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Como será uma Europa sem a almofada da NATO? Estará a Europa pronta para se erguer?

Desde a sua fundação em 1949, a NATO tem sido o escudo protetor da Europa Ocidental, um compromisso forjado no pós-guerra que garantiu décadas de estabilidade. Durante a Guerra Fria, ergueu-se como uma muralha contra a expansão soviética. Com a queda do Muro de Berlim, expandiu-se para Leste, acolhendo países que, durante décadas, viveram sob a sombra da Cortina de Ferro.

Mas e se, um dia, essa rede de segurança desaparecer?

É inegável que os Estados Unidos são o pilar central da NATO, fornecendo a maior parte do financiamento, da tecnologia militar e da capacidade operacional. Se, por uma reviravolta política, Washington se afastasse do compromisso com a segurança europeia, ou se a Aliança colapsasse, os países do Velho Continente teriam de encarar uma nova e incerta realidade.

Atualmente, poucas nações europeias cumprem a meta de gastar 2% do PIB em defesa. Sem a NATO, os orçamentos militares teriam de aumentar drasticamente, exigindo cortes em áreas essenciais como a saúde, a educação e a inovação. A dependência da tecnologia e do apoio logístico norte-americano tornaria evidentes as vulnerabilidades estratégicas do continente. Sem esse suporte, a Europa teria de erguer, a um ritmo vertiginoso, novas infraestruturas militares para garantir a sua própria segurança.

O impacto geopolítico seria igualmente profundo. Uma NATO enfraquecida ou extinta poderia abrir espaço para que Moscovo expandisse a sua influência sobre os países do Leste Europeu. A Europa, então, ver-se-ia obrigada a redefinir alianças, talvez estreitando laços com potências emergentes como a China, a Índia ou o Japão, numa tentativa de equilibrar forças. Outros defenderiam a criação de uma força de defesa europeia unificada, um projeto ambicioso, mas politicamente delicado, que exigiria um nível de cooperação e investimento sem precedentes.

Donald Tusk, ex-primeiro-ministro da Polónia, já alertou para esta realidade. Segundo ele, a Europa tem o potencial económico para se defender sozinha, mas falta-lhe a vontade política. Como afirmou: “Neste momento, 500 milhões de europeus imploram proteção a 300 milhões de americanos contra 140 milhões de russos, que não conseguiram vencer 50 milhões de ucranianos nos últimos três anos.”

Mas mesmo que a Europa decidisse assumir a sua própria defesa, o caminho seria árduo. Para garantir uma proteção eficaz, seria necessário um comando militar unificado, um investimento massivo em tecnologias de ponta e uma redução drástica da dependência do equipamento norte-americano. O dilema é claro: cada euro investido na defesa é um euro que não será canalizado para outras prioridades sociais e económicas.

Nas últimas décadas, a Europa habituou-se ao conforto proporcionado pela NATO. Sob a asa protetora dos Estados Unidos, o Velho Continente pôde focar-se mais no crescimento económico e na integração política do que no fortalecimento da sua capacidade de defesa autonómica. Mas, com as crescentes tensões geopolíticas e o questionamento do compromisso americano, surge uma questão inevitável: estará a Europa pronta para se erguer da almofada da NATO e assumir a sua própria segurança?

Desde a fundação da NATO, a Europa beneficiou de um escudo militar robusto, com os EUA a assumirem a maior parte dos encargos. A Guerra Fria solidificou esta dependência e, mesmo após a queda do Muro de Berlim, os europeus continuaram a confiar na Aliança Atlântica para a sua proteção.

Contudo, ao longo dos anos, tem sido evidente a falta de investimento europeu em defesa. A maioria dos países da União Europeia (UE) falhou em atingir a meta de 2% do PIB para despesas militares, estipulada pela NATO. Esta relutância justificava-se pela crença de que o poderio militar dos EUA bastaria para dissuadir qualquer ameaça externa.

A eleição de Donald Trump, com o seu discurso crítico sobre o financiamento da NATO, foi um sinal de alerta para os europeus. Apesar da mudança de liderança em Washington, a questão manteve-se: até que ponto os EUA estão dispostos a continuar a proteger a Europa, especialmente quando o seu foco estratégico se desloca cada vez mais para o Indo-Pacífico e para a contenção da China?

A guerra na Ucrânia foi outro golpe na ilusão de segurança europeia. Demonstrou que a Europa, sem os EUA, teria dificuldades em responder eficazmente a uma ameaça militar convencional. Embora a UE tenha tomado medidas inéditas, como o envio de armamento e o financiamento da defesa ucraniana, continua altamente dependente da capacidade logística e militar norte-americana.

Nos últimos anos, surgiram iniciativas para reforçar a autonomia europeia em matéria de defesa. A Cooperação Estruturada Permanente (PESCO) e o Fundo Europeu de Defesa são exemplos de tentativas de coordenação e investimento na indústria militar europeia. Contudo, a fragmentação das forças armadas europeias, os interesses nacionais divergentes e a falta de uma liderança clara dificultam a construção de um verdadeiro exército europeu.

A Europa enfrenta um dilema crucial. Pode continuar a confiar na NATO, arriscando-se a um futuro incerto se os EUA decidirem reduzir o seu compromisso. Ou pode investir seriamente na sua defesa, aceitando os custos financeiros e políticos que isso implica.

O tempo dirá se o Velho Continente está pronto para assumir o seu próprio destino ou se continuará a dormir confortavelmente sob a almofada da Aliança Atlântica.

Março 24, 2025

José Manuel Maia
Docente da UP do Instituto Universitário Militar

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