{"id":8169,"date":"2022-07-01T09:28:56","date_gmt":"2022-07-01T09:28:56","guid":{"rendered":"https:\/\/eurodefense.pt\/?p=8169"},"modified":"2023-02-20T17:58:30","modified_gmt":"2023-02-20T17:58:30","slug":"reinventar-os-novos-equilibrios-energeticos","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/eurodefense.pt\/reinventar-os-novos-equilibrios-energeticos\/","title":{"rendered":"Reinventar os Novos Equil\u00edbrios Energ\u00e9ticos"},"content":{"rendered":"\n

Proposi\u00e7\u00f5es de Geopol\u00edtica Energ\u00e9tica para o P\u00f3s-Guerra<\/span><\/strong><\/p>\n\n\n\n

A guerra iniciada em fevereiro de 2022 na Europa, em plenos anos vinte do nosso s\u00e9culo XXI, incorpora todos os an\u00e1temas das ambi\u00e7\u00f5es nacionalistas que o tempo hist\u00f3rico nos ia aos poucos resguardando. A invas\u00e3o militar da Ucr\u00e2nia pela Federa\u00e7\u00e3o Russa desencadeia-se numa l\u00f3gica intempestiva de conquistas territoriais de espa\u00e7os geopol\u00edticos dominantes. Este facto permite-nos por agora retirar algumas ila\u00e7\u00f5es gerais, e em simult\u00e2neo desenvolver algumas proposi\u00e7\u00f5es, tendo como base de an\u00e1lise o olhar atento da geopol\u00edtica energ\u00e9tica.<\/p>\n\n\n\n

Assistimos hoje \u00e0 completa fragmenta\u00e7\u00e3o do sistema internacional conduzida pelos grandes blocos mundiais (Federa\u00e7\u00e3o Russa, China e o Ocidente). A hecatombe da \u201cadquirida paz duradoira\u201d na Europa, com este ataque premeditado da R\u00fassia de Vladimir Putin \u00e0 integridade territorial e pol\u00edtica da Ucr\u00e2nia, veio arrastar o mar agitado da preocupa\u00e7\u00e3o e do medo no espa\u00e7o europeu. Este receio fundado atingiu de forma c\u00e9lere os mais diversos dom\u00ednios da sociedade europeia. Muito em especial o campo da Seguran\u00e7a e Defesa e da Seguran\u00e7a Energ\u00e9tica (\u00e1reas mais fragilizadas) na grande maioria dos Estados Europeus. A Europa passou a ser de novo o palco privilegiado dos conflitos no Mundo (tal como o foi nos s\u00e9culos passados).<\/p>\n\n\n\n

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Cart\u00e3o de Laura Canali<\/span><\/strong>
https:\/\/www.limesonline.com\/notizie-mondo-oggi-4-maggio-sanzioni-embargo-petrolio-sberbank-russia-ucraina-scholz-nato\/127761<\/span><\/a><\/figcaption><\/figure><\/div>\n\n\n\n

E de novo esta intemporal quest\u00e3o (da Guerra e da Paz) a constituir um dos n\u00facleos centrais de preocupa\u00e7\u00e3o da Europa, onde depois da sonol\u00eancia da pol\u00edtica europeia de d\u00e9cadas, em mat\u00e9rias cr\u00edticas para a Europa, como a seguran\u00e7a, defesa e energia, renasce no imediato o \u201cmomento pol\u00edtico de afli\u00e7\u00e3o.\u201d Atente-se \u00e0s reconhecidas dificuldades que, a Alemanha, a primeira potencial industrial da Europa atravessa, arrastando-se em aut\u00eantica agonia energ\u00e9tica e industrial e sem qualquer capacidade e for\u00e7a pol\u00edtica para intervir na disputa internacional, na sua pr\u00f3pria \u00e1rea estrat\u00e9gica de influ\u00eancia.<\/p>\n\n\n\n

Todos estes factos a que vamos assistindo vieram \u201ctocar todas as campainhas de alarme\u201d e obrigar os Estados europeus, a Uni\u00e3o Europeia, a NATO renascida e os EUA naturalmente, a reagirem em un\u00edssono. E de novo a seguran\u00e7a energ\u00e9tica e a depend\u00eancia energ\u00e9tica no centro do furac\u00e3o e a constitu\u00edrem o patamar maior das preocupa\u00e7\u00f5es dos Estados europeus e dos seus cidad\u00e3os.<\/p>\n\n\n\n

\u201cA energia \u00e9 a \u00fanica moeda universal\u201d j\u00e1 salientava Vaclav Smith, e a seguran\u00e7a numa perspetiva ampla, \u00e9 tudo aquilo que todos n\u00f3s como cidad\u00e3os mais compreendemos.<\/p>\n\n\n\n

Uma das grandes expetativas da Guerra na Ucr\u00e2nia ser\u00e1 a de perspetivar no p\u00f3s-guerra, um NOVO EQUIL\u00cdBRIO ENERG\u00c9TICO GLOBAL<\/span><\/strong>, a curto e m\u00e9dio prazo.<\/p>\n\n\n\n

Para garantir a continuidade de um novo modo de globaliza\u00e7\u00e3o (reinventar a globaliza\u00e7\u00e3o das pr\u00f3ximas d\u00e9cadas) os Estado tender\u00e3o a atuar de forma mais agrupada por interesses regionais e comerciais, atrav\u00e9s de circuitos facilitadores dos novos mercados energ\u00e9ticos. As pot\u00eancias com capacidade e voca\u00e7\u00e3o global, como os EUA, a Uni\u00e3o Europeia, a Federa\u00e7\u00e3o Russa e a China procurar\u00e3o gerir os equil\u00edbrios continentais, ganhar vantagem econ\u00f3mica e comercial e o consequente dom\u00ednio pol\u00edtico-estrat\u00e9gico das suas zonas priorit\u00e1rias de influ\u00eancia.<\/p>\n\n\n\n

O cen\u00e1rio de \u201ccontinentalidade\u201d foi uma realidade experimentada pelas grandes pot\u00eancias durante a crise sanit\u00e1ria e pand\u00e9mica da covid-19, com destaque para a UE, atrav\u00e9s da procura de estrat\u00e9gias de \u00e2mbito regional alargado. Este \u00e9 um cen\u00e1rio que pode ser replicado no futuro contexto energ\u00e9tico e clim\u00e1tico e exponenciado pelo p\u00f3s-guerra na Ucr\u00e2nia e pelos seus efeitos globais. O Sistema Internacional, agora mais do nunca, poder\u00e1 absorver uma nova ordem a prazo, tendencialmente equilibrada por regi\u00f5es e continentes, mas onde a disputa permanecer\u00e1 intensa.<\/p>\n\n\n\n

O shale gas<\/em> e shale oil <\/em>nos EUA, foram a par do G\u00e1s Natural Liquefeito, as grandes revolu\u00e7\u00f5es energ\u00e9ticas das primeiras d\u00e9cadas s\u00e9culo XXI, com impacto direto no comercio global. A expans\u00e3o do GNL veio globalizar a utiliza\u00e7\u00e3o dos grandes espa\u00e7os mar\u00edtimos, permitindo um acesso mais f\u00e1cil e direto nos circuitos de importa\u00e7\u00e3o e exporta\u00e7\u00e3o, assumindo um protagonismo \u00fanico no cen\u00e1rio geopol\u00edtico internacional. Com a atual guerra, pa\u00edses exportadores de combust\u00edveis f\u00f3sseis como o Catar, a Ar\u00e1bia Saudita, a Arg\u00e9lia ou o Ir\u00e3o est\u00e3o de volta! Regressam novas e velhas depend\u00eancias a prazo. O Golfo P\u00e9rsico ou o Mediterr\u00e2neo Oriental ter\u00e3o de novo o seu tempo para invocarem reconhecidos protagonismos.<\/p>\n\n\n\n

As energias renov\u00e1veis, a corrida geopol\u00edtica ao dom\u00ednio dos circuitos do hidrog\u00e9nio e dos minerais estrat\u00e9gicos, o controlo das cadeias de abastecimento, a utiliza\u00e7\u00e3o das novas tecnologias espaciais, o nuclear, as barreiras comerciais e as pol\u00edticas protecionistas sob a bandeira da neutralidade carb\u00f3nica, o surgimento de fronteiras ambientais (zonas de floresta de interesse global, rios, mares e cursos de \u00e1gua) etc, s\u00e3o uma multitude de diferentes ambientes e tens\u00f5es que a sociedade e o mundo v\u00e3o experimentar nas pr\u00f3ximas d\u00e9cadas. Para al\u00e9m, \u00e9 claro, da ainda incontest\u00e1vel predomin\u00e2ncia do petr\u00f3leo, do g\u00e1s natural e do carv\u00e3o na matriz energ\u00e9tica global.<\/p>\n\n\n\n

A fratura existente entre grandes blocos geopol\u00edticos, que reconhecemos cada vez mais no sistema internacional, pode vir num futuro n\u00e3o muito long\u00ednquo, a contribuir para a implementa\u00e7\u00e3o de  grandes espa\u00e7os de pol\u00edtica ambiental partilhados, alguns com carater\u00edsticas de \u201ccontinentalidade verde,\u201d ainda que baseados em enquadramentos pol\u00edticos separados e em modelos idiossincr\u00e1ticos muito espec\u00edficos. As pr\u00f3prias energias renov\u00e1veis pelas suas carater\u00edsticas de utiliza\u00e7\u00e3o ir\u00e3o tornar o Mundo certamente mais regional.<\/p>\n\n\n\n

Os cen\u00e1rios da geopol\u00edtica energ\u00e9tica para a pr\u00f3xima d\u00e9cada poder\u00e3o inscrever os metais cr\u00edticos como o n\u00facleo mais forte e preocupante das depend\u00eancias energ\u00e9ticas, muito em especial da China. E neste cap\u00edtulo a Europa poder\u00e1 encontrar-se, se nada de substancial for feito, em patamar semelhante ao agora cruelmente exposto da depend\u00eancia dos combust\u00edveis f\u00f3sseis da R\u00fassia. Mas esse ser\u00e1 um problema para outras gera\u00e7\u00f5es, – dir\u00e3o alguns!<\/p>\n\n\n\n

O modelo de transi\u00e7\u00e3o energ\u00e9tica \u00e9 uma aposta de sentido \u00fanico para o Planeta. As quest\u00f5es das altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas, a seguran\u00e7a clim\u00e1tica e o desenvolvimento cient\u00edfico dos modelos energ\u00e9ticos mais sustent\u00e1veis s\u00e3o a base de todos os desafios (pol\u00edticos, sociais, econ\u00f3micos, cient\u00edficos e de seguran\u00e7a) para a Humanidade. Conciliar a seguran\u00e7a energ\u00e9tica com a seguran\u00e7a clim\u00e1tica \u00e9 o grande teste para o equil\u00edbrio mais geral do Sistema Internacional e da Sustentabilidade do Planeta.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 percebendo os m\u00faltiplo desafios que toda esta din\u00e2mica energ\u00e9tica envolve, que se torna cada vez mais evidente a preocupa\u00e7\u00e3o por parte dos Estados, das Organiza\u00e7\u00f5es Internacionais e das grandes empresas nacionais e multinacionais, de pretenderem assumir e partilhar pol\u00edticas de apoio sustentadas e direcionadas para a \u00e1rea energ\u00e9tica e ambiental, naquilo que v\u00e1rios autores especialistas nesta \u00e1rea classificam j\u00e1 como pol\u00edticas EPIC (Extreme Positive Incentives for Change).<\/p>\n\n\n\n

Esta \u00e9 uma realidade onde mais atores internacionais v\u00e3o poder participar, pela maior amplitude e alcance que os pr\u00f3ximos desafios podem representar no cen\u00e1rio internacional. Cada vez mais os atores n\u00e3o estatais ir\u00e3o assumir um maior protagonismo, muitas vezes transnacional, podendo at\u00e9  gerar preocupa\u00e7\u00f5es acrescidas \u00e0s orienta\u00e7\u00f5es estrat\u00e9gicas dos Estados.<\/p>\n\n\n\n

O que poderemos dizer com alguma certeza, \u00e9 que as transi\u00e7\u00f5es em curso ir\u00e3o trazer fen\u00f3menos de grande complexidade futura nos modelos de seguran\u00e7a energ\u00e9tica a implantar. As necessidades energ\u00e9ticas e tecnol\u00f3gicas e as quest\u00f5es clim\u00e1ticas que v\u00e3o surgindo ir\u00e3o tamb\u00e9m trazer desajustes e muitas vezes criar tens\u00f5es e conflitos. Os governos ser\u00e3o chamados a desempenhar prioritariamente um papel diretor e assaz cada vez mais interventivo nesta \u00e1rea.<\/p>\n\n\n\n

A pandemia recente do covid-19 veio travar e retrair o modelo de Transi\u00e7\u00e3o Energ\u00e9tica em curso. Mas o p\u00f3s-guerra na Europa com todas as suas consequ\u00eancias – como sempre foram todos os grandes conflitos da Humanidade -, acabar\u00e1 por ser, at\u00e9 como forma dos Estados garantirem uma maior seguran\u00e7a e defesa, um acelerador de novos modelos energ\u00e9ticos e da transi\u00e7\u00e3o energ\u00e9tica em curso, num Mundo que se anseia mais sustent\u00e1vel e seguro, e j\u00e1 agora, que possa ter como ambi\u00e7\u00e3o, os valores da democracia.<\/p>\n\n\n\n

Assim o esperam, certamente, as pr\u00f3ximas gera\u00e7\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n


\n\n\n\n

01 de julho de 2022<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/figure><\/div>\n\n\n\n

Eduardo Caetano de Sousa<\/strong>
Vogal da<\/em>\u00a0Dire\u00e7\u00e3o<\/p>\n\n\n\n

Reinventar os Novos Equil\u00edbrios Energ\u00e9ticos<\/span><\/a><\/strong> \"\"<\/a><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Proposi\u00e7\u00f5es de Geopol\u00edtica Energ\u00e9tica para o P\u00f3s-Guerra A guerra iniciada em fevereiro de 2022 na Europa, em plenos anos vinte do nosso s\u00e9culo XXI, incorpora todos os an\u00e1temas das ambi\u00e7\u00f5es nacionalistas que o tempo hist\u00f3rico nos ia aos poucos resguardando. A invas\u00e3o militar da Ucr\u00e2nia pela Federa\u00e7\u00e3o Russa desencadeia-se numa l\u00f3gica intempestiva de conquistas territoriais… Ler mais »Reinventar os Novos Equil\u00edbrios Energ\u00e9ticos<\/span><\/a><\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":8172,"comment_status":"closed","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"neve_meta_sidebar":"","neve_meta_container":"","neve_meta_enable_content_width":"","neve_meta_content_width":0,"neve_meta_title_alignment":"","neve_meta_author_avatar":"","neve_post_elements_order":"","neve_meta_disable_header":"","neve_meta_disable_footer":"","neve_meta_disable_title":""},"categories":[3],"tags":[],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/8169"}],"collection":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=8169"}],"version-history":[{"count":5,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/8169\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":8176,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/8169\/revisions\/8176"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/media\/8172"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=8169"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=8169"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=8169"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}