A revolta dos agricultores belgas e franceses, iniciada no início deste ano, levou Emmanuel Macron a barrar negociações do acordo de livre comércio da União Europeia com o Mercosul, por alegar que não há condições favoráveis a tal. O que os agricultores temem é que haja uma concorrência desleal de produtos agrícolas importados de regiões com regras menos estritas, como o Mercosul.
No entanto, eles não foram a primeira oposição ao acordo, que vem recebendo fortes críticas do outro lado do Atlântico, por ressalvas de cariz ambiental, agrícola, e dos Direitos Humanos. Para além disso, por ter sido redigido durante os governos Bolsonaro e Macri, especialistas em política externa concordam que não é um cenário ideal para as atuais relações entre os dois blocos, visto que o ganho da União Europeia seria desproporcional às prováveis perdas sócio-económicas e ambientais sul-americanas.
Ernesto Samper, ex-presidente da Bolívia, somou-se ao pensamento de Macron, ao concordar que a relação entre os blocos deve ser mais política do que económica, e garantir a gestão sustentável de recursos. A eleição de Milei, que ameaça a retirada da Argentina do Mercosul, também une-se aos desdobramentos que preveem um futuro de abandono do acordo, pelo menos em suas formas atuais.
Contudo, mesmo com todas as previsões negativas, a Comissão Europeia segue a discutir o acordo de uma forma que tente conciliar os interesses dos agricultores e os objetivos de sustentabilidade da União Europeia, mesmo que nele haja uma intrínseca falta de reciprocidade e riscos à segurança humana e ambiental. O futuro do acordo comercial ainda é incerto, pelo que forças contrárias e apoiadoras fazem pressão de ambos os lados, e, por isso, é sempre necessário o acompanhamento dos desdobramentos sociais e políticos nos dois continentes, principalmente em matérias de movimentos sociais, que têm grande poder de impactar as próximas decisões.
29 de abril de 2024
Beatriz Fernandes, Israel Goldoni, Valentina Ruas
Autoria[1]
[1] Este artigo foi escrito no âmbito do Observatório EDJ lançado em parceria com o CECRI-UMinho.
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