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O Futuro do Sudão: Consequências para a Comunidade Internacional

O Sudão enfrenta uma situação instável e volátil, onde os desafios presentes recordam-nos que o debate sobre o futuro não tem início nem fim definido, mas sim uma jornada contínua em direção ao entendimento e progresso. Nesta extrema disputa pelo controlo político, o destino do Sudão é posto em risco, estando “a minar ainda mais o Estado de Direito e a proteção dos civis”. À medida que os confrontos se intensificam, a esperança por uma transição suave para a democracia e a paz parece distanciar-se ainda mais. Os cidadãos corajosos que clamaram por mudanças, ambicionando um Sudão melhor, agora deparam-se no epicentro de um conflito que expõe os aspetos mais sombrios das forças de segurança e do exército sudanês. A comunidade internacional, que em certo momento reconheceu os avanços democráticos do Sudão, voltou-se agora para longe, retirando o seu apoio financeiro e assistência do país. Como tal, perante este cenário inigualável, os cidadãos do Sudão são os que mais sofrem à medida que o conflito avança, através da escassez de alimentos e de água, juntamente com a violência envolvente, demonstrando, com isto, que as suas ambições para um Sudão melhor e mais justo parecem agora uma lembrança remota. O objetivo deste artigo é, assim, ressaltar a importância do Sudão no cenário internacional através de uma análise das suas consequências para a Comunidade Internacional.

A história agitada do Sudão oferece um panorama desanimador de previsibilidade, possuindo múltiplas dimensões, desde tensões étnicas e religiosas até disputas territoriais e desafios económicos. No centro deste confronto estão dois protagonistas: o líder militar do Sudão, Abdel Fattah al-Burhan, e o comandante das Forças de Apoio Rápido paramilitares, Mohamed Hamdan Dagalo. Embora tenham começado como aliados, surgiram tensões durante as negociações para a integração dos 100 mil combatentes do RSF no exército e a decisão de quem ficaria encarregue de liderar a nova força. Não tardou até a violência estourar, havendo uma réstia de esperança de que a situação pudesse ser resolvida através do diálogo, mas isso nunca chegou a acontecer e, em abril de 2023, na capital Cartum, rebeldes das Forças de Suporte Rápidas atacaram as bases das Forças Armadas Sudanesas por todo o Sudão que se vingaram posteriormente através do fecho de todos os aeroportos, realizando ataques aéreos contra posições do RSF.

Nesse sentido, este conflito “desencadeou uma dinâmica que ameaça fragmentar o Sudão, depois que outros grupos armados presentes há algum tempo em diferentes áreas do país tomaram parte de um lado ou de outro, ou aproveitaram o caos para assumir o controle das áreas onde estão presentes”, sendo, consequentemente, uma extensão direta da instabilidade política que se desenrolou após a queda do ditador Omar al-Bashir em 2019.

No meio de deslocações e assassínios em massa, soma-se uma crise humanitária profunda “numa altura em que as atenções da comunidade internacional estão concentradas na guerra no Médio Oriente”, resultando em milhões de pessoas que enfrentam condições precárias, falta de acesso a alimentos, água potável e serviços básicos de saúde. Quase todos os hospitais estão fora de serviço o que impossibilita o auxílio às vítimas que, de acordo com a ONU, metade dos 46 milhões de habitantes do Sudão necessitava de assistência e proteção humanitária. A malária, o dengue e o sarampo são consequências devastadoras deste acontecimento. A instabilidade no Sudão afeta não apenas os países vizinhos, mas também tem repercussões globais, especialmente em termos de segurança e estabilidade.

Deste modo, no meio do caos, uma coisa é certa: o conflito entre Hemedti e Burhan expôs as sérias divisões dentro das instituições políticas e militares do Sudão como também trouxe ao de cima um fator adicional de complexidade: o envolvimento russo. A respeito da Rússia, esta apresenta interesses estratégicos no Golfo de Aden e no Mar Vermelho, áreas cruciais para o comércio marítimo internacional e a sua presença na região tem como objetivo proteger os seus interesses comerciais e de segurança, bem como fortalecer laços com países da região, como o Sudão. No entanto, no Golfo de Aden, a situação é delicada, pois a região enfrenta desafios como a pirataria marítima, conflitos regionais e tensões políticas entre países vizinhos, como a guerra civil no Iêmen. Estes problemas acabam por afetar diretamente a segurança das rotas marítimas e têm implicações para o comércio internacional e para a segurança energética global. Assim, as forças que deveriam proteger e guiar o país rumo à democracia, tornaram-se agora os seus principais obstáculos e a influência russa traz consigo uma camada de desafios geo-políticos, aumentando, desta forma, as incertezas sobre o destino da nação africana.

A tensão no cenário sudanês é responsável pelo dilema que a Comunidade Internacional enfrenta, o de equilibrar a soberania nacional do Sudão com a responsabilidade de proteger os direitos humanos e promover a paz. As consequências desses desafios refletiram não apenas dentro das fronteiras do Sudão, mas também em toda a região do Sahel, destacando a inter-conectividade dos conflitos contemporâneos e a necessidade de soluções coordenadas. Enquanto o mundo assiste ao desenrolar dos acontecimentos no Sudão, muitos interrogam-se se este clima de violência terá um fim e se o caminho para atingir a paz e a democracia pode ser, de facto, restabelecido.

Por enquanto, a população sudanesa é confrontada com as águas turbulentas de uma nação dividida pela guerra, navegando por um caminho incerto e desafiador. Quando este tempo de pesadelo passar, a nítida contribuição do Sudão para o nosso mundo compensará amplamente a paciência estratégica que temos de praticar entretanto, pois os esforços internacionais para mediar a situação que foram feitos até agora, liderados por atores regionais e pelas Nações Unidas, não conseguiram chegar a uma solução duradoura. Os países vizinhos enfrentam riscos acrescidos de efeitos colaterais, incluindo fluxos de refugiados, proliferação de armas e potenciais portos de abrigo para grupos extremistas. Para quebrar este ciclo de violência e restabelecer o caminho para a paz e a democracia, é necessário um esforço internacional concertado. O envolvimento direto em esforços diplomáticos e o apoio a um diálogo inclusivo são fundamentais para se encontrar uma solução duradoura que atenda às raízes do conflito no Sudão, abrindo caminho para um futuro mais estável e democrático para a sua população.


11 de abril de 2024

Inês Delgado Rosa
EuroDefense Jovem-Portugal


Bibliografia

Sudão: dez meses de guerra devastaram o país, que corre o risco de implodir. Vatican News. [Consultado em 5 de abril de 2024]. Disponível em: https://www.vaticannews.va/pt/mundo/news/2024-02/sudao-dez-meses-guerra-devastacao-pais-risco-implosao-apelo-papa.html.

Conflito no Sudão arrisca tornar-se a maior crise alimentar do mundo. Observador. [Consultado em 5 de abril de 2024]. Disponível em: https://observador.pt/2024/03/06/conflito-no-sudao-arrisca-tornar-se-a-maior-crise-alimentar-do-mundo/.

Sudan’s scary future must be faced with patient realism. Arabic News. [Consultado em 6 de abril de 2024]. Disponível em: https://www.arabnews.com/node/2335456.


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