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A presença de Elon Musk no Parlamento Europeu

O interesse do empresário Elon Musk na política é mais do que evidente, à luz daquilo que conhecemos hoje. Após ter apoiado o candidato Donald Trump nas últimas eleições presidenciais norte-americanas (2024), a vitória do Partido Republicano consolidou a sua função de destaque, no Departamento de Eficiência Governamental. Mas, a presença de Musk não se limita somente à política norte-americana. No passado dia 10 de janeiro, o Podcast POLITICO referiu dois acontecimentos que fizeram soar os alarmes, em Bruxelas. Em primeiro lugar, ele publicou um vídeo do eurodeputado cipriota Fidias Panayiotou, apelando para que a União Europeia (UE) interrompesse o auxílio à Ucrânia na guerra, contra a Federação Russa. Segundo, o CEO da SpaceX e da Tesla declarou o seu apoio à candidata Alice Weidel do partido Alternativa para a Alemanha (AfD) para as próximas eleições, do Bundestag. Terceiro, o Reino Unido também está presente no radar, deste empresário multimilionário. O Primeiro-Ministro britânico Keir Starmer já mencionou esta situação em conferência de imprensa, após as declarações públicas de Musk sobre Nigel Farage. Com base neste contexto, este artigo analisará a influência de Elon Musk no Parlamento Europeu (Griera & Gkritsi, 2025).

Tudo começou com a republicação de um vídeo de Fidias Panayiotou, por parte de Musk, na rede social X. No entanto, Panayiotou voltou a protagonizar um momento polémico durante o debate, sobre a regulamentação das plataformas digitais americanas. O jovem eurodeputado pediu aos seus colegas que convidassem Elon Musk e Mark Zuckerberg[1] para participarem no debate, sobre o referido assunto (Malingre, 2025). Além disso, o apoio de Musk a figuras de extrema-direita no palco europeu não passou despercebido, na capital da Bélgica.

Considerando o caso alemão, o Chanceler Olaf Scholz referiu que não aceita o apoio a posições de extrema-direita por parte de multimilionários, no Fórum Económico Mundial em Davos. Musk não hesitou em responder no X: “Shame on Oaf Schitz!”[2] Segundo Trevor Traina, antigo embaixador americano na Áustria (2016-2020), o interesse de Elon Musk na Alemanha está associado ao setor automóvel. A Tesla possui uma fábrica em território germânico e está a ponderar expandir a sua presença no referido país. Contudo, Musk tem vindo a insurgir-se cada vez mais contra a burocracia legislativa que afeta o setor tecnológico, na União Europeia.

No Reino Unido, a imprensa referiu o desentendimento recente entre Elon Musk e Nigel Farage. O líder do partido político Reform recusou apoiar Tommy Robinson, jornalista associado à extrema-direita britânica, que se encontra preso. De acordo com a CNN, o Reform aguarda por um donativo financeiro de Musk, cuja verba permanece desconhecida. Além disso, o proprietário do X testemunhou perante a Comissão Parlamentar de Ciência, Inovação e Tecnologia do Reino Unido, sobre o algoritmo da sua empresa. A referida rede social foi acusada de promover a desinformação sobre um esfaqueamento de crianças no ano passado, que resultou no incêndio de hotéis, onde estavam hospedados requerentes de asilo (Picheta, 2025).

De acordo com a fonte POLITICO, a UE intensificou o escrutínio ao X. Esta medida foi aplicada, devido à suspeita do seu proprietário interferir na vida política, das democracias europeias (Haeck, 2025). No passado dia 9 de janeiro, o X transmitiu uma livestream com a participação de Alice Weidel e Elon Musk. Os dois intervenientes discutiram sobre o Regulamento dos Serviços Digitais (RSD) que entrou em vigor na UE, no dia 24 de fevereiro de 2024. A Comissão Europeia é responsável por aplicar o respetivo regulamento, em conjunto com as autoridades nacionais. Este regulamento visa evitar as atividades ilegais e a propagação da desinformação. O RSD regulamenta as plataformas em linha tais como os mercados, as redes sociais, as plataformas de partilha de conteúdos, as lojas de aplicações e as plataformas de viagens e alojamento. Os prestadores que estão abrangidos são: i) plataformas em linha e motores de pesquisa de muito grande dimensão; ii) as plataformas em linha; iii) serviços de alojamento local e iv) serviços intermediários.

A Comissão Europeia tem poder para aplicar coimas até 6% do volume de negócios anual, em caso de incumprimento das obrigações decorrentes do RSD, medidas provisórias e dos compromissos (Comissão Europeia, 2025). Neste contexto, se a UE concluir que o X infringiu as regras estabelecidas pelo referido documento, então aplicará a coima mencionada.

Na minha opinião, Musk pretende interferir na política europeia. A sua relação próxima com Alice Weidel e o jornalista britânico Tommy Robinson revelam que, o respetivo empresário já começou a procurar as suas bases de apoio, na Europa. Além do mais, Fidias Panayiotou tornou-se o seu aliado, em Estrasburgo. O eurodeputado cipriota revelou estar em sintonia com as ideias políticas de Elon Musk, como se verifica no exemplo do RSD. Portanto, Musk utiliza os meios que possui ao seu dispor a fim de garantir uma presença indireta nas instituições da UE. Tendo em conta os factos supracitados, o objetivo da sua interferência na política europeia é salvaguardar os seus interesses empresariais. Os casos mais evidentes dizem respeito à Tesla e ao X.

O RSD obriga a um maior escrutínio das plataformas digitais, incluindo as redes sociais. A Tesla pretende expandir o seu negócio de produção de carros elétricos na Europa, por diversos fatores. Alguns deles são a concorrência contra a empresa chinesa BYD, que tem vindo a adquirir uma quota maior de mercado, no continente europeu. Por isso, a Tesla necessita de abrir mais fábricas nos países europeus, que tenham uma indústria automóvel sólida. O CEO da Tesla tem de contornar o entrave da legislação europeia, porque é mais rigorosa nesta matéria, do que nos Estados Unidos da América (EUA). Como é sabido, o X está a ser investigado devido a suspeitas de não cumprimento das regras estipuladas, por este regulamento. Caso o RSD deixasse de produzir efeito jurídico, esta investigação seria interrompida.

Por último, gostaria de relembrar que a União Europeia é um garante da democracia liberal. Poder-se-á argumentar que nem todas as instituições europeias são democráticas pois apenas o Parlamento Europeu é eleito, através do sufrágio eleitoral. No entanto, todos os Estados-Membros são democracias liberais, como é exigido pelos Critérios de Copenhaga. Se a interferência de Elon Musk persistir nas instituições europeias, os valores europeus serão relegados para segundo plano. A União Europeia nunca deve aceitar que a democracia seja preterida pelos interesses empresariais, de Musk.

Pedro Fonseca Moreira

Referências

European Commission. (2025, January 25). The Digital Services Act. European Commission. Retrieved 25 January 2025, from https://commission.europa.eu/strategy-and-policy/priorities-2019-2024/europe-fit-digital-age/digital-services-act_pt.

Griera, M. and Gkritsi, E. (2025, January 22). Elon Musk’s man in the European Parliament. Politico. Retrieved 22 January 2025, from https://www.politico.eu/article/elon-musk-man-european-parliament-fidias-panayiotou/.

Haeck, P. (2025, January 23). EU steps up scrutiny of X as anger grows over Musk’s political meddling. Politico. Retrieved 23 January 2025, from https://www.politico.eu/article/european-commission-steps-up-scrutiny-of-musks-x/.

Malingre, V. (2025, January 26). At the EU Parliament, Musk appeals to the far right. Le Monde. Retrieved 26 January 2025, from https://www.lemonde.fr/en/international/article/2025/01/23/at-the-eu-parliament-musk-appeals-to-the-far-right_6737333_4.html.

Picheta, R. (2025, January 27). Elon Musk is causing trouble in Europe. What’s in it for him? CNN. Retrieved 27 January 2025, from https://edition.cnn.com/2025/01/23/europe/elon-musk-europe-politics-x-disinformation-gbr-cmd-intl/index.html.


[1] Fundador da Meta.

[2] “Que vergonha para Olaf Schitz!”

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