{"id":9105,"date":"2023-02-15T08:42:49","date_gmt":"2023-02-15T08:42:49","guid":{"rendered":"https:\/\/eurodefense.pt\/?p=9105"},"modified":"2023-02-20T17:56:31","modified_gmt":"2023-02-20T17:56:31","slug":"a-belt-and-road-initiative-e-o-seu-efeito-estrategico-na-china-e-na-uniao-europeia","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/eurodefense.pt\/a-belt-and-road-initiative-e-o-seu-efeito-estrategico-na-china-e-na-uniao-europeia\/","title":{"rendered":"A Belt and Road Initiative e o seu efeito estrat\u00e9gico na China e na Uni\u00e3o Europeia"},"content":{"rendered":"\n
\u201cA Belt and Road Initative (BRI), tamb\u00e9m conhecida por \u201cNova Rota da Seda\u201d do s\u00e9culo XXI, <\/em>[\u00e9] uma \u201cFaixa\u201d terrestre \u2013 rede de infraestruturas, parques industriais, rodovias e ferrovias com seis corredores ligando a China \u00e0 \u00c1sia do Sudeste, Meridional e Central, R\u00fassia e Europa \u2013 e uma \u201cRota\u201d mar\u00edtima que liga o Sul da China, do Mar da China do Sul \u00e0 Oce\u00e2nia, Sudeste Asi\u00e1tico, Oceano \u00cdndico e da\u00ed conectando as costas asi\u00e1tica e africana at\u00e9 \u00e0 Europa<\/em>\u201d<\/p><\/blockquote>\n\n\n\n
– Tom\u00e9, 2019:12<\/p><\/blockquote>\n\n\n\n
Atualmente, um dos maiores problemas diplom\u00e1ticos da China \u00e9 a sua pobre imagem diplom\u00e1tica (Ramo, 2007, cit. por Voon & Xu, 2019). A Belt and Road Initiative (BRI) e o soft power<\/em> que dela emana revelaram-se essenciais estrategicamente, especialmente com uma lideran\u00e7a chinesa cada vez mais empenhada em transitar a China de um poder regional para um poder global (Poh & Li, 2017). Esta transi\u00e7\u00e3o acontece \u00e0 luz do que aconteceu com a ascens\u00e3o benigna <\/em>(Peaceful Rise) da Rep\u00fablica Popular da China (RPC), com uma l\u00f3gica de win-win \u2013 \u201ccom benef\u00edcios m\u00fatuos para a China e os seus parceiros\u201d \u2013 (Tom\u00e9, 2019:16), n\u00e3o perturbando a seguran\u00e7a e estabilidade regional. O que diferencia a BRI e, consequentemente, torna o projeto mais atrativo relativamente a outros, \u00e9 o facto de ser uma iniciativa para \u201ccoopera\u00e7\u00e3o econ\u00f3mica, em vez de uma alian\u00e7a geopol\u00edtica ou militar\u201d, e com uma pol\u00edtica de porta aberta indiferente \u00e0 ideologia, em que \u201cdesde que os pa\u00edses estejam dispostos a juntar-se, s\u00e3o bem-vindos\u201d (Xinhua, 2018). Estas palavras proferidas por Xi Jinping, no entanto (e como \u00e9 verific\u00e1vel), n\u00e3o s\u00e3o fi\u00e9is \u00e0 realidade \u2013 a BRI constitui um pilar essencial desta alegada ascens\u00e3o pac\u00edfica, e ao \u201cpotencial geogr\u00e1fico e democr\u00e1tico e ao poderio econ\u00f3mico e comercial da China, junta-se o poder militar\u201d, com o Ex\u00e9rcito Popular de Liberta\u00e7\u00e3o (EPL ou PLA) a constituir uma por\u00e7\u00e3o significativa da moderniza\u00e7\u00e3o chinesa (Tom\u00e9, 2019:12-14), funcionando igualmente como instrumento diplom\u00e1tico.<\/p>\n\n\n\n
Desde a pandemia da SARS-CoV-2 (Covid-19), naturalmente e em concord\u00e2ncia com o que se passa (e passou) no panorama mundial, que a BRI n\u00e3o \u00e9 a mesma, nem em termos de funcionamento nem em termos de imagem diplom\u00e1tica. Uma depend\u00eancia vincada na China em exporta\u00e7\u00f5es, nomeadamente m\u00e1scaras N95 e equipamento m\u00e9dico, levou ao in\u00edcio de uma tend\u00eancia ocidental de decoupling<\/em>, ou dissocia\u00e7\u00e3o, com o mercado chin\u00eas, que se tem vindo a verificar ao longo destes \u00faltimos dois anos (Zeneli & Vann, 2020). Com o in\u00edcio da pandemia, o sentimento global tem sido maioritariamente o de que o Partido Comunista Chin\u00eas (PCC) se tem tornado, cada vez mais, um problema para as rela\u00e7\u00f5es internacionais (Harris, Neal & McConalogue, 2021).<\/p>\n\n\n\n
No entanto,<\/em><\/p>\n\n\n\n
\u201cPor muito que a BRI arrisque corrup\u00e7\u00e3o, polu\u00e7\u00e3o ambiental, instabilidade social e d\u00edvidas <\/em>(\u2026), tamb\u00e9m se foca em pontos como o d\u00e9fice de infraestruturas e baixa industrializa\u00e7\u00e3o em pa\u00edses menos desenvolvidos, trazendo ent\u00e3o benef\u00edcios econ\u00f3micos. Em \u00c1frica, a BRI poder\u00e1 levar ao desenvolvimento integrado e direto da economia e da infraestrutura.<\/em>\u201d<\/p><\/blockquote>\n\n\n\n
– Liu, 2022:13<\/p><\/blockquote>\n\n\n\n
O foco principal da BRI, mesmo assim, continua a ser o sudeste asi\u00e1tico, por uma variedade de raz\u00f5es citadas por Gong (2018):<\/p>\n\n\n\n
1<\/strong>.<\/span> A lideran\u00e7a chinesa reitera que a China compromete-se a construir uma liga\u00e7\u00e3o mais forte com a ASEAN;<\/p>\n\n\n\n
2<\/strong>.<\/span> Fontes chinesas indicam que Beijing espera grandes sucessos da BRI nesta regi\u00e3o, mais do que comparando com o resto do mundo;<\/p>\n\n\n\n
3<\/strong>.<\/span> O sudeste asi\u00e1tico \u00e9 a linha da frente da vertente mar\u00edtima da BRI;<\/p>\n\n\n\n
4<\/strong>.<\/span> A China considera a \u00e1rea estrategicamente crucial pelos v\u00e1rios mecanismos multilaterais que alguns Estados da ASEAN formaram com outros pa\u00edses;<\/p>\n\n\n\n
5<\/strong>.<\/span> O projeto beneficia as prov\u00edncias mais austrais, com os seus projetos de mobilidade;<\/p>\n\n\n\n
6<\/strong>.<\/span> O sudeste asi\u00e1tico \u00e9 de cr\u00edtica import\u00e2ncia em termos de seguran\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n
Sendo estes pa\u00edses a porta de sa\u00edda para o resto do mundo e, consequentemente, para os restantes pa\u00edses presentes na BRI, a sua import\u00e2ncia estrat\u00e9gica \u00e9 ineg\u00e1vel, principalmente quando se passa de um plano micro para um plano macro que fornece uma outra perspetiva: com o objetivo chin\u00eas de tornar a pol\u00edtica internacional cada vez mais multipolarizada, em que \u201ccabe ao povo da \u00c1sia tratar dos neg\u00f3cios da \u00c1sia, resolver os problemas da \u00c1sia e defender a seguran\u00e7a da \u00c1sia\u201d, e que os americanos \u2013 e consequentemente o ocidente \u2013 se t\u00eam de retirar (Jinping, 2014, cit. por Allison, 2021:164-165).<\/p>\n\n\n\n
\u00c9 este, ali\u00e1s, o grande objetivo estrat\u00e9gico da BRI \u2013 a coopera\u00e7\u00e3o econ\u00f3mica mencionada por Xi Jinping \u00e9 apenas a capa de um grande livro trai\u00e7oeiro que devemos ler com a maior das aten\u00e7\u00f5es. A divis\u00e3o da antiga Ordem Mundial, um mundo multipolarizado, hegemonia regional e estatuto de superpot\u00eancia, esses sim. Curiosamente, o modo de atingir estes fins \u00e9 basilar \u00e0 cultura e pol\u00edtica chinesa \u2013 explorar divis\u00f5es entre os estrangeiros (b\u00e1rbaros) e us\u00e1-los uns contra os outros.<\/p>\n\n\n\n
\u201cSe as tribos se dividirem <\/em>[ficar\u00e3o] fracas e <\/em>[ser\u00e1] f\u00e1cil mant\u00ea-las subjugadas; se as tribos estiverem separadas afastam-se umas das outras e obedecem prontamente. Favorecemos um ou outro <\/em>[dos seus chefes] e permitimos-lhes que se combatam uns aos outros. Este \u00e9 um princ\u00edpio de a\u00e7\u00e3o pol\u00edtica que afirma: \u201cAs guerras entre os \u201cb\u00e1rbaros\u201d s\u00e3o auspiciosas para a China\u201d<\/em><\/p><\/blockquote>\n\n\n\n
– Melikhov, 1981, cit. por Kissinger, 2011<\/p><\/blockquote>\n\n\n\n
Assim, um mundo fragmentado \u00e9 um mundo estrategicamente favor\u00e1vel \u00e0 China. O bloco ocidental, constitu\u00eddo maioritariamente pelos Estados Unidos da Am\u00e9rica (EUA) e pela Uni\u00e3o Europeia (UE), ter\u00e1, na \u00f3tica chinesa, de ter um dos seus componentes dividido. Dentro destes dois, a UE \u00e9 a op\u00e7\u00e3o estrat\u00e9gica mais vi\u00e1vel: os EUA s\u00e3o, apesar das suas particularidades pol\u00edticas internas, um Estado-Na\u00e7\u00e3o em seu pr\u00f3prio direito; a UE, por outro lado, \u00e9 considerada um OPNI, um Objeto Pol\u00edtico N\u00e3o Identificado, com Estados-membro individuais que podem agir com um certo grau de independ\u00eancia. Afinal, por muito que as institui\u00e7\u00f5es da Uni\u00e3o perten\u00e7am \u201csolidariamente a um todo indissol\u00favel destinado a alcan\u00e7ar objetivos comuns\u201d, a \u201cUE n\u00e3o \u00e9 apenas uma comunidade de interesses, \u00e9 sobretudo uma comunidade solid\u00e1ria\u201d (Borchardt, 2018:141). Esta ambiguidade leva, naturalmente, a cis\u00f5es dentro da Uni\u00e3o. A maior ruptura \u00e9 entre os chamados Estados Europeus centrais, como a Fran\u00e7a e a Alemanha \u2013 cr\u00edticos e cautelosos com os avan\u00e7os chineses \u2013 e os chamados Estados da periferia europeia \u2013 que veem a BRI como uma oportunidade econ\u00f3mica (Jakim\u00f3w, 2019); estrategicamente falando, a decis\u00e3o chinesa de se focar nas clivagens ruralidade-ind\u00fastria e centro-periferia (Braga da Cruz, 2018:279) presentes na Uni\u00e3o Europeia \u00e9 inteligente de modo a garantir que a China \u00e9 o poder hegem\u00f3nico regional e o grande rival estrat\u00e9gico dos EUA. O fim da Pax Americana <\/em>\u00e9 vital para a emerg\u00eancia da China e a sua aspira\u00e7\u00e3o de \u201cser a n\u00famero um do mundo\u201d atrav\u00e9s de uma \u201cvis\u00e3o supremacista do mundo ligada \u00e0 identidade chinesa\u201d (Allison, 2021:291-292); da mesma forma, a transi\u00e7\u00e3o para uma Ordem Mundial p\u00f3s-ocidental e mais regionalizada passa, naturalmente, pela China (Lehoczki, 2022).<\/p>\n\n\n\n
Dito isto, qual o efeito que a BRI ter\u00e1 na Uni\u00e3o Europeia? Quando 17 (dezassete) em 27 (vinte e sete) pa\u00edses da EU se juntaram \u00e0 BRI atrav\u00e9s do Memorandum of Understanding <\/em>(MoU), diferen\u00e7as ideol\u00f3gicas quanto a la\u00e7os econ\u00f3micos com um rival estrat\u00e9gico tendem a transparecer. Mesmo que, recentemente, a UE tenha trabalhado para desenvolver uma pol\u00edtica mais unificada de resposta ao megaprojeto chin\u00eas (Sarsenbayev & V\u00e9ron, 2020), a verdade \u00e9 que a tese de Liu apresentada inicialmente a pa\u00edses subdesenvolvidos tamb\u00e9m se aplica a grande parte do continente europeu, especialmente na periferia que rodeia a Europa central \u2013 minimizar a falta de infraestrutura \u00e9 uma prioridade pol\u00edtica e, por muitas preocupa\u00e7\u00f5es que a BRI possa levantar, \u00e9 uma alternativa vi\u00e1vel.<\/p>\n\n\n\n
Portugal, ali\u00e1s, \u00e9 um importante caso de estudo pela forte presen\u00e7a chinesa no pa\u00eds \u2013 com fracas infraestruturas e investimento quando comparado com o resto do continente europeu, entidades como a China Three Gorges <\/em>ou a State Grid of China <\/em>det\u00eam atualmente mais de 25% da EDP e da REN, respetivamente, empresas fulcrais para Portugal. O porto de Sines, estrategicamente vital por ser um porto de \u00e1guas profundas, tamb\u00e9m tem grande investimento chin\u00eas (Ibidem<\/em>).<\/p>\n\n\n\n
Assim sendo, como estrat\u00e9gia, a UE tem de ter uma resposta dupla \u00e0 BRI:<\/p>\n\n\n\n
Primeiramente<\/span><\/strong>, uma resposta interna, com v\u00e1rios projetos de investimento, como o \u201cConnecting Europe Facility<\/em>\u201d (CEF), com um or\u00e7amento de \u20ac30 mil milh\u00f5es entre 2014-2020 e \u20ac42 mil milh\u00f5es no per\u00edodo de 2021-2027; o Fundo de Coes\u00e3o e o Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), ambos com or\u00e7amentos bilion\u00e1rios com o objetivo de reduzir a disparidade e as clivagens supramencionadas que prejudicam certos Estados-membro; e o Fundo Europeu para Investimentos Estrat\u00e9gicos, com \u20ac33.5 mil milh\u00f5es de euros. Juntamente com v\u00e1rios outros projetos, em 2019 (e, portanto, antes da pandemia e da inje\u00e7\u00e3o de capital da \u201cbazuca<\/em>\u201d europeia, o Plano de Recupera\u00e7\u00e3o e Resili\u00eancia), a UE teria \u20ac459 mil milh\u00f5es a distribuir pelos v\u00e1rios Estados-membro (Ibidem<\/em>:11-12). Uma resposta interna mais forte por parte da UE no sentido de minimizar a clivagem centro-periferia, atrav\u00e9s destes projetos, inibiria parte dos pa\u00edses de ter la\u00e7os t\u00e3o estreitos com um rival estrat\u00e9gico como a RPC: apenas uma Uni\u00e3o mais uniforme conseguir\u00e1 atingir uma pol\u00edtica externa comum. Enquanto os Estados-membro n\u00e3o abra\u00e7arem o projeto europeu, e enquanto o projeto europeu n\u00e3o servir todos os pa\u00edses proporcionalmente e de igual modo, as na\u00e7\u00f5es europeias continuar\u00e3o a agir tendencialmente numa \u00f3tica de ganho pr\u00f3prio e individual, e raramente em prol da Uni\u00e3o em que se inserem: sem a\u00e7\u00e3o adequada, esta vari\u00e1vel continuar\u00e1 a tender a favor da China, que estende os bra\u00e7os n\u00e3o s\u00f3 para onde a UE n\u00e3o o faz, mas tamb\u00e9m estendendo os bra\u00e7os como a UE n\u00e3o o faz.<\/p>\n\n\n\n
Segundamente<\/span><\/strong>, uma resposta externa, uma resposta direta \u00e0 BRI pelo nome de Global Gateway<\/em>, cuja fun\u00e7\u00e3o \u00e9 atrair mais investimentos promovendo valores democr\u00e1ticos e padr\u00f5es altos, transpar\u00eancia, parcerias iguais, verdes e limpas, com infraestruturas seguras que poder\u00e3o catalisar investimentos privados (Comiss\u00e3o Europeia, 2021). Ao contr\u00e1rio da BRI que, como visto anteriormente, n\u00e3o se assume como nada mais sen\u00e3o um \u00f3rg\u00e3o de coopera\u00e7\u00e3o econ\u00f3mica, a Global Gateway <\/em>assume tamb\u00e9m uma vertente pol\u00edtica de promo\u00e7\u00e3o dos valores democr\u00e1ticos, em concord\u00e2ncia com os valores da UE e em seguimento da perspetiva estrat\u00e9gica UE-China de 2019:<\/p>\n\n\n\n
\u201cA China \u00e9 simultaneamente, em diferentes dom\u00ednios de interven\u00e7\u00e3o, um parceiro de coopera\u00e7\u00e3o com o qual a UE tem objetivos estreitamente alinhados, um parceiro de negocia\u00e7\u00e3o com o qual a UE tem de encontrar um equil\u00edbrio de interesses, um rival econ\u00f3mico na corrida para a lideran\u00e7a tecnol\u00f3gica e um advers\u00e1rio sist\u00e9mico que promove modelos alternativos de governa\u00e7\u00e3o. Tal exige uma abordagem pan-europeia flex\u00edvel e pragm\u00e1tica que permita uma defesa de interesses e valores assentes em princ\u00edpios<\/em>\u201d<\/p><\/blockquote>\n\n\n\n
– Comiss\u00e3o Europeia, 2019<\/p><\/blockquote>\n\n\n\n
A UE \u00e9, n\u00e3o obstante a sua condi\u00e7\u00e3o de maior doadora mundial para o desenvolvimento (Ricart & Iglesias, 2022), um parceiro estrat\u00e9gico menos procurado do que a RPC em muitas \u00e1reas do mundo. A Global Gateway<\/em>, pelo seu car\u00e1cter inerentemente e explicitamente estrat\u00e9gico e pelo facto de constituir uma optimiza\u00e7\u00e3o das iniciativas de investimento da UE, poder\u00e1 ser fulcral na pol\u00edtica externa europeia, de modo a colocar a Uni\u00e3o e os seus valores em linha com os demais pa\u00edses (Ibidem<\/em>). Uma a\u00e7\u00e3o externa competente e focada traria benef\u00edcios para o funcionamento da Uni\u00e3o e da sua posi\u00e7\u00e3o enquanto grande poder \u2013 se a antiga Ordem Mundial estiver, de facto, a dar lugar a uma nova, ent\u00e3o a UE ter\u00e1 de garantir que os seus interesses estrat\u00e9gicos est\u00e3o assegurados, algo que passa pela Global Gateway <\/em>e demais projetos de investimento estrangeiro, mesmo que em menor escala; a coopera\u00e7\u00e3o econ\u00f3mica \u00e9 apenas o primeiro passo.<\/p>\n\n\n\n
Conclus\u00e3o<\/span><\/strong><\/p>\n\n\n\n
A Belt and Road Initiative \u00e9 o grande pilar estrat\u00e9gico da RPC atualmente \u2013 \u00e9 utilizado para fortalecer e melhorar a imagem diplom\u00e1tica chinesa, tanto para com a comunidade internacional como para os seus atuais e futuros parceiros estrat\u00e9gicos. O megaprojeto econ\u00f3mico chin\u00eas tamb\u00e9m tem, ao contr\u00e1rio do que \u00e9 dito pela sua lideran\u00e7a, objetivos estrat\u00e9gicos e pol\u00edticos que est\u00e3o a ser explorados com mestria por parte da RPC. Jogando o jogo duplo de ascens\u00e3o pac\u00edfica e de agressiva expans\u00e3o diplom\u00e1tica, a RPC consegue fomentar e aproveitar qualquer fenda na atual Ordem Mundial (que por si s\u00f3 j\u00e1 est\u00e1 a sofrer mudan\u00e7as significativas), al\u00e9m de dar uso a \u00f3ticas antigas mas sempre relevantes, como colocar os \u201cestrangeiros\u201d uns contra os outros, para alcan\u00e7ar os seus objetivos de hegemonia regional e o r\u00f3tulo de superpot\u00eancia mundial. A pandemia da Covid-19 atrasou o progresso diplom\u00e1tico da China, com um sentimento cada vez mais vincado de que a RPC \u00e9 um \u201cproblema\u201d a n\u00edvel das rela\u00e7\u00f5es internacionais, assim como tamb\u00e9m atrasou a BRI e as economias de v\u00e1rios pa\u00edses que dela fazem parte, mas nem por isso podemos considerar que perdeu a sua for\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n
Face a este impasse, a UE \u00e9 especialmente vulner\u00e1vel \u00e0 ascens\u00e3o econ\u00f3mica da RPC e das repercuss\u00f5es ao n\u00edvel das rela\u00e7\u00f5es internacionais que isso poder\u00e1 trazer: uma Europa dividida, com mais de metade dos seus membros inseridos na BRI e os restantes altamente preocupados com a amea\u00e7a chinesa, ter\u00e1 de ser remediada para que a UE consiga permanecer no topo da cadeia diplom\u00e1tica. Ser\u00e1 necess\u00e1ria uma resposta interna, com mais apoios em vias de desacentuar a clivagem marcada entre o centro da Uni\u00e3o Europeia e a sua periferia (onde tamb\u00e9m est\u00e1 inserido Portugal), para que estes pa\u00edses n\u00e3o tenham de optar entre coopera\u00e7\u00e3o econ\u00f3mica com a RPC, \u201cum rival\u201d econ\u00f3mico e estrat\u00e9gico, ou manter relativamente pura e uniforme a pol\u00edtica externa do bloco europeu; por outro lado, ser\u00e1 tamb\u00e9m igualmente necess\u00e1ria uma resposta externa, complement\u00e1ria \u00e0 interna, que responda n\u00e3o s\u00f3 \u00e0 BRI como projeto, mas que responda igualmente \u00e0s necessidades dos pa\u00edses que v\u00eam na BRI um projeto vi\u00e1vel para o desenvolvimento do seu pa\u00eds.<\/p>\n\n\n\n
Se, seguindo uma \u00f3tica realista das rela\u00e7\u00f5es internacionais \u2013 com a realpolitik <\/em>a ser uma parte t\u00e3o fundamental das rela\u00e7\u00f5es internacionais chinesas ao longo dos s\u00e9culos \u2013 podemos afirmar que n\u00e3o existem espa\u00e7os vazios, apenas poderemos esperar para verificar qual o caminho seguido por estas duas grandes pot\u00eancias, a Uni\u00e3o Europeia e a Rep\u00fablica Popular da China: o futuro da Ordem Mundial ser\u00e1 influenciada quer a UE prefira abordar os seus problemas internos, externos, ambos ao mesmo tempo ou at\u00e9 nenhum deles, ou quer a RPC passe por uma mudan\u00e7a estrat\u00e9gica ou um contratempo como foi, ali\u00e1s, o caso com a invas\u00e3o russa da Ucr\u00e2nia. Assim, num mundo constantemente em mudan\u00e7a, estes dois blocos dan\u00e7am em torno da hegemonia; e mesmo que a vit\u00f3ria n\u00e3o esteja decidida para nenhum dos lados, o caminho de ambos j\u00e1 est\u00e1, de uma maneira ou de outra, tra\u00e7ado.<\/p>\n\n\n\n
\n\n\n\n15 de fevereiro de 2023<\/p>\n\n\n\n
Sim\u00e3o Santiago Madeira<\/strong>
EuroDefense Jovem Portuga<\/em>l<\/p>\n\n\n\n
\n\n\n\nBibliografia<\/strong>:<\/span><\/p>\n\n\n\n
Allison, G. (2021). Destinados \u00e0 Guerra: Poder\u00e3o a Am\u00e9rica e a China escapar \u00e0 armadilha de Tuc\u00eddides?<\/em> Gradiva.<\/p>\n\n\n\n
Braga da Cruz, M. (2015). Pol\u00edtica Comparada<\/em>. Cruz Editores, Lisboa. ISBN 978-989-97225-7-6<\/p>\n\n\n\n
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\n\n\n\nNOTA<\/strong>:<\/mark><\/p>\n\n\n\n
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\u201cA Belt and Road Initative (BRI), tamb\u00e9m conhecida por \u201cNova Rota da Seda\u201d do s\u00e9culo XXI, [\u00e9] uma \u201cFaixa\u201d terrestre \u2013 rede de infraestruturas, parques industriais, rodovias e ferrovias com seis corredores ligando a China \u00e0 \u00c1sia do Sudeste, Meridional e Central, R\u00fassia e Europa \u2013 e uma \u201cRota\u201d mar\u00edtima que liga o Sul da… Ler mais »A Belt and Road Initiative e o seu efeito estrat\u00e9gico na China e na Uni\u00e3o Europeia<\/span><\/a><\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":9107,"comment_status":"closed","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"neve_meta_sidebar":"","neve_meta_container":"","neve_meta_enable_content_width":"","neve_meta_content_width":0,"neve_meta_title_alignment":"","neve_meta_author_avatar":"","neve_post_elements_order":"","neve_meta_disable_header":"","neve_meta_disable_footer":"","neve_meta_disable_title":""},"categories":[25],"tags":[],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/9105"}],"collection":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=9105"}],"version-history":[{"count":7,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/9105\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":9113,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/9105\/revisions\/9113"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/media\/9107"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=9105"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=9105"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/eurodefense.pt\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=9105"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}