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Diálogo euro-atlântico com a Rússia: reservas em ambas partes

A reunião do Conselho NATO-Rússia realizada a 20 de Abril de 2016, em Bruxelas, não conduziu, aparentemente, a resultados práticos no degelo das relações. Após o encontro, o Secretário-Geral da NATO Jens Stoltenberg acentuou publicamente não ter receio do diálogo político. Embora com algumas reservas, nas suas palavras “political dialogue among nations that share the same Euro-Atlantic area is both necessary and useful, especially in times of tension as we experience now. However, this does not mean that we are back to business as usual.”.  O representante russo Alexander Grushko, afirma que tem sido a NATO e não a Rússia a aumentar os riscos de conflito, referindo também que tem assistido a um acréscimo de forma injustificada das forças da NATO e que o aumento da presença militar no centro da Europa não trará melhorias à segurança europeia, nas suas palavras  “The military build-up in center of Europe will not improve European security.”.

Obama veio à Europa após aquela reunião em Bruxelas, concluindo esta segunda-feira (dia 25 de Abril), em Hanover, um périplo pela Grã-Bretanha e Alemanha. A questão das sanções pessoais e financeiras a altos dirigentes de Moscovo esteve no centro da sua agenda de conversações em ambos países, a par, naturalmente, de matérias ligadas ao alegado incremento de transferência de material de guerra para a Síria por parte da Rússia, ou ao terrorismo internacional. O Presidente norte-americano conclui esta sua estada na Alemanha com uma mini-cimeira em que terá ao seu lado a chefe do Governo alemão, o primeiro-ministro britânico e o Presidente francês.

Estaremos nós perante uma nova Guerra Fria e um novo mundo Bipolar?

Após a queda do muro de Berlim, a Rússia assistiu ao alargamento e expansão do espaço de influência quer da UE quer da NATO em direção ao Leste. Perdendo assim a sua influência sobre esses territórios, que outrora foram parte integrante do seu Bloco, assim como o espaço em si, o que seria descrito pelo geógrafo alemão Friedrich Ratzel de “Espaço Vital” (Lebensraum) tendo por lógica conceptual o espaço como força e poder.

Este alargamento a Leste fez com que a UE se tenha deparado com uma nova necessidade de responder a desafios securitários ao longo das suas novas fronteiras. Desta forma surgem assim nos anos 90 várias políticas, entre elas a Política Europeia de Vizinhança (PEV), levando a UE a dotar‑se de uma dimensão de política externa que, desde o início, assentaria na crença de que a democracia e a integração económica tornariam a guerra obsoleta. Permitindo à UE agir no plano externo, por forma a garantir a sua segurança e exportar o seu modelo neoliberal, o que desta forma faz com que a sua vizinhança passe a aceitar uma relação desigual, estabelecida na condição da adoção dos princípios europeus, podendo ser entendida como uma estratégia neocolonial, através da qual a UE impõe a sua visão do mundo num exercício de dominação que surge como uma das condições para a sua segurança.

De salientar que a UE conta acima de tudo com o seu “Soft Power”.

Já a Rússia trata os ex-estados soviéticos como pertencendo à sua zona de “Interesses vitais” e ao seu conceito de “Estrangeiro próximo” junto com uma negação de envolvimento das instituições ocidentais nesta região, mais numa linha de “Hard Power”, dando enfase a uma visão mais neorealista nas suas relações externas, nomeadamente com a Europa.

Em suma, a consolidação da sua esfera de influência regional assim como a sua integração em várias organizações regionais, exemplo da Organização de Cooperação de Xangai ou a mais recente União Económica Eurasiática fazem da Rússia um contrabalanço a um Ocidente com tendências expansionistas. Por parte do ocidente e nomeadamente da NATO, não devemos deixar de referir as suas políticas de “Deterrence” e “Containment” perante uma Rússia que já demonstrou não hesitar quanto a intervenções na sua vizinhança próxima, tanto de forma descoberta como encoberta, tendo como exemplos a sua intervenção na Geórgia e mais recentemente na Crimeia e na Ucrânia, sendo influenciada por uma ideologia de “Eurasianismo” e expansionismo que tem como seu grande influenciador Alexandr Dugin.

Valter de Carvalho Cláudio
Associado

Com

Eduardo Mascarenha
Vogal da Direção

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