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Jacques Delors, numa declaração difundida pela Agência France Press, exprime de forma acutilante, como sempre foi seu estilo, uma enorme insatisfação pela resposta da União Europeia à pandemia Covid-19 e alerta-nos para o impacto do vírus sobre o futuro da Europa: “o clima que parece reinar entre os chefes de estado e de governo e a falta de solidariedade europeia coloca a União Europeia em perigo mortal”.

Na lucidez dos seus 94 anos, o antigo Presidente da Comissão Europeia (1985/95) e um dos maiores estadistas europeus ainda vivos, digno herdeiro dos “pais fundadores”, referia-se particularmente aos sinais que saíram do Conselho Europeu de 26 de março, mostrando as divisões entre os 27, especialmente, entre os países do Norte e do Sul.

Hoje ninguém tem dúvidas de que, além das consequências e tensões sem precedentes nos sistemas de saúde e dos efeitos devastadores sobre a economia e a sociedade, o Coronavírus também terá impactos geopolíticos, com desafios fundamentais para a sobrevivência da ordem internacional que nos rege e, segundo alguns politólogos, será mesmo um teste às nossas democracias.

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Também o futuro da Europa pode estar em jogo, como nos avisa Delors, se rapidamente não se traduzir a solidariedade e a cooperação europeia em decisões e atos eficazes para combater o vírus e enfrentar as suas gravíssimas consequências. Na Itália, por exemplo, importante parte da opinião pública já tem a perceção de que, nesta crise, podem contar mais com os chineses do que com os europeus.
Como recomenda Álvaro Vasconcelos, no artigo do Púbico de 14 de março, publicado neste portal, “na altura em que os cidadãos dos Estados da União e os seus Governos tudo fazem para combater a pandemia, em que a nossa atenção se concentra nas medidas sanitárias, não seria mal pensarmos no que serão as democracias e a União Europeia para além da crise, por mais longa que ela seja”.
Acreditamos que, se houver vontade política, os governos dos Estados Membros e as Instituições Europeias saberão assumir as suas responsabilidades e enfrentar em comum esta epidemia, como faz a Comissão Europeia com as importantes medidas que está a adotar, no limite das suas competências, mobilizando investimentos e recursos essenciais para responder à crise.
É tempo de lembrar o espírito dos fundadores que, a seguir à segunda guerra mundial, deixaram o nacionalismo de lado e construíram, passo a passo, a casa comum europeia alicerçada na solidariedade entre as nações e na união dos povos europeus.


Lisboa, 31 de março de 2020

António Figueiredo Lopes
Presidente da Direção


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