Na nossa já longa História, obtida a independência do nosso rectângulo peninsular e estabilizada a vida nacional, cedo compreendemos que o local era curto para os nossos anseios de algo mais amplo e com horizontes mais vastos que, inclusivé, nos fizessem sonhar.
Assim, será mais fácil entender que passados poucos anos sobre uma muito grave crise nacional, a de 1385, em que íamos perdendo a nossa liberdade como Nação, nos aventurássemos com D. João I a irmos sediar-nos no Norte de África, o que continuou com D. Afonso V e se confirmou de vez com D. João II.
Sendo na época cerca de um milhão de pessoas, não terá sido por falta de espaço que a nobreza, o clero e o povo se uniram em torno de um sonho que se tornou realidade e perdurou por mais de cinco séculos.
Aqui chegados, afigura-se que uma vez mais o agora espaço europeu sofre dos mesmos constrangimentos do passado, que nos impulsionaram para o exterior do rectângulo peninsular.
Por razões geográficas, pelo pendor para os grandes espaços, o mar tem sido para nós um pólo fundamental de atracção que não desapareceu, mesmo que aparente estar profundamente adormecido.
Nestes termos, com o alargamento da área marítima a nosso cargo, em apreciação na ONU e que muito nos interessa, reabre-se uma janela de incentivação como desígnio nacional quanto a possibilidades de concretização e de realização.
Afirmação à escala global com a CPLP
Mais ainda, parecendo haver agora motivação bastante para dinamizar a CPLP, uma junção de esforços com Cabo Verde ainda mais daria consistência ao sonho do mar voltar a poder ser um pólo forte de união e de afirmação à escala global, libertando-nos da visão periférica que muitos europeus têm em relação a nós, com a consequente redução de influência ao nosso alcance.
Por outro lado, há quem nos considere uma «jangada à deriva» no mar. Mas, se lhe dermos uma bússola e um moderno astrolábio, logo tomarão consciência de que sabemos para onde vamos e o que queremos!
Afigura-se, de facto, que é forçoso sobrevoar as questiúnculas internas sobrecarregadas com uma «partidarite» exacerbada, que a nada conduz, mas fatiga e exaspera, sem resultados que mereçam a pena citar.
Se, ao invés nos reunirmos em torno de um desígnio nacional válido que nos impulsione, nos engrandeça, e que reponha o nosso querer mais íntimo, talvez seja possível ultrapassar a visão do pequenino País localizado na periferia atlântica, para o qual os mais poderosos europeus têm ideias e soluções que não são do nosso interesse.
Para a realização do nosso sonho necessitamos de mais meios navais e aeronáuticos, o que seria uma lufada de ar fresco para a nossa indústria naval e um grande incentivo para a nossa nascente indústria aeronáutica e o efeito de arrastamento que esta suscita.
Na verdade, é sem dúvida imperioso libertarmo-nos da discussão doentia da dúvida, dos juros a pagar e dos compromissos a cumprir, tudo questões importantes que não podemos ignorar e menosprezar. Mas, é igualmente indispensável que, em paralelo, exista um «desígnio nacional» que nos sacuda da letargia onde nos encontramos.
O mar que sempre nos rodeou continua onde sempre esteva e teremos de ser nós, uma vez mais, a ir ao seu contro e possibilidades que oferece.
José Lemos Ferreira
Presidente do Conselho Consultivo