{"id":9077,"date":"2023-01-30T13:47:58","date_gmt":"2023-01-30T13:47:58","guid":{"rendered":"https:\/\/eurodefense.pt\/?p=9077"},"modified":"2023-02-20T17:56:33","modified_gmt":"2023-02-20T17:56:33","slug":"a-evolucao-da-guerra-e-a-2a-invasao-da-ucrania","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/eurodefense.pt\/a-evolucao-da-guerra-e-a-2a-invasao-da-ucrania\/","title":{"rendered":"A Evolu\u00e7\u00e3o da Guerra e a 2\u00aa invas\u00e3o da Ucr\u00e2nia"},"content":{"rendered":"\n

Introdu\u00e7\u00e3o<\/span><\/strong><\/p>\n\n\n\n

A Guerra H\u00edbrida russa \u00e9 a aplica\u00e7\u00e3o de meios militares e n\u00e3o militares combinados e utilizados em simult\u00e2neo, os objetivos s\u00e3o estrat\u00e9gicos e as inten\u00e7\u00f5es oportunistas de forma a semear o \u201ccaos\u201d.<\/p>\n\n\n\n

O resultado \u00e9 uma forma de competi\u00e7\u00e3o estrat\u00e9gica onde a R\u00fassia tem sido eficiente no controlo sobre as principais vari\u00e1veis, tempo e risco, e procura semear o caos para alcan\u00e7ar os seus objetivos, com recurso a um leque de ferramentas h\u00edbridas. Esta \u201cestrat\u00e9gia do caos\u201d tem em considera\u00e7\u00e3o que um estado relativamente enfraquecido pode evitar um confronto direto enquanto consegue dividir os seus advers\u00e1rios e minar os respetivos sistemas pol\u00edticos, garantindo a sua sobreviv\u00eancia.<\/p>\n\n\n\n

A guerra h\u00edbrida russa \u00e9 uma aplica\u00e7\u00e3o t\u00e1tica da estrat\u00e9gia do caos. \u00c9 o espetro total da guerra que emprega uma mescla de meios, convencionais e n\u00e3o convencionais, com o objetivo de provocar altera\u00e7\u00f5es no terreno enquanto procura evitar o confronto militar direto. A guerra h\u00edbrida \u00e9 aplicada de forma a disseminar o caos em determinados pa\u00edses. O caos \u00e9 despoletado com recurso \u00e0 guerra irregular, medidas ativas e opera\u00e7\u00f5es especiais. Impossibilitada de competir de forma direta, a Federa\u00e7\u00e3o Russa recorre \u00e0 guerra h\u00edbrida para compensar as potenciais fraquezas relativamente \u00e0 NATO e aos EUA.<\/p>\n\n\n\n

A Guerra H\u00edbrida n\u00e3o \u00e9 est\u00e1tica. Ao longo do tempo, a doutrina russa tem evolu\u00eddo na forma de planear e conduzir a estrat\u00e9gia do caos contra o Ocidente, com base na experi\u00eancia e na aplica\u00e7\u00e3o de novos meios. A R\u00fassia tem procurado adaptar a resposta face \u00e0s a\u00e7\u00f5es ocidentais. \u00c9 importante analisar a estrat\u00e9gia russa para melhor definir e entender os ataques provenientes de diversos vetores contra os interesses ocidentais e as suas institui\u00e7\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

Guerra Irrestrita<\/span><\/strong><\/p>\n\n\n\n

A R\u00fassia est\u00e1 determinada a conquistar territ\u00f3rio ucraniano e possivelmente o pa\u00eds. As ofensivas russas recorrem a manobras intimidat\u00f3rias, desinforma\u00e7\u00e3o e a qualquer organiza\u00e7\u00e3o ou grupo que possa servir os respetivos interesses. Enquanto a Ucr\u00e2nia enfrenta dificuldades econ\u00f3micas, o Kremlin compromete as infraestruturas cr\u00edticas, em particular o fornecimento de g\u00e1s, elemento essencial para a sobreviv\u00eancia dos cidad\u00e3os durante o inverno rigoroso. Os militares russos t\u00eam realizado diversas ofensivas nas imedia\u00e7\u00f5es da central nuclear de Zapor\u00edjia, com o objetivo de elevar as hostilidades, disseminar o p\u00e2nico na popula\u00e7\u00e3o e provocar a NATO para elevar o conflito. Concomitantemente, a R\u00fassia envia sinais e amea\u00e7as claras para os ucranianos provenientes de diferentes dire\u00e7\u00f5es e de diversas formas. O objetivo \u00e9 disseminar o caos e provocar a incerteza.<\/p>\n\n\n\n

Washington parece pouco rigoroso face a estas amea\u00e7as, respondendo de forma vaga e com avisos de que uma resposta pode surgir caso a R\u00fassia recorra a armas nucleares. Enquanto Putin opera em m\u00faltiplas dimens\u00f5es cada vez mais complexas e variadas, a resposta americana \u00e9 linear, limitada e pouco r\u00edgida. A NATO e os Estados Unidos n\u00e3o podem elevar o conflito ao ponto de provocar uma escalada e, consequentemente, uma guerra nuclear com consequ\u00eancias devastadoras. Ao mesmo tempo, parece que os EUA e os aliados da Alian\u00e7a Atl\u00e2ntica n\u00e3o s\u00e3o capazes de entender a l\u00f3gica das a\u00e7\u00f5es russas, apesar da mesma ser dotada de uma forma estrat\u00e9gica que os te\u00f3ricos e militares ocidentais t\u00eam debatido h\u00e1 mais de uma d\u00e9cada: A Guerra Irrestrita.<\/p>\n\n\n\n

A teoria da \u201cGI\u201d afirma que n\u00e3o existem limita\u00e7\u00f5es ou regras na guerra: tudo o que contribui para a vit\u00f3ria pode ser considerado. A Guerra Irrestrita engloba ataques diversificados, simult\u00e2neos e assim\u00e9tricos no sistema social, econ\u00f3mico e pol\u00edtico do advers\u00e1rio, ignora \u201cos limites entre o campo de batalha e o que n\u00e3o \u00e9 campo de batalha, o que \u00e9 arma e o que n\u00e3o \u00e9 arma, o que s\u00e3o soldados e o que n\u00e3o s\u00e3o, o que n\u00e3o \u00e9 estado, o que \u00e9 um estado e um superestado.<\/p>\n\n\n\n

Moscovo tem adotado e at\u00e9 manipulado de forma eficaz a \u201cGI\u201d, otimizada pela Era da informa\u00e7\u00e3o, interdepend\u00eancia econ\u00f3mica e as Redes Sociais. As opera\u00e7\u00f5es, ambas f\u00edsicas e informacionais, s\u00e3o mais r\u00e1pidas do que alguma vez os coron\u00e9is chineses anteciparam. Estas opera\u00e7\u00f5es tamb\u00e9m s\u00e3o provenientes de diversas dire\u00e7\u00f5es. A vers\u00e3o russa da guerra irrestrita inspira aqueles que pretendem derrubar o regime ucraniano e impedir a sua aproxima\u00e7\u00e3o aos valores ocidentais e, consequentemente, uma poss\u00edvel ades\u00e3o \u00e0 UE e \u00e0 NATO<\/p>\n\n\n\n

A desinforma\u00e7\u00e3o sobre o que est\u00e1 a acontecer e quem est\u00e1 a perpetrar os ataques s\u00e3o manipulados pelos media russos que, por sua vez, s\u00e3o controlados pelo Kremlin. Estas opera\u00e7\u00f5es t\u00eam como objetivo alcan\u00e7ar cidad\u00e3os da antiga Uni\u00e3o Sovi\u00e9tica, que foram durante anos manipulados, o que torna dif\u00edcil reconhecerem que est\u00e3o a ser enganados. Enquanto isso, Moscovo explora a depend\u00eancia energ\u00e9tica, n\u00e3o s\u00f3 por parte da Ucr\u00e2nia, mas tamb\u00e9m da Europa, reduzindo o abastecimento de g\u00e1s aos pa\u00edses ocidentais.<\/p>\n\n\n\n

A ofensiva russa recorre a atores n\u00e3o estatais como os Cossacks, o gang Night Wolves e \u201chackers patriotas\u201d, assim como companhias ocidentais que comercializam na R\u00fassia. Esta estrat\u00e9gia demonstra que as opera\u00e7\u00f5es de combate extravasaram para o campo civil. Esta ramifica\u00e7\u00e3o \u00e9 a consequ\u00eancia da j\u00e1 saturada Era da Informa\u00e7\u00e3o e a incr\u00edvel letalidade da tecnologia militar atual.<\/p>\n\n\n\n

Se recuarmos ao passado podemos afirmar que a R\u00fassia n\u00e3o estaria preocupada com a \u201cGI\u201d, apenas teria avan\u00e7ado e destru\u00eddo qualquer resist\u00eancia \u00e0s suas ambi\u00e7\u00f5es. No entanto, recorre a esta forma de guerra, em parte devido \u00e0 inefic\u00e1cia dos EUA para combater este fen\u00f3meno. O mundo ocidental n\u00e3o est\u00e1 preparado, tanto a n\u00edvel psicol\u00f3gico como organizativo, para este tipo de guerra. O Ocidente tende a dividir o poder em compartimentos e aplica-os de forma sequencial: primeiro tenta manobras diplom\u00e1ticas ou telefonemas, e trata as crises como se fossem apenas mal-entendidos. Se isso n\u00e3o resultar, o Ocidente amea\u00e7a com consequ\u00eancias mais severas por um per\u00edodo indefinido, at\u00e9 que a opini\u00e3o p\u00fablica esgote a paci\u00eancia ou seja abalada por uma outra crise. Depois s\u00e3o aplicadas san\u00e7\u00f5es em simult\u00e2neo com a promessa de que poder\u00e3o ser agravadas. A Alian\u00e7a Atl\u00e2ntica tenta aumentar o n\u00famero de parceiros, algo que seria desej\u00e1vel por parte de Zelensky, no entanto esta miss\u00e3o tem demonstrado dificuldades, tendo em conta que  a Europa n\u00e3o tem capacidade para enfrentar conflitos regionais. Enquanto os Estados Unidos da Am\u00e9rica e a Europa procuram uma forma de punir a Federa\u00e7\u00e3o Russa, esta aumenta o n\u00edvel de intensidade nas ofensivas militares na Ucr\u00e2nia face a uma Europa im\u00f3vel e uma Am\u00e9rica distante.<\/p>\n\n\n\n

A R\u00fassia demonstra capacidade de aplicar a \u201cGI\u201d no S\u00e9c. XXI. Tamb\u00e9m o Ir\u00e3o demonstra efic\u00e1cia na forma de operar em m\u00faltiplas dimens\u00f5es com recurso a um leque diversificado de organiza\u00e7\u00f5es e entidades que contornam o crime, o terrorismo, a insurg\u00eancia e a subvers\u00e3o, impedindo qualquer a\u00e7\u00e3o por parte dos EUA de fazer algo para impedir, por exemplo, o fornecimento de armamento e equipamento \u00e1 R\u00fassia. Entretanto, o criador desta forma de guerra, a China, distancia-se das ambi\u00e7\u00f5es de Moscovo e parece optar por m\u00e9todos mais convencionais para alcan\u00e7ar os seus objetivos regionais, mas pode facilmente reverter as suas a\u00e7\u00f5es para uma guerra irrestrita se a press\u00e3o militar e a press\u00e3o econ\u00f3mica amea\u00e7arem a sua soberania e a sua proje\u00e7\u00e3o mundial.<\/p>\n\n\n\n

A Guerra da Nova Gera\u00e7\u00e3o Russa<\/span><\/strong><\/p>\n\n\n\n

Ao longo do conflito a R\u00fassia demonstra maior agressividade contra um pa\u00eds soberano. O objetivo primordial do agora l\u00edder do Kremlin \u00e9 o restabelecimento da hegemonia no Leste Europeu. A R\u00fassia adotou uma reestrutura\u00e7\u00e3o militar introduzindo novas t\u00e1ticas e meios. Esta mesma doutrina foi consolidada com a Guerra na Chech\u00e9nia e, mais tarde, com a 1\u00aa invas\u00e3o da Ucr\u00e2nia em 2014. Uma das principais raz\u00f5es pela qual a R\u00fassia criou uma estrat\u00e9gia militar deve-se ao facto de Moscovo enfrentar tr\u00eas tipos de advers\u00e1rio diferentes: alta tecnologia a Oeste; pa\u00edses com capacidade de destrui\u00e7\u00e3o em massa a Leste; e amea\u00e7as n\u00e3o convencionais e h\u00edbridas vindas do Sul. Para isso as For\u00e7as Armadas russas foram treinadas para realizarem opera\u00e7\u00f5es de forma descentralizada e dispersa para cobrir todo o espetro da guerra, incluindo o uso de meios n\u00e3o convencionais, t\u00e1ticas regulares e armas nucleares nos diferentes campos de batalha (f\u00edsico e virtual). Esta nova abordagem foi empregue nos ataques \u00e0 Est\u00f3nia, no conflito com a Ge\u00f3rgia, bem como em 2014 contra a Ucr\u00e2nia, e contra a NATO nos diversos exerc\u00edcios militares russos denominados \u201cZapad\u201d em 1999, 2009, 2017, e em 2021, que serviram de prepara\u00e7\u00e3o para a 2\u00aa invas\u00e3o da Ucr\u00e2nia que aconteceu em fevereiro de 2022.<\/p>\n\n\n\n

A guerra contra a Ucr\u00e2nia tem demonstrado a passagem dos conceitos escritos em papel para uma teoria brutal no campo de batalha. O conceito de \u201cGuerra de Nova Gera\u00e7\u00e3o\u201d \u00e9 caracterizado por cinco elementos principais: subvers\u00e3o pol\u00edtica, guerra por procura\u00e7\u00e3o, interven\u00e7\u00e3o direta, dissuas\u00e3o coerciva e manipula\u00e7\u00e3o negocial.<\/p>\n\n\n\n

A \u201cGNG\u201d russa diverge da Guerra H\u00edbrida \u2013 uma mescla de guerra convencional, irregular e cibern\u00e9tica \u2013 porque combina a tentativa de anonimato por parte de um estado com a interven\u00e7\u00e3o direta do mesmo. Ao contr\u00e1rio do que acontece no Ocidente, os l\u00edderes russos entendem e aplicam de forma transformadora os meios, t\u00e1ticas e combina\u00e7\u00f5es de guerra.<\/p>\n\n\n\n

Contra todas as probabilidades, as For\u00e7as Armadas ucranianas levaram a cabo a maior mobiliza\u00e7\u00e3o militar e civil desde a 2\u00aa Guerra Mundial e t\u00eam lutado de forma exemplar tendo em conta que o advers\u00e1rio \u00e9 o maior pa\u00eds do mundo. Quando a Ucr\u00e2nia tentou recuperar territ\u00f3rio, a R\u00fassia lan\u00e7ou ataques mais intensivos e tem aumentado as suas ofensivas com recurso a armas e drones com capacidade devastadora e m\u00edsseis que atacam de forma indiscriminada. Foi proclamada a Lei Marcial por parte de Vladimir Putin, e foram evacuados civis daquelas que s\u00e3o as regi\u00f5es ilegalmente anexadas, o que indicia um poss\u00edvel ataque com recurso a armas nucleares t\u00e1ticas. Adicionalmente, foram movimentadas avultadas quantidades de material b\u00e9lico para fazer face aos avan\u00e7os por parte das for\u00e7as ucranianas. As san\u00e7\u00f5es ocidentais, juntamente com o aumento dos pre\u00e7os do petr\u00f3leo e a corrup\u00e7\u00e3o, t\u00eam causado grande impacto na economia russa, mas Putin parece determinado a fazer desaparecer um pa\u00eds soberano, com perspetivas de ser parte do mundo Ocidental, e instaurar a denominada Novorossiya.<\/p>\n\n\n\n

A decis\u00e3o da NATO pela n\u00e3o interven\u00e7\u00e3o direta, prende-se com a necessidade de afastar qualquer possibilidade de elevar o conflito para uma guerra nuclear. Como podemos verificar, a R\u00fassia tem realizado ataques devastadores acompanhados de amea\u00e7as nucleares contra a Ucr\u00e2nia, um estado que em 1994 abdicou da sua capacidade nuclear sob o Memorando de Budapeste, em troca de garantias de que Moscovo respeitaria a sua soberania territorial. Concomitantemente, perto das fronteiras dos pa\u00edses da NATO, a For\u00e7a A\u00e9rea, Naval e estrat\u00e9gica da R\u00fassia tem realizado exerc\u00edcios potencialmente amea\u00e7adores e hostis.<\/p>\n\n\n\n

Guerra de Atrito<\/span><\/strong><\/p>\n\n\n\n

A Guerra de Atrito \u00e9 uma estrat\u00e9gia militar na qual um lado tenta desgastar o inimigo atingindo de forma permanente os recursos e aumentando o n\u00famero de v\u00edtimas mortais at\u00e9 que o inimigo perca a capacidade de lutar. O objetivo \u00e9 corroer e eliminar de forma prolongada o advers\u00e1rio. Na Guerra de Atrito o atacante com o maior n\u00famero de elementos militares, equipamento e material b\u00e9lico utiliza estes recursos com pouca considera\u00e7\u00e3o pelo custo que estes representam, na expectativa de que a press\u00e3o constante possa eventualmente produzir resultados e demonstre ser demasiado dif\u00edcil para que o inimigo resista. A estrat\u00e9gia j\u00e1 foi utilizada pela R\u00fassia contra as for\u00e7as de Napole\u00e3o quando estas atravessaram o Rio Neman e sofreram uma das maiores derrotas a 14 de dezembro de 1812. Nos tempos modernos, temos o exemplo da Primeira Guerra Mundial, um conflito na qual morreram milh\u00f5es de soldados, por\u00e9m o progresso e a conquista territorial foram limitados.<\/p>\n\n\n\n

A R\u00fassia re\u00fane quantidades consider\u00e1veis de for\u00e7as militares numa sec\u00e7\u00e3o pequena na frente de combate e depois lan\u00e7a opera\u00e7\u00f5es de reconhecimento e ataques de artilharia em massa que em tudo se assemelha ao estilo sovi\u00e9tico. Durante estes ataques, n\u00e3o s\u00e3o apenas atacadas diversas posi\u00e7\u00f5es militares ucranianas, como tamb\u00e9m s\u00e3o atingidos edif\u00edcios civis, zonas industriais, locais hist\u00f3ricos e locais de culto religioso. Estas a\u00e7\u00f5es agressivas s\u00e3o desenhadas para derrotar militarmente a Ucr\u00e2nia, mas tamb\u00e9m para destruir o esp\u00edrito ucraniano, a sua economia, a sociedade, prejudicar a integridade demogr\u00e1fica e corroer a sua base cultural.<\/p>\n\n\n\n

As for\u00e7as ucranianas provocaram perdas significativas no lado inimigo e foram capazes de lan\u00e7ar uma contraofensiva em algumas localidades. Com um s\u00e9rio risco de serem dizimados, a R\u00fassia decide enviar mercen\u00e1rios e cidad\u00e3os, com pouca ou nenhuma prepara\u00e7\u00e3o, para a frente de combate nos territ\u00f3rios ocupados da regi\u00e3o de Donbass. O Kremlin procura poupar os cidad\u00e3os de etnia russa em detrimento das minorias nacionais, assim como tem optado pelos iliteratos das regi\u00f5es menos privilegiadas da R\u00fassia.<\/p>\n\n\n\n

A destrui\u00e7\u00e3o de equipamento tem obrigado a R\u00fassia a optar por enviar material militar obsoleto para a frente de combate, incluindo material fabricado nos anos 70, apesar do Kremlin estar ciente de que isto representa uma grande desvantagem face ao equipamento de \u00faltima gera\u00e7\u00e3o na posse das for\u00e7as ucranianas, fornecido pelo Ocidente. A guerra da R\u00fassia tornou-se naquilo que denominamos por Guerra de Atrito. A guerra terminar\u00e1 apenas quando for atingida a exaust\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Conclus\u00e3o<\/span><\/strong><\/p>\n\n\n\n

O conflito na Ucr\u00e2nia demonstra que Moscovo, numa tentativa de recuperar as suas ambi\u00e7\u00f5es regionais e restabelecer a sua hist\u00f3ria imperial, tem desenvolvido um estilo de guerra novo e uma nova forma de desenvolver a sua geopol\u00edtica, com enormes capacidades em realizar opera\u00e7\u00f5es de informa\u00e7\u00e3o, dece\u00e7\u00e3o, simula\u00e7\u00e3o e destrui\u00e7\u00e3o massiva com o aux\u00edlio das novas tecnologias.<\/p>\n\n\n\n

No in\u00edcio do conflito as t\u00e1ticas russas foram projetadas para evitar uma Guerra de Atrito ou a\u00e7\u00f5es cin\u00e9ticas diretas, para que o conflito fosse curto e objetivo. Estas opera\u00e7\u00f5es inclu\u00edram ainda o recurso a opera\u00e7\u00f5es psicol\u00f3gicas, press\u00e3o econ\u00f3mica, viol\u00eancia diplom\u00e1tica, a\u00e7\u00f5es de espionagem e recolha de informa\u00e7\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

Embora n\u00e3o seja uma novidade, a R\u00fassia recorreu a t\u00e1ticas h\u00edbridas e irrestritas. Estas t\u00e1ticas inclu\u00edram o recurso a meios n\u00e3o militares para atingir objetivos pol\u00edticos e estrat\u00e9gicos, onde em alguns casos ultrapassaram o poder das armas. A R\u00fassia justifica estas a\u00e7\u00f5es como uma resposta face \u00e0s campanhas ocidentais dissimuladas para gerar mudan\u00e7as de regime e a desnazifica\u00e7\u00e3o da Ucr\u00e2nia.<\/p>\n\n\n\n

A R\u00fassia encontra-se numa situa\u00e7\u00e3o em que est\u00e1 relativamente fraca e os seus ataques s\u00e3o menos decisivos do que desejaria, ou s\u00e3o limitados por causa da conjuntura econ\u00f3mica e geopol\u00edtica. A R\u00fassia recorre a esta forma de guerra para equilibrar as for\u00e7as e reduzir as suas fraquezas perante os advers\u00e1rios. \u00c9 uma forma mais segura e econ\u00f3mica de exercer influ\u00eancia global.<\/p>\n\n\n\n

A R\u00fassia alterou o modo de fazer a guerra, est\u00e1 mais alicer\u00e7ada em pilares n\u00e3o militares, complementada com opera\u00e7\u00f5es de informa\u00e7\u00e3o, manobras diplom\u00e1ticas e a economia, mantendo em aberto a possibilidade de realizar ofensivas em ambientes de alta intensidade.<\/p>\n\n\n\n

As opera\u00e7\u00f5es militares na Ucr\u00e2nia est\u00e3o a ser politicamente desastrosas para a R\u00fassia, e este novo estilo de guerra, que procura contar com diversos meios militares e n\u00e3o militares, para destruir o inimigo e a sua vontade de resistir, depende sobretudo de uma total compreens\u00e3o do contexto pol\u00edtico em que o conflito se desenrola. Contudo, a ess\u00eancia da guerra russa obriga a sincronizar e a combinar os diversos instrumentos do Estado para conseguir ganhar a \u201cguerra pol\u00edtica\u201d, vit\u00f3ria necess\u00e1ria para alcan\u00e7ar o objetivo final.<\/p>\n\n\n\n


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30 de janeiro de 2023<\/p>\n\n\n\n

Jorge Rafael Costa Silva<\/strong>
EuroDefense Jovem Portuga<\/em>l<\/p>\n\n\n\n


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Bibliografia<\/span><\/strong><\/p>\n\n\n\n

CEPA. (2022). The Evolution of Russian Hybrid Warfare<\/p>\n\n\n\n

Metz. S. (2014). In Ukraine, Russia Reveals Its Mastery of Unrestricted Warfare. World Politics Review.<\/p>\n\n\n\n

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\n\n\n\n

NOTA<\/strong>:<\/mark><\/p>\n\n\n\n