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O pensamento neo-eurasianista é o que mais se alinha à política russa atual, o neo-eurasianismo põe-se como uma alternativa à filosofia ocidental e à economia, será uma mistura entre geopolítica e espiritualidade tradicional, tendo em Alexander Dugin um dos principais teóricos. Ao longo da história tem existido uma competição constante entre as duas grandes esferas, a terrestre e a marítima. Na História antiga, as potências que se tornaram em símbolos da “civilização marítima” foram a Fenícia e Cartago. O império terrestre que se lhes opunha era Roma. Os EUA são uma potência marítima assim como a Grã-Bretanha. Tal como a Fenícia, a Grã‑Bretanha utilizou o comércio marítimo e a colonização das regiões costeiras como o seu instrumento básico de domínio. Criaram um padrão de civilização, mercantil e capitalista, baseada nos princípios do liberalismo económico, pode assim dizer‑se que a generalidade das civilizações marítimas tem estado sempre ligada à primazia da economia sobre a política. Já Roma dava prioridade ao controlo civil e administrativo, dando a primazia à política em detrimento da economia. É um exemplo de potência continental, com a assimilação dos povos conquistados, que foram romanizados após a conquista. Para os Eurasianistas, os seus sucessores são os Impérios Russo, Austro‑Húngaro e Alemão.

Para melhor entendermos a Rússia temos que recuar no tempo até 1206, ano em que Genghis Khan tem o sonho de conquistar o mundo e entre 1223 e 1240 aproximadamente, os vários principados Russos foram caindo perante os Mongóis, que exerceram o seu poder durante 250 anos. A “Horda Dourada” exerceu a sua forma de governo descentralizado através de “Khanatos” sujeitando os príncipes Russos e os seus súbditos a um sistema opressor que lhes exigia elevadíssimos tributos, levando a uma estagnação por parte da Rússia, que foi aproveitada pelos seus vizinhos que foram assim ocupando partes do seu território. Estes acontecimentos deixaram profundas cicatrizes da nação Russa, que ainda hoje se reflete na agressividade da sua politica externa. O domínio e opressão Mongol termina com Ivan III “o Grande” que foi o príncipe de Moscovo no século XV, posteriormente Ivan IV “o Terrível” continuou a reconquistar terras aos Mongóis anexando-as a Moscovo que se expandia rapidamente por volta de 1553-1555, apenas restando a Crimeia como último reduto dos Tártaros e devido à proteção do Imperio Otomano, tendo sido conquistada pouco depois após a derrota dos Tártaros na batalha do Ugra. A expansão do território russo teve início no século XVI, mas foi com Pedro I (O Grande) que a Rússia começou uma política externa mais assertiva procurando afirmar-se como uma potência Europeia, contribuindo para isso a vitória sobre a Suécia na Grande Guerra do Norte entre 1700-1721, cimentada no tratado de Nystadt. A partir desta data a Rússia estabelece-se no Báltico, “substituindo” a Suécia como potência dominante do norte da Europa e abrindo assim uma porta para esta última. Desde este período e até 1917, data da revolução, o império tem uma clara política de expansão tanto para o oriente como para o sul assim como para ao ocidente. A relativa estabilidade entre as potências europeias durou até à guerra da Crimeia de 1853 a 1856, disputada entre Turquia e Rússia, sendo que a Turquia foi apoiada pela França e pela Inglaterra, o que levou ao fim do conflito com a assinatura de um tratado em Paris em 1856 desfavorável ao Imperio Russo tendo o seu prestígio sofrido com isso. Esta derrota fez os russos voltarem a atenção para o Sul, Cáucaso e Ásia central assim como para o extremo oriente. Este alargamento de fronteiras para o oriente foi avançando até se “encontrarem” com os Japoneses havendo mesmo uma guerra entre os dois povos em 1904-1905. Com a China os Russos assinaram os tratados de Aigun em 1858 e Pequim em 1860, já em 1896 Russos e Chineses assinaram o primeiro Tratado de Amizade entre ambos. Em 1904 houve novo conflito entre a Rússia e o Japão, tendo este sido ajudado pela Grã-Bretanha, e terminou com uma derrota russa. Durante o século XVIII o Czar Paulo I procurou consolidar a presença Russa no Adriático, pela possibilidade que oferecia de proteção e controlo dos povos eslavos e ortodoxos dos Balcãs, já Alexandre I tinha a libertação desses povos como objetivo. Quando em 1870 os Balcãs entraram em conflitos pela independência, a resposta violenta dos Turcos gerou revolta na Rússia, devido ao sentimento de um conceito intrínseco de pan-eslavismo, que levou muitos Russos para o conflito. O conflito iniciado com os Turcos em 1877 terminou com o tratado de San Stefano em 1878, favorecendo os países eslavos mas no ano seguinte teve os seus termos revistos pelo império Austro-húngaro e pela Grã-Bretanha, Alexandre II aceitou a mediação da Alemanha, esta revisão redundou as conquistas dos países eslavos, tendo provocado o afastamento da Rússia em relação à Alemanha e ao império Austro-húngaro. O neo-Eurasianismo é uma escola de pensamento que surge na Rússia no após a dissolução da União Soviética, nos anos 90. Esta ideologia, corrente, baseia-se no Eurasianismo clássico do início do século XX, e em obras de pensadores, filósofos e historiadores no tempo da Rússia Czarista, no século XIX, com raízes ainda mais antigas. Considerado o expoente máximo do neo-Eurasianismo e considerado próximo da linha dura comunista pós-soviética, Alexander Dugin é um geopolítico, filósofo, cientista político, sociólogo, jornalista e analista político com grande influência no pensamento geopolítico da Russia pós-Soviética, com muita influência na política Russa, tendo ocupado cargos na Duma, com influência na política externa dos governos de Putin e Medvedev que tem no neo-Eurasianismo um guia para as relações internacionais Russas. O neo-Eurasianismo é algo mais que uma teoria geopolítica, é uma filosofia com várias caraterísticas, históricas e geográficas, estratégicas e militares, culturais e sociais. É uma filosofia que engloba o mundo não Ocidental, representando a união dos países que não aprovam as políticas dos Estados Unidos e da NATO, que representa a preservação das tradições culturais, nacionais, étnicas e religiosas, representando formas diferentes de economia e uma sociedade mais justa, criando uma civilização que não necessitasse mais do modelo europeu, o neo-Eurasianismo faz parte da escola denominada Expansionista, pretendendo ser uma alternativa à globalização, opondo-se aos Estados Unidos e aos aliados da NATO, que representam a unipolaridade e o expansionismo dos Estado Unidos juntamente com o seu modelo económico e filosófico e os seus valores liberais e democráticos. O neo-Eurasianismo baseia-se numa conjugação de ideias, de Mackinder, a luta entre os poderes terrestres e os marítimos; Haushofer e as suas pan-regiões; assim como na de Brzezinski em que a Rússia é o coração da Eurásia e representa o centro das forças terrestres, assumindo-se assim como anti-globalização e anti-hegemónico.

O neo-Eurasianismo é um movimento que acompanha a reemergência da Rússia enquanto ator geopolítico que procura um novo ordenamento, um ordenamento multipolar das relações internacionais. O ressurgimento desse pensamento geopolítico russo que valoriza o fortalecimento do Estado Russo e a ampliação de sua área de influência, sobretudo no que se denomina de Eurásia, demonstra assim o deslocamento geográfico da antiga área de influência soviética, o Leste Europeu, para a Ásia Central. Já em 2005 George Kennan dizia em relação aos Russos o seguinte, “A União Soviética precisa ser contida. A personalidade política do poder soviético é produto de ideologia e circunstâncias. A ideologia convence os líderes russos de que a verdade está a seu lado. A pressão que o Império soviético exerce sobre as instituições livres do mundo ocidental não pode ser combatida por sedução e meras palavras; precisa ser refreada pela aplicação hábil e cautelosa de uma forte força contrária. Os russos esperam por um duelo de duração infinita e acreditam já haver contabilizado grandes êxitos. Os EUA terão que continuar a vê-los como um rival, não como um parceiro na arena política.”.

Organização de Cooperação de Xangai

No quadro do que foi anteriormente referido sobre o Eurasianismo podemos enquadrar uma organização que em 15 de Junho de 2001 foi proclamada, a Organização de Cooperação de Xangai, como uma organização internacional, intergovernamental e de caráter permanente por seis países, República Popular da China, Federação Russa, República do Cazaquistão, República do Quirguistão, República do Tadjiquistão e República do Uzbequistão. Esta organização tem ainda como países observadores o Afeganistão, a India, o Irão, a Mongólia e o Paquistão. Como parceiros de diálogo estão a Bielorrússia, a Turquia e o Sri-Lanka. Os estados membros da OCS ocupam aproximadamente um quinto do território mundial e três quintos da eurásia, e um quarto da população mundial. A OCS pretende estabelecer uma área de livre comércio até ao ano de 2020, sendo pouco provável que consiga o nível de integração da União Europeia, já que pretende manter a soberania dos Estados a todos os níveis. É no seio desta organização que se têm celebrado acordos bilaterais entre a Rússia e a China referentes a combustíveis fósseis e compra de armamento russo por parte da China e do Irão, sendo que a Rússia é um dos maiores exportadores mundiais de petróleo e gás, tanto para a Europa como para estas zonas do globo.Petróleo e gas

Nota do autor:

Resumo de trabalho efetuado no decurso do Mestrado em Relações Internacionais para a disciplina de “Rússia e espaço pós-Soviético” em 4 de junho de 2015.

Valter Cláudio
Vogal do Conselho Fiscal

Consultas:

Federal State Statistics Service, Russian Federation: (http://www.gks.ru/wps/wcm/connect/rosstat_main/rosstat/en/main/).

The fourth political theory: (http://www.4pt.su/pt-br/content/id%C3%A9ia-eurasiana).

Matthieu Thery: (http://www.matthieuthery.com/energy/fossil-energy/crude-oil/crude-oil-geography/asia/).

Laruelle, Marlene(2006) Aleksadr Dugin: A Russian Version of the European Radical Right? Ocasional Paper #294. Kennan Institute. Washington: Woodrow Wilson International Center for Scholars.

Santos, Eduardo Eugénio Silvestre dos (Tenente‑General PilAv)(2008). A Geopolítica Russa: De Pedro “O Grande” a Putin, a “Guerra‑Fria”, o Eurasianismo e os Recursos Energéticos, Revista Militar.

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