00e2nia, j\u00e1 come\u00e7ou em 2014, quando foram proclamadas as duas rep\u00fablicas separatistas, no Donbass, e reitera que s\u00f3 acabar\u00e1 \u201cno dia em que Joe Biden pegar no telefone para falar com Putin\u201d.<\/p>\n\n\n\n

O especialista em opera\u00e7\u00f5es militares assinala, como objetivo estrat\u00e9gico declarado pela R\u00fassia, o controlo da regi\u00e3o do Donbass. Junta tamb\u00e9m nesta equa\u00e7\u00e3o, como des\u00edgnios n\u00e3o declarados, a anexa\u00e7\u00e3o da regi\u00e3o de Kherson que garante a contiguidade territorial entre a Crimeia, o Donbass e a R\u00fassia, bem como o controlo da conduta que assegura o fornecimento da \u00e1gua do Dniepre \u00e0 Crimeia.<\/p>\n\n\n\n

Tamb\u00e9m a cidade de Odessa para liga\u00e7\u00e3o \u00e0 regi\u00e3o separatista pr\u00f3-russa da Transn\u00edstria, que est\u00e1 inserida dentro da Mold\u00e1via e faz fronteira com a Ucr\u00e2nia, parece ser um dos objetivos desta \u201cOpera\u00e7\u00e3o Militar Especial\u201d, tendo ainda em vista reconstituir o antigo territ\u00f3rio da Novorussia, correspondente ao Canato da Crimeia integrado no imp\u00e9rio russo por Catarina a Grande, em 1783.<\/p>\n\n\n\n

\u201cDepois de resolvidos os combates no Donbass, as tropas de Moscovo poder\u00e3o prosseguir a a\u00e7\u00e3o ofensiva e intervir naquela cidade portu\u00e1ria de modo assegurar depois a liga\u00e7\u00e3o \u00e0 Transn\u00edstria. \u00c9 esse o nosso entendimento sobre presen\u00e7a da esquadra russa do Mar Negro, junto a Odessa\u201d, acrescenta.<\/p>\n\n\n\n

A Transn\u00edstria foi autoproclamada uma rep\u00fablica em 1990, na sequ\u00eancia de um confronto armado que levou \u00e0 interven\u00e7\u00e3o de Moscovo e ao destacamento para o territ\u00f3rio de uma for\u00e7a de manuten\u00e7\u00e3o de paz composta por soldados russos.<\/p>\n\n\n\n

\u201cRecentemente houve um conjunto de incidentes, o mais recente com a utiliza\u00e7\u00e3o de um drone que largou uma granada sobre uma base da dita for\u00e7a de manuten\u00e7\u00e3o de paz, o que causou algum mal-estar\u201d, nota Agostinho Costa, admitindo incerteza sobre as consequ\u00eancias que estes epis\u00f3dios poder\u00e3o, eventualmente, vir a ter.<\/p>\n\n\n\n

Major-general destaca Macron e Papa Francisco<\/span><\/strong><\/p>\n\n\n\n

Na qualidade de vice-presidente do Centro de Estudos do EuroDefense Portugal (ONG), o major-general Agostinho Costa aponta que a Uni\u00e3o Europeia tem demonstrado incapacidade para afirmar a sua autonomia estrat\u00e9gica e muito menos uma \u201csoberania estrat\u00e9gica\u201d.<\/p>\n\n\n\n

A express\u00e3o tem sido amplamente utilizada pelo Presidente franc\u00eas, Emmanuel Macron. \u201c\u00c9 o \u00fanico pol\u00edtico que usa esse termo com convic\u00e7\u00e3o e com vontade, mas, parece-nos que tem pregado no deserto. O Presidente Macron percebe que, a prazo, a Europa pode ser um dos grandes perdedores deste conflito\u201d, adianta.<\/p>\n\n\n\n

Para o major-general, neste contexto, s\u00f3 h\u00e1 \u201cduas vozes reveladoras de sabedoria e de bom senso\u201d: a de Emmanuel Macron e a do Papa Francisco. Este \u201c\u00e9 quem tem apelado \u00e0 paz e ao entendimento e explica que as guerras n\u00e3o resolvem os problemas. O Papa Francisco \u00e9 a grande voz da serenidade e da lucidez que falta \u00e0 Europa\u201d, declara.<\/p>\n\n\n\n

Lembra ainda que os militares procuram assegurar as condi\u00e7\u00f5es que permitam aos pol\u00edticos encontrar pontes de entendimento. Nesse sentido, diz que quanto mais tarde acontecerem negocia\u00e7\u00f5es, maior \u00e9 o risco de a Ucr\u00e2nia perder o acesso ao Mar Negro ou de o mundo poder assistir a um conflito nuclear.<\/p>\n\n\n\n

\u201cBasta haver um incidente, ou um erro de c\u00e1lculo ou de avalia\u00e7\u00e3o. Neste momento, o conflito \u00e9 total para a Ucr\u00e2nia por estar em jogo a sua sobreviv\u00eancia como Estado. Para a R\u00fassia ainda \u00e9 uma guerra limitada, mas no caso de este pa\u00eds ser confrontado com uma amea\u00e7a existencial, ent\u00e3o o risco de uma escalada nuclear passar\u00e1 a ser real.\u201d<\/p>\n\n\n\n

A terminar, o analista refere tr\u00eas personalidades relevantes no \u00e2mbito do pensamento geopol\u00edtico.<\/p>\n\n\n\n

Defende que \u00e9 preciso ouvir Henry Kissinger. O antigo chefe da diplomacia dos EUA foi ao F\u00f3rum Econ\u00f3mico Mundial de Davos, na Su\u00ed\u00e7a, sugerir que a Ucr\u00e2nia deveria ceder territ\u00f3rio, como forma de ser alcan\u00e7ado um acordo de paz. A esse prop\u00f3sito, Agostinho Costa comenta: \u201ca idade ajuda a ver com clareza\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Refere tamb\u00e9m que \u00e9 preciso voltar \u00e0 obra do antigo estadista norte-americano, Zbigniew Brzezinski, de origem polaca, e um dos principais estrategas da pol\u00edtica externa dos EUA que, \u201cno seu livro The Grand Chessboard (O Grande Tabuleiro de Xadrez) recomendava que os Estados Unidos nunca deveriam ser t\u00e3o insensatos ao ponto de permitirem que a China, a R\u00fassia e o Ir\u00e3o se possam unir\u201d, remata.<\/p>\n\n\n\n

Por fim, recomenda que se revisite o pensamento de Adriano Moreira, que tem reiteradamente alertado para a import\u00e2ncia da Organiza\u00e7\u00e3o das Na\u00e7\u00f5es Unidas como \u00fanico f\u00f3rum onde todos os Estados t\u00eam voz, independentemente das suas dimens\u00f5es, n\u00edvel de poder ou alinhamento estrat\u00e9gico. Recorda, a este prop\u00f3sito, ser uma organiza\u00e7\u00e3o que emergiu da maior trag\u00e9dia do s\u00e9c. XX, cuja Carta visa regular as rela\u00e7\u00f5es entre os Estados e, sobretudo, impedir a guerra.<\/p>\n\n\n\n

\n\n\n\n

30 de junho de 2022<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/figure><\/div>\n\n\n\n

Agostinho Costa<\/strong>
Vice-Presidente da<\/em> Dire\u00e7\u00e3o<\/p>\n\n\n\n

Entrevista publicada<\/em><\/em> em 27 de junho de 2022 no site da R\u00e1dio Renascen\u00e7a:<\/em><\/p>\n\n\n\n

https:\/\/rr.sapo.pt\/noticia\/mundo\/2022\/06\/27\/parece-haver-intencao-em-prolongar-o-conflito-na-ucrania\/289911\/<\/span><\/a><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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