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Com Portugal ao leme dos próximos debates europeus no contexto do Conselho da União Europeia (UE), foi reafirmado o tempo de agir em prol de uma recuperação assente nos princípios ecológicos e na transição digital, a concretização do Pilar Europeu dos Direitos Sociais e no reforço da autonomia da relação entre a Europa e o Mundo.

Estes tempos em que a União Europeia terá de agir e efetuar a sua recuperação são conturbados por diversas realidades, tanto internas como externas, que suscitam especial atenção e cuidado. Quanto à recuperação económica da União, com as mais recentes restrições à movimentação de pessoas (um pouco por todos os países europeus), a economia não dá grandes sinais de recuperação nos próximos 6 meses.

A concretização do Pilar Europeu dos Direitos Sociais nunca se revelou tão importante como nos tempos que vivemos na UE. Este documento relembra princípios e valores que devem reger os Estado Membros: (i) igualdade de oportunidades e acesso ao mercado de trabalho; (ii) condições de trabalho justas; e (iii) proteção e inclusão sociais. A urgência da concretização deste documento é vital para criar barreira à forte ascensão de ideais extremistas que negligenciam muitas das 20 alíneas que compõem este pilar.

Por último, a afirmação da UE no mundo requer, desde o primeiro momento, que aconteça a uma só voz. Por muito que os Estados Membros, individualmente, se desenvolvam militarmente, não será uma Europa desmembrada que fará frente às grandes ameaças que enfrenta. Apenas o tem conseguido porque o poder militar norte-americano socorreu com as suas capacidades para controlar os conflitos mais próximos. Com a recente eleição do presidente Joe Biden nos Estados Unidos, a NATO poderá ver uma luz ao fundo no túnel, e o Ocidente pode recuperar a sua união enquanto um só bloco, mas não nos podemos esquecer que o fim da aliança militar foi tema de debate nos últimos anos. Ainda assim, a NATO deverá permanecer como o garante de segurança e bloco militar na ordem internacional dos valores democráticos.

Ainda que indiretamente, o grande inimigo da UE é o que não acredita no seu projeto. E existem muitos motivos para que a Rússia e China não queiram o fortalecimento europeu e a ascensão dos seus valores (em especial da democracia). Torna-se, por isso, evidente a sua interferência na estabilidade interna da União que começa nas suspeitas (já com algumas evidências) do financiamento russo a partidos populistas e eurocéticos, não só dentro da União. E por outro lado, o surgimento da China e dos seus avultados investimentos que tanta “água na boca” deixam aos líderes políticos europeus e um pouco por todo o mundo, desde a construção de infraestruturas à compra de grande empresas com tecnologias avançadas, a China tem entrado pela porta a dentro dos interesses económicos Europeus afetando a estabilidade política da UE.

A solução não passa pelo confronto direto a estes países que ameaçam a estabilidade da União, tão pouco, contra-atacar com a mesma “moeda” (até porque os seus sistemas não o permitem, não é possível comprar uma empresa chinesa ou alcançar livremente a sua população, como as redes sociais abertas nos fazem). A história ensinou-nos durante a guerra fria, que quem vence são os ideais e capacidade de resiliência, mesmo que demore algum tempo a revelar o seu sucesso. A guerra fria durou décadas, mas ditou a queda dos ideais antidemocráticos.

A resposta da União é de agir, conforme a nossa presidência refere, de forma justa, resiliente e aberta ao mundo. O projeto Europeu traduz estabilidade e os Estado membros devem reconhecer na sua integração uma mais-valia e não um retrocesso. Mas não nos bastam boas ideias, tão pouco o excesso de pensamento, é necessário agir e se nos próximos meses, em particular no debate do Strategic Compass (documento explicado em publicações anteriores) a UE falhar, então sim, falha na capacidade de ser um ator a uma só voz e importante na ordem mundial.


8 de janeiro de 2021

Miguel Carvalho Gomes
Coordenador da EuroDefense Jovem-Portugal


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