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No passado dia 27 de setembro, teve lugar a 4ª TertúliaEDJ, da 6ª Edição, intitulada “Terrorismo 2.0.: Desafios híbridos à segurança europeia”. O evento, que decorreu online, contou com a presença dos académicos Cátia Moreira de Carvalho, Joana Araújo Lopes e Diogo Alexandre Carapinha como oradores, bem como com a moderação de Daniel Tielas, membro da EuroDefense-Jovem Portugal. O objetivo desta tertúlia foi fomentar um debate acerca das ameaças híbridas a que as democracias se enfrentam, contando para isso com três especialistas nas áreas do terrorismo, contraterrorismo, e dos processos de radicalização, por um lado, mas também da cibersegurança, intelligence e riscos associados à IA, por outro.

O primeiro tópico discutido prendeu-se com os processos psicossociais que explicam a radicalização. Cátia Moreira de Carvalho, especialista no tema, começou por mencionar que o extremismo violento não é causado necessariamente por traços psicopáticos, mas sobretudo por uma série de fatores de risco (causas estruturais, como a exclusão social e desemprego, e aspetos como a propaganda ou a pressão de pares, assim como de características psicológicas e de personalidade individuais). A especialista mencionou também a teoria dos três Ns (isto é, Necessidades, Narrativas e Networks) para explicar um conjunto particular de casos de radicalização, tendo frisado que os terroristas tendem a radicalizar-se no país onde residem e não no país de origem. Por último, concluiu asseverando que, na prevenção da radicalização, os fatores de proteção são geralmente mais importantes que os fatores de risco.

Já a intervenção de Joana Araújo Lopes principiou com um panorama sobre a relação entre o terrorismo e as tecnologias emergentes e disruptivas (EDTs), que abarcou diferentes definições de terrorismo e os vários métodos e táticas empregues por grupos terroristas. Foi dada especial atenção a tecnologias como drones, armas impressas em 3D e à IA, visto estas terem sido já utilizadas ou exploradas por grupos extremistas, tendo sido mencionados alguns exemplos concretos. Após enfatizar a importância da prevenção e apresentar exemplos de iniciativas de contraterrorismo contra o uso malicioso de EDTs, a especialista destacou o perigo que estas tecnologias representam, por facilitarem, já hoje em dia, os processos de radicalização e de recrutamento, assim como a preparação e execução de ataques terroristas. 

Nesse sentido, o especialista em cibersegurança Diogo A. Carapinha concordou na importância e urgência de nivelar as externalidades negativas da inteligência artificial, depois de mencionar vários grupos terroristas que já fizeram recurso a tecnologias digitais. Na sua intervenção, o académico discutiu o conceito de ciberterrorismo, explicando que não existe ainda uma jurisdição autónoma no ciberespaço e que, no campo das ciberameaças, há atores não estatais que podem causar efeitos estratégicos comparáveis àqueles causados por atos terroristas tradicionais. Destacou a natureza singular do ciberespaço, incluindo a velocidade e a persistência de ameaças securitárias, com uma menção também ao mercado paralelo na dark web e deep web.

A sessão terminou com uma breve série de perguntas do público, as quais se focaram nos paradigmas de resposta a ameaças terroristas, por um lado, e nas diferenças concetuais entre terrorismo, terrorismo patrocinado por Estados, e estratégias híbridas. Resumidamente, foi respondido que, embora haja termos difíceis de definir com precisão, há, sem dúvida, casos de cruzamento entre esses conceitos, como no recurso a EDTs e a forças militares de natureza irregular em atos de terrorismo de Estado. Esta última seria uma categoria concetual considerada cada vez mais, mais ainda não formalmente reconhecida.

Lisboa, 30 de setembro de 2025

Daniel Tielas

EuroDefense-Jovem Portugal

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TertúliaEDJ: Terrorismo 2.0: Desafios híbridos à segurança europeia

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